sábado, 10 de abril de 2010

A Mercantilização do que é precioso ao ser humano



Carlos Antonio Fragoso Guimarães


“A desvalorização do mundo humano cresce na razão direta da valorização do mundo das coisas”.

Karl Marx


E o que vemos hoje é exatamente o crescimento da barbárie na civilização... Mecanização do trabalho, competitividade, meritocracia de alguns poucos, falta de oportunidades à maioria... E vemos gente sendo soterrada em chuvas que deveriam ser bênçaos, por não haver políticas de habitação. Mas os políticos que dirigem o Estado culpam os pobres por terem erguidos seus casebres em lugares perigosos - como se houvessem tido oportunidade e apoio para terem uma habitação minimamente digna em qualquer outra parte.

A alta burguesia financia o tráfico de drogas em seus consumos particulares, em suas festas, em sua participação na corrupção e a criminalidade, assim, se torna profissão a quem o Estado nega educação, moradia, saúde e pão, e a violência, assim, aumenta dentro de um Estado que se diz democrático, mas que privilegia apenas bancos, empresas e ricaços. Prefere-se, assim, cada vez mais, a fantasia do mundo virtual a encrar o pedido do menino de rua por um pedaço de pão...

Os responsáveis pela administração pública, francamente em sua maioria financiados e formados ou ligados à cultura individualista e materialista das elites, governam para uma sociedade fundamentada na exclusão e na indiferença. Homens e mulheres comuns representam apenas, senão problemas, parte de uma massa de mão-de-obra barata a ser manipulada ideologicamente para a obtenção de votos, com promessas feitas para nunca serem cumpridas.


Ao povo, diz nossa constituição sempre e cada vez mais vilipendiada de acordo com os interesses dos políticos plantados por poderosos, pertence a soberania. Essa idéia foi acalentada por Jean Jacques Rousseau e serviu de bandeira para os ideais democráticos pós-Iluminismo. Rousseau refletia que não há real liberdade onde não existe a real igualdade de direitos, deveres e oportunidades. Mas o nosso Estado real é benéfico apenas a alguns: a quem tem a propriedade das terras, dos bancos, das máquinas produtivas - que, ainda, só funcionam pelo braço e dedos dos assalariados que vendem a única coisa que possuem, sua força física - e esquece os demais cidadãos até os meses que antecedem a próxima eleição. O feitiche e o poder da grande propriedade privada: eis a origem de todos os males da humanidade.

Este é o nosso mundo, o mundo da ética protestante pentencostal das tvs, extorquindo dinheiro de gente que acredita em que o dízimo suadamente conquistado e doado voltará em bênçaos materiais e, assim fazendo, permitem a gente como Silas Malafaia comprar um jatinho particular de 12 milhões de dólares, e a Edir Macedo multplicar nas grandes cidades suas Casas da Moeda, o que confirma a exposição de Max Weber de que o espírito do capitalismo muito deve à certa ética protestante...

O mundo onde o "caráter" está deturpadamente refletido na quantidade de esbanjamento que se demonstra, enquanto a poluição aumenta, os recursos da terra são exauridos e pessoas valem muito menos que coisas... E quem ousa pensar ou falar sobre isso é encarado como um chato, um sonhador ou um socialista ultrapassado... Esse é o nosso mundo...

Aos poderosos é conviniente falar do desrespeito aos direitos humanos em alguns países considerados inimigos da democracia, mas esquecem que eles próprios possuem suas prisões (na própria Guantânamo cubana, na Abu Ghraib dos país invadido por quem fala, ou nas ruas onde excluídos são condenados que cumprem pena de sub-vida) onde prisioneiros políticos em número muito maior do que em Cuba são torturados e humilhados.

Aos poderosos, então, toda a honra e toda a glória. Eles dominam as instituições e, assim, possuem a "verdade" oficial. A mídia, por sua vez, fará a sua parte, escondendo a maquiando os diferentes pesos e diferentes medidias utilizados por quem joga no xadrez do poder, de acordo com o gosto de quem paga mais.

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