quarta-feira, 26 de junho de 2013

O #ChangeBrazil foi montado e financiado por americanófilos e empresários

Postado em: 25 jun 2013 às 19:58
Marina Terra

#Changebrazil: “O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no mundo”. Onda da desinformação se alastra velozmente na Web, aproveitando marcas de protesto em outras partes do mundo

“O que eu fiz foi uma tentativa de sujar o governo brasileiro no mundo, exatamente como o vídeo diz.” Assim definiu Thismr Maia, pseudônimo de Silvio Roberto Maia Junior, porta-voz do movimento Change Brazil, o objetivo dos vídeos que postou na Web, segundo o site Direto da Aldeia. Nascido em 14 de junho, no momento em que uma onda de manifestações eclodiu no país, o movimento vocalizou por meio de vídeos de Maia pedindo – em inglês – um pedido de “ajuda” internacional.
No vídeo, que já tem mais de um milhão de acessos no YouTube, Maia fala da repressão sofrida por manifestantes em 13 de junho. Nesse dia, a polícia militar, controlada pelo governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), reprimiu com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha o protesto, ferindo também jornalistas. Boa parte da mídia, que anteriormente havia criminalizado os protestos – especialmente por meio de editoriais raivosos pedindo a “retomada da Paulista” –, mudou completamente o tom e passou a defender o movimento Passe Livre.

Ali, naquele momento, nascia também o Change Brazil, ou #changebrazil. Nas redes sociais, pipocou um vídeo, em inglês, com legendas em inglês, que se intitulava “Please Help Us” (Por favor, nos ajude). Em um estúdio bem iluminado, em gravação de qualidade profissional, Maia começa falando sobre o aumento da tarifa de ônibus e imediatamente cita os levantes populares na Turquia e na Síria – “espontâneos”.


De fato, o caso turco foi rapidamente comparado ao brasileiro pela mídia brasileira e internacional, que apontou como o denominador comum o caos das grandes metrópoles. Manifestantes aqui e lá trocaram afagos, com brasileiros levando aos protestos bandeiras da Turquia e vice-versa. O premiê turco, Tayyip Erdogan, porém, avalia que não se trata de uma coincidência e que os dois países são alvo, na verdade, de conspiração internacional. Não está claro que haja uma articulação externa, mas a correia da desinformação gira velozmente na Web.
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(Imagem: Reprodução/Facebook)
O Anonymous Brasil, um perfil que, como o próprio nome indica, preserva a identidade de quem o dirige, precisou desmentir que tinha publicado um vídeo que também teve mais de um milhão de visitas, que elencaria cinco bandeiras do movimento que segue nas ruas. Entre os perfis que espalharam este vídeo, um deles, talvez o mais acessado, é assinado por “Dilma Bolada” — ao que tudo indica, um perfil no Youtube falso que se aproveita da popularidade da personagem, essencialmente pró-governo, do Facebook.
Falando rápido, Maia critica a mídia, pedindo que o espectador tenha em mente que a “verdade” sobre os protestos não será reportada nem no Brasil nem no exterior. Por isso a “boa ação” do vídeo. Ainda antes de completar um minuto de fala – o vídeo tem mais de cinco minutos –, Maia já condena a classe política brasileira e aponta que a motivação dos manifestantes é justamente um rechaço contra a roubalheira e má fé, generalizadas. Ele não menciona nomes de partidos ou políticos.
Nos protestos seguintes, coincidentemente, muitos gritos eram direcionados exatamente contra os políticos, vários pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em 17 de junho, a matriz foi repetida pelos apresentadores de telejornais, enquanto as imagens da multidão espalhada pelas ruas das principais cidades brasileiras eram transmitidas ao vivo. Alguns jornalistas, enquanto narravam “o despertar do Brasil”, se emocionaram. Poucos dias antes, os mesmos reclamavam do trânsito provocado pelos protestos do Passe Livre e chegavam a chamar alguns manifestantes de “vândalos”.
No dia seguinte, os principais jornais, como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, seguiram disseminando o “basta” escutado nas ruas brasileiras. Não demorou para o espírito do Change Brazil se espalhar. Mais tarde, na quinta-feira passada, membros de partidos de esquerda foram agredidos na Avenida Paulista. Organizada pelo Passe Livre para comemorar a redução da tarifa, a manifestação logo perdeu o intuito inicial. “Sem partido” e “Aqui é Brasil” eram as consignas tanto dos agressores como do resto dos manifestantes, muitos enrolados na bandeira nacional, com pinturas em verde e amarelo no rosto.
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Foto simula Maia levando um tiro na cabeça de uma arma – desenhada na parede com as cores da bandeira dos Estados Unidos. (Facebook)
Também se ouviu “Quem não pula quer a Dilma”, adaptado do protesto pelo aumento da passagem do transporte público, “Quem não pula quer tarifa”. Com o aumento da violência nos protestos, cada dia mais numerosos, a presidente se dirigiu à nação em cadeia de rádio e TV, onde deixou claro seu respeito aos manifestantes pacíficos. Ela também se disse disposta a analisar todas as demandas apresentadas nas ruas. “Eu estou escutando vocês”, sublinhou Dilma.
Maia comemora o êxito. “Essa tática sempre funcionou bem historicamente. Como também diz no vídeo, a Dilma não pode deixar o Brasil ficar feio no mundo agora. Eu só queria trazer a atenção mundial para o Brasil, e junto com a companheira que não conheço, do vídeo ”No, I’m not going to the world cup”, tenho orgulho de dizer que conseguimos. Agora, com pressão internacional, a Dilma e companhia são mais obrigados a nos ouvir”, comemora o brasileiro, em entrevista dada ao Aldeia.
Ainda segundo ele, “historicamente, pressão mundial tem se provado extremamente eficaz em relação a mudar governos opressores. Recentemente pedi para pessoas mandarem outro vídeo nosso para organizações humanitárias, e agora fiquei sabendo que a Greenpeace tem se pronunciado sobre o que está acontecendo aqui também”. Após celebrar a grande adesão ao movimento, Maia lança a chantagem: “se a Dilma quer que sua administração seja vista favoravelmente, ela terá que nos ouvir”.
Uma visita à página no Facebook do porta-voz do Change Brazil nos revela ainda mais sobre esse curioso personagem, que sublinhou na entrevista ser contra governos repressores. A foto acima simula Maia levando um tiro na cabeça de uma arma – desenhada na parede com as cores da bandeira dos Estados Unidos. Os “miolos” também estão pintados nas cores azul e vermelha. No resto da página, mais fotos de armas, com mensagens apoiando o porte civil. “Quando eu falei ‘o Brasil terá que se dobrar’, é óbvio que eu me referia ao governo brasileiro, né. Pelo amor de deus, gente”, justifica o porta-voz do Change Brazil.
Ps de Pragmatismo Politico.: Jeferson Monteiro, autor do perfil original da personagem Dilma Bolada, entrou em contato para confirmar as informações da matéria. O jovem afirma que a o nome ‘Dilma Bolada’ foi utilizado por outro grupo para plagiar sua página original. A página falsa pertence a uma pessoa ligada à direção da juventude do PSDB e foi criada estrategicamente para pegar carona no sucesso da personagem original.
Marina Terra, Opera Mundi

#changebrazil: Leitores estranham conexões do “movimento”


publicado em 25 de junho de 2013 às 12:58
por Luiz Carlos Azenha 
Reproduzo, abaixo, informações que me foram repassadas pelos leitores, nos comentários ou no Facebook.
A marca #changebrazil apareceu na tela de um jogo entre Fluminense e Orlando City Soccer Club, de Orlando, na Flórida, na SporTV, segundo um leitor (partida disputada em 22.06.2013):
O dono do clube da Flórida é um milionário brasileiro apresentado no site do Orlando City Soccer Club como terceiro maior acionista da Abril Educação e dono da rede de escolas de inglês Wise Up:
O anúncio do contrato com a FIFA foi feito no mesmo dia do contrato da Globo Marcas.
A colocação das placas no estádio foi assumida pelo dono da Wise Up, em um perfil no Facebook:

O que nos leva a perguntar: como o #changebrazil pode falar mal do Brasil no Exterior, como no vídeo de um professor de inglês, postado no You Tube em 14.06.2013 e que teve centenas de milhares de acessos?
Como não há qualquer prova — pelo menos ainda — de conexão entre o milionário brasileiro e o professor de inglês autor do vídeo, fica o registro de pelo menos uma incoerência: detonar o Brasil no mundo não é a melhor forma de promover a Copa do Mundo de 2014, certo?

Irônico é notar que a Caixa Econômica Federal é uma das patrocinadoras das transmissões da SporTV onde o #changebrazil foi promovido.

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