segunda-feira, 22 de julho de 2013

A revolta corporativa da Máfia de Branco: Os bisturis que machucam e a rebeldia do jaleco




Reproduzimos o excelente texto de Saul Leblon, na Carta Maior, que dialoga com algumas opiniões que já externamos por aqui.
O Levante dos Bisturis!
Raízes do Brasil: no levante dos bisturis, ressoa o engenho colonial
Por Saul Leblon na Carta Maior
Credite-se à elite brasileira façanhas anteriores dignas de figurar, como figuram, nos rankings da vergonha do nosso tempo.
A seleta inclui a resistência histórica à retificação de uma das piores estruturas de renda do planeta.
Ademais de levantes bélicos (32,62,64 etc) contra qualquer aroma de interferência num patrimônio de poder e riqueza acumulado por conhecidos métodos de apropriação.
O repertório robusto ganha agora um destaque talvez inexcedível em seu simbolismo maculoso.
A rebelião dos médicos contra o povo.
Sim, os médicos, aos quais o senso comum associa a imagem de um aliado na luta apela vida, hoje lutam nas ruas do Brasil.
Contra a adesão de profissionais ao programa ‘Mais Médicos’, que busca mitigar o atendimento onde ele inexiste.
A iniciativa federal tem uma dimensão estrutural, outra emergencial.
A estrutural incorpora as unidades de ensino à política de saúde pública. Prevê um currículo estendido em dois anos de serviços remunerados no SUS.
Prevê, ademais, investimentos que dotem os alvos emergenciais de estruturas dignas de atendimento.
A ação transitória requisitará contingentes médicos, cerca de 10 mil inicialmente, para servir em 705 municípios onde o atendimento inexiste.
Ou naqueles aquém da já deficiente média nacional de 1,8 médico por mil habitantes ( na Inglaterra, pós Tatcher, diga-se, é de 2,7 por mil).
Enquadram-se neste caso outros 1.500 municípios.
O salário oferecido é de R$ 10 mil.
O programa recebeu cerca de 12 mil inscrições.
Mas o governo teme a fraude.
A sublevação branca incluiria táticas ardilosas: uma corrente de inscrições falsas estaria em operação para inibir o concurso de médicos estrangeiros, sobre os quais os nacionais tem precedência.
Consumada a barragem, desistências em massa implodiriam o plano do governo no último dia de inscrição.
Desferir o golpe de morte com a manchete do fracasso estrondoso caberia à mídia, com larga experiência no ramo da sabotagem antipopular e antinacional.
A engenharia molecular contra a população pobre constrange o Brasil.
Cintila no branco da mesquinhez a tradição de uma elite empenhada em se dissociar do que pede solidariedade para existir: nação, democracia, cidadania.
O boicote ao ‘Mais Médicos’ não é um ponto fora da curva.
Em dezembro de 2006, a coalizão demotucana vingou-se do povo que acabara de rejeita-la nas urnas.
Entre vivas de um júbilo sem pejo, derrubou-se a CPMF no Congresso.
Nas palavras de Lula (18/07):
“No começo do meu segundo mandato, eles tiraram a CPMF. Se somar o meu mandato mais dois anos e meio da Dilma, eles tiraram R$ 350 bilhões da saúde. Tínhamos lançado o programa Mais Saúde. Eles sabiam que tínhamos um programa poderoso e evitaram que fosse colocado em prática”.
As ruas não viram a rebelião branca defender, então, o investimento em infraestrutura como requisito à boa prática médica, ao contrário de agora.
A CPMF era burlada na sua finalidade?
Sim, é verdade.
Por que não se ergueu a corporação em defesa do projeto do governo de blindar a arrecadação, carimbando o dinheiro com exclusividade para a saúde?
O cinismo conservador é useiro em evocar a defesa do interesse nacional e social enquanto procede à demolição virulenta de projetos e governos assim engajados.
Encara-se o privilégio de classe como o perímetro da Nação. Aquela que conta.
O resto é sertão.
A boca do sertão, hoje, é tudo o que não pertence ao circuito estritamente privado.
O sertão social pode começar na esquina, sendo tão agreste ao saguão do elevador, quanto Aragarças o foi para os irmãos Villas Boas, nos anos 40, rumo ao Roncador.
Sergio Buarque de Holanda anteviu, em 1936, as raízes de um Brasil insulado em elites indiferentes ao destino coletivo.
O engenho era um Estado paralelo ao mundo colonial.
O fastígio macabro fundou a indiferença da casa-grande aos estalos, gritos e lamentos oriundos da senzala ao lado, metros à vezes, da sala de jantar.
Por que os tataranetos se abalariam com a senzala das periferias conflagradas e a dos rincões inaudíveis?
Ninguém desfruta 388 anos de escravidão impunemente.
Os alicerces do engenho ficaram marmorizados no DNA cultural das nossas elites: nenhum compromisso com o mundo exterior, exceto a pilhagem e a predação; usos e abusos para consumo e enriquecimento.
A qualquer custo.
O Estado nascido nesse desvão tem duas possibilidades aos olhos das elites: servi-la como extensão de seus interesses ou encarnar o estorvo a ser abatido.
A seta do tempo não se quebrou, diz o levante branco contra o ‘intervencionismo’.
O particularismo enxerga exorbitância em tudo o que requisita espírito público.
Mesmo quando está em questão a vida.
Se a organização humanitária ‘Médicos Sem Fronteiras’ tentasse atuar no Brasil, em ‘realidades que não podem ser negligenciadas’, como evoca o projeto que ganhou o Nobel da Paz, em 1999, possivelmente seria retalhada pela revolta dos bisturis.
Jalecos patrulham as fronteiras do engenho corporativo; dentro delas não cabem os pobres do Brasil.
A Revolta do Jaleco

texto de Miguel do Rosário
Um dia, quando alguém estudar a história de nossa época, deparar-se-á com a revolta do jaleco, na qual entidades médicas se rebelaram agressivamentecontra uma medida do governo que visava levar médicos ao interior do Brasil, pagando R$ 10 mil de salário  ao profissional.
As entidades alegam que a situação do governo não oferece direitos trabalhistas. Estão certas. No futuro breve, o programa poderá ser aperfeiçoado. Mas a medida tem caráter urgente. Os salários estão muito acima da média do que ganham médicos no setor privado, onde quem fica com o grosso do dinheiro são planos de saúde. Acima inclusive dos salários oferecidos em concurso público. As entidades deveriam apoiar a medida e depois trabalharem para aprimorarem cada vez mais o programa. Direitos trabalhistas sempre podem ser incorporados ou negociados posteriormente.
Em vez disso, preparam uma “guerra”. Geraldo Ferreira Filho, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), abusa do vocabulário bélico. Só faltou citar Sun-Tzu.
Um trecho da matéria do Globo merece ser transcrito, por razões que vocês logo perceberão:
É uma comunicação de guerra. Vamos enfrentar uma guerra. O governo está preparado, tem estrutura, tem seus blogueiros. Vamos enfrentar esses embate.
Rá, é sempre assim! Ferreira deve estar se referindo ao vexame, para não dizer crime, que foi o conluio vergonhoso entre médicos sem caráter e a Folha de São Paulo para tentar sabotar um programa de Estado, denunciado pelo blog Viomundo.
Sim, o governo tem seus blogueiros… um bando de idealistas que arriscam suas cabeças sem ganhar nada. O programa “Mais Médicos” vai gerar empregos e salários de R$ 10 mil para os médicos, senhor Ferreira; os blogueiros continuam sem nada, nem querem nada, além de melhores serviços de saúde para os brasileiros.
Os blogueiros criticam o governo duramente onde o calo mais dói: na política conservadora do Banco Central, na falta de uma reforma agrária, na ausência de qualquer iniciativa de democratização da mídia.
Entretanto, se o governo toma uma iniciativa ousada na área da saúde, contratando milhares de médicos para atender periferias pobres e o interior do Brasil, é claro que os blogueiros de esquerda vão apoiar! É claro, igualmente, que a mídia conservadora será contra. A mídia conservadora sempre foi contra qualquer coisa que traga melhoras sensíveis e rápidas à vida do povo. Foi contra o Bolsa Família e agora é contra o Mais Médicos. É contra porque sabe que, dando certo, o programa renderá dividendos eleitorais ao governo. Entidades médicas e donos de jornal podem votar na oposição, mas o povo brasileiro, que assistirá o crescimento substancial da oferta de médicos à sua disposição, este votará em quem defendeu a medida.
Ferreira se ressente do tempo em que havia somente a grande mídia, que agora está apoiando as entidades médicas. Quando a Federação Nacional de Jornalistas defendeu a criação de um Conselho Nacional de Jornalismo, aí a mídia foi contra, porque não lhe interessava partilhar o poder com uma entidade de trabalhadores. Seria bom, portanto, alertar ao senhor Ferreira que essa aliança com a mídia é uma armadilha, porque esta jamais foi a favor da medicina brasileira ou do aumento de salários para profissionais de saúde.
De qualquer forma, a guerra entre entidades, médicos e governo é absurda. Ambos têm obrigação de deporem as armas e chegarem a um acordo. As entidades têm de tomar cuidado para não se deixarem usar pelo proselitismo político e partidário da mídia. O governo tem de sentar e negociar, mas sem recuar, porque o interesse do povo brasileiro está acima do corporativismo egoísta de qualquer classe profissional. A resistência das corporações médicas é uma resistência conservadora, do status quo, e o governo jamais conseguirá fazer omeletes sem quebrar alguns ovos.
As entidades, de qualquer forma, têm que baixar a bola. Pesquisas indicam que a população aprovou o Mais Saúde, conforme nota publicada hoje no Painel da Folha:
Ansiolítico 1 Pesquisa encomendada pelo governo, com 2.000 entrevistas, mostrou aprovação ao programa Mais Médicos, lançado na semana passada e bombardeado por entidades do setor.
Ansiolítico 2 Segundo a pesquisa, 78% aprovam a criação do segundo ciclo, pelo qual estudantes de medicina têm de atuar dois anos no SUS antes de se formar. Já a contratação de médicos estrangeiros é mais polêmica: 51% são a favor e 45% contra.
Os médicos e suas entidades devem estar atentos às necessidades urgentes do povo brasileiro. Não é possível que seja um sacrificio tão grande ir trabalhar no interior e na periferia ganhando R$ 10 mil/mês. De qualquer forma, ninguém é obrigado a ir. Os que estão confortáveis em suas clínicas nas áreas ricas das grandes cidades, poderão continuar onde estão.
Textos extraídos do Tijolaço.co
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