Um teste de credibilidade
Em
períodos eleitorais como o que atravessamos, pode-se observar com mais clareza
a pobreza do solo em que a imprensa hegemônica faz suas colheitas de notícias.
Na entressafra de pesquisas de intenção de voto, predomina o jornalismo
declaratório, que tenta transformar em informação relevante qualquer coisa que
brote desse deserto de ideias.
O mais novo fruto dessa seara de suposições é uma lista de
políticos que teriam sido beneficiados por operações do doleiro Alberto
Yousseff. Os artigos, editoriais e comentários publicados nas edições de
terça-feira (9/9) sobre o assunto estão repletos de expressões condicionais, do
tipo “maracutaias podem ter custado tanto”, “políticos teriam se beneficiado”,
“seriam 62 os envolvidos” e “não se informou o que teriam praticado”.
Em tudo predomina o cuidado de não fazer
afirmações, principalmente porque a fonte primária, a revista Veja, tem um alentado histórico de
farsas, denúncias forjadas e suposições nunca confirmadas, tudo misturado a
acusações que se revelaram verdadeiras e fundamentadas.
Por mais que o jornalismo predominante na mídia tradicional do
Brasil se mostre há muitos anos contaminado por determinado viés ideológico,
que impõe uma visão homogênea sobre os principais acontecimentos, ainda se pode
observar certa cautela no intenso noticiário sobre o depoimento que o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa teria negociado com a Justiça, em
troca de amenizar a pena de prisão a que está sujeito.
Mas há um abismo entre o que os jornais
manifestam como opinião de seus editores e a convicção que expressam em seu
noticiário. O editorial do Estado de
S.Paulo pondera, com cautela, que “é ainda muito pouco – e incerto – o
que acaba de vir a público do esquema de corrupção na Petrobras”.
A Folha de S. Paulo, também em editorial, observa que o denunciante
“tem todo interesse em tentar encurtar sua prisão, o que pode fazer não apenas
narrando fatos reais, mas também confundindo a Justiça – hipótese em que os
verdadeiros criminosos entenderiam o recado e tratariam de ajudá-lo”.
Há, portanto, certa dose de reserva no núcleo de opiniões dos
dois diários paulistas de circulação nacional quanto à credibilidade da fonte.
O
abraço dos desesperados
Já o Globo não tem dúvida: tudo que vazou da suposta negociação
entre o principal acusado das falcatruas na Petrobras e as autoridades é tido
pelo jornal carioca como fato, e essa posição oficial se reflete no modo como o
assunto vem sendo tratado em todos os veículos do grupo, com especial dedicação
no Jornal Nacional de sua
rede de televisão.
No entanto, mesmo no núcleo de campanha do PSDB à Presidência da
República, considera-se que é muito baixo o potencial desse noticiário para
provocar mudanças na distribuição das intenções de voto. Analistas próximos ao
senador Aécio Neves, citados pela imprensa, acham que a denúncia mais recente
na safra de escândalos que nascem na Petrobras é muito genérica e imprecisa, e
envolve tantos nomes que acaba se diluindo na conta geral da corrupção.
Quem se beneficiaria desse noticiário ruidoso produzido em cima
de uma ação desesperada do ex-diretor que se vê cada vez mais próximo de ser
condenado?
Os jornais observam que o candidato do
PSDB é o único que pode tirar alguma vantagem do escândalo, visando
principalmente os eleitores da classe de renda média, “urbanos e escolarizados”
que apoiam a ex-ministra Marina Silva, como anota um colunista do Globo. Mas também Aécio Neves é um homem
em circunstância de desespero, cujo patrimônio de votos se esvaiu com a
ascensão da candidata do PSB.
É muito mais provável que a suposta denúncia do ex-diretor da
Petrobras tenha um efeito irrelevante nas escolhas do eleitorado. Mesmo que os
autores do vazamento tenham o cuidado de alimentar a imprensa a conta-gotas,
para manter o assunto no noticiário, o primeiro impacto é o que conta: depois
disso, ensinam as teorias da comunicação, tudo passa a ser redundância.
Certamente o
tema será explorado no próximo debate entre os candidatos, marcado para o dia 2
de outubro na Rede Globo. Mas, antes disso, uma nova pesquisa terá indicado se
a imprensa ainda possui alguma influência sobre as urnas.
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