segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Leandro Karnal em uma reflexão sobre Bauman, mundo líquido, individualismo exarcerbado e um mundo transitório cada vez mais descartável




Leandro Karnal, professor da UNICAMP, é um historiador brasileiro, titular, na universidade citada da cátedra na área de História da América. Trabalha com temas como memória, alienação, arte e modernidade. Foi também curador de diversas exposições, como A Escrita da Memória, em São Paulo, tendo colaborado ainda na elaboração curatorial de museus, como o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Graduado em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos e doutor pela Universidade de São Paulo, Karnal tem publicações sobre o ensino de História, bem como sobre História da América e História das Religiões.

Apresentamos, a seguir, uma parte, em vídeo, da palestra de Leandro Karnal no 3° Congresso sobre Gestão de Pessoas do Setor Público Paulista. 

Karnal aponta alguns transformações marcadas pela velocidade nas dinâmicas sociais.  (fonte: Youtube)




Pessoas que estão perto de morrer dizem muitas vezes que vêem seus parentes já falecidos...





Segue um breve artigo (traduzido) de Jen Engevik publicado no First tok Now, recentemente, dia 28 de agosto de 2015 (Tradução e Notas de Carlos Antonio Fragoso Guimarães):

A minha busca para entender o que o veem as pessoas ao morrer começou quando eu descobri que minha mãe tinha apenas mais alguns meses de vida. Eu queria estar familiarizado com os estágios que ela iria passar e como eu poderia dar o melhor estando ao seu lado nestes momentos.

Uma das coisas que eu li sobre o morrer é que muitas vezes as pessoas vêem parentes falecidos ou amigos pouco antes do fim.  Eu cresci como um Adventista do Sétimo Dia, e fui ensinado que tais coisas simplesmente não podia acontecer. No entanto, eu li e ouvi muitas histórias de homens, mulheres e crianças em seus leitos de morte, que viram suas mães mortas, pais, avós, vovôs, tias, tios, irmãos, irmãs e amigos. O mesmo acontece com as pessoas que passaram por uma "experiências de quase-morte."

A resposta padrão lógica dada para esse fenômeno é que a falta de oxigênio e/ou consumo de várias drogas podem fazer coisas malucas com o cérebro. Quem sabe o que pode ocorrer quando uma pessoa está enlaçada apenas por um fio de vida?

À medida que nos aproximamos dos últimos dias de vida de minha mãe, mais eu queria entender o que ela estava sentindo e vendo. Um dia antes de seu último suspiro eu decidi perguntar a ela.

Primeiro, eu queria ter certeza de que ela pudesse compreender o que eu estava dizendo. Eu disse a ela que a amava, e ela levantou as sobrancelhas em reconhecimento. Então compartilhamos uma história engraçada sobre uma conversa que eu e minha irmã tivemos. Os cantos de sua boca transformaram-se em um sorriso. Eu poderia dizer que ela estava entendendo cada palavra.

E então eu fui direto ao assunto.

"Mãe, eu posso lhe fazer uma pergunta realmente séria?" Ela virou a cabeça e abriu os olhos completamente. Acredito que ela esforçava-se para captar toda a palavra que saia da minha boca.

"Mãe, você vê qualquer um dos nossos parentes mortos no quarto? Você vê seu pai?" Ela balançou a cabeça para indicar "não ".

"Você vê a sua mãe," ela balançou a cabeça.

"Você vê meu pai?" (O meu pai morreu quando eu tinha 10 anos). Sua resposta foi bem diferente desta vez. Ela começou balançando a cabeça para indicar "sim".

"Ele está aqui nesta sala agora?" Ela assentiu com a cabeça. "Ele pode me ver?", Ela balançou a cabeça novamente. E então ela tentou se comunicar com palavras, mas não conseguia pronunciar as palavras. Eu poderia dizer que ela queria compartilhar sua realidade comigo.

   Nota do Tradutor: Na história das Pesquisas Psíquicas levantadas de modo criterioso desde o século XIX, especialmente com a Society for Psychical Research, em Londres, e com o Instituto Metapsíquico Internacional, de Paris, e, atualmente, com os estudos de Raymond Moody, Karlis Osis, Elizabeht Kübler-Ross e outros, foi levantado um grande número de ocorrências de visões de parentes falecidos no leito de morte, quase sempre vistos pelo moribundo mas, em alguns casos, também presenciados por outras pessoas - parentes, médicos ou amigos. Algumas vezes, a figura do parente falecido é visto pelas testemunhas e não pelo moribundo. Citemos, como exemplo, dois casos curtos, apresentados pelo pesquisador francês Charles Richet (1850-1935), Prêmio Nobel de Medicina em 1913, em sua monumental obra Tratado de Metapsíquica (1923):  
   A senhora Pearson velava, com sua irmã, a senhora Coppinger, à cabeceira da senhora Harriet, sua tia. muito doente, que estava morrendo  Subitamente, a senhora Coppinger, irmã da senhora Pearson, lhe disse: "Emma, olhe, eis tia Anna!" E as duas irmãs viram, então, a figura de uma mulher pequena, envolvida em um velho xale, com um chapéu fora de moda na cabeça. Esta forma entrou no quarto da doente.
  A tia Anna era uma irmã falecida da enferma. A senhora Harriet, antes de morrer, disse que vira sua irmã, que tinha vindo chamá-la (Charles Richet, Tratado de Metapsíquica, 2013, Editora do Conhecimento, volume I, páginas 451-452). 
  A senhora B... estava à cabeceira da mãe moribunda quando viu o fantasma de sua madrinha, uma velha governanta que havia morrido havia muito tempo, sentada, ao lado do fogo, no lugar habitual de sua mãe. Soltou um grito: sua irmã chegou, viu também o fantasma e três outras pessoas (também) o virão (Richet, ob. cit. páginas 454-455).

No dia seguinte, mãe em um reino diferente. Ela não estava respondendo a mim ou a meus familiares, mas ela estava tendo conversas inaudíveis com um ser que eu não podia ver. Talvez o meu pai?

Às vezes ela se tornava bastante animada, emitindo algo do fundo de sua garganta e fazendo sons guturais. Em um ponto, ela continuou balançando a cabeça e dizendo "não". Era óbvio que ela estava lutando contra algo. Sentei-me ao lado dela e tentei abraçá-la. Minha irmã também entrou no quarto para deixar a mãe saber que ela estava lá. Então chamei meu irmão e deixá-lo dizer "Olá".

Pouco tempo depois, a mãe começou a ter conversações novamente. Quando ela falou para o ser invisível desta vez, era como se eles estivessem tendo uma conversa coesa - uma que eu ainda não conseguia entender porque  suas cordas vocais estavam comprometidas. Falava algo e, em seguida, ouvia e falava novamente. Era como se ela estivesse tentando dar algum sentido ao que estava sendo dito.

A conversa terminou, e um pouco mais tarde, seu corpo se contraiu. Sua testa ficou franzida. Então, alguma coisa profunda aconteceu. Sua alma (a mãe que eu amava e valorizado tanto)  deixou completamente seu corpo. Seu corpo continuou a respirar, mas não houve mais conversas. Sem mais olhares severos ou caretas quando ajustava as pernas ou costas.

O que eu vi me levou a concluir que ela finalmente concordou em ir. Poderia ser possível que ela se foi com o meu pai? Que ele foi enviado para levá-la e mantê-la segura ao longo do caminho?

Conquanto eu não posso ter certeza, isso é o que pareceu se dar.

De acordo com David Kessler, autor e especialista em morte e no morrer, as seguintes coisas acontecem muitas vezes quando uma pessoa está prestes a partir.

Os moribundos são frequentemente visitados por suas mães mortas.
Suas mãos com frequência se elevam em direção a uma força que não pode ser vista. (Minha mãe fez isso)
Familiares e amigos dos moribundos não podem ver suas visões ou participar de conversas.
Visões ocorrem frequentemente em um intervalo que vão de horas a semanas antes de morrer.

Conquanto não haja ainda nenhuma "prova" de que suas visões e comunicação com familiares ou amigos falecidos são reais, alguns especialistas em morte e morrer são inflexíveis ao afirmarem que elas devem ser levadas à sério.

"As pessoas pensam que é apenas confusão ou efeito de drogas", explica Maggie Callanan. Como uma enfermeira  por mais de 27 anos, ela já ajudou mais de 2.000 homens e mulheres em seus últimos dias. "Mas, francamente, a confusão é nossa. O paciente sabe o que está acontecendo. "

Dra. Martha Twaddle, diretora médica do Midwest Palliative & Hospice CareCenter, explica ainda: "Você pode desconsiderar e dizer que é uma alucinação, que eles não estão recebendo oxigênio suficiente em seu cérebro, mas não, isso não se aplica para muitas pessoas nessas situações. Eu tenho que acreditar que eles estão em transição; eles estão em uma fase que não entendemos física ou metafisicamente. E é profundamente reconfortante ver isso acontecer. "

Após a morte de minha mãe, fiquei mais aberto à idéia de que algo incrível (como o meu pai estar lá para buscar) pode ocorrer. A experiência foi algo que eu nunca poderia esquecer - e honestamente eu não quero esquecer.

Apenas algumas semanas atrás, eu estava me perguntando por que não tive muitos sonhos de minha mãe desde que ela morreu. Como eu estava dirigindo para casa do trabalho, eu disse em voz alta: "Mãe, é hora de você vir me visitar em um sonho! Onde está você, afinal? "  Eu, então, ri  e me distraí dirigindo através do meu canyon favorito.

Naquela noite, enquanto eu estava dormindo, aconteceu. Eu tive um dos sonhos mais lúcidos em um muito tempo. Mamãe estava vestida lindamente. Ela olhou para mim com um sorriso enorme. Seus olhos estavam brilhantes e cheios de vida. Ela estava mais feliz do que eu tinha visto em anos. E ela era mais jovem, talvez ela 45 ou 50 anos de idade eu. Nós não trocamos nenhuma palavra, mas estava claro que ela está curada, feliz e livre.

Acordei com alegria em meu coração.

domingo, 30 de agosto de 2015

Leonardo Boff: "Estão se acabando recursos na dispensa da Casa Comum"




Segue texto do teólogo, ecólogo, ativista e pensador Leonardo Boff sobre a destruição de nosso planeta por ambição e imbecilidade desmedida. O texto foi extraído do blog do autor.

A Terra é um planeta pequeno, velho, com a idade de 4,44 bihões de anos, com 6.400 km de raio e 40.000 km de circunferência. Há 3,8 bilhões de anos surgiu nele todo tipo de vida e há cerca 7 milhões, um ser consciente e inteligente, altamente ativo e ameaçador: o ser humano. O preocupante é o fato de que a Terra já não possui reservas suficientes em sua dispensa para fornecer alimentos e água para seus habitantes. Sua biocapacidade está se enfraquecendo dia a dia.
O dia 13 de agosto foi o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshooting Day). É o que nos informou a Rede da Pegada Global (Global Footprint Network) que, junto com outras instituições como a WWF e o Living Planet acompanham sistematicamente o estado da Terra. A pegada ecológica humana (quanto de bens e serviços precisamos para viver) foi ultrapassada. As reservas da Terra se estão se esgotando e precisamos de 1,6 planeta para atender nossas necessidades sem ainda aquelas da grande comunidade de vida (fauna, flora, micro-organismos). Em palavras de nosso cotidiano: nosso cartão de crédito entrou no vermelho.
Até 1961 precisávamos apenas de 63% da Terra para atender as nossas demandas. Com o aumento da população e do consumo já em 1975 necessitávamos 97% da Terra. Em 1980 exigíamos 100,6%, a primeira Sobrecarga da pegada ecológica planetária. Em 2005 já atingíamos a cifra de 1,4 planeta. E atualmente em agosto de 2015 1,6 planeta.
Se hipoteticamente quiséssemos, dizem-nos biólogos e cosmólogos, universalizar o tipo de consumo que os países opulentos desfrutam, seriam necessários 5 planetas iguais ao atual, o que é absolutamente impossível além de irracional(cf. R. Barbault, Ecologia geral, 2011, p.418).
Para completar a análise cumpre referir a pesquisa feita por 18 cientistas sobre “Os limites planetários: um guia para o desenvolvimento humano num planeta em mutação” publicada na prestigiosa revista Science de janeiro de 2015 (bom resumo em IHU de 09/02/2015). Aí se elencam 9 fronteiras que não podem ser violadas, caso contrário, colocamos sob risco as bases da vida no planeta (mudanças climáticas; extinção de espécies; diminuição da camada de ozônio; acidificação dos oceanos; erosão dos ciclos de fósforo e nitrogênio; abusos no uso da terra como desmatamentos; escassez de água doce; concentração de partículas microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos; introdução de novos elementos radioativos, nanomateriais, micro-plásticos).
Quatro das 9 fronteiras foram ultrapassads mas duas delas – a mudança climática e a extinção das espécies – que são fronteiras fundamentais, podem levar a civilização a um colapso. Foi o que concluiram os 18 cientistas.
Tal dado coloca em xeque o modelo vigente de análise da economia da sociedade mundial e nacional, medida pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Este implica uma profunda intervenção nos ritmos da natureza e a exploração dos bens e serviços dos ecosistemas em vista da acumulação e com isso do aumento do PIB. Este modelo é uma falácia pois não considera o tremendo estresse a que submete todos os serviços ecossistêmicos globais que garantem a continuidade da vida e de nossa civilização. De forma irresponsável e irracional considera tal fato, com suas graves consequências, como “externalidades”, vale dizer, fatores que não entram na contabilidade nacional e internacional das empresas.
E assim gaiamente vamos ao encontro de um abismo que se abre logo aí à nossa frente. Curiosamente, nas discussões sobre temas econômicos que se organizam semanalmente nas TVs ( por exemplo, o Painel da Globoniews, aos sábados e domingos) nunca ou quase nunca se faz referência aos limites ecosistêmicos da Terra. Com raras exceções, os economistas parecem cegos e cegados pelas cifras do PIB, reféns de um paradigma velho e reducionista de analisar a economia concreta que temos. Se todas as fronteiras forem violadas, como tudo parece indicar, que acontecerá com a Terra viva e a Humanidade? Temos que mudar nossos hábitos de consumo, as formas de produção e de distribuição como não se cansa de repisar o Papa Francisco e ausente nos analistas de O Globo que sequer fazem uma referência a um tema tão fundamental. Mal imaginam que podemos conhecer um “armagedom” ecológico-social sem precedentes.
Imaginemos o planeta Terra como uma avião de carreira. Possui limites de alimentos, de água e de combustível. 1% viaja na primeira classe; 5% na executiva e os 95% na classe econômica ou junto às baguagens num frio aterrador. Chega um momento em que todos os recursos se esgotam. O avião fatalmente se precipita, vitimando todos e de todas classes.
Queremos este destino para a nossa única Casa Comum e para nós mesmos? Não temos alternativa: ou mudamos nossos hábitos ou lentamente definharemos como os habitantes da ilha de Páscoa até restarem apenas alguns representantes, talvez invejando quem morreu antes. Efetivamente, não fomos chamados à existência para conhecermos um fim tão trágico. Seguramente “o Senhor, soberano amante da vida”(Sab 11,26) não o permitirá. Não será por um milagre mas pela nossa mudança de hábitos e pela cooperação de todos.
Leonardo Boff escreveu Proteger a Terra-cuidar da vida: como escapar do fim do mundo, Record, Rio 2010.

Jiddu Krishnamurti e David Bohm discutem, em video, a mente condicionada a padrões nocivos de uma falsa ordem






 Apresentamos, a seguir, extratos de uma entrevista muito interessante entre o físico David Bohm, o filósofo Jiddu Krishnamurti e o repórter S. Narayan, ocorrida em junho de 1980. O assunto interessa a todos os que se interessam por Psicologia, Filosofia, Ciência e Sociologia.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Ladislau Dowbor: Bancos e grandes corporações são ‘os donos da crise mundial’


Problemas que ameaçam países hoje são causados pela “financeirização” e por interesses das grandes corporações que controlam a economia do planeta, segundo economista Ladislau Dowbor



“Temos todo o necessário hoje para construir um mundo que faça sentido. O problema não é falta de recursos, é falta de governança.” Assim o economista Ladislau Dowbor, professor da PUC São Paulo, iniciou palestra ontem (26) no 3º Congresso Internacional de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde, realizado pela Fundacentro, Alal (Associação Latinoamericana de Advogados Laboralistas) e Ministério Público do Trabalho (MPT), que ocorre na Faculdade de Direito da USP.
O também professor foi enfático ao discorrer sobre as origens e responsabilidades pela atual crise econômica mundial: “A totalidade das chamadas commodities – grãos, petróleo, gás e minérios – está nas mãos de 16 tradings globais”, disse, ao referir-se à queda nos preços desse segmento nos últimos 12 meses. “Quando se pensa que os principais bens do planeta estão com 16 corporações, vemos que há um controle da economia mundial sem que se tenha um governo mundial.”
Ele citou estudo do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica que aponta: 737 empresas controlam 80% do sistema corporativo mundial. “Isso é gente que se conhece, nem precisa se procurar para conspirar. Trata-se de um verdadeiro oligopólio planetário, e 65% desse sistema corporativo é formado por bancos.”
Para o professor, esse controle e financeirização da economia resultou numa dinâmica que hoje multiplica um sistema de quebradeira nos mais variados países: “O que hoje está acontecendo na Grécia, antes aconteceu no sudeste asiático e, antes disso, no México, e também já aconteceu na Argentina”.
Com essa introdução sobre economia mundial, o professor abordou os Desafios à consolidação do estado social democrático na América Latina, tema em debate na tarde de terça-feira 25,  até sexta-feira 28.
Também participou da mesa o ex-ministro de Relações Internacionais do governo Lula, o diplomata Celso Amorim.
“Contribuição” dos bancos
Ladislau Dowbor destacou o papel dos bancos na crise brasileira, a partir de dados do Banco Central sobre o endividamento das famílias: em 2005 correspondia a 19,3% da renda, em abril de 2015 pulou para 46,5% da renda. “Isso trava a economia”, argumentou, lembrando os exorbitantes juros bancários no país. “Um crediário no Brasil tem 100% de juros, na Europa é 13%. O rotativo do cartão de crédito alcança em média 300% ao ano. O cheque especial no Brasil chega a 200% ao ano, enquanto que na Espanha é 0% até seis meses. Hoje temos mais de R$ 20 bilhões empatados em dívidas de gente que está pagando cheque especial. Ou seja, crediários, cartões de crédito e juros bancários para pessoa física travam a demanda, pois o comprador paga em dobro pelo produto, assim endivida-se muito comprando pouco.”
Também criticou os altos juros para pessoas jurídicas e enfatizou: “Para completar esse quadro, a alta da Selic provoca a transferência de centenas de bilhões dos nossos impostos para os bancos, o que trava a capacidade do Estado de investir em infraestrutura e expandir políticas sociais”, disse, referindo-se aos títulos da dívida pública, indexados pela Selic. “Assim completa-se o quadro dessa bandidagem absolutamente fenomenal que está drenando recursos do nosso país”.
Interesses na crise
Dowbor lembrou os avanços sociais que o país teve nos últimos anos, com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) crescendo 31% entre 1980 (0,549) e 2011 (0,718), desempenho que foi puxado pelo aumento na expectativa de vida (de 62,5 anos para 73,5 anos), pela melhora na média de anos de escolaridade (4,6 anos a mais) e pelo crescimento da renda nacional bruta per capita (quase 40% entre 1980 e 2011). “E vamos dizer que o país está quebrado?”, questionou.
“Os resultados são gigantescos, muito sólidos, essa crise não é uma crise econômica, é uma crise levada por interesses políticos. Temos uma aliança do sistema financeiro, da mídia e de parte do Judiciário. E não vamos nos esquecer do Congresso que é eleito por corporações, por isso temos a bancada ruralista, a dos bancos, a das empreiteiras, das montadoras… fica-se à procura da bancada do cidadão.” E completou. “Tivemos isso em 54 (ano em que Getúlio Vargas se suicidou). Tivemos também em 64 (ditadura militar) e estamos tendo isso de novo hoje. Não passa pela goela das nossas oligarquias que haja uma democracia, e isso não só nos ameaça aqui, como nos ameaça no continente latino-americano e no mundo.”

Foto: Fernanda Carvalho/Fotos Públicas

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, discute as jogatinas do capitalismo das Bolsas e as políticas de austeridade que agravam a crise

"Tentativas de explicar as oscilações diárias nos mercados são normalmente insanas: uma pesquisa em tempo real sobre o crash de 1987 da bolsa de Nova York não encontrou evidência alguma para nenhuma das explicações que os economistas e jornalistas ofereceram para o fato. Descobriram, ao invés disso, que as pessoas estavam vendendo ações porque – você adivinhou! – os preços caíam. E o mercado de ações é um péssimo guia sobre o futuro da economia." - Paul Krugman


Krugman: políticas atuais agravarão a crise






Não culpe a China por novos terremotos financeiros. Fragilidade da economia global tem causas profundas. Resposta convencional – cortar gastos públicos e elevar juros – é a pior possível
Por Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia de 2008) ! Tradução: Antonio Martins
Que está causando as quedas abruptas das bolsas de valores? O que elas significam para o futuro? Ninguém tem muitas respostas.
Tentativas de explicar as oscilações diárias nos mercados são normalmente insanas: uma pesquisa em tempo real sobre o crash de 1987 da bolsa de Nova York não encontrou evidência alguma para nenhuma das explicações que os economistas e jornalistas ofereceram para o fato. Descobriram, ao invés disso, que as pessoas estavam vendendo ações porque – você adivinhou! – os preços caíam. E o mercado de ações é um péssimo guia sobre o futuro da economia.Paul Samuelson brincou, certa vez, que os mercados haviam previsto nove das cinco recessões anteriores, e nada havia mudado a este respeito…
De qualquer forma, os investidores estão claramente nervosos – e têm boas razões para isso. Nos EUA, as notícias econômicas mais recentes são boas (ainda que não ótimas), mas o mundo como um todo parece muito propenso a acidentes. Há sete anos, vivemos numa economia global que tropeça de crise em crise. Cada vez que uma parte do mundo finalmente parece colocar-se em pé, outra despenca.
Mas por que a economia mundial continua capengando?
Na superfície, parece uma sucessão incomum de azares. Primeiro, o estouro da bolha imobiliária e a crise bancária desencadeada em consequência. Então, quando o pior parecia haver passado, a Europa mergulhou numa crise de dívidas e numa recessão em dois mergulhos. A Europa ao fim alcançou uma estabilidade precária e começou a crescer de novo – mas agora, assistimos a grandes problemas na China e em outros mercados emergentes, que haviam sido pilares de força.
Contudo, não se trata de acidentes sem relação entre si. Estamos, na verdade, vivendo o que sempre ocorre quando muito dinheiro está em busca de poucas oportunidades de investimento
Mais de uma década atrás, Ben Bernanke, então o presidente do banco central dos EUA (FED), argumento que a disparada do déficit comercial norte-americano não era o resultado de fatores domésticos, mas de uma “abundância global de poupança”. Um volume de poupança muito maior que o de investimentos – na China e em outras nações em desenvolvimento, provocado em parte pelas políticas adotadas em reação à crise asiática dos anos 1990 – estava deslocando-se para os EUA, em busca de lucros. Ele alertou levemente para o fato de que o capital que entrava não estava sendo canalizado para investimentos produtivos, mas para imóveis. É claro que o alerta deveria ter sido muito mais forte (alguns de nós o fizemos). Mas a sugestão de que o boom imobiliário dos EUA era em parte causado por fraqueza em economias de outros países permanece válido.
É claro que o boom converteu-se numa bolha, que provocou enorme estrago ao estourar. E não foi o fim da história. Houve também uma inundação de capitais, da Alemanha e outros países do norte da Europa, para a Espanha, Portugal e Grécia. Isso também provocou a formação de uma bolha, cujo estouro, em 2009-2010 precipitou a crise do euro.
E ainda não acabou. Quando os EUA e a Europa deixaram de ser destinos atraentes para o capital [devido à redução das taxas de juro a quase zero], a abundância global saiu em busca de novas bolhas a inflar, levando moedas como o real brasileiro a altas insustentáveis. Não poderia durar e agora estamos em meio a uma crise de mercados emergentes que faz alguns observadores lembrarem-se da Ásia nos anos 1990 – lembre-se, onde tudo começou.
Portanto, para onde o fluxo cambiante da abundância aponta agora? Talvez, de novo para os EUA, onde um novo fluxo de capitais externos provoca a alta do dólar e pode tornar a indústria novamente não-competitiva.
que provoca a abundância global? Provavelmente, uma soma de fatores. O crescimento populacional está arrefecendo em todo o mundo e, apesar de toda a fanfarra com as últimas tecnologias, elas não parecem criar nem um grande aumento de produtividade, nem demanda para investimentos. A ideologia da austeridade, que conduziu a um enfraquecimento sem precedentes dos gastos públicos, ampliou o problema. E a inflação baixa, em todo mundo, que significa taxas de juros baixas, mesmo quando as economias estão crescendo aceleradamente, reduziu o espaço para cortar estas taxas, quando as economias se contraem. Qualquer que seja o mix preciso das causas, o importante agora é que os governos assumam seriamente a possibilidade – eu diria probabilidade –de que excesso de poupança e fraqueza econômica global tenha se tornado a nova normalidade.
Minha percepção é de que há, hoje, uma profunda falta de vontade política, mesmo entre governantes sofisticados, para aceitar esta realidade. Em parte, é devido a interesses especiais: Wall Street e os mercados não gostam de ouvir que um mundo instável requer regulação financeira, e os políticos que desejam matar o estado de bem-estar social não querem ouvir que os gastos governamentais não são um problema, no cenário atual.
Mas há também, estou convencido, uma espécie de preconceito emocionalcontra a própria noção de abundância global. Políticos e tecnocratas gostam de se enxergar como pessoas sérias, que tomam decisões difíceis – como cortar programas populares e elevar taxas de juros. Eles não querem ser informados de que estamos num mundo em que políticas aparentemente rigorosas irão tornar as coisas piores. Mas nós estamos, e elas vão.

domingo, 23 de agosto de 2015

Eduardo Cunha pode ser pego pelo dízimo


    "O dado curioso é que Cunha poderá ser pego pelo dízimo. Parte das propinas foi em espécie. Outras, transferidas através das contas de Fernando Baiano. As que têm as digitais de Cunha são para a Igreja Evangélica de Madureira." - Luis Nassif


Eduardo Cunha pode ser pego pelo dízimo

A denúncia do Procurador Geral da República Rodrigo Janot contra o presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha inaugura um novo tempo no jogo político.
Durante o dia, segundo os jornais, Cunha foi se aconselhar com os aliados. E aí se revela a hipocrisia do jogo político.
Agripino Maia, senador pelo Rio Grande do Norte, e da frente ampla pelo impeachment de Dilma Rousseff, defendeu a permanência de Cunha no cargo. Mendonça Filho, líder do DEM na Câmara – e um dos articuladores da eleição de Cunha para a presidência da casa – declarou judiciosamente que “ninguém pode ser condenado antecipadamente, nem blindado” (http://migre.me/rfvYj).
Durante o dia, Mendonça e o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, foram procurados por Cunha atrás de conselhos (http://migre.me/rfwd1).
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Em 85 páginas a denúncia se assemelha a uma reportagem bem elaborada, sem o linguajar opressivo dos advogados.
Relata cada etapa do jogo mantido com a Diretoria Internacional da Petrobras para o aluguel de navios-sonda, preenche a delação com detalhes dos lugares onde teriam ocorrido reuniões, os arquivos da Câmara comprovando as pressões de Cunha contra a Mitsubishi, para a regularização das propinas.
É um excelente roteiro sobre os métodos modernos de investigação. Através da análise do sinal de rádio do celular de um dos suspeitos, consegue-se determinar sua localização justamente no prédio que o delator apontara como local da reunião para tratar das propinas.
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De um lado, mostra a incrível facilidade com que, na Petrobras, se aprovavam contratos de mais de US$ 1 bilhão sem maiores precauções. Ninguém conseguiria agir livremente, à salvo dos controles internos da companhia, sem um padrinho político forte e pactos políticos que garantiam liberdade de atuação.
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O dado relevante é a exposição dos métodos de chantagem a que Cunha recorria, valendo-se das prerrogativas dos órgãos de controle, dentre os quais o Congresso é um deles. Bastava um requerimento ao TCU (Tribunal de Contas da União) para implantar o terror ao chantageado.
Nesses tempos de CPIs alucinadas, é importante um acompanhamento pormenorizado dos trabalhos. Muitas CPIs foram abertas com o intuito mascarado de chantagear empresas, como foi o caso da CPI da Serasa, mais de dez anos atrás.
Manter Eduardo Cunha à frente da Câmara, depois da exposição pública das suas jogadas, será a completa desmoralização da oposição.
O dado curioso é que Cunha poderá ser pego pelo dízimo. Parte das propinas foi em espécie. Outras, transferidas através das contas de Fernando Baiano. As que têm as digitais de Cunha são para a Igreja Evangélica de Madureira.

A visita de Merkel


Em curto espaço de tempo, governantes das três maiores economias do mundo aproximaram-se do Brasil. Primeiro, Barack Obama. Depois, o primeiro-ministro da  China, Li Keqiang, com uma comitiva de empresários. Agora, Ângela Merkel, a principal mandatária da União Europeia.
A razão é simples. A onda negativista que recobre o país, devido à crise política e econômica, não é suficiente para nublar seu futuro. O vice-ministro das Finanças Jens Spahn declarou-se impressionado com o PIL (Plano de Investimento em Logística).
Há alguns anos, os primeiros estudos abrangentes sobre a infraestrutura mostravam um espaço para investimentos anuais da ordem de R$ 100 bilhões, apenas para recuperar o passivo acumulado.

Texto de Luis Carlos Bresser-Pereira à altura do atual momento do país

À altura do momento, por Luiz Carlos Bresser-Pereira


Luiz Carlos Bresser-pereira (Folha de S.Paulo, 20.8.2015) publicou um artigo sensato que clama por lucidez política. Esperemos que as lideranças políticas, sindicais, empresariais e intelectuais a tenham.
O Brasil vive uma crise política profunda que tem como causa principal a Operação Lava Jato, e como segunda causa a perda de apoio da presidente Dilma Rousseff junto à sociedade devido aos maus resultados da economia e ao envolvimento do PT no escândalo da Petrobras.
Vivemos também uma crise econômica aguda, que não significou a quebra do país, como ocorreu nas duas últimas crises, mas que ameaça a sociedade brasileira com uma longa e penosa recessão.
As causas da crise econômica são a violenta queda no preço das commodities exportadas pelo Brasil em 2014 e a forte expansão fiscal. Em um país que não aceita mais a irresponsabilidade fiscal, a crise econômica associada à crise política, produziu uma grave crise de confiança e a redução dos investimentos.
As duas crises estão, portanto, associadas: a política agrava a econômica e é por esta agravada.
Diante dessa dupla crise, a presidente fez o que podia e devia fazer: mudou radicalmente sua política econômica e delegou sua formulação e execução a dois economistas competentes, Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento). Ao mesmo tempo entregou a coordenação política ao vice-presidente, Michel Temer, um político competente e experiente.
Ainda que eu não esteja tão pessimista como a maioria dos economistas a respeito da recuperação cíclica da economia brasileira, o fato é que o governo está encontrando uma grande dificuldade em fazer o ajustamento fiscal necessário.
O Orçamento brasileiro é irracionalmente rígido devido às vinculações constitucionais; os deputados do PMDB e da oposição têm votado projetos irresponsáveis, como o fator previdenciário e o aumento dos salários dos servidores do Judiciário; e a oposição não para de falar em impeachment, embora não haja qualquer base jurídica para tal.
Neste quadro difícil, o Banco Central, ao aumentar e se dispor a manter a taxa de juros em nível elevadíssimo, não reconhece que não há necessidade de aprofundar a recessão. O desemprego já aumentou e os salários começam a cair, o que significa que o inevitável ajuste salarial deverá desacelerar a inflação.
Por outro lado, o governo foi obrigado a reduzir a meta de superávit primário deste ano, pois a queda da receita fiscal tornou esse objetivo inviável. Mas estendeu o período de ajuste para 2016, o que significa que a demanda estará muito frouxa por mais tempo. Por que continuar a aumentar os juros, onerando a conta fiscal do governo brutalmente?
Hoje, vemos um governo que está frágil ser atacado pelo Banco Central, pela oposição e pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que age com o objetivo de “melar” a Lava Jato, que o ameaça, e avançar na proposta de impeachment, imaginando, assim, ter mais poder.
Ora, este não é o momento para atacar o governo. Muito menos é o momento para tentar desestabilizá-lo. Não estamos em época de eleições, mas em um momento em que temos que reunir forças para enfrentar uma crise econômica.
O que hoje precisamos é de um acordo político provisório. Como assinalou o professor Marcos Nobre em artigo no “Valor Econômico“, o acordo deve conter apenas dois itens:
  1. apoio à Lava Jato e
  2. rejeição da ideia de impeachment, a não ser que surjam fatos novos graves.
Temos excelentes políticos que sabem que a política é a arte do compromisso e que se sentem responsáveis pelos destinos da nação.
Grandes crises são momentos em que os grandes políticos se afirmam, porque deixam de lado as questões eleitorais de curto prazo e pensam no país. O Brasil vive um momento de profunda restruturação política, e os brasileiros saberão quem esteve à altura do momento”.

Paulo Nogueira sobre o significado do silêncio de Aécio e FHC sobre o aliado Eduardo Cunha


O que significa o silêncio de Aécio e FHC sobre Cunha





Texto de Paulo Nogueira, extraído do Diário do Centro do Mundo

Tão tagarelas ao dar lições de moral nos últimos meses, FHC e Aécio estão mantendo um silêncio de vaca amarela sobre o caso Eduardo Cunha.
Tem um preço este mutismo de ocasião.
Cada palavra silenciada desmoraliza as pronunciadas contra o governo Dilma.
FHC e Aécio simbolizam o Brasil farisaico, em que a corrupção é encarada conforme a ocasião.
Você faz cara de indignado se o acusado é um petista. Condena liminarmente.
E se cala se o acusado não é petista. No limite, diz que os fatos têm que ser devidamente apurados.
A pressa neurótica em condenar é substituída por uma calma imperturbável na espera da palavra sempre tardia da Justiça.
É a moralidade fajuta, feita não para promover a ética mas para enganar ingênips e manipular a opinião pública.
As evidências contra Eduardo Cunha são espetaculares.
Como esquecer o rosto amedrontado do delator Júlio Camargo ao rememorar o achaque de que foi vítima por Cunha?
Todas as peças se encaixaram no depoimento. No achaque, como ficou provado, Cunha utilizou até o expediente de ameaçar investigar na Câmara uma empresa que lhe devia dinheiro de propina.
Esmagado pela descoberta de seus crimes, Cunha faz o que agora, além de contar com o silêncio obsequioso dos Catões de araque como FHC e Aécio?
Ele se declara vítima.
Diz que foi escolhido para responder pelo que fez na certeza de que estava tudo sob controle.
Parece um batedor de carteira que, apanhado, olha para seus captores e diz, peito cheio de indignação: “Por que eu?”
Sua defesa, publicada no Facebook, é o oposto da peça de acusação de 85 páginas preparada pela equipe do procurador geral Rodrigo Janot.
Onde Janot traz fatos, Cunha contrapõe evasivas autovitimizadoras.
Pior do que ele só os caciques da Nova UDN, o PSDB.
Seu silêncio não apenas não ajuda Cunha como tem o efeito de desmascará-los.
É como se FHC e Aécio estivessem gritando: “O que nós falamos não vale nada. Não nos levem a sério.”
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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