segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Percival Maricato sobre a onda nazista estupida e burra, fomentada em grande parte pela mídia associada à Casa Grande, que varre o Brasil...





"Logo que se sentiram seguros, os nazistas extinguiram a Constituição, acabaram com eleições livres e começaram a liquidar seus inimigos por etapas. Os primeiros foram os comunistas e os sociais democratas, expulsos do Reichstag, postos na ilegalidade, enviados para campos de concentração quando presos. Depois vieram até líderes católicos, protestantes, intelecutais, políticos da direita, generais,  diplomatas, até membros da nobreza, insubmissos. O destino de todos foi campos de concentração ou bala na cabeça. Sobrou até mesmo para os líderes das S.A., entre eles Ernst Rohm, o maior  parceiro de Hitler na organização de tumultos e disseminação do ódio como instrumento de fazer política."



Judeus, intelectuais, gays, negros, petistas, nordestinos...
por Percival Maricato
Fonte: Jornal GGN
O presidente da Confederação Israelita no Brasil, Fernando Lottemberg, um intelectual respeitado, escreveu na FSP, pg 3, sobre o Holocausto e o reinício da perseguição a judeus na Europa nos tempos atuais, citou que no Brasil isso anda acontecendo com seguidores de religiões afro e homossexuais, o que preocupa. Esqueceu de citar as agressões a negros, nordestinos, petistas ou aos que os apoiam ou respeitam, até mesmo em cemitérios e hospitais, a que vitimou até Chico Buarque, que todos achavam ser unanimidade nacional, diversas outras em restaurantes, as faixas pedindo morte de comunistas em manifestações, volta da ditadura e etc.
Quanto aos problemas enfrentados por Israel no momento, há que se separar o antisemitismo fascista, inerente a ideologia, da insatisfação crescente entre outros setores da população  com a forma como o governo de extrema direita desse pais trata os palestinos.
Talvez, pelo artigo referido e pelo momento, seja relevante lembrar o que aconteceu na Alemanha com a tomada do poder pelos nazistas, em 1933, Hitler à frente, onde a tragédia do Holocausto iniciava. Eles assumiram o poder inicialmente dentro de normas constitucionais, com grande ajuda do exército, da nobreza, ainda poderosa, e  dos grandes industriais e políticos de direita, que pensavam em manipulá-los. Acrescente-se ainda as contribuições da França e da Inglaterra, que ignoraram ou até fizeram concessões explícitas as agressões do fuhrer, como na invasão das zonas desmilitarizadas, da Tchecoslováquia, a reconstrução da wehrmacht (exécito alemão), até que a frágil Alemanha pudesse rivalizar com seus países, e então era tarde.
Logo que se sentiram seguros, os nazistas extinguiram a Constituição, acabaram com eleições livres e começaram a liquidar seus inimigos por etapas.
Os primeiros foram os comunistas e os sociais democratas, expulsos do Reichstag, postos na ilegalidade, enviados para campos de concentração quando presos. Depois vieram até líderes católicos, protestantes, intelecutais, políticos da direita, generais,  diplomatas, até membros da nobreza, insubmissos. O destino de todos foi campos de concentração ou bala na cabeça. Sobrou até mesmo para os líderes das S.A., entre eles Ernst Rohm, o maior  parceiro de Hitler na organização de tumultos e disseminação do ódio como instrumento de fazer política. Rohn e dezenas de oficiais da milicia foram assassinados na Noite das Facas Longas por outra milícia, a SS. Na mesma noite liquidaram um general e um líder da direita, com sua esposa. Estes nada tinham a ver com as S.A. mas parece que os nazi resolveram aproveitar e já que tinham saído às ruas fizeram mais esse servicinho.  Aliás, a tática usada muitas vezes pela extrema-  direita era essa: causava tumultos, gerava insegurança, anarquia e então se apresentava  como mão forte para o retorno da ordem. No caso alemão os nazistas ainda acusavam os comunistas e judeus pela derrota na primeira guerra mundial. Nada a ver, mas a sociedade estava receptiva para achar culpados.
A perseguição aos judeus foi proposta pelos nazistas antes da tomada do poder, consta do Mein Kampf, sendo, portanto, previsível. Pode-se relatar episódios extremamente cruéis anteriores à guerra, como a formação de guetos, leis e práticas discriminatórias, a Noite dos Cristais e etc, mas foi só  após a liquidação das oposições políticas é que se deu o início da perseguição sistemática visando liquidar com os judeus, em todos os países dominados. E todos sabemos como acabou, um dos episódios mais trágicos da humanidade, ou da desumanidade, tanto como o que foi feito com os russos (26 milhões de mortos, três vezes mais que alemães) e demais povos dominados.
Os militares alemães também descobriram que estavam sendo dirigidos por pessoas desequilibradas pelo ódio e obtusas politicamente, mas era tarde. Um dos grupos que tentaram se insurgir, colocando uma bomba no bunker de Hitler, em julho de 1944, falhou. Foi o suficiente para os nazistas enforcarem centenas de oficiais (23 generais) e membros das classes sociais que tradicionalmente eram dominantes (nobres, diplomatas etc, num total de mais de cinco mil), em ganchos de açougue de um porão, com cordas de piano, para a agonia durar mais. As execuções eram filmadas, para que Hitler e asseclas pudessem assistir à noite. As vítimas eram levadas à forca sem cintas para segurar às calças para maior humilhação. Os demais generais que se comportaram foram, também, sendo humilhados nos meses seguintes, à medida que as derrotas se acumulavam. Todos eram chamados de incompetentes, traidores e etc e removidos de seus comandos. Como podia um povo tão inferior, com mentalidade de escravos (os russos), derrotarem os super-homens do exército alemão? A explicação seria a incompetência e covardia dos generais.
Somados, os mortos da II Grande Guerra são calculados em 66 milhões. A maioria era de cívis, milhões eram crianças. Se todos os que seriam perseguidos, ao ver o que os esperava, e era fato previsível, tivessem se unido,  muito provavelmente a tragédia tivesse sido evitada.
Perante certas manifestações de ódio exacerbado, equivocam-se aqueles que se omitem achando que serão poupados.
Percival Maricato

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