terça-feira, 1 de março de 2016

Dilma no meio de um congresso "sem chantagem" e com "homens probos e responsáveis" como Aécio, Cunha, Renan e Serra

"Com o enfraquecimento do poder presidencial, três dos mais notórios operadores do Senado – Renan Calheiros, Romero Jucá e José Serra – se uniram para recriar o “centrão” – o grande balcão de negócios que, em alguns momentos de vácuo político no país, é constituído para barganhar favores com presidentes fracos."


Dilma do reino dos homens probos do Congresso


Cena 1: o presidencialismo de coalizão


A votação no Senado da PL do pré-sal revelou, em toda crueza, o nível atual do poder presidencial. A presidente está literalmente refém de chantagem política.
Com o enfraquecimento do poder presidencial, três dos mais notórios operadores do Senado – Renan Calheiros, Romero Jucá e José Serra – se uniram para recriar o “centrão” – o grande balcão de negócios que, em alguns momentos de vácuo político no país, é constituído para barganhar favores com presidentes fracos.
O pote de ouro mais disputado é o da flexibilização do sistema de partilha no pré-sal. O recuo de Dilma Rousseff na última hora deveu-se a ameaças explícitas de Renan e Jucá de engrossarem o coro do impeachment.
Com isso conseguiram aprovar no Senado o Projeto de Lei de Serra que não mais obriga a Petrobras a ser operadora de todos os poços, com participação de 30%.
A reação do presidente da Câmara Eduardo Cunha foi imediata, despudorada como todos seus atos públicos, escancarando o leilão: garantiu que irá sepultar a PL do Senado e oferecer aos patrocinadores da mudança o cálice de ouro: a revogação total do sistema de partilha.
Já se chegou a um nível tal que se abre mão até do pudor.

Cena 2: as ações contra Eduardo Cunha

Amanha, dificilmente o STF (Supremo Tribunal Federal) decidirá pelo afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara. Apesar da enorme capivara de Cunha, trata-se de medida extrema contra o presidente de outro poder. Segundo avaliações internas do STF, até agora o Procurador Geral da República não logrou apresentar evidências sólidas sobre as interferências de Cunha nas investigações, valendo-se de suas prerrogativas de presidente da Câmara.
É um quadro complicado no qual os negócios políticos adquiriram uma desfaçatez própria da decadência moral que caracteriza os fins de ciclo.

Cena 3: entre a irresponsabilidade de Aécio e a abulia de Dilma


Tem-se uma presidente politicamente manietada, refém do pior fisiologismo do Congresso e incapaz de uma reação. Em posição confortável, os líderes do “centrão” garantirão o mandato de Dilma.
A alternativa a ela é um dos políticos mais medíocres das últimas legislaturas, Aécio Neves, de uma ignorância absurda sobre qualquer tema contemporâneo.
Fica-se, então, nesse dilema político: ou um candidato cuja única palavra de ordem é o discurso do confronto, ou uma presidente cedendo as coroas da corte para não perder o cargo e incapaz de reagir à crise.

Cena 4: a rebelião das corporações


Para completar o mapa, corporações relevantes, como a Polícia Federal, tornaram-se poder dentro Estado, graças ao desempenho de José Eduardo Cardozo, provavelmente o mais fraco Ministro da Justiça da história, não apenas pela falta de autoridade, mas por não ter cumprido nenhuma de suas atribuições em relação aos grandes temas da pasta.
Diz-se que das grandes crises saem as grandes soluções. Até agora nenhuma apareceu no horizonte político. No protagonismo, apenas velhas raposas instruídas na arte da chantagem.

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