domingo, 24 de julho de 2016

O terror midiático do ministro da Justiça, por Altamiro Borges



Alexandre de Moraes, o ex-secretário de Segurança Pública de Geraldo Alckmin que ganhou fama ao comandar a brutal repressão aos estudantes que ocuparam as escolas paulistas, adora os holofotes da mídia. Ele faz de tudo para aparecer e até chegou a sonhar em ser candidato à prefeitura de São Paulo. Agora, como ministro interino do covil golpista de Michel Temer, ele voltou a “brilhar” ao chefiar a “Operação Hashtag”, que prendeu dez pessoas acusadas de planejarem ações terroristas durante as Olimpíadas no Rio de Janeiro. O seu show, porém, parece que não agradou os próprios usurpadores que assaltaram o Palácio do Planalto, conforme revelou uma notinha de Mônica Bergamo na Folha desta sexta-feira (22):

“O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ficou até de madrugada no Palácio do Jaburu, na quinta (21), em reunião com o presidente interino Michel Temer. Logo cedo, voltou ao gabinete dele, para em seguida anunciar a prisão de pessoas acusadas de preparar atos terroristas no país. Ministros de Temer acreditam que a atitude do titular da Justiça, de anunciar as prisões com espalhafato, pode ter efeito duplo: de um lado, mostra firmeza. De outro, pode aumentar o pânico e afugentar turistas que vêm para o evento. O próprio governo trabalha com a informação de que 20 mil pessoas cancelaram reservas em hotéis para a Olimpíada no Rio por causa das notícias, veiculadas pelas próprias autoridades”.

No mesmo rumo, o site da revista Época, que até paparicou a operação “antiterrorista”, postou uma notinha neste sábado que confirma o mal-estar criado pela ação policial. “Não foram só os assessores de Temer que ficaram contrariados com o comportamento ‘pavônico’ do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, na Operação Hashtag. O próprio Michel Temer não gostou de como Moraes chamou para si a responsabilidade da operação, que contou com a participação de outros órgãos. Temer deverá ter uma conversa séria com ele e dirá que o momento exige mais sobriedade e cautela. Moraes tem pensado demais em ser candidato ao governo de São Paulo em 2018”, relatou o jornalista Murilo Ramos.

Factoide para limpar a imagem dos golpistas

Até agora, a midiática operação antiterrorista gerou muita desconfiança. Não há explicações plausíveis para as prisões de jovens aparentemente inocentes – como a do paulista Vitor Barbosa Magalhães, que trabalha na funilaria do seu pai para sustentar os seus dois filhos; ou a do gaúcho Israel Pedra Mesquita, que é criador e vendedor de galinhas no município de Morro Redondo. Também não há qualquer justificativa para tanto alarde numa ação policial, que deveria ser mais cautelosa até ser eficiente no combate ao suposto terrorismo. O que já fica evidente é que o covil golpista, tendo a frente o egocêntrico ministro, tentou criar um factoide político para melhorar a própria imagem do “golpe dos corruptos”.

Como lembra o blogueiro Luis Nassif, “delegados da Polícia Civil de São Paulo cunharam o apelido de Kojak para o então secretário Alexandre de Moraes. Em parte, pela calva. Muito pela fixação nos holofotes. Ele fazia questão de ser comunicado sobre as operações mais irrelevantes, para ser a pessoa a anunciar a operação e os resultados para a TV. O carnaval em torno dos supostos terroristas que criavam galinhas seguiu essa linha. Mas, aí, com uma irresponsabilidade monumental. O estardalhaço em cima de um factoide não só ajudou a carregar mais nuvens sobre os céus das Olimpíadas, como a chamar a atenção dos malucos sobre a possibilidade de atentados terroristas no evento”.


Essa “irresponsabilidade monumental”, porém, não incomoda Alexandre de Moraes. Como aponta Luis Nassif, ele é “um caso clássico do político sem princípios”. Nas passeatas contra o impeachment de Dilma, ele “agiu como polícia política, reprimindo manifestações, invadindo a sede de torcidas organizadas críticas do golpe, fechando as ruas que davam para o local de eventos fechados. Ele provavelmente é a mais nefasta figura que surgiu no universo político nas últimas décadas. Não apenas por colocar permanentemente a carreira acima dos princípios e valores, mas por ter sido responsável pelo aumento expressivo de mortes na periferia. Literalmente, ele está asfaltando a carreira política com o sangue dos jovens assassinados”.

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