quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Fernanda Orsomazo, a juíza que vale por 999 mil Cármen Lúcia e um milhão de Gilmar Mendes – “Meritocracia é hipocrisia”


“Ralei duro para ser Juíza de Direito. Mas dizer que isso é mérito meu soa, no mínimo, hipócrita”








O Brasil Online.- Sempre que tenho uma oportunidade trato de colocar o Judiciário em seu devido lugar, no lixo. Quando não tenho, crio. Entretanto, é um exagero de minha parte dizer que nada ali por baixo daquela toga escura é podre, pelo menos é a constatação que tive ao me deparar com o depoimento da juíza Fernanda Orsomazo, do Tribunal de Justiça do Paraná. Sua Excelência publicou na terça-feira passada (30) um texto com dura crítica a meritocracia e em poucas horas viralizou nas redes sociais. No post, Fernanda afirma que “ralou duro” para virar Juíza de Direito, pois chegou a estudar 12 horas por dia, abdicou de festas, feriados e perdeu momentos únicos em família. Mas  também indica que atribuir todo mérito à si é, “no mínimo, hipocrisia”.
“Ralei duro para ser Juíza de Direito. Cheguei a estudar 12 horas por dia em busca da concretização do tão almejado sonho. Abdiquei de festas, passei feriados em frente aos livros, perdi momentos únicos em família. Sim, o esforço pessoal contou. Mas dizer que isso é mérito meu soa, no mínimo, hipócrita.”
“Em primeiro lugar, nasci branca. Faço parte de uma típica família de classe média. Estudei em escola particular, frequentei cursos de inglês e informática, tive acesso a filmes e livros. Contei com pais presentes e preocupados com a minha formação. Jamais me faltou café da manhã, almoço e jantar. Nunca me preocupei com merenda ou material escolar.”
“Todos têm suas lutas e histórias de vida. Todos enfrentam dificuldades e desafios. Porém, enquanto para alguns esses entraves não passam de meras pedras no caminho, para outros a vida em si é uma pedra no caminho. Meu esforço individual contou, mas eu nada seria sem as inúmeras oportunidades proporcionadas pelo fato de ter nascido – repito – branca e no seio de uma família de classe média minimamente estruturada.”
“O mérito não é meu. Na linha da corrida em busca do sucesso e realização, eu saí na frente desde que nasci. Não é justo, não é honesto exigir que um garoto que sequer tem professores pagos pelo Estado entre nessa competição em iguais condições. Nunca, jamais estivemos em iguais condições.”
E Sua Excelência finaliza a mensagem de forma direta e irrefutável:
“O discurso embasado na meritocracia desresponsabiliza o Estado e joga nos ombros do indivíduo todo o peso de sua omissão e da falta de políticas públicas. A meritocracia naturaliza a pobreza, encara com normalidade a desigualdade social e produz esquecimento – quem defende essa falácia não se recorda que contou com inúmeros auxílios para chegar onde chegou.”


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