quinta-feira, 22 de setembro de 2016

O golpe do Caixa 2 no Planalto pós-Golpe sob a bênção das panelas caladas: tira a Dilma e depois anistia os crimes. Por Mauro Donato

Geddel e Temer
Geddel e Temer

Parlamentares tentaram um golpinho na data de ontem. Mais um. Ao apagar das luzes, quiseram aprovar na Câmara dos Deputados o projeto que tipifica o crime de caixa 2. Atrapalharam-se, deu ruim.
Tentando fazer de conta que nada sabia, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, disse desconhecer o fato mas, consultado, afirmou ser ‘pessoalmente’ a favor da medida. E mais: uma vez tipificada como crime, Geddel declarou ser favorável a anistiar a  prática do caixa 2 para quem dele fez uso até então. O que ficou no passado, ficou.
“Quem foi beneficiado no passado, quando não era crime, não pode ser penalizado. Esse debate tem que ser feito sem medo, sem preconceito, sem patrulha e sem histeria”, disse Geddel.
Bem, se é assim, o que Dilma Rousseff praticou em termos de pedaladas não foi nada diferente do que todos sempre fizeram. Se muda a regra do jogo de uma hora para outra, então ela deveria ficar de fora das penalidades, certo? Geddel, ajude-nos a entender.
Todo o circo foi montado para dar a impressão de que o Palácio do Planalto não teria sido consultado, que Michel Temer não sabia, Geddel não sabia mas apoia, Renan não sabia, nem o sabiá sabia assobiar.
Todo mundo sabia. Estão todos acordados em aprovar o projeto do Ministério Público Federal que criminaliza o caixa 2 hoje para anistiar o caixa 2 cometido até ontem pois sabem que a lista da Odebrechet coloca uma corda com o laço já feito em seus pescoços.
O plano era que o Senado também votasse o texto rapidamente, ou seja, é evidente que Renan Calheiros (PMDB) também estava sabendo. Mas agora ninguém quer assumir a autoria da proposta. O deputado Carlos Sampaio (PSDB), que tem os dois pés e as duas mãos enfiadas nessa cuia fez cara de paisagem.
Querem nos fazer crer que uma articulação para votação de algo dessa monta se instala e ninguém sabia? O presidente da Câmara, onde a votação ocorreria, não teve participação? Foi atropelado? Com Temer nos Estados Unidos, Rodrigo Maia (DEM) não é apenas o presidente da Câmara. É o presidente da República interino. Estava ajeitando as meias tal qual Roberto Carlos na Copa da França?
Todos, absolutamente todos os passos dados pela turma que tomou o poder confimam o golpe dado para erradicar o perigo que corriam. Depois de Dilma derrubada e de Lula estar na alça de mira, agora deputados e senadores desejam anistia para o que fizeram no verão passado. Agora Renan Calheiros vem a público reclamar dos showzinhos e do ‘exibicionismo’ do pessoal de Curitiba nas ações da Lava-Jato.
“A Lava-Jato é um avanço civilizatório, mas ela tem a responsabilidade de separar o joio do trigo, acabar com esse exibicionismo, fazer denúncias que sejam consistentes”, disse o homem que tinha a amante sustentada pela empreiteira Mendes Junior. Agora ele vê inconsistência nas acusações.
Mas lembre-se, caro leitor: não é golpe. Tudo foi dentro do ‘rito democrático’, ‘feito constitucionalmente’, como disse candidamente Michel Temer em NY ontem (depois de passar por mais um carão ao ver vários líderes da América Latina se retirarem da sala para não presenciar seu pronunciamento).
Embora tenha naufragado, a tentativa de uma votação na calada da noite é um tapa na cara de todos aqueles que apoiaram essa balela chamada impeachment. Mas para quem não se importa em ouvir procuradores afirmando ‘não temos provas, temos convicção’, ta valendo tudo.
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Sobre o Autor
Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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