sábado, 17 de dezembro de 2016

Crise sedimenta a aliança PSDB e Temer, por André Singer





Jornal GGN Há um pacto implícito entre PMDB e PSDB, iniciado com a caminhada para o impeachment e evidenciado no documento “Uma ponte para o futuro”. Mas com a Lava Jato a todo vapor atingindo em série os homens do presidente, tudo indica que Temer precisará “entregar de imediato o osso”, analisa André Singer, em sua coluna de hoje na Folha.
Com a queda de Yunes, a quinta baixa da presidência Temer, restam somente Moreira Franco e Eliseu Padilha, ambos na mira das delações em curso. Com isso, fica mais evidente a troca de peemedebistas por tucanos, começando com Imbassahy, do PSDB-BA, no lugar de Geddel, mesmo também incluído na listinha da Odebrecht.
E pelo rodar das conversas, parece que os tucanos querem porque querem o Planejamento, ainda com um interino desde que Jucá voltou ao abrigo do Senado.
E num toma lá dá cá de tucanos e peemedebistas deste governo, o ano vai andando, às vezes para alegria de Alckmin, às vezes de Serra.
Leia a coluna de André Singer a seguir.
na Folha
Por André Singer
Desde o final de 2015, a perspectiva de tomada do poder pelo PMDB carregava em si o ideário pessedebista, evidenciado no documento "Uma ponte para o futuro". Depois, à medida que o impeachment se aproximou, firmou-se pacto implícito, entre os dois partidos, de passagem efetiva do bastão em 2018. Mas, com o recrudescimento da Lava Jato, que atinge em série os homens do presidente, parece que Michel Temer precisará entregar de imediato o osso.
A queda do ex-deputado José Yunes, na quarta (14), configurou a quinta baixa no núcleo central pouco numeroso da presidência Temer. Antes do primeiro-amigo, já tinham caído Romero Jucá e Henrique Alves, defenestrados ainda na interinidade temerista, Eduardo Cunha, preso há dois meses em Curitiba, e Geddel Vieira Lima, soterrado nas obras do edifício La Vue. Restaram Moreira Franco, secretário-executivo de Investimentos, e Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, ambos devidamente listados nas delações em curso.
O movimento de substituição de peemedebistas por emplumados de bico longo ficou claro com a perspectiva de colocar o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) na Secretaria de Governo, antes ocupada por Geddel, apesar de ele, Imbassahy, estar incluído no rol de beneficiários da Odebrecht.
Também o zum-zum-zum de que o tucanato quer ganhar o Planejamento, dirigido por um interino desde a saída de Jucá, mostra o grau de compromisso do PSDB com a atual gestão, em detrimento dos interesses do governador Geraldo Alckmin, único vitorioso nas eleições municipais de outubro e, por isso, desejoso de se afastar do barco federal adernado.
Contra a perspectiva alckmista, Aécio Neves e José Serra firmaram acordo para permanecer na embarcação temerária e controlar o partido. "O país precisa que esse governo dê certo. Para isso, precisa ter o PSDB unido", escreveu em nota o chanceler Serra, ao comemorar a prorrogação do mandato de Aécio à frente da agremiação na quinta (15).
O problema é saber até que ponto o próprio PSDB sairá vivo do dilúvio odebrechtiano. Dos principais caciques pessedebistas em cena, apenas Fernando Henrique Cardoso, não por acaso fora da competição política direta desde 1998, está ausente das listas malditas. Porém como o PSDB tem uma quantidade de quadros bastante superior ao plantel do PMDB (nomes como Tasso Jereissati, Armínio Fraga e Pedro Malan seguem a salvo da enxurrada), é possível que sobre alguém para dirigir o país.
Outra dúvida é se Temer, acusado diretamente nas colaborações premiadas, continuará viável como biombo do plano pessedebista. Daí o aquecimento de FHC para uma eleição em 2017, embora com a idade a lhe pesar nas costas. Quem viver, verá.

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