sexta-feira, 30 de junho de 2017

A rejeição de Bolsonaro e de Dória cresce mais do que sua aceitação. Lula segue favorito. Reportagem de Marina Lacerda


  "A rejeição de Dória e de Bolsonaro, novatos em eleições presidenciais, cresce mais rapidamente do que suas intenções de votos, conforme o tempo passa e eles vão ficando mais conhecidos. De abril desse ano para cá, as intenções de voto em Dória cresceram 11% (ele tinha 9 e passou para 10 pontos) e a rejeição cresceu 25%. As intenções em Bolsonaro cresceram 7% (de 15 para 16), e a rejeição 30%. É possível que o tom elitista de Dória e o tom radical de Bolsonaro mais desagradem do que agradem os eleitores."



GGN. -Temos discutido aqui os movimentos de opinião que as últimas pesquisas eleitorais indicam. Havíamos dito, em fevereiro, que Bolsonaro crescia estrondosamente, e que havia superado o máximo da extrema direita brasileira em eleições nacionais – o que segue sendo verdade. Segundo a última pesquisa Datafolha, hoje ele tem 16% das intenções de voto, 20% excluídos brancos e nulos -- mais que o dobro da votação do integralista Plínio Salgado em 1955, que obteve 8,3% dos válidos.
Já em abril dissemos que Bolsonaro provavelmente havia alcançado seu limite máximo. Se Bolsonaro bateu no teto ou não a última pesquisa Datafolha não ajuda a elucidar totalmente, mas é provável que sim. Bolsonaro cresceu um ponto percentual desde abril, dentro da margem de erro. Lula também se mantém estável nessa perspectiva (30%), considerando o Cenário A.
A rejeição de Dória e de Bolsonaro, novatos em eleições presidenciais, cresce mais rapidamente do que suas intenções de votos, conforme o tempo passa e eles vão ficando mais conhecidos. De abril desse ano para cá, as intenções de voto em Dória cresceram 11% (ele tinha 9 e passou para 10 pontos) e a rejeição cresceu 25%. As intenções em Bolsonaro cresceram 7% (de 15 para 16), e a rejeição 30%. É possível que o tom elitista de Dória e o tom radical de Bolsonaro mais desagradem do que agradem os eleitores.
Agora, consideremos não o percentual do crescimento, mas o acréscimo de pontos na rejeição e aceitação de cada um, de acordo com o Datafolha de abril e de junho de 2017. Vamos fazer uma brincadeira: pegar o acréscimo nas intenções de voto e subtrair disso o acréscimo na rejeição de cada candidato. Temos, assim, o seguinte resultado:

As intenções aqui são aquelas da pergunta estimulada. “Alguns nomes já estão sendo cogitados como candidatos a presidente em 2018. Se a eleição para presidente fosse hoje e os candidatos fossem esses..., em quem você votaria?”. A evolução de Alkmin é tomada pelo Cenário B e a de Dória no Cenário C; antes quem integrava o Cenário A era Aécio. Já a rejeição indica as respostas à pergunta: “Em quais desses candidatos... você não votaria de jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente da República em 2018?”.
Lula é o mais estável – sua alteração está na margem de erro. Tanto Dória quanto Marina cresceram um ponto nas intenções, e sua rejeição aumentou quatro pontos. Alkmin ganhou dois e perdeu seis. O crescimento dos tucanos é pequeno especialmente se se considerar que eles deveriam incorporar os oito pontos que Aécio tinha. Bolsonaro cresceu um ponto, mas perdeu sete. Bolsonaro tem a pior relação ganho/perda. Provavelmente os setores mais à direita já conhecem Bolsonaro e já o apoiam. Os outros setores o estão conhecendo agora e não gostam dele.
Questiona-se sobre o poder evangélico na eleição de Bolsonaro. Jair Bolsonaro é católico. Seu filho Eduardo, porém, já se elegeu pelo PSC e o Bolsonaro pai saiu do PP para o PSC recentemente. O PSC, embora não seja um partido evangélico, é o partido mais expressivo das pautas evangélicas e com maior proporção de evangélicos na Câmara. Há uma identificação entre o Bolsonaro e esse setor e uma aproximação crescente. Mas mesmo se Bolsonaro se tornar o candidato dos evangélicos (talvez ele já seja o candidato de grande parte dos pentecostais), não há tanto espaço de crescimento assim. Pelo CENSO de 2010 (já faz sete anos, mas é o dado que temos), os evangélicos eram 22% da população brasileira. Só que o evangélico é um grupo religioso heterogêneo. Os pentecostais, politicamente mais à direita, são apenas 13,3%.
Somemos a isso outra análise de opinião, a sobre o crescimento da simpatia ao Partido dos Trabalhadores. O PT desde os anos 2000 foi o partido com mais adesão, mas a simpatia ao partido caiu bastante em 2015 (ainda que continuasse sendo o favorito). A simpatia ao PT voltou a crescer, e alcançou recentemente 18%, a uma distância grande dos segundos colocados – PMDB e PSDB, com 5%.
Em resumo, temos que a esquerda se aglutinou no PT, que a extrema direita se aglutinou no Bolsonaro, e que a direita e o centro propriamente dito ainda carecem de líder, já há um ano da campanha eleitoral.
Lula está tecnicamente parado tanto na adesão quanto na rejeição. Isso indica incapacidade de a Lava-Jato lhe causar mais dano, mas também a dificuldade que o ex-presidente tem de ampliar seus apoios. Lula tem hoje, no Cenário A, 30% dos votos, ou 38% dos votos válidos. Ele supera a marca petista entre 27 e 32% dos votos válidos em primeiro turno, alcançada em 1994 e 1998, as últimas eleições em que Lula perdeu. Mas ele ainda está longe dos 46 e 48% que alcançou em primeiro turno nas eleições de 2002 e 2006, quando venceu. Está longe mesmo da marca de Dilma Rousseff no primeiro turno de 2010: 46%. No primeiro turno de 2014, com o país mais dividido, Dilma alcançou 42%.
O percentual de indecisos vem caindo, e chegou a 2%. Mesmo assim há muitos fatores de desestabilização iminente: possibilidade de condenação de Lula, possibilidade de mudança de regime (para o parlamentarismo), possibilidade de eleições a qualquer momento com a queda eventual de Temer. Tudo isso influenciará, é evidente, o cenário eleitoral.  

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