sábado, 21 de outubro de 2017

Empresariado brasileiro pediria a Moro para prender o Barão de Mauá. Por Fernando Brito



maua
O que é tranquilizador no processo de retrocesso que vive o nosso país e que não me faz torcer para que o colesterol e a diabetes completem rápido o seu trabalho é algo que só a serenidade do tempo acaba por nos trazer: a compreensão que a história não é uma conveniência individual, mas um processo a que nos entregamos diariamente a construir mas que escapa, tantas vezes, ao nosso esforço e capacidade.
O Chico cantou-o tão bem em sua “Roda Viva”: a gente vai contra a corrente/ até não poder resistir, na volta do barco é que sente/o quanto deixou de cumprir.
A história porém, é uma corrente que, se dá voltas, tem um destino inexorável, ainda que reterdado no tempo, como os meandros fazem a um rio.
A nota da Confederação Nacional da Indústria apoiando o fim da repressão ao trabalho escravo é, para quem viveu, durante décadas, a tentativa de defender o empresariado brasileiro, uma destas sensações do que deixamos de cumprir.
O Brasil fracassou em produzir uma elite empresarial moderna, um processo que se ensaiava desde os anos 1940.
A burguesia industrial queria (e precisava) travar a disputa ideológica com a esquerda e encontrar um discurso socialmente aceitável.
A previdência social, a CLT, o Sistema “S” eram parte deste pacto de convivência com as massas.
Os anos 9o mudaram o discurso. Empregado passou a “colaborador”. Imprimiram-se toneladas de “balanços sociais” em papel couché, exaltando missão e valores da empresas que, com toda a hipocrisia que se pode entender – procuravam mostrar o discutível  envolvimento da empresa com o bem-estar social de seus trabalhadores e as comunidades com as quais tinha proximidade ou relacionamento.
Os governos de natureza trabalhista e o golpe despertaram, porém, os seus “instintos mais primitivos”.
Já na tal “reforma trabalhista” advogaram pelas tais 12 horas de jornada de trabalho diárias, o que, com o deslocamento e a alimentação, reduz a vida do trabalhador apenas o tempo em que ele dorme para se preparar para o dia seguinte.
Agora, emprestam a chancela do empresariado brasileiro para a minoria que encarcera trabalhadores em condições subumanas, alegando como álibi algum possível erro que, administrativa ou judicialmente, pode ser corrigido.
No fundo, é a revelação do que gostariam, a de serem senhores de escravos.
Não é apenas porque sejam bons e maus corações, porque isso há em qualquer grupo.
Mas é porque a mentalidade que os dominou é a de que eles, e não o trabalho humano, são a fonte de geração de riqueza.
Ponham-nos todo em um ilha deserta, com seus ternos bem cortados e discursos de “gestor” e vejam se durariam uma semana.
A classe dominante brasileira é a verdadeira “vanguarda do atraso”.
Não consegue ver que tem um país imenso e rico.
Poriam o Barão de Mauá numa cadeia de Curitiba, pela heresia de ter trabalhadores negros e brancos no Estaleiro da Ponta da Areia.
Não conseguem ver que têm uma população que, se consumidora, seria o quarto ou quinto mercado mundial.
Sua visão não vai além do entreposto colonial, da avidez pelas migalhas do processo de espoliação da riqueza da natureza, do trabalho, da imensidão do país.
Não querem ser empresários, querem ser “franqueados”.
Senhores de escravo do seu povo, escravos dos senhores do mundo.

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