domingo, 8 de abril de 2018

A prisão do Gigante Lula desvela mesquinharia da farsa oligárquica



"Para não me estender muito, basta dizer que uma elucidativa forma de identificar o padrão de comportamento do conglomerado nacional/transnacional oligárquico/burguês do poder no Brasil, traduz-se na simples e corrente frase, em bom carioquês: "Vagabundo é ruim".
Bem, com isso quero dizer que é improvável a realização da eleição presidencial. De maneira mal disfarçadamente ditatorial, está sendo imposto à força e à Nação um projeto de perenização neocolonial rentista, que não possui qualquer condição de ser acolhido pela maioria da população, já que fere a sua inteligibilidade e os seus interesses cotidianos." - Roberto Bitencourt da Silva, historiador e cientista político
Lula, a improvável eleição ou o “vagabundo é ruim” das elites
por Roberto Bitencourt da Silva
Não me importo de ser chamado de “pessimista”, “teórico da conspiração” ou “analista depressivo”, como o fui por alguns leitores, e mesmo por amigos, no período da movimentação golpista que culminou na arbitrária destituição da presidente Dilma Rousseff. É a paga recebida por alguém sintonizado com o nacionalismo socialista brizolista.
Para não me estender muito, basta dizer que uma elucidativa forma de identificar o padrão de comportamento do conglomerado nacional/transnacional oligárquico/burguês do poder no Brasil, traduz-se na simples e corrente frase, em bom carioquês: "Vagabundo é ruim".
Bem, com isso quero dizer que é improvável a realização da eleição presidencial. De maneira mal disfarçadamente ditatorial, está sendo imposto à força e à Nação um projeto de perenização neocolonial rentista, que não possui qualquer condição de ser acolhido pela maioria da população, já que fere a sua inteligibilidade e os seus interesses cotidianos.
Como convencer ao grosso dos trabalhadores subalternos, oprimidos e marginalizados, além de frações da pequena burguesia, que a supressão de direitos trabalhistas, previdenciários, sociais (saúde e educação etc.) vai beneficiá-los, assim como ao país?
Como justificar a entrega, por exemplo, da Petrobras ao capital internacional, de forma tão despudorada e lesa-pátria, como se tem feito? Uma empresa que opera com uma riqueza nacional, uma dádiva com prazo de esgotamento, que poderia perfeitamente ser utilizada para o desenvolvimento autóctone de outras tecnologias e matrizes energéticas e beneficiar, com isso e/ou com a redução do preço interno do combustível, a própria Nação?
O projeto neocolonial rentista em curso está além das fronteiras das próprias e modestas instituições da democracia representativa e, particularmente, do voto direto para a Presidência da República.
Por mais que o movimento de solidariedade a Lula, nestes dias, em São Bernardo, no país e no mundo, esteja sendo marcante e venha demonstrando a força do ex-presidente da República, sou da opinião de que Lula não deveria depositar qualquer expectativa nas instituições domésticas. Precisa(ria) buscar asilo político.
Lula é um líder político reconhecido e com estatura internacional. A sua prisão é política – arbitrária, destituída de fundamentação e provas – e um risco à sua dignidade e integridade física. Precisa(ria), de fora, denunciar todas as barbaridades cometidas no país. Constrangeria bastante o condomínio do poder, podendo melhor contribuir com eventual mudança no Brasil.
Mas, o ex-presidente tem mais de 70 anos, com trajetória política muito expressiva, pouco importando o que eu e tantos pensamos a seu respeito e sobre suas decisões – em especial, em uma situação como essa, em que é a sua dignidade e integridade física que está em jogo.
Em todo caso, foi mais uma enorme demonstração de força política do ex-presidente. Com isso, fica patente que, Lula preso, exilado, morto, pouco importa, uma indicação eleitoral sua ou por ele e qualquer candidato teria gigantesco potencial de vitória. Getúlio Vargas já fez isso em seu “autoexílio” e foi o suficiente. Prestígio popular é moeda política decisiva e o poder sabe muito bem disso.
O projeto neocolonial rentista, duramente implementado, está bastante além do compromisso desigual entre as classes, simbolizado por Lula. E está sendo imposto, praticamente sem barreiras. Nesse sentido, cabe, no momento, às centrais sindicais fazerem o que ainda não fizeram, por apostarem no eleitoralismo: coordenar e mobilizar os trabalhadores.
Protestos com músicas, artistas e sem mexer no capital, somente para marcar posição, como foram os realizados contra a destituição da presidente Dilma, em nada afetam e afetarão a espúria e ilegítima ordem estabelecida. Deixar o governo vende-pátria e seus aliados quebrarem o país e desgastarem suas imagens, como se tem feito, na esperança de que isso criará condições eleitorais favoráveis à oposição, é tese inócua e já tragada pelos fatos. 
Até generais se manifestam abertamente em apoio ao estado de coisas prevalecente. É necessário incidir sobre os interesses do capital. Articular mobilizações que redundem em greves gerais, com plataforma projetiva clara, envolvendo questões distributivas, direitos sociais, individuais e políticos, articuladas com questões e propostas relativas aos interesses nacionais. Um meio de politização da nossa gente e de formação de uma vontade popular-nacional, com caráter construtivo e não apenas reativo à lastimável situação delineada pelas oligarquias/burguesias entreguistas e reacionárias.
Resistência democrática, descarnada, sem envolver as questões social e nacional, não vai sequer arranhar o arranjo de poder atual. Como não tem arranhado. “Vagabundo é ruim”. E a postergação e a suspensão das eleições já devem estar sendo consideradas em seus cálculos. A questão não é que essas direitas antinacionais não tenham um nome. Têm muitos. O projeto que defendem é que não passa pelo crivo eleitoral. De modo que as respostas das esquerdas, dos setores progressistas, dos movimentos sociais e, em especial, sindicais, não podem se restringir a métodos e opções incompatíveis com o nosso tempo.
Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

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