domingo, 8 de abril de 2018

Sobre meritocracia, sucesso, Lula e STF, por Maria Luiza Quaresma Tonelli

"Muita gente que fez universidade através do Prouni pensa que chegou onde chegou porque acredita que foi apenas mérito individual. Não reconhece a oportunidade que lhe foi dada. Sei de casos assim, principalmente entre os médicos. Talvez sejam casos de pessoas que queiram negar sua origem.
"Diria que Lula se encaixa no caso das pessoas que tem mérito. Passou fome na infância, trabalhou como vendedor de laranjas em sinais de trânsito no bairro Vicente de Carvalho, no Guarujá, trabalhou como metalúrgico no ABC Paulista, presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos, liderou as maiores greves em plena ditadura, fundou o partido dos Trabalhadores, foi o deputado federal mais votado, fez parte da constituinte de 1988, foi presidente da república durante dois mandatos consecutivos, conseguiu eleger e reeleger sua sucessora e se tornou um líder político mundialmente reconhecido. O menino que veio num pau de arara para São Paulo com sua família recebeu mais de 100 títulos de Doutor Honoris Causa das mais importantes universidades do mundo."
Sobre meritocracia, sucesso, Lula e STF
por Maria Luiza Quaresma Tonelli
Fonte: Jornal GGN
Você quer explicar a alguém o que é meritocracia e o que é sucesso devido às oportunidades? Pois bem, comece dizendo que o mérito decorre do esforço pessoal, da luta que alguém empreende para chegar a alguma posição social, na luta pela sobrevivência para superar as dificuldades, enfim, o mérito é conquista individual, em primeiro lugar. Depende mais da pessoa do que das oportunidades que a vida lhe oferece.
Sucesso devido às oportunidades depende das chances que a pessoa tem na vida. Uma pessoa pode se esforçar muito, ter tido bons estudos, pode ter muitos méritos individuais, mas pode não ter tido oportunidades para exercer seus talentos. Uma pessoa também pode ter uma vida miserável, sair da extrema pobreza devido à oportunidade de entrar numa universidade através de uma bolsa de estudos e se tornar um médico, um engenheiro, por exemplo. Neste caso, de nada adiantaria o talento se não houvesse a oportunidade oferecida, seja pelo estado, seja por um benfeitor. 
Muita gente que fez universidade através do Prouni pensa que chegou onde chegou porque acredita que foi apenas mérito individual. Não reconhece a oportunidade que lhe foi dada. Sei de casos assim, principalmente entre os médicos. Talvez sejam casos de pessoas que queiram negar sua origem.
Diria que Lula se encaixa no caso das pessoas que tem mérito. Passou fome na infância, trabalhou como vendedor de laranjas em sinais de trânsito no bairro Vicente de Carvalho, no Guarujá, trabalhou como metalúrgico no ABC Paulista, presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos, liderou as maiores greves em plena ditadura, fundou o partido dos Trabalhadores, foi o deputado federal mais votado, fez parte da constituinte de 1988, foi presidente da república durante dois mandatos consecutivos, conseguiu eleger e reeleger sua sucessora e se tornou um líder político mundialmente reconhecido. O menino que veio num pau de arara para São Paulo com sua família recebeu mais de 100 títulos de Doutor Honoris Causa das mais importantes universidades do mundo.
Diria que desembargadores de tribunais e ministros do STJ e STF se encaixam no caso do sucesso devido às oportunidades, não pelo mérito individual. Notório saber jurídico (mérito individual) de nada adiantaria se não tivessem sido indicados por um governador, no primeiro caso, ou pelo presidente da república, no caso de ministros do STJ e STF. São cargos por indicação política. Logo, uma oportunidade que lhes foi dada. Não estão lá por concurso.
Não é incrível que ministros que não foram nomeados por Lula e Dilma não negaram a ele o Habeas Corpus que impediria sua prisão após a condenação em segunda instância e justamente os que foram por eles indicados, exceto os ministros Dias Toffoli e Lewandowski, foram os que não impediram que Sérgio Moro o mandasse para o cárcere?
Não consta que Gilmar Mendes, Lewandowski, Marco Aurélio de Mello e o decano da corte sejam menos ciosos de seu papel de guardiões da Constituição do que os outros que negaram ao ex-presidente Lula o direito a uma garantia constitucional: o direito à presunção de inocência até o trânsito em julgado da ação que o condenou a 12 anos e um mês de prisão.
O menino que veio de pau de arara de Pernambuco para São Paulo e se tornou presidente da república, bem como sua sucessora deram a oportunidade para aqueles senhores e senhoras que vestem togas chegarem ao topo do poder judiciário. Foram eles que traíram Lula e Dilma, seus benfeitores? Não exatamente. Traíram acima de tudo a Constituição Federal. Traíram a carta política da nação.
Tudo isso me fez lembrar que o último círculo do Inferno da Divina Comédia de Dante Alighieri é destinado aos traidores. É na quarta zona, Judeca, onde penam aqueles que traíram seus benfeitores. É nesta zona onde se encontra Lúcifer, com três rostos e três asas. Das suas bocas pendem Judas, Brutus e Cássio.
Que os senhores da toga acordem a tempo de não transformar este país num inferno na Terra. Está por pouco.

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