quinta-feira, 24 de maio de 2018

Uma crise do petróleo anunciada pela ação golpista, por Fábio de Oliveira Ribeiro


"(...) O tempo passou, sob os governos petistas o Brasil cresceu e apareceu após superar duas décadas perdidas.E agora estamos sofrendo uma nova crise de abastecimento de combustíveis. Não porque não temos petróleo, mas porque nos últimos dois anos exportamos quase todo petróleo que produzimos. "



Uma crise do petróleo anunciada e não resolvida
por Fábio de Oliveira Ribeiro
Fonte: GGN
Na década de 1970, quando eu era criança houve uma crise de abastecimento de combustíveis. Naquela época o Brasil importava quase todo petróleo que consumia. A crise, que interrompeu o Milagre Econômico e acarretou um aumento exponencial do endividamento externo brasileiro, foi causada pela alta súbita do preço do petróleo decretada pela OPEP. Até então ninguém falava daquela instituição. Depois ninguém mais deixaria de falar da OPEP quando analisava a crise econômica em que o Brasil afundou.
O tempo passou, sob os governos petistas o Brasil cresceu e apareceu após superar duas décadas perdidas. E agora estamos sofrendo uma nova crise de abastecimento de combustíveis. Não porque não temos petróleo, mas porque exportamos quase todo petróleo que produzimos. 
Há algum tempo, a propósito da recolonização do Brasil após o golpe de 2016, disse aqui mesmo no GGN:
“O preço do petróleo pode até ficar estável, mas haverá uma redução drástica no valor de mercado da Petrobras em razão da empresa ter perdido o monopólio da exploração do Pré-Sal. Não só isto, a companhia terá que disputar espaço político com concorrentes norte-americanos agressivos acostumados a subornar políticos como José Serra. Uma nova fonte de instabilidade política fincará os pés no Brasil e dificilmente conseguiremos mudar novamente a legislação sem uma guerra externa.
Não bastasse isso, a redução da rentabilidade do petróleo para o Brasil acarretará uma redução nas expectativas de redistribuição de renda. Após ser congelada, a estrutura social do Brasil voltará a ser parecida com aquela que existia na década de 1950 com uma diferença. As flutuações nos preços internacionais do petróleo podem gerar desabastecimento interno, pois um país que tem maior demanda e é mais rico (EUA) certamente será considerado um destino mais seguro para o petróleo prospectado no Brasil pelas petrolíferas norte-americanas. Resumindo: podemos voltar a sofrer desabastecimento de combustíveis apesar de sermos exportadores de petróleo.
Enquanto a Rússia se prepara para controlar o preço do seu petróleo, o Brasil caminha no sentido inverso. Deixará aos estrangeiros a possibilidade de regular em que velocidade o petróleo brasileiro será prospectado e onde ele será consumido.
Ao estudar a luta contra as estruturas coloniais, Ianni citou um argumento extremamente relevante utilizado por Antônio Carrillo Flôres, Embaixador do México em Washington.
“O argumento é simples. 'No passado, quando o mundo enfrentou horas de perigo, encontraram-se fórmulas de perfeita eficácia para evitar altas excessivas nos preços das matérias-primas, mediante ação conjunta das grandes nações industriais. Parece-nos evidente que, se é possível evitar altas excessivas é possível evitar baixas excessivas.' Essas palavras singelas constituem verdadeira denúncia do egoísmo das nações altamente industrializadas que sacrificam aos seus os interesses de países produtores e exportadores de matérias-primas, que como é sabido, constituem a base da economia nacional.” (Descolonização em Marcha, Constantino Ianni, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1972, pág. 134)
Ao se transformar em exportador de petróleo nosso país já está sujeito às flutuações de preço provocadas artificialmente pelos países que importam o produto. Se deixar as petrolíferas dos EUA explorar seu petróleo pagando uma ninharia à União, o Brasil perderá uma excelente oportunidade para escapar da armadilha colonial. A única maneira de fazer isto é desenvolver aqui mesmo os conhecimentos, tecnologias, materiais e produtos capazes de serem exportados com grande valor agregado."
A crise dos últimos dias não foi causada pela OPEP. Nós mesmos a causamos ao aceitar o golpe de 2016 e seu resultado: a desnacionalização do petróleo e a transferência dos lucros do mesmo aos investidores estrangeiros.
O buraco em que o Brasil se jogou não vai ser fechado através da redução de impostos sobre os derivados do petróleo. Muito pelo contrário. A medida adorada pelo usurpador só conseguirá maquiar o problema. Ela causará uma diminuição ainda maior na arrecadação tributária no momento em que o Estado arrecada cada vez menos por causa da recessão. Isso obrigará a União a tomar mais dinheiro emprestado agravando a situação econômica do país. Se tentar recompor a arrecadação com aumento de outros impostos, o governo sofrerá retaliação dos setores prejudicados. Caso tente reduzir a taxa de lucros (o que já foi feito), os investidores irão migrar para o dólar valorizando a moeda norte-americana e desorganizando ainda mais nossa economia.
O que o governo fará quando as reservas internacionais do Fundo Soberano já tiverem sido embolsadas pelos banqueiros? Pedir dinheiro para o FMI e esgoelar ainda mais os cidadãos brasileiros para garantir a rentabilidade dos bancos, dos acionistas da Petrobras e das petrolíferas estrangeiras? A militarização crescente da vida cotidiana também não é uma solução. Sobre esse assunto vide: https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/intervencao-militar-ou-recolonizacao-a-revelia-do-excedente-populacional-por-fabio-de-oliveira-ri.
O Brasil só tem uma saída: estatizar a Petrobras e voltar a considerar o petróleo um monopólio estatal para arredar os royalties deste insumo refinando-o aqui mesmo no Brasil de maneira a garantir preços de mercado aos consumidores. Caso contrário, iremos ou afundar numa crise que continuará crescendo de maneira consistente até o sistema todo implodir com prejuízos para todos os setores econômicos.

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