quinta-feira, 27 de setembro de 2018

BBC e Globo: Especialistas no Jogo Sujo Contra a Esquerda, por Ruben Rosenthal


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"A BBC estaria atualmente envolvida em uma campanha de difamação contra Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista britânico, ventilando a acusação de antissemitismo. Isto ocorre quando o Partido Trabalhista está bem posicionado para chegar ao poder nas próximas eleições gerais, tendo à frente uma liderança autêntica de esquerda.  Esta probabilidade deve estar tirando o sono dos lordes aristocratas e dos banqueiros da City londrina. Tal guinada certamente traria consequências na geopolítica internacional, equivalentes a um tsunami intercontinental. (...) É o vale-tudo da mídia, lá como cá. No caso do Brasil, é premente que um governo legítimo e popular promova a democratização dos meios de comunicação, passando necessariamente pelo fim dos privilégios em isenções fiscais atualmente usufruídas pela Globo e mídia em geral." 


Do Jornal GGN:


BBC e Globo: Especialistas no Jogo Sujo Contra a Esquerda
por Ruben Rosenthal
Para aqueles que consideram que a defesa de privilégios de classe é feita apenas pela mídia privada, no Reino Unido a rede BBC está novamente empenhada em impedir a implementação de políticas que combatam privilégios e desigualdades sociais, evidenciando que uma mídia pública pode ter os mesmos vícios anti-democráticos de uma emissora particular concessionária, como a Globo aqui no Brasil.

A BBC estaria atualmente envolvida em uma campanha de difamação contra Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista britânico, ventilando a acusação de antissemitismo. Isto ocorre quando o Partido Trabalhista está bem posicionado para chegar ao poder nas próximas eleições gerais, tendo à frente uma liderança autêntica de esquerda.  Esta probabilidade deve estar tirando o sono dos lordes aristocratas e dos banqueiros da City londrina. Tal guinada certamente traria consequências na geopolítica internacional, equivalentes a um tsunami intercontinental.
Daí se explica a tentativa desesperada da mídia britânica de denegrir a imagem de Corbyn. O partido trabalhista vinha sendo dominado há anos pelos “blairistas”, termo usado em referência aos seguidores do ex-primeiro-ministro Tony Blair, que, para alguns, deveria estar preso por crimes contra a humanidade, conforme denúncias do ex-embaixador britânico Craig Murray (acesse aqui).  Internamente, o governo Blair representou a garantia da permanência do status quo de privilégios e desigualdades sociais herdados do sistema monárquico.
O ataque contra Corbyn começou de forma sistemática a partir do editorial conjunto de três importantes jornais judaicos do Reino Unido, alertando que um governo com a liderança de Corbyn representaria “uma ameaça existencial à vida dos judeus” (The Guardian, acesse aqui). O editorial foi especialmente crítico da decisão do Partido Trabalhista de adotar uma “versão diluída” da definição de antissemitismo estabelecida pela IHRA, a Aliança Internacional para a Recordação do Holocausto. Uma visão  mais abrangente da crise no trabalhismo inglês, como resultado da campanha da mídia contra Corbyn e a esquerda do Partido, pode ser vista no blogue Chacoalhando (acesse aqui).
Corbyn chegou a ser acusado de racista e antissemita por membros de seu próprio Partido, porque não teria se mostrado firme em combater os (supostos) casos internos de antissemitismo. Muitos jovens judeus filiados ao Partido Trabalhista estão desconcertados em face da crise com as lideranças judaicas do país. Vários falam em deixar o partido, mas não se sentem confortáveis em migrar para o Partido Conservador, que vem sendo acusado de Islamofobia (Haaretz, acesse aqui).
A questão do “antisssemitismo no Partido Trabalhista” passou a dominar a mídia do Reino Unido e também de Israel. Mesmo no jornal de esquerda de Israel, Haaretz, foram publicadas críticas à Corbyn. O jornalista britânico Anshell Pfeffer, colunista regular do Haaretz, escreveu o artigo “Por que o Corbynismo é uma Ameaça aos Judeus do Ocidente”, publicado em 3 de agosto, ressaltando que Corbyn se recusa a intervir na questão do antissemitismo na esquerda, contra a opinião de seus próprios conselheiros (Haaretz, acesse aqui).
Corbyn defende que as mudanças introduzidas no regulamento do Partido sobre a definição de antissemitismo, na verdade aprimoram o texto da IHRA, e que está empenhado em trabalhar com grupos judaicos para tratar da questão de antissemitismo no Partido. Corbyn acrescentou ainda que “um governo trabalhista em nenhum momento representaria uma ameaça, muito menos existencial à vida dos judeus no país” (The Guardian, acesse aqui). Para os apoiadores das alterações feitas pela Executiva Nacional do Partido nas normas da IHRA, havia a preocupação de que alguns dos exemplos apresentados de antissemitismo pudessem servir para negar aos Palestinos, o direito de denunciar as injustiças sofridas, e que já estariam de fato ocorrendo ações na justiça contra organizações que apoiam os direitos dos Palestinos. Com a recente aprovação no parlamento Israelense da Lei Básica do Estado-Nação (GGN, acesse aqui), que torna constitucional a discriminação contra a população não Judaica de Israel, críticas a esta lei de teor racista podem ser rotuladas de práticas antissemitas.                                          
No entanto, Corbyn recebeu apoio de importantes setores judaicos. Em carta publicada no britânico The Guardian (acesse aqui) com o título “Parem o julgamento de Corbyn na mídia por antissemitismo”, quarenta acadêmicos seniores criticam a omissão tendenciosa da mídia na cobertura das manifestações de judeus em prol de Corbyn, por seu reconhecido histórico anti-racista, salientando que a mídia deveria estar mais preocupada com o crescimento do antissemitismo em países da Europa, como a Hungria. Em outro artigo, o The Independent publicou uma declaração conjunta de grupos judaicos de 15 países, condenando as tentativas de abafar as críticas (das políticas) de Israel com falsas acusações de antissemitismo (acesse aqui).
Em artigo do escritor britânico Ian Almond publicado na Al Jazeera (acesse aqui) é analisado o perigo de se considerar como  antissemitismo qualquer crítica feita ao Sionismo. O autor critica vários aspectos da cobertura pela mídia, como a quase completa ausência de um debate critico, bem como o “posicionamento quase geral dos comentaristas e entrevistados na televisão, de que o antissemitismo é um problema exclusivo do Partido Trabalhista, quando na verdade ele está presente em todo o espectro partidário” do Reino Unido.
A crescente pressão da mídia sobre o Partido resultou na aceitação, em 4 de setembro, pela Executiva Nacional, de todos os exemplos de antissemitismo conforme estipulados pela IHRA, mas com a inclusão de uma cláusula assegurando o direito de livre expressão sobre os direitos dos Palestinos. Este cláusula, porém, passou a ser alvo de ataque de alguns grupos trabalhistas ligados a Israel, por considerarem que ela daria cobertura à manifestações racistas contra os judeus, evidenciando que a crise interna está longe de ser amenizada. Grupos pró-Palestinos reagiram imediatamente ao que consideraram ser um recuo da Executiva do Labour Party, espalhando por Londres grandes cartazes onde se lia “Israel é uma Instituição Racista”. Corbyn e a Executiva Nacional precisarão decidir se continuarão a ceder, se submetendo às pressões da mídia para mudarem seus princípios e o programa de governo, ou manter suas convicções a todo custo.
Esta atuação tendenciosa da BBC e de setores majoritários da mídia britânica, tentando influenciar as eleições, tem equivalência no Brasil com a atuação da Rede Globo e da mídia golpista, que tentam impedir que o Partido dos Trabalhadores  volte a ocupar a presidência do país, apoiado por partidos de esquerda e movimentos populares. Isso tem sido feito de forma sistemática, propagando (fake news) que o PT é o partido responsável pela corrupção na política e pela crise econômica, e que o candidato Haddad, indicado por Lula, representaria a continuação destes males. Mesmo após se redimir do apoio dado ao golpe militar de 1964, a Globo, assim como o escorpião da fábula que não nega a sua natureza ao picar o sapo que o conduzia na travessia do rio, voltou a recair no que de melhor sabe fazer (além das novelas, é claro), que é conspirar contra partidos ou governos de esquerda do país. A comparação da Globo com um escorpião não é nova (GGN, acesse aqui). Mesmo assim, governos e governantes de esquerda, continuam agindo como o sapo, ajudando a vênus platinada a atravessar suas crises financeiras, para depois serem picados por ela, como seria de se esperar.
É o vale-tudo da mídia, lá como cá. No caso do Brasil, é premente que um governo legítimo e popular promova a democratização dos meios de comunicação, passando necessariamente pelo fim dos privilégios em isenções fiscais atualmente usufruídas pela Globo e mídia em geral. Para o Reino Unido, Corbyn precisará fazer uma necessária reestruturação na BBC, para torná-la mais transparente e sob controle democrático. Um modelo de rede pública democrática que ele poderia adotar é o da Brasileira EBC, conforme implementada no governo Lula, e que agora a direita tenta destruir. Pode-se esperar que, lá como cá, virão os editoriais denunciando atentados a liberdade de expressão. O Poder da Mídia vai tentar resistir de todas as formas.
Ruben Rosenthal, professor aposentado, Universidade Estadual do Norte Fluminense

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