segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Fernando Horta discute as duas semanas que faltam para as Eleições 2018: entre o abjeto fascismo e a ainda viva Democracia entre os escombros do Golpe de 2016



"As próximas duas semanas serão de apavorar. Parece que se solidificou a ideia de dois grandes polos de disputa no Brasil: democracia ou a barbárie (...). Trata-se de uma disputa entre dois projetos civilizacionais completamente distintos."



Serão duas semanas de tirar o fôlego, por Fernando Horta
JornalGGN. - Quem precisar tomar água ou ir no banheiro que faça agora. As próximas duas semanas serão de apavorar. Parece que se solidificou a ideia de dois grandes polos de disputa no Brasil: democracia ou barbárie.
Não se trata mais de discutir um programa mais à esquerda ou mais ao centro. Não se trata de discutir quem já administrou uma bodega ou quem já foi “gestor” público. Esqueçam as diferenças entre os que fazem acordos com o MDB e os que fazem com o PPS.

O buraco é mais embaixo.
Trata-se de uma disputa entre dois projetos civilizacionais completamente distintos.
De um lado, o campo da democracia, alijado dos liberais que se suicidaram politicamente com o impeachment da Dilma. Por mais corruptos que possam ser Aécio, Alckmin e Serra, me custa acreditar que, na disputa atual, eles cerrassem fileiras com o fascista. De qualquer forma, o final de vida de Serra, a autodestruição política de Aécio e o vexame eleitoral de Alckmin mostram que eles gastaram todo o capital político que tinham para apear Dilma, e não construíram nada no lugar. Os votos que outrora quase transformaram Aécio em presidente, hoje estão com o fascismo do ex-capitão e o vice-general. De alguma forma, este movimento mostra que o liberalismo político e o liberalismo econômico não só não andam juntos, como, no frigir dos ovos, são mutuamente excludentes. Há que se decidir se o eixo dos direitos, das políticas públicas e da sociedade é o livre mercado ou o cidadão.
Do lado do campo da democracia aliam-se toda a esquerda, mais um centro ainda relutante de entrar na disputa. Marina, Meirelles e Amoedo são claramente ameaçados pelo crescimento do fascista que tira votos destes mostrando que nunca, por mais sonhos que eles próprios tivessem, eles estiveram longe da direita. O círculo de atração do fascismo trabalha exatamente nos códigos linguísticos e relevantes empiricamente para esta gente: corrupção, ódio ao PT e um suposto “caminho diferente para a política”. Todo o discurso de Marina, por exemplo, é subsumido nas pautas do fascista. Isto explica o sumiço eleitoral da candidata que já havia desaparecido de Mariana. Quando o momento chegar, os votos de Marina vão se dividir e os próprios partidários dela vão ficar assustados ao descobrir a quantidade de fascistas que se abrigava dentro do discurso da negação da “velha política”, que tanto Marina usou. Marina vai entender que não existe “velha” ou “nova” política. Existe democracia ou barbárie.
Mesmo lutando para não se unir, a esquerda precisará. Ciro parece resistir à ideia de que o campo da esquerda precisará encontrar-se de alguma forma. Talvez por mágoa ou pelo reconhecimento de que sua estratégia foi suicida, Ciro ainda reluta. A antipatia de Ciro e sua agressividade para com o PT é muito menor do que a de sua militância. Entre os trabalhistas existe uma parcela significativa que, de pronto, abraçará o positivismo endurecido da promessa fascista. Para os historiadores, este movimento não é novo afinal, o trabalhismo de Vargas nasce das experiências históricas do positivismo gaúcho de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. Em todo o trabalhista existe a percepção enterrada fundo de que ele sabe o que é melhor para a “classe trabalhadora”. Quase uma tutoria dos proletários por um governo iluminado, científico e cuja função é evitar o conflito social.
Desta visão do trabalhismo, para uma ditadura fascista caminhamos muito menos do que se poderia pensar. Basta o aprofundar do discurso popular do fascismo e esconder, por alguns instantes, a truculência e a violenta oposição à política. Não fosse a condição eleitoral e certamente o discurso de Ciro, a esta altura, seria em tom mais conciliador. Ele, inteligente como é, já percebeu o perigo que é o fascismo.
O mercado flerta com todos. Seus candidatos preferidos não decolam, mas o capital sabe que o casamento com o fascismo mesmo sendo possível, seria melhor se fosse evitado. Alckmin, Meirelles e Amoedo entenderam que a propaganda para enganar a população tem um tempo de validade. E que não se pode querer votos da um povo que passou a pagar 90 reais o botijão de gás, e pegar emprego intermitente, sem direitos, porque lhe contaram que “ia ser melhor”. Há um limite para o efeito de todo o ataque da mídia. Este limite foi o golpe de Temer. Esta semana o mercado flertou com Ciro, capa da Época, e com Haddad, nominado por figuras desprezíveis do establishment financeiro como “tremenda oportunidade”. O capital sabe que só os comunistas e os fascistas não respondem ao aceno do dinheiro. No meio destes dois extremos todos os outros estão disponíveis. Uns mais, outros menos, é verdade.
A mídia monopolista brasileira desfaz-se em sua própria ignorância. Enquanto Bonner e sua colega de bancada vestem ferraduras contra candidatos de esquerda, permitem-se cortesias e silêncios com aqueles que seus chefes têm preferência. Este movimento, entretanto, joga contra o jornalismo e deixa claro para o povo – que não é bobo – quais são os candidatos que realmente incomodam os históricos donos do poder no Brasil. Aliás, é preciso fazer-se um minuto de silêncio pelo jornalismo brasileiro. Quase morto, escondendo as grosserias sob a bandeira da “neutralidade”, temos uma imprensa que não serve de contraponto ao poder de Estado, nem ao poder econômico, mas de sustento a estes dois. E esta associação sempre tem o condão de se transformar em antidemocrática.
A verdade é que após a morte de Roberto Marinho, seus filhos não tiveram nem competência, nem humildade para manter o império do pai. O caminho dos Civita é uma profecia assustadora para a Globo. Um resultado bem ao tamanho daqueles que não souberam diferenciar suas opções políticas do papel que sua empresa de comunicação teria que ter. A um movimento mundial inexorável que leva a uma transformação da comunicação. A Globo deve perecer. Mas, bem administrada, ela resistiria mais. Deveria ter percebido que sua sobrevida estava ligada à manutenção da democracia no Brasil, ao seu papel de defesa das liberdades individuais e, em última instância, da Constituição. Quando abraçou Moro e sua mesquinha luta pessoal, a Globo cometeu suicídio. Hoje, os três candidatos mais bem colocados nas pesquisas trabalham com pautas abruptas para o setor das comunicações. Qualquer um que ganhe e o império monopolista da comunicação brasileira vai tremer. E ainda tem o Google, o Facebook, a Netflix e etc. ...
Merecido fim pelo trabalho porco que eles vêm fazendo no país desde 1964.
As igrejas cristãs, e entre elas a Católica, ainda não acordaram para o imenso problema que estão metidas. Os dados mostram que em 15 anos o neopentecostalismo da prosperidade – a fé dos bispos e pastores ricos, fiéis pobres e o deus que apoia tortura e assassinatos – será maioria no Brasil. Há muito a Igreja de Francisco já deveria ter literalmente levantado armas contra os falsos pregadores dos milagres mentirosos. Permitiram o crescimento de um grupo de bandidos que usam a bíblia para assaltar a população. A política interna do Vaticano sempre foi um problema para a Igreja, e quem conhece a história do nazismo e do fascismo sabe que ele teve imenso apoio entre os “pregadores de Cristo”. Hoje, no entanto, é diferente. O discurso agressivo destas novas seitas cristãs não é somente contra outras religiões, mas contra a católica mesmo. Por anos permitiram o crescimento destes pequenos criminosos da fé e hoje, alguns deles já não têm medo algum de se mostrarem agressivos como bandoleiros religiosos. Ricos, inescrupulosos, vaidosos e ignorantes, a nova casta de “pastores e bispos” distanciam-se de tudo o que Cristo pregou. Mas como ele não está aqui para confrontá-los e a Igreja de Pedro também não o faz, os rebanhos vão se perdendo.
Todos os grupos sociais serão marcados pelas eleições de 2018. Em duas semanas o Brasil não será o mesmo. O povo haverá de escolher entre um projeto excludente, violento, moralista, autoritário e sem qualquer competência social e política para administrar um país do tamanho do nosso, ou um projeto inclusivo, institucional, democrático e que precisará aglutinar em seu bojo todas as forças dispostas a reconstruir o país.
É escolher entre educação como meta de desenvolvimento ou como barreira social contra os não escolhidos.
É escolher entre uma polícia que defenda o cidadão e as liberdades, ou que defende apenas o Estado e a propriedade dos ricos.
É escolher entre um Estado que ouça, pondere e se faça sentir em ações, ou um que mande, prenda e seja o caminho de toda a truculência.
É escolher entre um país que caminha de mãos dadas com a diversidade e a diferença, ou um que esconda, mate e enterre todas os que forem ditos “não normais”.
É escolher entre um país cujas forças armadas nos defendam de ameaças externas, ou um em que as forças armadas sejam o braço interno das ameaças estrangeiras.
No fim, é escolher entre um país que se reconheça Brasil para além das bandeiras, cores, hinos e continências ou aquele arremedo de país em que se gasta 5 bilhões com pensões para filhas de militares e se corta na Saúde deixando voltar a poliomielite, por exemplo.
Democracia ou barbárie. É esta a escolha que teremos em duas semanas. E não será permitido dizer depois que votou em branco, anulou ou não compareceu. A discussão não é mais entre esquerda ou direita.
É democracia ou barbárie.

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