quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Carta Aberta ao novo Secretário da Educação do Amazonas Luiz Castro de Andrade Neto, por Mestre Yoda




Fonte: GGN

Dirijo-me a ti, pela primeira vez, a partir de uma mensagem pública, porque reconheço, em sua nomeação, um fato histórico: pela primeira vez, na história recente do Amazonas, ocupará esta tão importante pasta, uma pessoa sensível e atuante em defesa da educação no Amazonas.

O reconhecimento não é fruto de um desejo por aproximação política, cargo ou coisa que o valha. Sou professor, meu lugar é a sala de aula, minha posição política é bem distante daquela ocupada pelo governador a quem V. Sa. irá servir pelos próximos anos.
Digo isto pelo que pude presenciar, nos últimos anos, não somente nas tribunas, mas nas ruas, nas praças, nas manifestações de professores em defesa da educação pública, da melhoria das condições de trabalho, na defesa de uma remuneração justa para os professores. Digo isto com a certeza de quem também estava lá, de quem, historicamente, defende as mesmas justas causas.
Fato histórico porque a pasta, que, em nosso Estado, foi tão vilipendiada, tão instrumentalizada a serviço de interesses privados, de interesses escusos. A SEDUC, que já teve como titulares, empreiteiros, mercadores, homens de negócio em geral, pseudo-professores (que muitos nos envergonharam, ao usar este qualificativo tão honroso de maneira tão vil) e, em geral, inimigos da educação pública, terá, pela primeira vez, a chance de um diálogo produtivo com professores, de implementação de todos aqueles interesses, daquelas pautas que V. Sa., com muita combatividade, defendeu das tribunas.
Muitos são os desafios, Senhor Luiz Castro! Por isso, aproveito o ensejo para elencar alguns deles: 1) Ampliar o diálogo e o espaço de participação dos movimentos de professores na definição das pautas da SEDUC; 2) democratizar e dar transparência ao uso do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB); 3) aumentar significativamente a remuneração (vencimento líquido) de professores e outros profissionais que atuam, em nível estadual, na educação; 4) oferecer merenda digna para os estudantes; 5) acabar com a hipócrita e maldita “progressão continuada” (leia-se APROVAÇÃO AUTOMÁTICA); 6) implementar eleição direta para diretores das escolas e; 7) oferecer internet de qualidade em todas as instituições de ensino do Estado, sobretudo as do interior, mas também as da capital, que funcionam muito precariamente e não atendem aos principais interessados: os estudantes.
Estou certo de que muitos e poderosos serão seus adversários, caso sua intenção seja, de fato, oferecer educação pública, gratuita e de qualidade, para o Amazonas. Há chupins gordos em quantidade drenando recursos públicos, há gente autoritária e de práticas coronelistas na SEDUC, há descaso e autoritarismo mesmo dentre os funcionários da pasta, há maus profissionais também no exercício da docência. Quatro anos serão, certamente, curtos, para tantos desafios.
De todo o modo, desejo-lhe bom trabalho e concluo esta missiva, citando o Patrono da Educação Brasileira e um colega de profissão seu, já que também advogado, Paulo Freire:
Penso nos meninos com fome, nos meninos traídos, nas meninas vilipendiadas nas ruas deste país, deste e de outros continentes. Meninos e meninas que estão inventando outro país. E nós, mais velhos, temos que ajudar essas meninas e esses meninos a refazer o Brasil.
Em tudo aquilo que contribuir para uma educação transformadora, capaz de mudar a realidade social adversa de estudantes amazonenses, conte sempre com o meu apoio!

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