segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O advogado, ex-delegado da PF e representante da Interpol, Armando Coelho Neto, discute em seu novo artigo "Fascismo e Sociedade Brasileira: uma relação sadomasoquista", o surrealismo da mentalidade que permitiu a ascenção da extrema-direita no Brasil




  "Atualmente, estamos vivenciando uma catarse coletiva, uma espécie de hipnose pela perversidade. Nossas potencialidades como Nação foram neutralizadas e nosso horizonte foi amesquinhado por desejos punitivistas. E isso nos retirou a capacidade de sonhar, de vislumbrar um amanhã melhor, de mais liberdade, mais empregos, investimentos públicos, educação, saúde, fartura e felicidade." - Armando Coelho Neto

Do GGN:


Fascismo e Sociedade Brasileira: uma relação sadomasoquista
por Armando Rodrigues Coelho Neto
Duas mãos invisíveis estão por trás desse texto, que por circunstâncias assino sozinho. Nada estranho num país em que mãos invisíveis parecem estar por trás de tudo, no qual nada é bem o que é...
Em tom jocoso, o site "Sensacionalista" publicou matéria segundo a qual o governo federal havia criado o "Ministério do Recuo", mas teria voltado atrás.
De fato, em poucos dias no poder, a trupe circense do presidente Bozo promoveu diversas idas e vindas. As oscilações abrangem de aumentos de impostos até nomeações para órgãos oficiais, passando por decisões sobre organização administrativa e até sobre soberania. Por cinismo, incompetência ou sabe-se lá o quê, essa instabilidade estressa até a economia e torna a Sociedade Brasileira refém de permanentes tensões relacionadas a interesses, direitos e futuro.
Para os críticos, seria mesmo prova de amadorismo e despreparo. Mas cremos insuficiente tal diagnose. Chamam-nos a atenção algumas tendências e circunstâncias. Ei-las.
Em primeiro lugar, é forçoso constatar que houve um rebaixamento das expectativas. Já fomos um país que não apenas reclamava uma posição de destaque na cena política e econômica internacional, como também um lugar onde o povo se permitia ter esperança positiva no seu próprio destino.
Atualmente, estamos vivenciando uma catarse coletiva, uma espécie de hipnose pela perversidade. Nossas potencialidades como Nação foram neutralizadas e nosso horizonte foi amesquinhado por desejos punitivistas. E isso nos retirou a capacidade de sonhar, de vislumbrar um amanhã melhor, de mais liberdade, mais empregos, investimentos públicos, educação, saúde, fartura e felicidade.
Fala-se apenas em cortes, ameaças, ódios. Anunciam-se maldades a todos, enquanto blindam-se poderosos e protegem-se militares, grandes empresários e políticos.
E até as coisas "boas" que o Coiso anuncia estão indiretamente associadas a punções de agressão e morte - distribuir porte de armas de fogo indiscriminadamente, autorizar o desmatamento, mitigar regras sobre licenciamento ambiental, liberar a caça...
De alucinações sobre Jesus na goiabeira ao aniquilamento de direitos sociais, vai sendo revelado um governo de loucos, covardes, predadores entreguistas. Que, como tal, usará da força contra os menos favorecidos para humilhar o povo e fortalecer a elite. O único freio, ao que parece, são as contradições no processo de mediação de conflitos entre os próprios poderosos. Lei-se, eles contra eles, por que opositores ou resistência não há.
De certo modo, eles podem dizer e fazer o que quiserem. Vai ter base militar americana? Não mais. Mas o IOF será elevado. Só que não. E a Petrobrás e os bancos públicos? Sem dúvida serão privatizados. Ou quem sabe apenas descapitalizados. E a Previdência Pública será substituída por um sistema de capitalização privado, ou... Amanhã vemos. Mas os trabalhadores vão ter que laborar até os 67 anos. Mas pode ser que seja só até os sessenta e dois. Pensando bem, vamos fechar em sessenta e cinco...
Qual o limite para essa inconsequência?
É como um torturador que amarra a vítima, para em sequencia perturbá-la psicologicamente: "acho que vou deixa-la cair pela janela... Não, não vou mais... Mas pensando bem, vou queimá-la viva... Ou afogá-la. Oi? Não... Não quis dizer isso, depois eu penso noutra coisa..."
Não admira que o alter ego do Coiso seja Brilhante Ustra. Há um evidente prazer nesse agir inconstante. Em brincar com a soberania, a previdência, a imagem do Brasil no mundo, os direitos sociais dos trabalhadores, em suma: com os destinos da Nação.
Por que, claramente, trata-se de uma diversão psicopatológica permitida precisamente pela relação entre a passividade e impotência da vítima frente a ausência de empatia e compaixão pelo carrasco.
Não se despreza o relevante papel do humor na luta política. Contudo, para além dos mêmes lacradores da Internet urge que os democratas, os nacionalistas, as pessoas conscientes do País se organizem para reagir. Do contrário, a Sociedade Brasileira permanecerá sequestrada e vitimizada. Até a sua total destruição. Com todos os requintes de crueldade.
Armando Rodrigues Coelho Neto - jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo


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