quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Feliz 2021! Feliz "Fora, Bolsonaro!" Por Rogério Corrêia

 


Charge de Nando Motta

Que neste 2021 vários dos seus sonhos se tornem realidade, e que você tenha saúde e paz. Você, sua família, seus queridos e suas queridas!

E que neste 2021 o povo brasileiro consiga lutar contra tudo de ruim, e não é pouca coisa, feito pelo pior presidente da nossa história. Um sujeito tosco e desumano, sem apreço pela vida, um incompetente fraco e disponível para executar “reformas” que atacam direitos de quem ganha menos ao mesmo tempo que facilita a vida dos mais ricos.

Um corrupto. Eleito agora, por associação mundial de jornalistas, o mais corrupto do mundo.

Vou continuar na luta. Estivemos juntos até aqui e estaremos juntos em 2021. Sempre na luta!

Dep. Rogério Corrêia

Fonte: 247

Faço meus os desejos do Armandinho para 2021...

 


Tirinha de Alexandre Beck

Armandinho deseja, para 2021, vacinas contra o vírus do corona e do obscurantismo....


Já passa da hora de se punir o presidente da República. Impeachment já! E Feliz 2021 - Artigo de Gilvandro Filho

 


Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia, diz que "não há como pensarmos em um 2021 feliz com dois males que destroem o Brasil: a Covid-19 e o governo atual" e defende a iniciativa da OAB de pedir impeachment de Jair Bolsonaro

Bolsonaro provoca aglomeração no litoral paulista

Bolsonaro provoca aglomeração no litoral paulista (Foto: Reprodução/Facebook)

Por Gilvandro Filho, do Jornalistas pela Democracia

O processo penal a ser movido pelo presidente da OAB contra o ex-tenente do Exercito ora no inadequado exercício da presidência da República é o mínimo que pode ser feito para contrapor as ações de uma  figura política mergulhada no lixo da História. Felipe Santa Cruz anunciou que vai à Justiça pedir retratação e indenização por danos morais depois a figura em tela acusou, sem base, Daniela Santa Cruz, mulher de Felipe, de se locupletar de verbas públicas da Lei Rouanet. Irresponsável como sempre é, o presidente tem que pagar pelo que fez ou pelo que disse.

Felipe Santa Cruz tem sido alvo preferencial do chefe do desgoverno e de sua malta, desde sempre. O presidente da Ordem dos Advogados  do Brasil é filho de Fernando Santa Cruz, desaparecido político desde 1973, auge da selvageria do general Emílio Médici, o mais sanguinário dos ditadores militares do regime que aterrorizou o Brasil, entre 1964 e 1985, e ídolo do presidente e da família dele, todos fanáticos por tortura e por torturadores.

Felipe é neto de Dona Elzita Santa Cruz, cuja saga em busca do paradeiro do filho rendeu o livro “Onde Está Meu Filho?”, atualmente na segunda edição. A peitica do ex-tenente contra a mulher do advogado e presidente da OAB passa pela história da família Santa Cruz. Nem o presidente da República, nem seus filhos, nem seus irascíveis seguidores suportam qualquer pessoa que tenha, na sua história ou na sua família, um traço que seja de luta contra a ditadura militar, contra a tortura ou contra torturadores. Nada mais que isso.

Para quem tem como livro de cabeceira a biografia de um assassino feito o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, atitudes no rés do chão feito a acusação à Daniela Santa Cruz não são de se estranhar. O nível rasteiro e sem escrúpulos utilizado por esse tipo de gente vai na linha do tratamento dispensado à ex-presidente Dilma Rousseff, contra quem o ex-tenente expele seus impropérios com o mesmo conforto de quem inventou fakenews para se eleger ou incentiva ações antidemocráticas contra os demais Poderes. A desfaçatez é imoral e seria punida em qualquer lugar do mundo que não elegesse um tipo feito ele para presidir a Nação.

As ofensas assacadas pelo presidente contra Dilma recebem a repulsa até mesmo que quem participou do ato que tirou do poder a presidenta, que prendeu o ex-presidente Lula, cassando a sua candidatura, e, consequência de tudo, ajudou a eleger um candidato de conotação fascista para presidente o Brasil. Pena que isto, na prática, não tenha significado muita coisa. Já são 58 os pedidos de impeachment do presidente da República que não saem do lugar, já que a coragem seletiva do Legislativo não é a mesma que a demonstrada na hora de aprovar o impeachment de Dilma por uma crime da qual foi inocentada meses depois. E não gostam quem se chama isto de golpe.

Os pedidos de impeachment do atual presidente referem-se, em sua maioria, a outro crime hediondo cometido por ele, a condução irresponsável e inconsequente do combate à pandemia do Novo Corona Vírus. Estamos vendo o mundo inteiro começar a etapa de imunização enquanto no Brasil, vergonha mundial também nesse quesito, não se sabe quando começam a vacinar, nem de quantas seringas se dispõe. É do presidente da República, e isto é incontestável, a responsabilidade por uma parte expressiva das quase 200 mil mortes já contabilizadas, pelo exemplo que dá e pelas aglomerações que promove em torno de si. E não gostam quem se chama isto de genocídio.

A hora é de desejar um Feliz Ano Anovo. Mas, não há como pensarmos em um 2021 feliz com dois males que destroem o Brasil: a Covid-19 e o governo atual.

Vacina já!

Impeachment já!

O conhecimento liberta. Saiba mais

Em dois anos de (des)governo, 59 pedidos de impeachment: por que é necessário e urgente afastar Bolsonaro

 

  Nunca um presidente foi alvo de tantos pedidos de impeachment. Considerado o pior governo da história do Brasil por juristas, parlamentares dos mais diferentes partidos, estudiosos da política e analistas internacionais, Bolsonaro sobrevive às tantas denúncias de crimes contra a Constituição

(Foto: Divulgação | ABr)

Rede Brasil Atual - O primeiro pedido de impeachment de Jair Bolsonaro veio pouco mais de um mês depois de sua posse. E já falava em crimes de responsabilidade e omissão. Apresentado à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados em 5 de fevereiro de 2018, foi arquivado após três semanas pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). De lá para cá, outros 58 pedidos vieram. Quatro foram arquivados. O mais recente pedido de impeachment de Bolsonaro, até agora, data de 9 de dezembro. E apresenta denúncias amplas, que vão da violação aos direitos humanos, direitos e garantias individuais e sociais, ao abuso de poder.

Junto com os outros, segue “em análise” pelo presidente da Câmara dos Deputados. Nunca um presidente da República foi alvo de tantos pedidos de impeachment. Considerado o pior governo que o Brasil já teve por juristas, parlamentares dos mais diferentes partidos, estudiosos da política e analistas internacionais, o governo Bolsonaro sobrevive às tantas denúncias de crimes contra a Constituição Federal.

Que crimes são esses? Quais as razões para um governante como esse se manter no poder? O que pode ser feito para devolver o Brasil ao rumo da democracia, do crescimento econômico e do desenvolvimento social?

Essas são questões que a série lançada pela Rede Brasil Atual neste 31 de dezembro, ao apagar das poucas luzes de 2020, pretende responder ao longo das primeiras semanas de 2021.

Os primeiros pedidos

Juristas e outros especialistas ouvidos pela RBA são unânimes em discordar de Rodrigo Maia: razões não faltam para impedir que Bolsonaro continue governando o país. E os 59 pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro dão provas disso. Os cinco ingressados em 2019 acusam o presidente da República por crime de responsabilidade. Tratam de conteúdo pornográfico postado em sua conta do Twitter no carnaval a comemorações pelo golpe de 1964. Do atentado contra a probidade administrativa ao uso de dinheiro público para atender interesses privados.

O sistema constitucional brasileiro dimensiona os crimes de responsabilidade de um presidente a partir da verificação de atos que atentem contra a Constituição da República. Isso está previsto sobretudo no artigo 85 da Carta Magna brasileira. Sob essa ampla classificação de crime de responsabilidade, o presidente Jair Bolsonaro acumula carradas de razões para seu afastamento da Presidência da República.

Em 8 de janeiro de 2020, um novo pedido de impeachment de Jair Bolsonaro denuncia o crime de responsabilidade diante do apoio ao ataque dos Estados Unidos que matou o general iraniano Qassem Soleimaini. Sem consulta do Conselho de Defesa Nacional nem autorização do Congresso. A política externa brasileira, e por consequência a economia nacional, sofreram duros golpes sob o governo de Jair Bolsonaro. As consequências podem ser vistas na alta de preços e no desemprego crescente que afunda o país em desespero. As queimadas na Amazônia e no Pantanal, o genocídio indígena, o aumento nos feminicídios e no assassinato de negros e pobres mancharam com sangue a imagem do país.

Impeachment pelo coronavírus

Além de cidadãos comuns, parlamentares e movimentos sociais encabeçaram pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro. O comportamento de risco e o descaso com a pandemia do novo coronavírus – que já matou 194 mil pessoas no Brasil e infectou 7,6 milhões – aumentaram a frequência dos processos em 2020. Somente no mês de março deste ano foram 14 pedidos, sendo a maioria dedicada a questionar a postura do presidente da República no combate à pandemia. Quase um ano atrás, como teria sido se algum desses processos tivesse sido encaminhado e o Brasil já estivesse sob um novo governo com credibilidade, que respeitasse a ciência e propagasse informação? Quantas vidas poderiam ter sido poupadas?

Ao longo de todo este ano foram dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro destacando a atuação do governo no agravamento da crise sanitária causada pelo novo coronavírus. O descaso está culminando em tornar o Brasil pária no mundo. Enquanto dezenas de nações já vacinam seus cidadãos – e não somente países ricos –, os brasileiros não contam sequer com um calendário de vacinação, nem insumos básicos (como seringas) para proteger os cidadãos da morte pela covid-19.

Essas são algumas das razões apontadas em muitos dos pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro. Mas que não foram suficientes, na visão do presidente da Câmara.

Alguns crimes de Bolsonaro

Um dos pedidos de impeachment de Bolsonaro, movido por movimentos populares e organizações da sociedade civil, aponta claramente para as muitas afrontas à Constituição Federal cometidas pelo atual presidente da República. Entre esses crimes está a deterioração das relações trabalhistas “em desacordo flagrante com princípios e normas constitucionais de índole material ou institucional, mediante a adoção de medidas que favorecem demasiadamente empresas e conglomerados empresariais engajados politicamente na eleição e no suporte ao governo, em detrimento das condições de vida dos trabalhadores”.

O processo destaca a extinção do Ministério do Trabalho, “com o consequente enfraquecimento do sistema de fiscalização das condições de trabalho no Brasil”. Ainda nesse tema, destaca-se o fim da política de valorização do salário mínimo e a “tentativa despudorada” de asfixia financeira dos sindicatos.

O pedido trata também da temática ambiental na qual as condutas de Bolsonaro e seus ministros levaram a grave risco ao país. Seja priorizando interesses dos violadores das leis ambientais ou no ataque aos servidores e às instituições que atuam na defesa do meio ambiente. O absurdo avanço na liberação de agrotóxicos também é lembrado.

“Como resultado dessa política, o Brasil tem perdido o financiamento externo de ações de proteção ambiental (tal como ocorrido com o fim do custeio do Fundo Amazônia pela Alemanha e pela Noruega) e investimentos externos em segmentos econômicos diversos, diante das preocupações com a condução do setor.”

Governo de morte

O governo de Jair Bolsonaro atenta, ainda, contra as políticas públicas de acesso à distribuição da terra no país. Paralisou por completo a reforma agrária e tentou legalizar a grilagem (ocupação irregular pelo poder econômico) de terras públicas por meio da edição da Medida Provisória nº 910. Também atacou as populações tradicionais, povos indígenas e quilombolas. Não demarcou novos territórios, desrespeitou as demarcações estabelecidas pela Constituição de 1988, desmontou a estrutura institucional de proteção a essas populações.

“Impossível não referir às políticas abertamente racistas incentivadas pelo discurso e pela prática institucional do atual presidente. O discurso oficial, permeado de declarações com viés discriminatório, tem acarretado incremento do discurso do ódio no Brasil”, diz o pedido de impeachment de Bolsonaro apresentando pelos movimentos e a sociedade civil.

Mas entre os mais graves, entre os tantos crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro, estão os ataques à saude pública. “A pandemia da covid-19 escancarou o desprezo do atual governo pela proteção à saúde da população”, lembra a ação que dorme na Mesa da Câmara.

“Diante da mais grave crise de saúde pública do planeta, o Presidente da República, irresponsavelmente, oscilou entre o negacionismo, o menosprezo e a sabotagem assumida das políticas de prevenção e atenção à saúde dos cidadãos brasileiros. Jair Bolsonaro buscou, ainda, descredibilizar instituições científicas nacionais de renome e represou recursos destinados à finalidade de combater o vírus. Além de incentivar a população a medicar-se com fármacos sem eficácia comprovada no enfrentamento da doença, como a hidroxicloroquina, buscando omitir dados que demonstram a gravidade da pandemia que agora assola o Brasil, principal epicentro atual da contaminação.”

Que venha 2021, trazendo a vacina, ou a força de um grito entalado em nossas gargantas: Fora Bolsonaro! Por Denise Assis

 

Para Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, "o ano de 2020 foi excepcional". "O ano de 2020 foi de morte. Estamos ansiosos por virar a página. Que venha 2021, trazendo esperança de vida para a nossa população. Ou sob a forma de vacina, ou pela força de um grito que entalou em nossas gargantas: 'Fora Bolsonaro!'"

Fora Bolsonaro na Av. Paulista

Fora Bolsonaro na Av. Paulista (Foto: Diario Causa Operária)

Por Denise Assis, do Jornalistas pela DemocraciaJornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada". Membro do Jornalistas pela Democracia

Ao jornalista é dado trazer notícias, análises, opinião. Nem sempre pessoais. A não ser em excepcionalidades. Acho que é este o caso. O ano de 2020 foi excepcional, e embora tenhamos vivido isto juntos, cada um vê o quadro de um modo peculiar.

Começamos com escândalos, como a corrupção do filho mais velho de Bolsonaro, e assistindo a manobras jurídicas para livrá-lo do que não tem desculpa, nem nunca terá. Nos impactamos com atos violentos e inconstitucionais com palavras de ordem pelo fechamento do STF, tendo à frente o chefe do governo, numa alegoria grotesca, montado a cavalo, ameaçando atropelar as leis e dar um golpe com os militares, conforme revelação da Revista Piauí. Ainda bem, eles não toparam.

Fomos apresentados à reunião ministerial de 22 de abril, em que foi descortinado ao país o nível das figuras que compõem o ministério desse governo, que agrada a 35% do povão, e choca o restante, atordoado com o baixo nível e o descaso das atitudes do titular, para com a população. Nem vale a pena repetir aqui frases e expressões dele. Causariam engulhos de novo. Talvez recordar uma delas, a do ministro Paulo Guedes, dizendo que ajudaria às grandes empresas, mas não faria nada pelas médias e pequenas, como de fato não fez. O Programa Emergencial de Acesso ao Crédito (Peac), administrado pelo BNDES e dirigido ao setor, só faltava pedir a mãe dos empresários como garantia, o que represou a liberação de uma verba destinada a socorrê-los, mas chegou no fim da festa, quando muitos já haviam baixado as portas. E não pediam muito. Os empréstimos solicitados variavam de R$ 5 mil a R$ 10 milhões. Depois de meados do ano um ou outro conseguiu.

Este foi um segmento que votou em peso em Bolsonaro em 2018. Não obteve ajuda e continua inexplicavelmente lhe dando apoio. Entre junho e julho tiraram dos armários as camisetas amarelinhas e foram para as ruas fazer carreatas, exigindo os seus funcionários de volta ao trabalho, para gerar lucro nos negócios, desativados pelo isolamento social e a desatenção de Paulo Guedes. Ninguém pareceu se importar com isto. Continuaram como robotizados, a gritar “mito”.

Ao olhar para trás – e longe de mim fazer uma retrospectiva! Para que sofrer duas vezes, não é mesmo? – constatamos que vivemos algo próximo de uma bomba de Hiroshima. Lá, estima-se que dentro dos primeiros dois a quatro meses após os ataques atômicos, os efeitos agudos das explosões mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil e 80 mil em Nagasaki. Cerca de metade das mortes em cada cidade ocorreu no primeiro dia. Durante os meses seguintes, vários morreram por causa do efeito de queimaduras, envenenamento radioativo e outras lesões, agravadas pelos efeitos da radiação.

Esta é uma história bastante contada e havia sido, até então, uma das tragédias mais impressionantes do século XX. Até o dia 11 de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS), anunciou que o planeta havia sido infestado por um vírus gorduroso, invasivo, eficiente, rápido, a ponto de dizimar, no Brasil, até agora, perto de 200 mil pessoas. Uma cidade de porte médio. Foi como se tivéssemos, aqui, recebido uma bomba semelhante à catástrofe de Hiroshima e Nagasaki.

Seguimos em frente, enterrando em valas coletivas os nossos mortos, tão numerosos eram.  As imagens em Manaus causaram impacto. Em nós. Não nele, Bolsonaro, que continuou dando de ombros. Com o desfilar das mortes por Covid-19, morríamos por dentro todos os dias. Isolados, desolados, olhando o mundo pelas telas de TVs e das lives. Nada de abraço, nada de sorrisos, barrados pelas máscaras, imprescindíveis e negligenciadas.

Enquanto isto, a floresta amazônica perdia três estados do Rio de Janeiro, da sua mata original. No cerrado, também o desmatamento avançou, com aumento de 13%. Esturricado, o Pantanal produziu cenas que comoveram a todos, como a da onça pintada, com as patinhas queimadas e protegidas por curativos, algo inusitado em suas vidas em contato com a natureza.

Em um país que escorraçou uma mulher do poder, aos gritos de Dilma, vá tnc, o recado para os machistas foi claro. Se mulher não serve para cuidar do Brasil, não serve para gerenciar um país, também não serve para gerenciar a casa, os filhos, a relação, a carreira. Mulher não tem voz nem vez, foi o que ficou estabelecido com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Para o seu lugar, foi eleito um homofóbico, misógino que despreza o gênero feminino. A soma desses dois fatores elevou o feminicídio. De 2017 a 2019 houve alta de 25% desse tipo de ocorrência. E não me venham dizer que foi coincidência.

Como arremate, e disfarce para a sua incompetência, Bolsonaro fez a apologia à tortura, um crime inafiançável.

E, por fim, assistimos perplexos ele de férias na praia, sem se preocupar em comprar nenhuma das vacinas, que espera serem ofertadas em malas de representantes de laboratórios, como os que costumamos ver nos diversos consultórios médicos. O ministro Eduardo Pazuello, o craque em logística, nem sequer conseguiu providenciar seringas e agulhas, para o início de uma eventual imunização. Na primeira tentativa, obteve 3% do necessário. Um vexame.

O ano de 2020 foi de morte. Estamos ansiosos por virar a página. Que venha 2021, trazendo esperança de vida para a nossa população. Ou sob a forma de vacina, ou pela força de um grito que entalou em nossas gargantas: “Fora Bolsonaro!”

O conhecimento liberta. Saiba mais

Sob os escombros destruído: as digitais de um responsável, por José Luís Fiori

 

Depois de dois anos dessa desgraceira, como se sustenta, afinal, este governo mambembe, apesar da destruição que vai deixando pelo caminho?

Jornal GGN:
Jair Bolsonaro em posse de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde - Foto: Agência Brasil

SOB OS ESCOMBROS, as digitais de um responsável [1].

Por JOSÉ LUÍS FIORI

Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do país e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?

Gal Eduardo Villa Boas, in Animus, Consultor Jurídico 11/11/2018, www.conjur.com.br declaração [2]

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A soma dos fatos e dos números não deixa lugar a dúvidas que a resposta do governo brasileiro à pandemia do coronavírus foi absolutamente desastrosa, quando não criminosa; e seu plano de vacinação massiva da população é um caos, quando não um engodo. Já são 7,5 milhões de brasileiros infectados e cerca de 200 mil morreram até agora, e as autoridades seguem batendo cabeça diariamente, como se fossem um bando de palhaços irresponsáveis e debochados. E apesar de tudo isso, o general Eduardo Pazuello segue ministro da Saúde, sem entender de pandemias, nem de planejamento, nem de logística. Simplesmente porque ele é apenas mais uma nulidade de um governo que não existe, que não tem nenhum objetivo nem estratégia, e que não é capaz de formular políticas públicas que tenham início, meio e fim.

Por isso, o fracasso frente à pandemia se repete monotonamente em todos os planos e áreas de ação de um governo que se contenta em assistir, com ar de galhofa, à desintegração física e moral da sociedade brasileira, enquanto estimula a divisão, o ódio e a violência entre os próprios cidadãos. É o mesmo descaso e omissão com a vida que este governo vem mantendo frente ao avanço da devastação ecológica da Floresta Amazônica, da Região do Cerrado e do Pantanal, com números que vêm provocando um levante mundial contra o Brasil.

Basta olhar os números para dimensionar o tamanho do desastre, começando pela economia, que já estava estagnada desde antes da pandemia. A previsão do PIB brasileiro para ao ano de 2020 é de uma queda de cerca de 5%, embora o PIB brasileiro já viesse caindo em 2018 e em 2019, quando cresceu apenas 1,1%. Mas o que é mais importante, a taxa de investimento da economia, que foi de 20,9% em 2013, caiu para 15,4% em 2019 e deve cair muito mais no ano de 2020, segundo todas previsões das principais agências financeiras nacionais e internacionais. Para piorar o quadro de desmonte, a saída de capitais do país, que havia sido de R$ 44,9 bilhões em 2019 – a maior desde 2006 –, quase dobrou em 2020, passando para R$ 87,5 bilhões de reais e sinalizando uma desconfiança e aversão crescente dos investidores internacionais com relação ao governo do senhor Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes, apesar de suas festejadas reformas trabalhista e previdenciária.

Por isso mesmo, em 2019 o Brasil foi simplesmente excluído do Índice Global de Confiança para Investimento Estrangeiro publicado pela A. T. Kearney, consultoria norte-americana que traz o nome dos 25 países mais atraentes do mundo para os investidores estrangeiros, o mesmo índice segundo o qual o Brasil ocupava a 3ª posição nos anos 2012/2013. Paralelamente, a participação da indústria no PIB nacional, que era de 17,8% em 2004, caiu para 11% em 2019, e deve cair ainda mais em 2020/2021; e o desemprego, que era de 4,7% em 2014, subiu para 14,3% em 2020, e deve seguir subindo no próximo ano.

A indústria brasileira está enfrentando escassez de matéria-prima e, segundo o DIEESE, o país já acumula, em 2020, uma taxa de inflação de 12,14% no preço dos alimentos que afetam mais diretamente o consumo das famílias mais pobres. De outro ângulo, os especialistas estão prevendo um apagão elétrico para o ano de 2021, como já aconteceu no estado do Amapá. E agora, no final de 2020, o Brasil está com déficit energético e importa energia do Uruguai e da Argentina, o que explica a Bandeira Vermelha 2 que começará a pesar no bolso dos consumidores em 2021. Ainda com relação ao estado da infraestrutura do país, a Confederação Nacional dos Transportes vem advertindo que o estado geral das rodovias brasileiras piorou em 2019, e 59% da malha rodoviária pavimentada apresentam hoje sérios problemas de manutenção e circulação. Por fim, como consequência inevitável dessa destruição física, a economia brasileira sofreu uma das maiores reversões de sua história moderna, deixando de ser a 6ª ou 7ª maior do mundo, na década de 2010, para passar ser a 12ª em 2020, devendo cair ainda mais, para o 13º lugar, em 2021, segundo previsão do Centre for Economics and Business Research publicada pelo jornal The Straits Times, de Singapura.

As consequências sociais desta destruição econômica eram previsíveis e inevitáveis: mesmo antes da pandemia, em 2019, 170 mil brasileiros voltaram para o estado de pobreza extrema, onde já viviam aproximadamente 13,8 milhões, número que deverá crescer exponencialmente depois que terminar o “auxílio emergencial”, aumentando ainda mais a taxa de desemprego em 2021. A nova realidade criada pelo fanatismo ultraliberal do senhor Guedes já apareceu imediatamente retratada no novo ranking mundial das Nações Unidas, o IDH, que mede a “qualidade de vida” das populações, no qual o Brasil caiu cinco posições, passando de 79º para 84º lugar entre 2018 e 2020. No mesmo período, o Brasil passou a ser o país com a segunda maior concentração de renda do mundo, atrás apenas do Qatar, e o oitavo mais desigual do mundo, atrás apenas de sete países africanos.

Por fim, é impossível completar este balanço dos escombros deste governo sem falar da destruição da imagem internacional do Brasil, conduzida de forma explícita e aleivosa pelo palerma bíblico e delirante que ocupa a chancelaria. Aquele mesmo que comandou a tragicômica “invasão humanitária” da Venezuela em 2019, à frente do seu fracassado Grupo de Lima; o mesmo que fracassou na sua tentativa de imitar os Estados Unidos e promover uma mudança de governo e de regime na Bolívia, através de um golpe de Estado; o mesmo que já comprou briga com pelo menos 11 países da comunidade internacional que eram antigos parceiros do Brasil; o mesmo que se lançou numa guerra beatífica contra a China, o maior parceiro econômico internacional do Brasil; o mesmo que conseguiu derrotar, em poucas semanas, duas candidaturas brasileiras em organismos internacionais; o mesmo que conseguiu que o Brasil fosse excluído da Conferência Internacional sobre o Clima realizada pela ONU em dezembro de 2020; e por fim, o mesmo que celebrou com seus subordinados do Itamaraty, o fato de o Brasil ter sido transformado, na sua gestão, num “pária internacional”. Algo verdadeiramente sem precedentes e que dispensa qualquer tipo de comentário adicional vindo da parte de um rapagão deslumbrado que foi nomeado praticamente por John Bolton e Mike Pompeo, a dupla de “falcões” que comandou durante alguns meses, em conjunto, a política externa do governo de Donald Trump.

Ao final do segundo ano deste governo, compreende-se imediatamente por que a maioria dos que participaram do golpe de Estado de 2016, e que depois apoiaram o governo do senhor Bolsonaro, estejam abandonando o barco e passando para a oposição. Os jovens “cruzados curitibanos”, tendo cumprido a missão que lhes foi encomendada e depois dos seus cinco minutos de celebridade, estão fugindo ou voltando para o seu anonimato, enquanto afundam na lama da sua própria corrupção. A grande imprensa conservadora mudou e hoje dedica-se a atacar o governo diariamente, enquanto os partidos tradicionais de centro e centro-direita, que estiveram juntos com o senhor Bolsonaro desde o golpe de 2016, agora se afastam e tentam construir um bloco parlamentar de oposição. E até mesmo o “mercado” parece cada vez mais insatisfeito com o seu ministro da Economia, que já foi comemorado em outros tempos como a Joana d’Arc da revolução ultraliberal no Brasil. Assim, neste momento o governo só conta com o apoio político do submundo fisiológico do Congresso Nacional, que a imprensa chama delicadamente de “centrão”, o mesmo mundo em que o senhor Bolsonaro vegetou durante 28 anos no mais absoluto anonimato, em nove partidos diferentes. Esse grupo parlamentar sempre esteve e estará pendurado em qualquer governo que lhe ofereça vantagens, mas nunca teve nem terá capacidade autônoma de constituir ou sustentar um governo por sua própria conta. Por isso, depois de dois anos dessa desgraceira, existe uma pergunta que não quer calar: como se sustenta, afinal, este governo mambembe, apesar da destruição que vai deixando pelo caminho?

Já foi mais difícil, mas hoje a resposta está absolutamente clara, porque na medida em que os demais sócios relevantes foram se afastando, o que sobrou de fato foi um simulacro de governo militar, absolutamente mambembe. Basta olhar para os números, uma vez que todos sabem que o próprio presidente e seu vice são militares, um capitão e o outro general da reserva. Mas além deles, 11 dos atuais 23 ministros do governo também são militares, e o próprio ministro da Saúde é uma general da ativa, todos à frente de um verdadeiro exército composto por 6.157 oficiais da ativa e da reserva que ocupam postos-chave em vários níveis do governo. Segundo dados extraoficiais, são 4.450 do Exército, 3.920 da Aeronáutica e 76 da Marinha, número que talvez seja até maior do que o dos militantes oficiais do PSDB e do PT que ocuparam postos governamentais durante seus governos em décadas passadas. Por isso, depois de dois anos fica difícil tapar o céu com a peneira e tentar separar as FFAA  do senhor Bolsonaro, não apenas pela extensão e pelo grau de envolvimento pessoal dos militares instalados dentro do Palácio da Alvorada, mas também pelo nível e intensidade dos contatos e reuniões regulares mantidas durante estes dois anos entre generais e oficiais da reserva e da ativa, dentro e fora do governo, sobretudo entre os altos escalões das duas instituições. Depois de tudo isso, seria como querer separar dois ovos de uma mesma gemada.

Isto posto, o fracasso deste governo deverá atingir pesadamente o prestígio e a credibilidade das FFAA brasileiras, colocando uma pá de cal sobre o mito da superioridade técnica e moral dos militares com relação ao comum dos mortais. Agora está ficando absolutamente claro, e de uma vez por todas, que os militares não foram treinados para governar. Uma coisa são seus manuais de geopolítica e exercícios de ginástica e de guerra, outra coisa inteiramente diferente são os conhecimentos e a experiência acumulada indispensável para a formulação de qualquer tipo de política pública, ainda mais para se propor a governar um país com o tamanho e a complexidade do Brasil. Além disso, também ficou claro na história recente que a presunção da superioridade moral dos militares é apenas um mito, porque os militares são tão humanos e corruptíveis quanto todos os demais homo sapiens. Basta lembrar o episódio recente da solicitação irregular, por parte de centenas de militares, da “ajuda emergencial” destinada às pessoas mais pobres, na primeira fase da pandemia no Brasil. Estima-se que foram mais de 50 mil casos de irregularidades denunciadas pelo Tribunal de Contas da União e que tiveram que devolver o auxílio aos cofres públicos. Mas mesmo depois da devolução dos valores adquiridos irregularmente, o que esse episódio ensina é que não existe nenhuma razão para acreditar que os soldados estejam acima de qualquer suspeita e que sejam inteiramente infensos às “tentações mundanas”.

Aliás, não existe caso mais exemplar do fracasso desta crença na superioridade do juízo militar do que o que se passou com o próprio ex-Comandante em Chefe das FFAA brasileiras, que autoconvencido de sua “genialidade estratégica” e de sua grande “sabedoria moral” decidiu avalizar em nome das FFA, e  tutelar pessoalmente a operação que levou à presidência do país um psicopata agressivo, tosco e desprezível, cercado de por um bando de patifes sem nenhum princípio moral, e de verdadeiros bufões ideológicos, que em conjunto fazem de conta que governam Brasil, há dois anos. Que sirva de exemplo para que não se repitam estas pessoas que se consideram superiores e iluminadas, com direito a decidir em nome da sociedade, usem farda, toga, batina ou pijama.

No século XX, os militares deram uma contribuição importante para a industrialização  da economia brasileira, mas também contribuíram de forma decisiva para a construção de uma sociedade extremamente desigual, violenta e autoritária. E castraram toda uma geração progressista que poderia ter contribuído para o avanço do sistema democrático instalado em 1946. Assim mesmo, agora no século XXI, a nova geração de militares, bastante mais medíocre, está se dedicando a destruir o que de melhor haviam feito no século passado.

Por tudo e com tudo, parece que está chegando a hora de a sociedade brasileira se desfazer desses “mitos salvadores” e devolver seus militares a seus quartéis e suas funções constitucionais. Assumir de uma vez por todas, com coragem e com suas próprias mãos, a responsabilidade de construir um novo país que tenha a sua cara, e que seja feito à sua imagem e semelhança, com seus grandes defeitos, mas também com suas grandes virtudes. Que seja um país altivo e soberano, mais justo e menos violento, que respeite as diferenças e todas as crenças, e que volte a ser mais humano, mais fraterno e mais divertido. E que o Brasil volte a ser aceito, admirado e respeitado pelo resto do mundo. Estes pelo menos são meus votos para o ano de 2021.

 


[1] Em homenagem ao meu grande amigo Luiz Alberto Gomes de Souza, que faleceu no dia 30 de dezembro de 2020, e que foi um grande guerreiro na luta contra  a ditadura militar e contra desigualdade a a injustiça da sociedade brasileira.

[2] Declaração do Gal Eduardo Villas Boas, feita no dia 3 de abril de 2018, véspera do julgamento do pedido de habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi lida na época como uma pressão explícita do ex-Comandante em Chefe das FFAA sobre o STF, a favor da condenação do ex-presidente e pela sua exclusão da disputa presidencial de 2018.

 

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2020: O ano em que olhamos nossa tragédia nos olhos e, nos traços de Nando Motta, um resumo do ano 2020 no mundo e a odisseia-retrocesso no Brasil

 



Charge-denúncia e resumo de Nando Motta sobre um 2020 de retrocesso fascistóide no Brasil de Bolsonaro 


Do Outras Palavras:

Na última fase de vida, Immanuel Wallerstein, um dos grandes sociólogos e pensadores políticos do pós-II Guerra, examinou em profundidade a crise do capitalismo. Soube fazê-lo sem falsas esperanças. Argumentou que o sistema-mundo cuja hegemonia começou a se estabelecer há cinco séculos não sobreviveria a suas próprias contradições. Mas alertou que nada estava decidido. Viveríamos décadas de instabilidade intensa e crescente. E o que viria, ao final, era incerto. Havia espaço tanto para um sistema muito mais democrático e igualitário quanto para seu oposto.

É impossível não recordar de Wallerstein ao preparar a retrospectiva que, mais uma vez, compartilhamos com nossos leitores. Ao longo de 2020, os agouros de um grande retrocesso histórico voejaram mais próximos que antes. Alguns dos textos que selecionamos aludem a tais sombras. PandemiaFascismoDesigualdade e empobrecimentoDevastação do planeta. Mas de nosso ponto de vista, lembrar estas tendências – reais – não deve ser exercício de mortificação diante dos maus tempos. Inclusive porque emergiram, simultaneamente, dois tipos de contra-tendências.

Primeiro: as lutas sociais e a investigação teórica deram passos importantes, no esforço para decifrar o que nos ameaça. Agora enxergamos claramente que fenômenos como Bolsonaro ou Trump são fruto de uma aliança particular entre os punhos de renda do neoliberalismo e da aristocracia financeira e as mãos manchadas de sangue da ultradireita e suas milícias – armadas ou virtuais. Expor esta coalizão foi e será cada vez mais constrangedor para as duas alas que a compõem, como demonstram, por exemplo, os dissensos entre o bolsonarismo e a direita tradicional no Brasil. Num outro terreno, vai ficando claro que a desigualdade, o empobrecimento das maiorias ou fim da pequena empresa e da classe média não são fenômenos “naturais”. E se tais feitos derivam das políticas que favorecem, há quarenta anos, o capital improdutivo, então políticas opostas podem revertê-los.

Segundo – e ainda mais relevante: despontaram, mesmo em meio à reconstrução ainda embrionária de um projeto pós-capitalista, mobilizações sociais potentes e em certo sentido inéditas. O Black Lives Matter, suas marchas infindáveis e a participação eleitoral incomum da juventude norte-americana derrotaram Trump – um fato em si mesmo gigantesco – e mostraram que o sistema é vulnerável mesmo em seu núcleo. A América Latina voltou a arder, com a derrota humilhante, na Bolívia, do golpe patrocinado por Washington (e Brasília); os preparativos, no Chile, para uma Constituinte que promete desafiar ao mesmo tempo a herança de Pinochet e o neoliberalismo; a recente sublevação no Peru. O novo despertar das lutas feministas prosseguiu e agora parece ainda mais portador de lógicas que são veneno para o capital: o Cuidado, o Compartilhamento, a Colaboração e o Comum.

“Olhar nos olhos de nossa tragédia é meio caminho andado para derrotá-la”, disse uma vez o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho. Defensor de um jornalismo de profundidade, Outras Palavras alegra-se de apresentar a você, nos próximos dias, a Retrospectiva 2020 – com o melhor de sua produção no ano que se encerra. Estaremos em recesso até 11 de janeiro. Conte conosco, também em 2021. Não temos ilusões: o futuro está em aberto; nada está decidido, sabemos. Mas, em meio a uma crise civilizatória de cujo desfecho pode depender a sorte do planeta, não descansaremos, até o apito final. 

Agradecemos pela companhia. Ótima virada. Os melhores afetos, em 2021


Em 2020, Bolsonaro manteve a retórica fascistóide, mas seu governo ficou com a cara dos vendilhões do Centrão

 

Ao final de 2020, Bolsonaro mantém sua retórica de cunho fascista, mas seu governo tem, cada dia mais, a característica de uma gestão do centrão, a “velha política” que o candidato de extrema-direita combateu na campanha e no primeiro ano de seu mandato

Jair Bolsonaro

Jair Bolsonaro

247 - Reportagem de Mariana Schreiber na BBC Brasil indica como Bolsonaro, apesar de manter a retórica de corte fascista, mudou seu governo para um perfil que lembra o de Temer, sob os auspícios do Centrão e cada dia mais afastado dos radicais que chegaram ao poder com ele em 1 de janeiro de 2019. Escreveu a jornalista: “o presidente Jair Bolsonaro chega à metade do seu mandato metamorfoseado: em dois anos, pouco entregou das promessas de privatização e redução do Estado e, a partir de meados de 2020, sua gestão passou a buscar uma aliança com políticos do Centrão e com a ala mais garantista (menos punitivista) do Supremo Tribunal Federal (STF)”.

Mas isso não significou um abandono total da retórica radical bolsonarista, ressalta o cientista político Rafael Cortez, da Consultoria Tendências: com a pandemia de coronavírus, o presidente intensificou sua disputa com os governadores, em especial o paulista, João Doria, visto como um provável adversário na eleição presidencial de 2022.

Apesar de ter sido parlamentar por mais de 30 anos, Bolsonaro chegou ao poder hostilizando o Congresso Nacional. O auge desta linha foi a série de atos antidemocráticos nos primeiros meses de 2020, aos quais Bolsonaro compareceu a despeito dos pedidos dos manifestantes pelo fechamento do Congresso e do STF. “Até que entre maio e junho, nota o cientista político Antonio Lavareda, o presidente passou a buscar com mais consistência uma aliança com políticos do Centrão — grupo de partidos sem clara identidade ideológica que costumam aderir ao governo, seja ele qual for, em busca de cargos e verbas para sua base eleitoral. Para Lavareda, essa mudança marca a passagem do ‘governo Bolsonaro 1’ para o ‘governo Bolsonaro 2’, em que o presidente se aproxima do presidencialismo de coalizão — uma administração que negocia apoio no Congresso para formar uma base política que lhe dê governabilidade.”

Na economia, Bolsonaro colheu fracassos em suas promessas ultraliberais, ao estilo Pinochet. “Após dois anos, o presidente segue longe de entregar promessas feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como grandes privatizações e zerar o rombo nas contas públicas”, pontuou Mariana Schreiber .

Gilmar deixa claro que Bolsonaro, exaltando a ditadura militar e a debochando da tortura, fez apologia de crime inafiançável e imprescritível

 

Gilmar Mendes, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro

Gilmar Mendes, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro (Foto: Divulgação | Brasil247 | Reuters)

247O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes mandou pelo Twitter nesta quarta-feira (30) um recado duro e velado a Jair Bolsonaro após seu ataque contra a ex-presidente Dilma Rousseff.

Na segunda-feira (28), Bolsonaro zombou da tortura cometida pela ditadura militar contra Dilma e demais vítimas, o que gerou uma onda de críticas ao Chefe do Executivo.

Agora, Mendes se soma às personalidades que saíram em defesa da ex-presidente, mesmo sem citar os nomes de Dilma ou Bolsonaro. 

O magistrado ainda fez questão de lembrar que tortura, prática a qual Bolsonaro fez apologia, configura crime inafiançável e imprescritível. "Tortura é crime inafiançável e imprescritível. Quem entoa saudades da ditadura só pode padecer de amnésia ou - pior ainda - de absoluta falta de conhecimento histórico".

TV GGN 20 hs, últimos capítulos do fim inglório da Lava Jato

 

Do Canal TV GGN e do Jornal GGN:

“(John Comaroff, professor de Harvard) Não só faz um histórico desde o colonialismo, a escravidão, até os fenômenos globalizantes atuais de um capitalismo de Estado monopolista e financeiro que utiliza diversos mecanismos, armas, instrumentos para manter o mesmo caráter de dominação”

“Só muda o jeito, a face, e esse lawfare é a expressão mais sofisticada, mais incrível desse processo. O lawfare é a guerra jurídica, que traz a ciência da guerra (…) O lawfare se apropriou da ciência militar, dos seus conceitos milenares (…)”


Nassif começa o programa apresentando um cenário da covid-19 – “embora os dados do Ministério da Saúde estejam igual o general Pazuello” – e fala sobre a aprovação emergencial da vacina da AstraZeneca.

“O Bolsonaro fala que a culpa de não ter vacina aqui é das empresas que tem que vender para a gente. Nós não temos que ir atrás delas. Ele não tem a menor noção do que é a responsabilidade do Presidente em relação aos cidadãos”

“Depois que a Pfizer disse que não ia entrar nesse uso emergencial por conta das regras muito rígidas da Anvisa, a Anvisa mudou de atitude e disse que não eram regras e sim indicações – e que tudo que era emergencial tem de flexibilizar um tanto”

“A Fiocruz vai pedir o uso emergencial da AstraZeneca. Agora o ponto central é o seguinte: o Ministério da Saúde até agora não conseguiu comprar as vacinas. O grau de incompetência é uma coisa…”

Gente, vamos lembrar que (a saúde) é o setor mais competente da administração pública, ao lado do Bolsa Família. É um setor com décadas de tradição, inclusive era um setor sincronizado, onde você tem as secretarias estaduais, municipais, o relacionamento com postos de saúde.

“Põe um general, e o que faz o general? Ele passa a tratar aquilo como matéria sigilosa, matéria estratégica. Esconde a informação, não chama ninguém de fora pois todo civil é inimigo, ainda mais esse povo da saúde, tudo esquerdista (…) E aí você não tem nem agulha”

Nassif aborda o final da Lava-Jato – o que considera “a maior burla política que já aconteceu na história do País”

“Quando você monta toda a estrutura do julgamento da Lava Jato, você pega o Moro que não tinha competência para pegar a Lava Jato pois os crimes não aconteceram em Curitiba”

“Você vai para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, e toda a manobra que foi feita para colocar na turma que ia julgar a Lava Jato três desembargadores alinhadíssimos – se você tem um voto dissonante do outro, dá margem para embargos. Então, os três falando a mesma coisa”

“Depois, você vai no Superior Tribunal de Justiça e faz uma manobra para afastar o relator, que era um relator garantista e colocar o curitibano Felix Fischer. E depois, vai no Supremo Tribunal Federal, quando morre o Teori Zavascki e uma manobra que joga na Segunda Turma o Luiz Edson Fachin. E todos os abusos perpetrados nesse período”

Para Nassif, três pontos estão levando ao desmanche final da Lava Jato. “Primeiro, a comprovação da Polícia Federal de que os arquivos da Vaza Jato são autênticos, não foram adulterados, e a abertura desses arquivos para a defesa do Lula”

“O segundo é a delação da Odebrecht, que é um ponto central para mostrar as manobras que foram feitas. O que causa pasmo é que todos esses abusos do Sérgio Moro tinham sido julgados pré-Lava Jato, já sabiam qual era o método de atuação dele.  Foi uma grande armação política, efetivamente”

“E o terceiro ponto são as investigações sobre o juiz Marcelo Bretas e o advogado Nythalmar (Dias Ferreira Filho) (…) As investigações estão avançadas pelo lado da Procuradoria-Geral da República, e vai criar dificuldades para a Lava-Jato do Rio”

“É aquela questão: na era da Internet você torna mais rápidos esses movimentos de manipulação política, mas torna mais rápida a elucidação dos episódios”

Para discutir o tema, Nassif conversa com o jornalista Marcelo Auler e dois acadêmicos que tem estudado a questão do lawfare.

Para Auler, a revelação do caso da Odebrecht e da Vaza Jato significa o desejo de esconder algo. “Na verdade, trata-se de um acordo de leniência que a Odebrecht fez com a Lava Jato em 2016”.

Auler lembra que, desde 2017, a defesa do ex-presidente Lula solicita o acesso a esses arquivos – pedido esse que chegou ao STF em 2019 (…) “O Fachin chegou a dar algumas liminares autorizando de forma restrita esse acesso, mas a defesa não ficou satisfeita (…)”.

Em agosto de 2020, houve o julgamento na Segunda Turma, onde estavam presentes três dos cinco ministros – “o Fachin, o Gilmar Mendes e o Ricardo Lewandowski” (…)”

“A Lava-Jato se recusa em mandar os dados. Não dá, diz que já deu mas não deu – tanto não deu que, cada vez que a defesa do Lula vai ao Supremo e consegue uma decisão do Lewandowski (de agosto para cá foram umas três), aí aparece mais um documento em Curitiba”

“Só o fato de aparecer um documento em Curitiba mostra que não tinham dado (…) A Lava Jato, lá em Curitiba, está se lixando para a decisão do Supremo”

Auler lembra que a Força Tarefa dizia que não existia nenhum documento formal com as autoridades americanas e suíças em torno da negociação com a Odebrecht.

Auler diz que, no dia 23 de dezembro, o (Cristiano) Zanin, advogado do Lula, ingressou com outro pedido (…) Uma das coisas que o Zanin levou foi um diálogo da Vaza Jato, quando o Vladimir Aras advertia o colega dele Deltan para que não fizesse o acordo de maneira paralela”

“O Deltan (Dallagnol) estava com pressa e negociou com os procuradores suíços por baixo do pano sem o acordo formal pelo DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional). E aí, o Aras dizia ‘olha, não pode, não faz isso que vai dar anulação'”.

“Diante desse diálogo, agora no dia 28/12 o Lewandowski autorizou o Zanin a ir à Vara Federal onde está rolando o inquérito do caso do hacker para receber todos os arquivos da Vaza Jato”, ressalta Auler. “São sete terabytes de arquivo”

Para discutir sobre o Lawfare, Nassif convida Osmar Pires Martins Junior e a professora Helena Esser dos Reis, ambos da Universidade Federal de Goiás

O professor Osmar Pires explica que o lawfare – conceito formulado pelo professor John Comaroff – “é uma nova arma de dominação das nações poderosas contra as nações dependentes e oprimidas e seus povos. Esse conceito dele de ‘lei e desordem’ traz uma globalização do tema”

“Esse caso da Odebrecht é a expressão geopolítica da Lava Jato com toda a clareza. E, ao abrir essa caixa preta, nós vamos descobrir os fatos que levaram ao suicídio de um ex-presidente do Peru, à deposição de vários presidentes da República, senadores, deputados, perseguição a prefeitos de várias províncias da Bolívia, da Argentina, do Equador, do Peru, porque eles eram pessoas comprometidas com os povos originários”

O professor Pires detalha um pouco do trabalho de Comaroff, atualmente professor em Harvard e expoente em antropologia jurídica ao lado da esposa. “Eles fazem esse trabalho de desenvolvimento de pesquisas sobre as várias populações marginalizadas do processo histórico”

“(Comaroff) Não só faz um histórico desde o colonialismo, a escravidão, até os fenômenos globalizantes atuais de um capitalismo de Estado monopolista e financeiro que utiliza diversos mecanismos, armas, instrumentos para manter o mesmo caráter de dominação”

“Só muda o jeito, a face, e esse lawfare é a expressão mais sofisticada, mais incrível desse processo. O lawfare é a guerra jurídica, que traz a ciência da guerra (…) O lawfare se apropriou da ciência militar, dos seus conceitos milenares (…)”

“O trabalho de Zanin e de Rafael Valin, que trabalham na equipe de defesa do ex-presidente Lula, eles avançaram no lawfare político (…)”, pontua o professor Pires

Segundo Pires, Comaroff esteve no Brasil – “ele foi o primeiro que se manifestou sobre o problema do impeachment da ex-presidente Dilma e a prisão do ex-presidente Lula no sentido de lawfare. Ele caracterizou claramente como lawfare”

Para Auler, “a Lava Jato está com os dias contados, embora eles vão batalhar muito para manter algumas ações, principalmente a turma de Curitiba”

“Eu acho que a investigação em Brasília, já na Procuradoria-Geral em torno da questão do (Januário) Paludo, não está clara o suficiente. Em Curitiba, eu acho que eles estão perdendo terreno e se afundando nas próprias bobagens que fizeram”, diz Auler.