terça-feira, 31 de março de 2020

Aquias Santarem: Mourão, o Bolsonaro que usa talheres, dá voz a outros fascistas frutos da ditadura e elogia o Golpe Militar de 64



Do Canal do Comentarista Político Aquias Santarem:



Com trecho do documentário- Os advogados contra a ditadura
Dirigido por
Silvio Tendler


Autoritário, parcial, raso e sórdido, o general Ministro da Defesa realizou o sonho de toda viúva da ditadura militar. Artigo de Leandro Fortes



Na avaliação de Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia, o general Fernando Azevedo e Silva faz, na ordem do dia deste 31 de março, "um relato mambembe, de soldado raso, sobre contexto histórico da época" (do 247)


Fernando Azevedo e Silva
Fernando Azevedo e Silva (Foto: Carolina Antunes/PR | Reprodução)

 
Por Leandro Fortes, para o Jornalistas pela Democracia - Ex-ajudante-de-ordens do ex-presidente Fernando Collor de Mello e ex-assessor do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, o general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa do governo Bolsonaro, realizou o sonho de toda viúva da ditadura militar que se preze: enalteceu, sem freios nem escrúpulos, o golpe de 1964, na Ordem do Dia de hoje, 31 de março de 2020, enviada a todos os quartéis do País.
Assim falou o general, sobre o aniversário de 56 anos da quartelada que depôs o presidente João Goulart:“O Movimento (sic) de 1964 é um marco para a democracia brasileira. O Brasil reagiu com determinação às ameaças que se formavam àquela época”.
“As ameaças”, vocês sabem, era o comunismo, samba de uma nota só que embalou a geração de militares de Azevedo e Silva, e que serviu de pretexto para os Estados Unidos implantarem, em toda a América Latina, ditaduras sanguinárias comandadas por bestas feras que torturaram, assassinaram e exilaram milhares de pessoas.
Mas sobre isso, o general não fala. Faz, no entanto, um relato mambembe, de soldado raso, sobre contexto histórico da época. Em resumo, para ele, depois da vitória dos aliados contra o nazifascismo, na Segunda Guerra Mundial, valeu a pena se implantar um regime nazifascista, no Brasil, para barrar o totalitarismo comunista.
“Naquele período convulsionado, o ambiente da Guerra Fria penetrava (sic) no Brasil. Ingredientes utópicos embalavam sonhos com promessas de igualdades fáceis e liberdades mágicas, engodos que atraíam até os bem-intencionados”.
Trata-se de um poeta, vejam vocês.
Na avaliação do ministro da Defesa, o golpe militar de 1964 estabeleceu “limites apropriados à prática da democracia”, o que poderia parecer até uma ironia, não tivesse sido escrito por um militar – classe de escribas que, como se sabe, não tem a menor ideia de como usar essa divertida figura de linguagem.
Azevedo e Silva, infelizmente, foi literal na afirmação. Ele, de fato, acredita que meter a oposição na cadeia e no pau-de-arara deu “limites apropriados à prática da democracia”.
Continua, o general: 
“Os países que cederam às promessas de sonhos utópicos ainda lutam para recuperar a liberdade, a prosperidade, as desigualdades e a civilidade que rege (sic) as nações livres”.
Escorre-me uma lágrima solitária. Nem sei como agradecer a essa gente maravilhosa.


A hora de isolar Bolsonaro, por Florestan Fernandes Jr.



No aniversário do sórdido golpe militar, Florestan Fernandes Jr., do Jornalistas pela Democracia, diz que "se existe hoje uma ameaça à ordem democrática, alguém que patrocina a desordem social e flerta com ideologias de extrema direita que lembram o fascismo e alimenta a instabilidade entre os poderes, esse alguém é Jair Messias Bolsonaro"




(Foto: Marcos Corrêa/PR)


Por Florestan Fernandes, para o Jornalistas pela Democracia - E cá estamos nós, num 31 de março de 2020, sem nada para comemorar e muita coisa para lamentar, se preocupar e lutar. Na data em que o golpe militar completa 56 anos, a Ordem do Dia divulgado pelo Ministério da Defesa, como já era de se esperar, afirma que os 21 anos de ditadura impostos à Nação foram fundamentais para preservar a democracia em nosso país. Argumentam que serviu para evitar a balbúrdia, a corrupção e as ideologias autoritárias. E vão além: “As Forças Armadas continuam sempre atentas para manter a ordem, a paz e a estabilidade”. Deixam no ar a possibilidade de repetir a dose de uma intervenção. Ato que poderia levar a privação da liberdade, da volta à censura, de perseguições políticas, prisões ilegais, torturas e o fim do voto livre e direto. 


Interessante é que, se existe hoje uma ameaça à ordem democrática, alguém que patrocina a desordem social e flerta com ideologias de extrema direita que lembram o fascismo e alimenta a instabilidade entre os poderes, esse alguém é Jair Messias Bolsonaro. Ele é o presidente que mais nomeou oficiais do Exército para cargos de primeiro escalão desde a proclamação da República. Um ser que tem entre seus amigos íntimos milicianos acusados de crimes hediondos. Um personagem incapaz de oferecer um projeto para o país, que governa através de uma junta familiar, que se aconselha com um astrólogo na Virgínia e que obedece cegamente às determinações políticas de Washington.
Um ser irresponsável que, por várias vezes nos últimos dias, contrariou às determinações da Organização Mundial da Saúde e do ministro Luiz Henrique Mandetta e, não satisfeito em não cumprir o isolamento, saiu às ruas para abraçar e cumprimentar populares em plena pandemia do coronavírus.
É este senhor e seu entorno que representam uma ameaça concreta ao nosso país. Espero que as Forças Armadas estejam, desta vez, do lado certo da história para cobrar a defesa dos interesses maiores da Nação e do cumprimento à Constituição. Que abram bem os olhos e os ouvidos para ver e ouvir as panelas baterem nas janelas dos prédios e das casas das cidades brasileiras, que exigem a saída imediata do capitão e de seus filhos do poder. Motivos jurídicos para isso não faltam, tantos foram até aqui os desatinos de Bolsonaro contra as determinações da nossa carta magna. É necessário união e tranquilidade para vencermos o desafio de salvar vidas e retomar, lá na frente, a volta à normalidade e a retomada do desenvolvimento econômico e social do Brasil. Com Bolsonaro no comando isso será impossível de acontecer, mesmo que façam dele apenas uma peça decorativa. 

Não há filantropia ou reza que neutralize a natureza corrupta do capitalismo, por Álvaro Miranda



Para além do coronavírus, o próprio passado já nos sinaliza a transitoriedade do capitalismo por seu caráter pernicioso e sórdido de portador de crises e guerras.

Não há filantropia ou reza que neutralize a natureza corrupta do capitalismo

por Álvaro Miranda

A pandemia do coronavírus confirma a natureza corrupta do sistema capitalista – obviedade para muitos e enigma para outros que se aconchegam em crenças cristãs e humanitárias, a fim de encostar a cabeça em paz no travesseiro na hora de dormir e esperar mais um dia seguinte de notícias ruins. 
Desnecessário lembrar, pois nada tendo a ver, tanto a suposta ambivalência do ser humano expressa pelo mito bíblico de Adão e Eva – que teriam se tornado versados no bem e no mal depois da mordida na maçã –, como a ideia idílica de Rousseau, para quem o homem nasce bom mas é corrompido pela sociedade. 
Ética se constrói na experiência e não no abstrato, como se fosse igual para todo mundo. Evidente que ações filantrópicas e voluntárias isoladas são bem vindas aqui e ali, mas a superfície da boa vontade alheia pode esconder, involuntariamente, nesses gestos a essência da podridão estrutural da convivência nesse tipo de sociedade. E, em alguns casos, chega a incentivar e reproduzir a corrupção com uma postura álcool gel de limpar a própria consciência, mesmo apoiando o obscurantismo.
Ninguém tem “culpa” pelo sistema capitalista, nem os próprios capitalistas, que surgiram historicamente reificados, assim como o proletariado, ambos visceralmente relacionados nas contradições da exploração do trabalho – esse fenômeno não tão óbvio que tem a ver com o metabolismo do ser humano com a natureza na fase adiantada de sua evolução. 
Diferentemente das demais espécies de animais, o ser humano não só se adapta à natureza como a transforma, fazendo escolhas entre alternativas já prontas e criando e construindo uma infinidade de outras nesse processo de viver “com e na” natureza – sendo ele mesmo natureza, ao mesmo tempo em que se afasta da chamada “barreira natural” com o desenvolvimento tecnológico.
Nessa parada aí não existe ente esotérico, acima da lua, supra-humano ou algo do infinito intervindo. Se é algum castigo, o coronavírus não veio do além, mas sim das ações desse capitalismo, suas formas de criação de animais, transformação genética e outros elementos da produtividade em massa de víveres ligada à concorrência. É o ser humano e só ele no seu estar aí na natureza. Não cabe também cair na ingenuidade de questionar se houve ou se está havendo ou não evolução desde os tempos das cavernas. 
Claro que a evolução da vida em sociedade – o capitalismo como fase passageira desse processo – faz parte do afastamento do ser humano da barreira natural. Porém – e essa é a percepção de Marx e Engels, a partir, mas questionando os hegelianos – tal trajetória é feita de contradições, conflitos e história, e não de uma racionalidade abstrata de aprimoramento inevitável com um fim “último” e linear previsto porque o ser humano seria “racional” e superior às demais espécies.
Difícil dizer para onde estamos caminhando. Porém, não tão complicado constatar que, para se compreender o que somos e por que somos assim, há que se ter um olhar histórico a fim de saber como chegamos até aqui, no tal século XXI – este contemporâneo ao qual muitos querem tratar como presente perpétuo. Este momento como se fosse resultado de uma suposta “revolução tecnológica” abstrata, sem o entrelaçamento deste instante com as revoluções industriais dos séculos passados, suas guerras e as mudanças nas formas de produzir e fazer circular as mercadorias.
Para além do coronavírus, o próprio passado já nos sinaliza a transitoriedade do capitalismo por seu caráter pernicioso e sórdido de portador de crises e guerras. São muitos os exemplos da natureza corrupta deste sistema, que se esconde ou se manifesta em diferentes manifestações discursivas e práticas, além do próprio ethos da democracia liberal. 
Reúno aqui apenas alguns rápidos exemplos, a começar, portanto, pelo binômio igualdade-liberdade consagrado pelas revoluções burguesas europeias e estadunidense dos séculos XVII e XVIII. 
O que, contraditoriamente, forma a base de uma ideia de democracia, esconde a hipocrisia da falsa igualdade na venda e compra da força de trabalho – vale dizer, como se capitalistas e trabalhadores fossem equiparados porque um compra e o outro vende sua força de trabalho, juridicamente, em condições supostamente “iguais”. 
Daí também a falsa liberdade dos indivíduos – uma vez que serão mais livres, potencial ou efetivamente, aqueles que tiverem mais recursos e poder, tanto materiais como políticos, simbólicos e culturais. E haja liberdade religiosa derramando-se pelos excessos de alguns que fazem tudo para destruir a laicidade do estado.
Outra face oculta do caráter corrupto do capitalismo é a tal racionalidade econômica. Esta contempla os princípios da concorrência e das oscilações do mercado, os contratos de “boa fé”, os “os elementos não contratuais do contrato” (Durkheim), o “valor de mercado”, o estado mínimo, a falsa ideia de mercado sem estado e, dentre outras situações, os preços sobre preços, a exemplo dos varejistas estarem reclamando essa semana que os bancos aumentaram os juros em plena pandemia. 
Sem falar do banditismo mais grotesco do aumento exorbitante de preços de álcool gel, máscaras, equipamentos e outras mercadorias de emergência. A tal “mão invisível” do mercado de Adam Smith revelou-se um dos mantras mais cínicos que atravessou os últimos dois séculos e meio. Aqui, diga-se de passagem, a longevidade não confirma verdades, mas sim a própria exploração dos seres humanos por outros seres humanos através de muito sangue, suor, guerras, pernadas dos mais fortes contra os mais fracos e do casamento espúrio entre a ideia cristã e a racionalidade capitalista.
Pluralidade de moedas nacionais (por que não um equivalente a uma moeda mundial, como Keynes chegou a pensar?), bolsa de valores, guerras, novos colonialismos, concentração de renda, fome, desequilíbrios ecológicos, desastres ambientais provocados pela ganância da produtividade, enfim, um conjunto de escombros que, convenhamos, não tem nada de esotérico ou ético, antiético ou aético de um dos lados da ambivalência humana.
A etnografia registra casos de comunidades indígenas, que a arrogância ocidental classifica como primitivas – comunidades que têm cultura e capacidade tecnológica para acumular excedentes de alimentos durante um ano. Isso, sem freezers. Em doze meses, os indivíduos dessa sociedade aproveitam o tempo para outras atividades, seja de natureza lúdica, o amor, a dança, a pesca ou a arte, além da eventual guerra, se necessário, contra forças que possam ameaçá-las.
No último dia 27, o Valor Econômico publicou reportagem dando conta de que a maioria das grandes empresas negociadas na bolsa brasileira tem dinheiro em caixa e aplicações financeiras para cobrir mais um de ano de pagamento da folha de salários de seus funcionários. O jornal diz na primeira página:
“Um levantamento feito pelo Valor Data com base em dados de balanços indica que 85% dessas companhias conseguiriam honrar seus compromissos trabalhistas mesmo que parassem de faturar durante 12 meses por causa dos efeitos da pandemia de coronavírus. Metade das empresas restantes (15%) conseguiriam cobrir pelo menos seis meses de salários. Os dados se referem a 97 empresas não financeiras que fazem parte do Ibovespa e do Índice Small Caps (…)”.
A matéria pondera que não foram considerados os gastos com impostos, energia e outros itens, ausência que poderia distorcer a análise e propiciar ilações equivocadas. Mesmo assim, há algo que chama a atenção, sobretudo, no que diz respeito à força e capacidade de ação de empresas privadas e instituições públicas, diferentemente de iniciativas isoladas que se prontificam, bem intencionadas, à filantropia, mas podendo incentivar, involuntariamente, o risco de embaçar um debate mais radical e necessário sobre nossos problemas estruturais.
De nada adiantam pingos no oceano de águas revoltosas. Fica assim cada vez mais pertinente a interpretação de Walter Benjamin do quadro de Paul Klee, “Angelus Novus”. O anjo da história, segundo Benjamin, voa de costas para o futuro, com olhos arregalados e esbugalhados por ver a sucessão de tanto escombro aos seus pés na medida em que não consegue fechar suas asas agitadas pelo vendaval do progresso.  

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Os golpes de Estado todos se parecem! Por Carlos Russo Jr.



Prisões, torturas, execuções e fábrica de falsários e delatores

do Espaço Literário Marcel Proust

Os golpes de Estado todos se parecem!

Por Carlos Russo Jr.
Era o dia 30 de setembro de 1937 e os jornais de todo o Brasil estampavam uma manchete: “Instruções do Comintern ( Comitê da III Internacional Comunista) para a acção de seus agentes no Brasil: o Plano Cohen”.
O Estado Maior do Exército descobrira um tenebroso plano de ataque subversivo de nome judaico. Os ministros militares, tendo à frete o general proto-fascista Góis Monteiro, davam um ultimato para que o Congresso decretasse “o estado de guerra interna”, em vista do eminente “perigo vermelho”; caso se negasse, seria fechado à ponta de baioneta.
No dia 1 de outubro, o Congresso se reúne com a maioria querendo açodadamente aprovar o tal estado de guerra, e o líder do PSD, Otávio Mangabeira indaga:
“A Câmara sabe o que esta medida representa?… votar medida de tal gravidade, sem ter ao menos dado a impressão de que examinou os documentos apresentados, sem mesmo, sequer tê-los lido?”
Valdemar Ferreira, representante do agronegócio paulista vai à tribuna e declara: “Não há nos documentos trazidos ao conhecimento da Casa um único elemento de convicção! Trata-se de um manuscrito anônimo sobre uma incursão comunista no Brasil, mas quase todos os comunistas, desde o ano passado, estão presos ou mortos…” Referia-se ao derrotado movimento revolucionário da Aliança Nacional Libertadora de 1935, reprimido a ferro e fogo.
Por outro lado, o chefe integralista e deputado Plínio Salgado Filho retruca: “Trata-se de instruções comunistas que o Estado Maior apreendeu e fez publicar!”
Valdemar Ferreira responde-lhe: “O que se sabe é que estas instruções foram aprendidas pela milícia do Partido Integralista e entregues ao Exército”.
Colocada em votação, o “estado de guerra” é aprovado por 138 votos contra 52, no mesmo dia, 1 de outubro de 1937.
Na semana seguinte, Armando Salles de Oliveira, que no futuro daria seu nome ao Campus da Universidade de São Paulo, então ainda candidato à Presidência da República em eleição que jamais ocorreria devido ao golpe de estado cívico- militar, dispara:
“A nação está voltada para seus chefes militares: suspensa espera o gesto que mata ou o que salva”.
Não havia salvação, o golpe fora perpetrado e Salles de Oliveira, exilado, em entrevista com o Presidente Norte-americano Roosevelt, diria: “Não há vislumbre de qualquer tipo de liberdade em meu país. A liberdade de imprensa é uma quimera, nem se comenta nenhum pronunciamento popular pelo voto. Sob a responsabilidade oficial é feita a propaganda dos regimes ditatoriais, de força bruta e barbárie.”
Em 10 de novembro de 1937, esquecendo o acordo realizado em 1 de outubro, o Exército cerca o prédio do Senado e Getúlio Vargas ordena o fechamento tanto da Câmara e quanto do próprio Senado.
É o princípio do Estado Novo, também conhecido como a ditadura Vargas, que se estendeu até 1945. A ditadura tomou emprestado o termo “Novo” de outra ditadura, a de Salazar, implantada em Portugal em 1933.
“O Estado Novo dispensa intermediários: não se utiliza de fragmentos de opinião, não permite facções de pensamentos nacionais; não reconhece condomínios, parcelas, divisões, minorias ou maiorias. Quer uma nação uma, coesa, coerente, sem antagonismos de ideias e nem de doutrinas. Sua força são os interesses supremos da Pátria, e seu poder coercitivo são as Forças Armadas.”
Entretanto, as próprias forças do Estado Novo não eram tão somente as Forças Armadas, embora infiltradas por elementos pró-nazismo, como seus chefes. Enquanto os batalhões das milícias “camisas verdes” desfilavam entusiasticamente pelas ruas do Rio e de São Paulo, sob os slogans: Pátria, Deus, Anauê, o Diário Oficial proclamava a ditadura.
Não nos esqueçamos de que Hitler, em 1933, havia dito:
“Nós edificaremos uma nova Alemanha no Brasil. Nossa raça tem direitos adquiridos sobre este continente…” E, a partir de então, desde o Rio Grande do Sul, os núcleos integralistas haviam se espalhado por todo o país. Em seus encontros e concentrações, os integralistas recebiam treinamento de ordem unida e executavam rituais e simbologias do Exército Brasileiro. No dia 13 de novembro, “A Ação”, jornal do Partido Integralista conclamava o deputado federal Plínio Salgado como o “Condestável do Brasil”, o futuro Führer brasileiro.
No dia 10 de novembro de 1937 entra também em vigor uma nova Constituição “outorgada”, sinônimo de imposta, ao povo brasileiro, chamada de “A Polaca”.
“Quero instituir um governo de autoridade sem os empecilhos da democracia liberal” ordem clara do ditador Vargas. Um advogado obscuro, chamado de notável pelo ditador, Francisco Campos, vulgo “Chico Ciência”, fora chamado para dar forma a uma aberração jurídica, que extinguia os partidos políticos, instituía a censura, abolia direitos individuais, autorizava à intervenção do poder federal em todas as esferas administrativas, econômicas e jurídicas, estabelecia a censura prévia para todas as publicações e instituía a Justiça Militar para julgamento de civis, dando formatação de lei a meros anagramas autoritários e nazifascistas.
“A Polaca” previa ainda a nomeação de interventores para o governo dos Estados e intensificava a repressão contra os crimes ditos “contra a segurança nacional”.
Prisões, torturas, execuções e fábrica de falsários e delatores.
Desde 1935, uma feroz repressão fora desencadeada por Getúlio Vargas e seus acólitos. A repressão transbordara de presos a maior parte das prisões brasileiras e até mesmo os porões de muitos navios chegaram a abrigar mais de vinte mil presos políticos.
O Tribunal de Segurança Nacional foi instituído em 1936, um ano antes do golpe de Estado de 1937.
Entre 1935 e 1945, a casa da Rua da Relação, onde funcionava a Central de Polícia Política, se transformou em máquina de mortes, sofrimentos inauditos e loucura, comandada pelo ex- tenentista e trânsfuga da Coluna Prestes, Filinto Muller. Interrogado após a queda da ditadura getulista, diria: “Torturei, sim, torturamos muito, não jogo minha responsabilidade para cima ou para baixo.”
O mesmo Filinto Muller, em 1964, foi seria um dos líderes “civis” da Ditadura Militar.
O repórter David Nasser dizia que, durante a ditadura, tornara-se muito rentável um novo tipo de prestação de serviços, o trabalho do delator- alcaguete:
“Tipos de mentalidade apodrecida, escória das fábricas, das oficinas, dos quartéis, dos negócios… serviam para o trabalho de espionagem, de delação. Eles eram o baluarte do Estado Novo. Descobriam futuras revoluções, hipotéticos atentados. Os delatores mais baixos recebiam até 50 cruzeiros por pessoa apontada” e faziam fila por uma boquinha. Alguma semelhança com os propagadores de “fake news” da atualidade?
O golpe de Estado de 1937 também se propunha atacar pela raiz “a corrupção de uma classe política conspurcada pela lama”, como o escrito num dos primeiros informes emitidos pelo D.I.P., futuro controlador cultural da Nação.
Pois os anos que se seguiram ao golpe foram os de maiores torpezas na vida nacional.
Como diria claramente o historiador Hélio Silva, ao analisar este e o futuro golpe militar, o de Primeiro de Abril de 1964: “Todos os golpes se parecem”.
Obs.: O documento apócrifo que fundamentou a denúncia do Plano Cohen e que levou à decretação do “estado de guerra” foi uma falsificação de autoria do então Capitão Olímpio Mourão, filiado ao Partido Integralista na época, posteriormente promovido a general de Exército, comandou o Golpe de 1964 e presidiu o STM até pouco antes de sua morte, em 1972.

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“Impeachment está protocolado e não falta mais nada para Maia dar início”



Pedido sustenta crime de responsabilidade por Bolsonaro incentivar fechamento do Congresso e colocar a saúde nacional em risco

Jornal GGN A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL) afirmou no final da tarde desta terça-feira (31) que o pedido de impeachment de Jair Bolsonaro, com mais de 1 milhão de assinaturas, foi protocolado na Câmara e “não falta mais nada para Rodrigo Maia”, o presidente da Casa, “dar início ao processo”.
Segundo o documento, Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade ao incentivar protestos pelo fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal. Além disso, colocou a saúde do País em risco ao desrespeitar reiteradamente as recomendações sanitárias da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde na luta contra o coronavírus.
O pedido de impeachment é assinado pelos deputados Fernanda Melchionna (RS), Sâmia Bomfim (SP), David Miranda (RJ) e Luciana Genro (RS).

Bob Fernandes, em vídeo, discute a inescrupulosidade genocida e irresponsável de Bolsonaro contra o povo brasileiro e com o mundo, junto com seu gado fascista...




Do Canal do analista político Bob Fernandes:



Xadrez do confinamento político de Bolsonaro e a maldição do coringavirus, por Luis Nassif


O coringavirus é um choque que traz o país de volta à realidade. Mostra as consequências dos grandes atos de lesa-pátria, desde o esvaziamento do financiamento à pesquisa e a redução das políticas de proteção social – iniciadas no governo nefasto do golpista-mor Michel Temer – até as macaquices de Ministros improváveis da ala olavista.

Do Jornal GGN:




O dia de ontem aprofundou o confinamento político de Jair Bolsonaro. E com medidas e movimentos importantes.
Vamos a eles.

Peça 1 – o coringavirus e a volta do conceito de relevância

A perspectiva da morte batendo em todos os lares repôs o conceito de relevância na discussão pública, abolido do país desde a irracionalidade política da campanha do impeachment.
Antes, todos os abusos eram tolerados, todas as extravagâncias aceitas, todos os ódios estimulados, a ponto do politicamente incorreto se tornar hegemônico na opinião pública.
O coringavirus traz o país de volta à realidade. Mostra as consequências dos grandes atos, desde o esvaziamento do financiamento à pesquisa e a redução das políticas de proteção social – iniciadas no governo nefasto de Michel Temer – até as macaquices de Ministros improváveis da ala olavista.
É como se o juiz coringavirus batesse o martelo na mesa e decretasse o fim da hora do recreio. E por tal entenda-se o fim do discurso de que a anticorrupção era a única bandeira legítima, que poderia se sobrepor a todas as outras, inclusive aos valores democráticos e às conquistas sociais. Agora, todas as figuras públicas passam a ser julgadas por sua posição relação ao coronavirus. Por aí se entende a tentativa da Globo de recuperar a imagem do Ministro Sérgio Moro, apresentando-o sua irrelevância no atual momento, como se fosse a dissidência muda ao terraplanismo de Bolsonaro. E também o comovente esforço do Ministro Luis Roberto Barroso para repaginar sua biografia, relembrando os tempos em que se vestia de liberal. Até Wilson “mire na cabecinha” Witzel se tornou um humanista.

Peça 2 – o fim da sensação de impunidade

A blindagem sobre os filhos de Bolsonaro e sobre o próprio Bolsonaro, por seu envolvimento com milícias e com o Escritório do Crime, havia passado a sensação de impunidade a todo seu séquito.
Nem se fale dos negócios de Flávio Bolsonaro, do Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, ou a tentativa de Carlos Costa, homem de Paulo Guedes, de emplacar uma certificação digital para postos de gasolina no valor de R$ 1 bilhão – escândalo encoberto pela blindagem que se fazia, então, a Guedes.
Ontem, uma representação de procuradores da República e do Ministério Público de Contas contra o secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República, Fábio Wajngarten, por improbidade na campanha “o Brasil não pode parar”, acendeu luz amarela para todo o núcleo bolsonarista: quando acabar o governo, haverá contas a serem acertadas individualmente.
Hoje, O Globo arrancou uma declaração a fórceps do Procurador Geral da República, admitindo que o Ministério Público poderá recorrer à via judicial, caso Bolsonaro baixe algum decreto contrariando a horizontalidade da quarentena. Os bolsonaristas da AGU (Advocacia Geral da União), CGU (Controladoria Geral da União) e TCU (Tribunal de Contas da União) e do Ministério Público Federal (MPF) terão que ceder lugar aos profissionais porque sabem que qualquer ato de endosso às loucuras terá consequências futuras.
Em suma, o coringavirus tirou todo o hospício da condição de inimputável e espalhou a percepção de que “entrei numa roubada”, entre os oportunistas que aderiram a Bolsonaro. Usando a expressão usual, nem todos os ratos abandonaram o navio, mas estão pensando seriamente.

Peça 3 – o isolamento institucional

No plano institucional, o isolamento de Bolsonaro é total. Consolidou-se uma frente racional, composta pelos presidentes da Câmara e Senado, governadores do Estado, Ministros do STF e os próprios Ministros de Bolsonaro.
Todos falam em off, mas não há a menor dúvida de que, cada vez mais, restam a Bolsonaro apenas as declarações abiloladas e as aparições irresponsáveis. O fato em si de Aras ter concedido uma entrevista a um jornal “inimigo”, mesmo que escolhendo cui-da-do-as-men-te as palavras, mostra que a frente bolsonarista trincou.
Por outro lado, os governadores que mantiveram a quarentena têm colhido apoio de seus eleitores, coincidindo com a redução da influência dos Bolsonaro nas redes sociais.
O único apoio que Bolsonaro conseguiu foi junto ao ex-comandante do Exército general Villas Boas, hoje em dia impossibilitado até de escrever, devido a uma doença degenerativa e, por isso mesmo, suscetível a pedidos de presidente. Villas Boas soltou uma nota inexplicável, na qual critica “visões e ações extremadas” – dos outros – e termina com uma inacreditável defesa de Bolsonaro: “Pode-se discordar do Presidente, mas sua postura revela coragem e perseverança nas próprias convicções. Um líder deve agir em função do que as pessoas necessitam, acima do que elas querem”.
Se o capitão Bolsonaro ordenasse a sua tropa que invadisse um local inacessível, expondo todos à morte, não dando ouvidos aos alertas, e exterminando o batalhão, seria inevitavelmente submetido a uma corte marcial. A politização do general Villas Boas o fez perder até o discernimento sobre os verdadeiros valores militares.

Peça 4 – a luta contra o coronavirus

Insisto no que coloquei ontem: o bolsonarismo aposta no caos decorrente da demora em se tomar medidas, especialmente na área de Paulo Guedes.
Millor Fernandes dizia que “entre um burro e um canalha não passa o fio de uma navalha”. Parafraseando, a incompetência é irmã gêmea da má intenção, é o que separa, no direito penal, o homicídio doloso (com intenção de matar) do culposo (sem intenção).
Provavelmente, a incompetência de Guedes se enquadra na definição de homicídio culposo, sem intenção de matar. Mas é irresponsável a demora em definir formas de distribuição dos recursos às populações vulneráveis, em aceitar a necessidade imperiosa de bancar a folha de pagamento das empresas e de estimular o crédito através do compartilhamento de riscos.Com todos esses desafios pela frente, Guedes é incapaz de articular um grupo de trabalho e ainda arruma tempo para palestras para bancos de investimento.
Mesmo assim, está ocorrendo um fenômeno interessante, bem apontado pelo economista Fernando Nogueira da Costa na entrevista que concedeu ontem à TV GGN.
Governar é resolver problemas. As falhas gritantes da equipe econômica estão sendo supridas pelos funcionários de carreira, e há grandes especialistas no Banco Central, BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), CEF (Caixa Econômica Federal), IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), Banco do Brasil, na Saúde e na área social. Eles estão trazendo soluções que vão sendo incorporadas dependendo da cabeça do bolsonarista-guedista à frente das instituições.
No caso do BC, Roberto Campos Neto passou a ouvir os técnicos e tem se saído bem no desafio de resolver os problemas de liquidez. Ainda vai sair o tal fundo de aval às operações de crédito. O mesmo vem ocorrendo na CEF. No BNDES e no BB, presidentes inócuos têm atrapalhado a atuação de suas instituições. E, acima de todos, a anomia de Guedes. Aliás, outro trabalho relevante do coringavirus foi apontar as limitações do Ministro.

Peça 5 – o quebra-quebra

Por conta da incompetência dolosa-culposa do governo, nos próximos dias haverá a eclosão de problemas sociais de monta. Populações desassistidas terão que recorrer a saques. A epidemia se espalhará pela periferia e pelos presídios – graças à incompetência preconceituosa de Moro.
Nesse momento se dará o confronto final, com os Bolsonaros estimulando a reação de seus seguidores, entre eles as Policiais Militares e o baixo clero armado.
Que as instituições se dêem conta de duas questões óbvias:
  1. O confronto é inevitável.
  2. Quanto mais cedo Bolsonaro for exorcizado, menores serão os danos para o país e os riscos para a democracia.