sexta-feira, 13 de março de 2020

A receita que Paulo Guedes (não) colocará em prática, por Luis Nassif



No Brasil de Paulo Guedes, não se espere nenhuma ação pró-ativa. E se Guedes cair e entrar outro fundamentalista, tipo Mansueto de Almeida, a economia e o social correrão mais riscos ainda.
GGN. - Paulo Guedes é um completo alienado em relação ao país e às necessidades de uma política efetiva de combate ao coronavirus.
Há dois desafios pela frente, um de ordem sanitária-social, outro de ordem econômica.
O de ordem sanitário-social deve tratar como alvo preferencial as populações vulneráveis, com as seguintes características emergenciais, seguindo o exemplo de outros países:
  1. Suspensão imediata das aulas.
  2. Suspensão da jornada de trabalho e criação de um bônus para os trabalhadores temporários poderem se manter.
  3. Investimento rápido para dotar a rede SUS de equipamentos de diagnósticos.
  4. Revitalização do Bolsa Família e a criação de outras redes de proteção, como um sistema de amparo ao trabalhador temporário.
As de ordem econômica são tão complexas quanto:
  1. Criação de fundos especiais para amparar setores claramente prejudicados pela coronavirus.
  2. Revitalização do BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, os três principais instrumentos de financiamento e de identificação de problemas setoriais.
  3. Retomada dos investimentos em infraestrutura e criação de frentes de trabalho em parceria com governos estaduais.
Paulo Guedes fará algo nessa direção? Jamais. De um lado, por não ter a menor noção sobre como acionar instrumentos de políticas públicas, menos ainda as anti-cíclicas. De outro, pelo terraplanismo ideológico de quem passou a vida pregando o fim do Estado e celebrando o PIB do setor privado – seja lá isso o que for. Continuará se escondendo atrás do álibi das “reformas”.
O máximo que ousará será novas liberações de FGTS e PIS-Pasep, e olhe lá.

Os diagnósticos

Mesmo antes da coronavirus, o quadro que se tem é deprimente
  1. PIB sem reação.
  2. Mercado de trabalho exposto a uma informalidade cada vez maior.
  3. Alto endividamento das famílias, agravado pela estagnação da renda familiar.
  4. Obras públicas virtualmente paralisadas.
  5. Alta capacidade ociosa, afastando qualquer possibilidade de volta de investimentos privados.
  6. Capital externo em fuga.
O coronavirus traz um choque inicial de oferta (menos bens sendo produzidos). Junto com o choque cambial, há uma pressão sobre a inflação. Depois do choque de oferta, há o desemprego daí decorrente, e uma choque posterior da demanda. Aí, se configura o ambiente recessivo.
Portanto, o desafio do governo é garantir algum patamar de renda, por questão social e para manter algum dinamismo no consumo.
Nos países desenvolvidos, será tratado com déficits fiscais usados até o limite da recuperação da economia, não apenas para amparar empresas em dificuldades, como trabalhadores vulneráveis. E, especialmente, injetando recursos em empresas com rápida capacidade de resposta aos estímulos.
No Brasil de Paulo Guedes, não se espere nenhuma ação pró-ativa. E se Guedes cair e entrar outro fundamentalista, tipo Mansueto de Almeida, a economia e o social correrão mais riscos ainda.

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