quinta-feira, 12 de março de 2020

Lava Jato ajudou os EUA contra os interesses do Brasil em troca de dinheiro tirado da Petrobras



Mensagens mostram que Dallagnol sempre esteve preocupado em administrar boa parte da multa que os EUA aplicariam à Petrobras
Jornal GGN As mensagens de Telegram reveladas pela Agência Pública e o The Intercept Brasil, nesta quinta (12), confirma as suspeitas que o GGN e outras fontes de informação vêm levantando desde 2015: a Lava Jato abriu caminho para que os Estados Unidos entrassem com os dois pés no peito da Petrobras e de outras empresas que interessam para o desenvolvimento nacional. Em troca, a força-tarefa negociou receber o controle sobre parte da verba bilionária que os norte-americanos cobrariam da petroleira.
Até aqui, a força-tarefa vinha negando que tivesse auxiliado os norte-americanos contra a Petrobras. Quando questionada pelo GGN, em 2019, a turma de Curitiba mandou informar que foi a própria Petrobras que cedeu às autoridades dos Estados Unidos os documentos e depoimentos necessários à investigação, na tentativa de reduzir o valor da multa que viria a ser aplicada.
A Vaza Jato mostra, contudo, que os procuradores de Curitiba foram muito prestativos: receberam sigilosamente os agentes do Departamento de Justiça e do FBI na sede do MPF, sem informar o governo brasileiro; apresentaram detalhes sobre os investigados da Lava Jato que poderiam virar delatores nos Estados Unidos; pressionaram para que os mesmos conversassem e cooperassem com os norte-americanos, e ainda ensinaram procuradores estrangeiros alguns meios de burlar as regras brasileiras na tomada de depoimentos.
A cooperação direta com os norte-americanos tinha um objetivo claro: a equipe de Deltan Dallagnol estava de olho no valor bilionário que a Petrobras seria obrigada a pagar no processo criado nos Estados Unidos, por ferir a FCPA – a lei anticorrupção americana, usada contra qualquer empresa envolvida em escândalos, desde que tenha ações na bolsa de Nova York ou outro vínculo com o País.
Em uma das mensagens, Dallagnol sustentou que se o “MPF coopera” com os EUA, a “multa se aplica” à Petrobras, e o dinheiro retorna ao Brasil, para ser administrado pelos procuradores. A única coisa que preocupava ele era o impacto negativo que a Lava Jato sofreria quando a imprensa descobrisse que a cooperação resultaria numa perda bilionária para a Petrobras.
Para “mitigar” esse dano à imagem, os procuradores de Curitiba passaram ano atrás de ano sendo permissivos e atenciosos com os norte-americanos. Tudo para garantir que boa parte da multa aplicada à Petrobras retornasse ao país para ser injetada em projetos “sociais” e “anti-corrupção”.
Se o MPF não cooperasse, escreveu Dallagnol, a multa se aplicaria “igualmente”, com o ônus de que ficaria no bolso do governo dos Estados Unidos.
Desde 2015, quando os norte-americanos colocaram os pés no Brasil para começar a montar o processo contra a Petrobras e outras empresas brasileiras, Dallagnol discute com a equipe o que iria fazer com a parcela da multa.
O procurador Roberson Pozzobom até ficou encarregado de levantar as instituições que seriam beneficiadas com a fortuna. Anos mais tarde, quando o acordo entre e Petrobras e DOJ estava fechado, com multa fixada em 853 milhões de dólares, Pozzobom e Dallagnol tentariam abrir uma empresa de palestras e eventos que poderia ser “cliente” da “fundação” da Lava Jato, idealizada para gerir os 80% da multa (R$ 2,5 bilhões) devolvidos ao Brasil. Os planos foram frustrados pela Suprema Corte.
As mensagens da Vaja Jato revelaram mais: em meados de 2017, a diplomacia brasileira foi acionada para interceder junto ao governo norte-americano em favor da Petrobras. Um procurador do DOJ chegou a perguntar à turma de Curitiba se seria o caso de paralisar as investigações contra a petroleira. A Lava Jato lavou as mãos naquele momento, confiante de que se os EUA fossem em frente, a opinião pública pouparia a força-tarefa de criticas porque, afinal, eles teriam trabalhado para que 80% do valor da multa retornassem ao Brasil.
Em um dos diálogos no Telegram, Dallagnol até chegou a escrever que a denúncia dos Estados Unidos contra a Petrobras era “injusta”. Que os norte-americanos só tinham em mãos o mesmo material que fora descoberto pela Lava Jato, e que a aplicação da FCPA deveria ser questionada.
GGN produziu uma série com cinco vídeos que explicam a influência dos Estados Unidos na Lava Jato. O episódio 4 detalha o processo que a Petrobras enfrentou no Departamento de Justiça, e na Comissão de Valores Mobiliários, cuja sigla em inglês é SEC – espécie de órgão regulador do mercado de capitais.
Além da multa de 853 milhões de dólares imposta pelo DOJ, a Petrobras também pagou 2,95 bilhões de dólares aos acionistas estrangeiros, em outra ação, batizada de “class-action”.
No total, foram 3,8 bilhões de dólares despendidos pela Petrobras nos EUA, graças à abertura que a equipe de Dallagnol deu aos norte-americanos. É muito mais do que os 4 milhões de reais que a força-tarefa se gaba de ter devolvido à Petrobras nos últimos seis anos.
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