terça-feira, 20 de outubro de 2020

A Elite do Atraso da Casa Grande e seu Exército: Golpe com Supremo, contudo com fardados, por Wilson Luiz Müller

 

Para onde vão conduzir o país com essa estratégia das operações psicológicas, cujo  único objetivo é a manipulação das massas?

Jornal GGN:

Golpe com Supremo, contudo com fardados

por Wilson Luiz Müller

O general Eduardo Villas Bôas, então comandante do Exército, e Sergio Etchegoyen, que chefiara o Estado Maior, tiveram uma reunião secreta com Michel Temer (MDB) um ano antes do golpe que depôs do poder a ex-presidenta Dilma Rousseff. (Revista Fórum, 13/10/20)

“A revelação foi feita por Denis Rosenfield durante o lançamento do livro “A Escolha”, que reúne uma série de entrevistas feitas com Temer.” (Fórum)

“O presidente Michel Temer escalou seu consultor político pessoal Denis Rosenfield para estabelecer uma linha direta entre ele e a cúpula militar, principalmente com o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, e o ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna.” (FSP, 04/04/2018)

“O movimento foi colocado em marcha há alguns dias, portanto antes das declarações do comandante do Exército na véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula pelo STF.” (FSP)

“Na última quarta-feira (21), Rosenfield acompanhou Temer, a primeira-dama, Marcela, e o filho do casal, Michelzinho, à residência de Villas Bôas, em Brasília. Desde então, o filósofo gaúcho tem aumentado sua frequência ao Palácio do Planalto e feito viagens ao lado do presidente.” (FSP)

Os tuítes mais emblemáticos do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, registrado em notícias:1 – Em meio a crise do governo logo após a revelação dos grampos envolvendo o então presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista,  Villas Bôas usou as redes sociais para afirmar que não há “atalho fora da Constituição.”

2 – O general repercutiu uma entrevista onde admite ter sido sondado para decretar estado de defesa antes do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Villas Bôas não disse quais foram os políticos que fizeram a consulta, mas reconheceu que as Forças Armadas ficaram “alarmadas” com a perspectiva de serem empregadas para “conter as manifestações que ocorriam contra o governo”.

3 – O Supremo discutia a possibilidade de um habeas corpus que poderia evitar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos e um mês por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato. O militar usou as redes sociais para criticar a discussão na Corte: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?” (Esse tuíte de Villas Bôas foi disparado após as tratativas feitas por Denis Rosenfield, a pedido do presidente Temer, conforme noticiado pela FSP).

4 – Durante o período eleitoral, Villas Boas teve participação ativa.  Rebateu críticos ao sistema de urnas eletrônicas, falou sobre o atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro, que, um dia após tomar posse como presidente, afirmou que a atuação do general o ajudou a assumir o posto.

5 – Villas Bôas felicitou Jair Bolsonaro pela eleição e, no dia da posse do novo presidente, afirmou ao presidente, marcando-o na publicação, que o Brasil vive tempos de “muita esperança”.

Em solenidade repleta de autoridades, novo chefe do Centro de Comunicação Social do Exército assume o cargo” (notícia publicada na página oficial do Exército):

“Brasília (DF) – No dia 14 de fevereiro [2019], no Quartel-General, foi realizada a passagem de comando Centro de Comunicação Social do Exército. […] O General Rêgo Barros […] relembrou fatos importantes durante seu comando, como Copa do Mundo e Intervenção Federal no Rio de Janeiro. O ingresso do Exército Brasileiro nas mídias sociais também foi lembrado: “mergulhar de cabeça no ‘submundo’ das mídias sociais – Facebook, Instagram, Twitter, WhatsApp, Portal Responsivo, Eblog etc – e se tornar o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil exigiu sangue frio na interlocução sem rosto, típica da internet, suor à frente do teclado e lágrimas de emoções pela conquista do cimo”.

A conexão dessas notícias com os acontecimentos políticos da história recente permite a construção do seguinte quadro:

– as cúpulas militares participaram ativamente do golpe que depôs a presidenta Dilma;

– após a deposição da presidenta, os militares passaram a ocupar cargos estratégicos no governo Temer;

– acossado por sucessivos escândalos de corrupção, o governo Temer não caiu por causa da blindagem feita pelos militares. Temer era, ao mesmo tempo, líder e refém dos golpistas;

– fiadores do governo Temer, os militares decidiram não mais abandonar o poder. Seguindo a estratégia das aproximações sucessivas (esboçada em 2017 pelo general Mourão), fincaram estacas para demarcar as posições do território conquistado, empenhando-se, ao mesmo tempo, para eleger um presidente que pudessem chamar de seu;

– ocupando as posições-chave no governo Temer (Sérgio Etchegoyen no GSI – que tinha participado da reunião com Michel Temer em 2015 – e Braga Neto comandando a intervenção militar no Rio de Janeiro, que na prática inviabilizou o funcionamento normal do Congresso Nacional), os militares bloquearam as candidaturas da centro-direita tradicional (em especial a do PSDB) para as eleições de 2018. Mesmo integrando o governo Temer, os militares agiram para que os políticos civis que o lideravam caíssem em desgraça.  (Grampo do Joesley e greve de caminhoneiros) Essa tática de eliminar/neutralizar adversários políticos se acentuou sob Bolsonaro, com o povoamento completo do governo por militares. Vários prováveis concorrentes de Bolsonaro – principalmente os do campo ideológico à direita – foram colocados fora de combate, ou pela utilização do aparelho do Estado, ou pelas chamadas operações psicológicas de destruição de reputações;

– no Comando do Exército, Estado-Maior das Forças Armadas, e com uma cunha no STF, os militares usaram o peso das armas para pressionar o judiciário de modo a inviabilizar a candidatura de Lula, abrindo caminho para a eleição de Bolsonaro, seu candidato oficial pelo menos desde 2014;

– mergulhando no “submundo da internet” e no WhatsApp (pela versão oficial do general Regos de Barro informando o feito à cúpula do Exército), os militares conduziram as batalhas que vinham travando por outros meios a um nível mais avançado, tanto em conteúdo quanto de alcance social. Isso integrava a estratégia que no jargão militar é conhecida como “operações psicológicas”, cuja função principal é a de fortalecer suas posições a partir da confusão gerada nas hostes inimigas. Nas operações psicológicas, utilizando grande arsenal de mentiras e teorias conspiratórias, procura-se infundir raiva e medo nas pessoas, para que elas não consigam raciocinar com clareza sobre os fatos, sendo assim facilmente manipuladas a agir de forma irracional, não raro em prejuízo de seus interesses objetivos. Os temas difundidos nas mídias digitais para tornar o Exército “o órgão público com maior influência no mundo digital”, eram os mesmos que os militares vinham reproduzindo há décadas nas suas academias militares e no Clube Militar. Os principais temas de combate dos militares eram: o comunismo, o politicamente correto, ambientalistas, MST, o marxismo cultural, o “gaysismo”, a influência marxista nas escolas e universidades, o feminismo, os movimentos de negros índios, as ONGs estrangeiras dominando a Amazônia, o globalismo, Venezuela, Cuba, China, tudo isso associado principalmente ao PT, e sempre apontando como solução final a intervenção militar (apenas uma breve observação: as principais preocupações dos militares nada tem a ver com sua missão constitucional de defender a soberania nacional);

– antes mesmo da eleição de Bolsonaro, os generais avançaram algumas casas no jogo pesado pela disputa do centro do poder político, ocupando posições estratégicas no gabinete do presidente do STF, Dias Toffoli, para que eventuais imprevistos no caminho do golpe pudessem ser imediatamente removidos e/ou controlados.

Reproduzo abaixo partes de artigos e entrevistas de dois estudiosos da formação ideológica e da atuação política dos militares, que ajudam a entender por  que eles saíram novamente dos quartéis e como involuíram para essas posições políticas que reconduziu a extrema-direita ao poder.

BOLSONARO, LAVA JATO E OS QUARTÉIS (UM ESTUDO DE GUERRA HÍBRIDA)”, Eduardo Costa Pinto – professor da UFRJ

“Gal. Sérgio Augusto de Avellar Coutinho: livros (a Revolução Gramscista no Ocidente, publicado em 2002, e Cadernos da Liberdade publicado em 2003 e reeditado pela Biblioteca do Exército em 2010). Arisco a dizer que as ideias do Gal. Coutinho viraram doutrinas nas Forças, pois muitas delas (como veremos) tem sido repetidas por muitos oficiais.”

“Tanto Olavo de Carvalho como o Gal. Coutinho têm como fonte de suas ideias o pensamento neoconservador norte-americano dos anos 1980 e 1990, mais especificamente o ramo denominado paleoconsertives, que tem sua raiz na “velha direita” (coletivismo de direita) americana da década de 1920 e 1930 (conservadorismo e oposição ao New Deal) que tinha como tripé: pequeno governo (descentralização das funções de governo articulado com a auto governança/comunitarismo) , anticomunismo e valores tradicionais (civilização ocidental e judaico-cristã)”.

“Para o Gal. Coutinho (2003, p. 126), assim como para a extrema direita americana, o comunismo não teria acabado com o fim da União Soviética, mas assumido uma nova forma de luta, uma vez que o Movimento Comunista Internacional/MCI teria retomado o seu protagonismo ao incorporar a visão revolucionária de Antônio Gramsci, configurando uma nova forma de Guerra Fria em que o antagonismo entre “capitalismo vs. socialismo marxista” só que agora com “uma aparência menos nítida: de um lado, a potência hegemônica evidente, de outro, um conjunto difuso de organizações e entidades pouco visíveis”. Uma espécie de guerra de 4ª Geração, nos termos de William Lind, ou hibrida (nos termos atuais) onde o antagonismo se dá por meio do “[…] confronto político-ideológico e militar que se estabeleceu entre os Estados Unidos da América (e de Israel) de um lado e o MCI (e os países islâmicos) de outro”.

“Mas quem seriam os intelectuais orgânicos que estariam sustentando uma reforma cultural e moral em prol da revolução socialista no Brasil? Para o Gal. Coutinho seriam os socialistas e comunistas (internacionais e nacionais) infiltrados: 1) nos partidos como FHC (vinculado ao fabianismo que teria como importantes representantes Soros, David Rockefeller, Bill Clinton, entre outros) e como o Lula (articulado com Fidel Castro organizados do Foro de São Paulo); 2) nas ONG´s; 3) nas escolas e Universidades; 4) nos meio de comunicação; 5) nas manifestações artísticas; 6) nos movimentos sociais (ambientalistas, movimento negro, LGBT, MST, etc..). Todos eles estariam criando o senso comum modificado para realizar a revolução gramscista socialista pela via pacífica. Nas palavras de Coutinho (2003, p. 64), “os movimentos alternativos e de minorias são estimulados ou mesmo criados pelas organizações de esquerda revolucionária como componente auxiliar da luta de classes (aprofundamento das contradições internas) e como elemento ativo da ‘desconstrução’ da família tradicional e dos valores da civilização ocidental cristã”.

Militares acabarão por criar ‘anomia’ da qual tanto falam”. (entrevista com Piero Leirner, antropólogo (Revista Ópera):

“E eu comecei a perceber, nesse processo, que os textos que eles [militares] escreviam aqui eram instrumentos de produção de desinformação, típicos de uma Guerra Híbrida: ou seja, eles estavam produzindo uma Guerra Híbrida interna.”

“A partir disso eles começaram a armar essa rede, nos anos 90. Mas ela fica mais sólida quando eles acionam uma reação ao “comunismo” que estava voltando pro Brasil. Foi isso que galvanizou, a partir dos anos Lula, mas que aumenta para valer a partir de 2010, com a Dilma, que é quando eles procuram fazer costuras mais efetivas – sobretudo com empresários, por meios desses institutos, “Instituto Liberal”, “Mises”, etc., – mas também, sobretudo, botando lenha na ESG (Escola Superior de Guerra), chamando gente do próprio Estado lá para dentro. Você olha as listas a partir de 2010 dos frequentadores dos cursos da ESG e vê um monte de procurador e juiz entrando lá. O que é isso? De novo a formação daqueles complexos tipo IPES/IBAD (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais e Instituto Brasileiro de Ação Democrática) no pré-64. Igualzinho; a mesma coisa.”

“Agora, a bomba mesmo eu vi recentemente, algo que eu nunca tinha me dado conta. O discurso de saída do general Rego Barros para assumir como porta-voz da Presidência da República, em fevereiro de 2019. A frase é simplesmente inacreditável: “Coube ao Exército mergulhar de cabeça no submundo das mídias sociais – Facebook, Instagram, Twitter, Whatsapp, portal responsivo, e-blog, etc., e se tornar o órgão público com maior influência no mundo digital no Brasil. Exigiu sangue frio e interlocução sem rosto, típica da internet […]”. Literalmente dizendo que o Exército foi para o submundo do Whatsapp. Esse negócio do “gabinete do ódio” é uma lorota. Botam o Bolsonaro e os filhos como os bois-de-piranha. Para mim ficou claríssimo que esse problema todo, que está no STF agora por conta das fake news do Whatsapp, em que o Bolsonaro aparece querendo proteger os filhos, no fundo interessa a quem? Interessa ao Exército. Porque os camufla de terem feito uma operação nessa coisa do Whatsapp. Está claro no discurso do Rego Barros, é impressionante.”

“Interessantíssimo também o discurso de despedida do cargo do Villas Bôas, algo que não tinha me dado conta, onde ele diz que o Brasil tem três heróis nacionais: Bolsonaro, que tinha permitido nos livrarmos do comunismo, o Moro, que estava limpando a corrupção, e o Braga Netto – que ele deixa suspenso no ar. Ninguém deu bola para isso, quando ele falou isso o Braga Netto não era ainda o chamado “presidente operacional” do Brasil [risos]. Isso sugere que foi parte da armação, realmente começaram a construir isso, viram a janela de oportunidade para valer com o Temer assumindo.”

“E aí veio aquele grampo – que eu acho que era ambiental, não era no telefone do Lula, porque se ouve tudo o que estava se passando no gabinete antes do Lula atender a ligação – um absurdo, a imprensa obliterou isso, e não vi sequer o PT fazendo o escândalo que merecia. É a mesma história do Joesley; o GSI permitiu esse furo, que acabou com o governo do Temer.”

“Por que Temer não caiu? Porque eles não deixaram. Só por isso. E foi assim que se instalaram no Planalto.”

Os fatos históricos recentes apontam para a coerência interna das costuras e dos movimentos que os militares vinham fazendo para retomar o poder político central.

Em novembro de 2014, Bolsonaro foi o convidado de honra da formatura na AMAN, onde ele foi recebido aos gritos de “Líder!, Líder!, Líder! …” pelos aspirantes-a-oficial da Academia Militar das Agulhas Negras. Ele aproveitou a ocasião para lançar a sua plataforma futura de candidato a presidente. Essa movimentação indica que a cúpula do Exército, desde 2014 no mínimo, já tinha definido sua estratégia para a eleição  presidencial de 2018.

Em setembro de 2015, três meses antes do ex-deputado Eduardo Cunha dar inicio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, o general Hamilton Mourão fez uma palestra, na qual pediu “o despertar de uma luta patriótica”. Disse, sobre  o afastamento da presidenta Dilma, que “a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”.

Posto na reserva, Mourão se despediu do exército saudando o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, notório torturador da ditadura militar.

Em 2016, na sessão da Câmara que cassou o mandato da presidenta Dilma, Bolsonaro também elogiou o torturador Brilhante Ustra.

Em 2017, o general Villas Boas, começou a usar o tuiter para falar de política. Entre outras coisas consideradas relevantes para os militares, ele combatia a “imposição do politicamente correto”.

Ainda em 2017, Bolsonaro aparece batendo continência à bandeira dos Estados Unidos. O gesto visava a demonstrar um completo alinhamento com o império do norte. Ele esperava, como contrapartida, apoio a sua pretensão de chegar à presidência. O apoio viria por meio de Steve Bannon, assessor especial do presidente Trump. Bannon entregou, para os militares empenhados na campanha de Bolsonaro, um pacote tecnológico testado com sucesso no Brexit e na eleição de Trump. A tecnologia foi usada pelos empresários apoiadores de Bolsonaro, que impulsionaram disparos em massa pelo WatsApp na reta final antes do primeiro turno da eleição de 2018.

Em setembro de 2017, o general Hamilton Mourão defendeu explicitamente a intervenção militar. “Os companheiros do Alto Comando do Exército entendem que uma intervenção militar poderá ser adotada se o Judiciário não solucionar o problema político”.

A ameaça de Mourão era um recado ao STF para que fosse mantida a condenação ilegal de Lula feita por Moro, que levaria o candidato favorito à prisão e deixaria o caminho livre para a dupla militar Bolsonaro/Mourão. […]“Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso.” […] “… hoje nós consideramos que as aproximações sucessivas terão que ser feitas”. Segundo Mourão, o Exército teria “planejamentos muito bem feitos” sobre o assunto, mas não os detalhou.

Em maio de 2018, a ideia da intervenção militar movia a greve dos caminhoneiros. As operações psicológicas planejadas pelos círculos militares, cujas experiências de rua tinham iniciado em 2013, atingiam agora um novo ápice. Reportagem do Correio Brasiliense, de 30 de maio de 2018, relatava detalhadamente o que se passava nos bastidores da greve:

“Pré-candidato a deputado federal pelo PSL (partido do presidenciável Jair Bolsonaro) e coordenador do movimento Despertar da Consciência Patriótica (o nome dado em 2015 por Mourão era “o despertar de uma luta patriótica”), Cruz trabalhou com caminhões […]

“Hoje, ele participa de mais de 50 grupos de WhatsApp voltados exclusivamente aos caminhoneiros e suas causas, mas garante que não cumpre ordem de ninguém.

“Por meio desses grupos, ele mantém uma comunicação minuto a minuto com vários caminhoneiros – transmitindo vídeos, textos e áudios que, em sua grande maioria, pregam a continuidade da greve, elogiam o período militar e criticam quase toda a classe política.

“Em sua página do Facebook, Cruz compartilha vídeos apoiando os grevistas e escreve textos de forte teor triunfalista: “A vitória está próxima! […]

“ Queda da Bastilha brasileira!! Não vamos afrouxar, que venha a Força Nacional de Segurança e o escambau a quatro, aqui é facão no toco e não arredaremos pé um só milímetro, pois somos o povo e o povo se uniu…”

“Como Ramiro, outros personagens trabalham nos bastidores para incutir a ideia intervencionista na cabeça dos caminhoneiros…”

As mensagens de WatsApp chegaram praticamente a todos os brasileiros e – estranhamente – a maioria foi convencida a apoiar os caminhoneiros, apesar da greve trazer graves prejuízos ao país. Isso é típico das chamadas operações psicológicas, que levam as pessoas a agir em prejuízo de seus próprios interesses.

Em outubro de 2018, os militares colocaram o general Fernando Azevedo e Silva para “assessorar” o presidente do STF, Dias Toffoli.  Quando Azevedo  assumiu o Ministério da Defesa no governo Bolsonaro, a vaga de assessor  foi transferida para o  general Ajax Porto Pinheiro, que tinha feito um vídeo de apoio à eleição de Bolsonaro, recheado de ameaças ao PT.

Enquanto o golpe com Supremo, contudo com militares fardados, se consolidava, a série Vaza Jato (The Intercept Brasil), expôs as vísceras da farsa que levou Lula à condenação e à perda de seus direitos políticos. Passado mais de ano desde que toda verdade veio à tona, o STF continua não tendo a coragem necessária para anular as condenações injustas sofridas pelo ex-presidente. Se ainda pesa a pressão fardada verde-oliva não se sabe. Apenas transparece a covardia e a percepção de que as instituições estão suspensas pelo fio da navalha.

Para finalizar, não custa perguntar.

Qual é mesmo o papel atribuído aos militares pela nossa Constituição Federal?

O que se viu na história recente da atuação dos militares, está ela conforme o que determina a Constituição?

Para onde vão conduzir o país com essa estratégia das operações psicológicas, cujo  único objetivo é a manipulação das massas?

É para isso que a sociedade brasileira paga impostos na ordem de R$ 110 bilhões por ano? Para os militares continuar fazendo o que fizeram nos últimos anos?

Notícia de agosto de 2020: “Capitão reformado do Exército, o presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso nesta segunda-feira (31/08) sua proposta de Orçamento para 2021 destinando uma fatia considerável do aumento das despesas às Forças Armadas. Conforme antecipou a BBC News Brasil, a proposta prevê R$ 110,7 bilhões para as despesas primárias do Ministério da Defesa, alta de 4,7% em relação ao proposto pelo governo para 2020 (R$ 105,7 bilhões.”

Wilson Luiz Müller – Integrante do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)

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