Mostrando postagens com marcador privatização. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador privatização. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 26 de agosto de 2025

A burrice nacional a serviço da cupidez, por Luís Nassif

 


No Brasil há um quadro típico de países politicamente pouco desenvolvidos: os interesses particulares se sobrepõem aos interesses gerais


Reprodução


Jornal GGN. - A maior falha estratégica do Brasil é não saber distinguir entre estatais que são essenciais à soberania nacional e aquelas que podem ser privatizadas sem prejuízo ao interesse público.

Empresas estratégicas são aquelas que:

  • Garantem a segurança nacional e a capacidade de enfrentar crises.
  • Promovem inovação e planejamento de longo prazo.
  • Asseguram um ambiente competitivo saudável.

Privatizar insumos essenciais — como energia e combustíveis — significa entregar o controle a poucos grupos, eliminando a concorrência e aumentando os preços.

No Brasil há um quadro típico de países politicamente pouco desenvolvidos: os interesses particulares (dos que ambicionam a privatização) se sobrepõem aos interesses gerais dos consumidores, mesmo estes sendo de setores economicamente fortes.

O caso do setor elétrico


Tome-se o caso do setor elétrico nacional. 

Na ponta geradora, tinham-se as hidrelétricas estatais. Na ponta consumidora, todos os grandes setores industriais, da indústria automobilística à de máquinas e equipamentos, a indústria de base, o setor têxtil, a indústria siderúrgica etc.

Na década de 1990, o governo Fernando Henrique Cardoso iniciou a privatização do setor elétrico nacional – até então nas mãos de grandes geradores estaduais coordenados pela Eletrobras. Até então, a energia brasileira era das mais baratas do mundo, e um dos grandes fatores de competitividade da economia brasileira, prestes a se integrar à economia mundial.

O resultado foi o desastre do apagão, obrigando o governo seguinte, através da Ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff, a montar um modelo alternativo.

Anos depois, através da Lei 12.783/2013, a então presidente Dilma Rousseff tentou a maior sacada para manter os preços reduzidos. Determinou que as concessões de usinas, com contratos vencendo entre 2015 a 2017, conseguissem a renovação antecipada, mas com tarifas reduzidas. Anualmente, as empresas incorporavam nas tarifas um percentual dos investimentos, a chamada depreciação. Com o fim das concessões, não haveria mais razão para depreciação. Oferecia-se, então, além da indenização da União, a possibilidade de cobrar tarifas resultantes apenas do custo operacional, mais uma margem de lucros.

Houve o bloqueio dos governos dos principais estados produtores, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, todos em mãos de partidos da oposição. Depois, uma crise pluvial pressionou a oferta de energia. A partir daí, matava-se a ideia original do sistema hidrelétrico interligado, oferecendo energia barata. 

Já no governo Temer, em 2017, houve o leilão das usinas da Cemig, de Minas Gerais. Foram vendidas as hidrelétricas São Simão, Miranda, Jaguara e Volta Grande, para compradores privados, inclusive grupos chineses. A velha justificativa era a necessidade do ajuste fiscal. Em 2022, já no governo Bolsonaro, houve a privatização escandalosa da Eletrobras, através de um modelo de emissão de ações, diluindo a participação da União. Players estrangeiros, da China, Canadá, mais fundos de investimento, passaram a controlar ativos estratégicos.

O breve interregno do governo Dilma permitiu a redução temporária das tarifas em cerca de 20%. Mas, passado esse período, o setor já experimentava um aumento estrutural no preço da energia.

A privatização da Eletrobras foi a peça final. De R$ 40,00 o MWh, o preço saltou para R$ 150-200. Isso gerou um efeito cascata. Segundo estudos da ABRACE (associação que representa os grandes consumidores), o custo adicional poderá chegar até R$ 400 bilhões até 2040.

As refinarias


O mesmo ocorreu com a privatização das refinarias. Em 2021 foi vendida a RLAM (Refinaria Landulpho Alves), da Bahia. Em 2022, a REMAN (Refinaria Isaac Sabbá), do Amazonas. Em 2022, a SIX (Unidade de Industrialização de Xisto), no Paraná. E também a Lubnor (Lubrificantes e Derivados de Petróleo no Nordeste), no Ceará.

Na Bahia, a compradora, Acelen (fundo soberano de Midabala) passou a cobrar preços independentemente da Petrobras. Gasolina e diesel chegaram a ficar 15% mais cara que a média nacional. O diesel S-10 ficou 36% mais caro.

A REMAN tem monopólio natural em toda a Amazônia, já que a logística fluvial é limitada. O diesel é 25% mais caro que a média nacional; o GLP, mais de 70%

Em nenhum desses estados há competição. Houve a fragilização da integração logística, já que, antes, a Petrobras poderia deslocar derivados entre refinarias para equilibrar a oferta. E maiores dificuldades ainda para implementar uma política nacional de transição energética.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Enel e a privatização dos serviços públicos, por Luís Nassif

 

Apagão da Enel, transformadores explodindo, exigem uma resposta severa contra os executivos, e com Código Penal


Paulo PInto – Agência Brasil


Jornal GGN. - Já não é segredo para ninguém: o negócio da privatização baseia-se no modelo Jack Welch de gestão, e tem sido adotado também por Organizações Sociais que terceirizam serviços de saúde de prefeituras, tendo por trás de si organizações criminosas.

Trata-se de um modelo simples.

Em vez de investir em novas empresas, adquire-se uma empresa pública de serviços – em saneamento, energia, em suma, em qualquer setor onde exista monopólio natural.

Depois, saca-se permanentemente contra o futuro da empresa, visando esvaziá-la o máximo possível, através da maximização dos lucros e da distribuição de dividendos.

Manutenção – corte de serviços de manutenção.

Investimentos – redução dos investimentos em todos os níveis.

Funcionários – junto com os cortes em manutenção, redução do quadro de funcionários.

Vendas de ativos – imóveis, subsidiárias, tudo é vendido para que o dinheiro seja distribuído aos acionistas.

A Enel atuou de acordo com o figurino. Ela adquiriu a ex-Eletropaulo em junho de 2018, depois de uma disputa com a espanhola Iberdrola.

De início, acenou com várias melhorias:

  • troca da frota da empresa
  • modernização das subestações
  • modernização da loja e canais de atendimento.

Anunciou também investimentos em São Paulo de R$ 3,1 bilhões entre 2019 e 2021 e de 4 bilhões de euros (R$ 17,2 bilhões em todo país).

Na prática, procedeu a cortes brutais em manutenção e no quadro de funcionários. A maneira de contornar o problema foi esperta e sobreviveu até a primeira grande tempestade.

O grande problema da fiação aérea é a possibilidade dos fios se tocarem gerando curto circuito. Empresas modernas usam isoladores de porcelana ou vidro que isolam a estrutura metálica dos postes. No caso paulista, os isoladores são de madeira.

Em vez de dar manutenção, a empresa esperava o curto circuito. Aí desligava os geradores do local e mandava a manutenção trocar especificamente os isoladores que deram pau.

Quando veio a primeira tempestade, a esperteza engoliu o esperto. A Enel se comprometeu com Lula em fazer investimentos de R$ 20 bilhões para acabar com os apagões, além de recomposição de seu quadro de funcionários.

corpo técnico do Tribunal de Contas do Município fez um balanço minucioso das providências que não foram tomadas após o primeiro desastre. Identificou 7 problemas graves:

  • Déficit de 32% dos investimentos entre 2018 e 2022 em relação ao previsto (R$1,5 bi).
  • Tempo de atendimento a emergências (aumento de 72% entre 2021 e 2024, atingindo a marca de cerca de 15 horas).
  • Desempenho 20% abaixo da meta regulatória estabelecida pela ANEEL para o Indicador de Nível de Serviço em 2023.
  • Nível crítico do Índice ANEEL de Satisfação do Consumidor (IASC) no ano de 2023, atingindo apenas 52 pontos em uma escala de 0 a 100, estando entre as dez piores concessionárias de energia elétrica do país.
  • Multas acumuladas aplicadas pela ANEEL, PROCON-SP e SENACON, totalizando mais de R$ 355 milhões.
  • Redução do quadro de funcionários em 51,55% nos últimos cinco anos, o que corresponde a uma diminuição de aproximadamente 4 mil postos de trabalho.
  • Redução de quase 50% nos custos operacionais entre 2018 e 2023, apesar do aumento de 19% na demanda por energia.

O episódio terá consequências que vão além da Enel. A primeira foi a decisão da AGU (Advocacia Geral da União) e da CGU (Controladoria Geral da União) de uma fiscalização severa sobre a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), uma das muitas agências reguladoras capturadas pelo setor regulado. Lula ordenou estudos para resolver a questão do aparelhamento das agências. Deverá ocorrer, também, sanções contra administradores relapsos.

Mas falta a questão maior. O apagão da Enel, a sucessão de explosões em transformadores, de fios de alta tensão espalhados pelas calçadas,  exigem uma resposta severa contra os executivos, e não apenas pela lei de improbidade, mas o Código Penal. Há que se punir exemplarmente executivos que atuam irresponsavelmente. Eles são o início da cadeia de comando.

Leia também:


sábado, 22 de fevereiro de 2020

Petrobras: a gigante brasileira e a história que deveríamos contar, por Patrícia Laier



A defesa da Pátria, a defesa das riquezas nacionais, e a defesa da geração e repartição de riquezas para beneficiar toda a sociedade brasileira deveriam ser caros a todos os brasileiros independentemente de sua ideologia.


Petrobras: a gigante brasileira e a história que deveríamos contar

por Patrícia Laier, no Jornal GGN

O Editorial do jornal O Globo, feito sob encomenda para atacar a Petrobrás estatal, começa falando que na década de 70 a Petrobrás não teria dinheiro para explorar a Bacia de Campos e chora pitangas pelo fato das multinacionais estrangeiras não poderem fazê-lo à época.
Muitas informações que não constam do editorial de O Globo sobre exploração e produção de petróleo offshore (no mar) naquela época: o gigantesco e caro esforço exploratório que a Petrobrás vinha fazendo no mar nos anos 70, descobrindo Guaricema na parte marítima da bacia de Sergipe-Alagoas em 1968, antes mesmo da primeira descoberta no Mar do Norte com Ekofisk em 1969.
Mas a Petrobrás não ficou apenas no Nordeste do Brasil, no Sudeste, na Bacia de Campos a Petrobrás perfurou 8 poços até que, com o pioneiro 1-RJS-9, descobriu em 1974 seu primeiro campo em água rasa, Garoupa. Será que face aos 8 insucessos uma multinacional teria perseverado?
Registre-se que água rasa e água profunda eram conceitos relativos à época. E para se ter uma ideia do montante envolvido para desenvolver uma nova província offshore, voltemos ao Mar do Norte como exemplo, pois entre 1969-1975 foram gastos US$ 11 bilhões a mais do que os EUA gastaram para mandar o homem à lua, segundo a revista Time (Oil: High Costs, High Stakes at The North Sea).
Portanto se de fato tivesse faltado dinheiro para explorar não teria sido nenhuma vergonha. Mas na verdade não foi bem assim. E até o Tio Sam reconhecia o empenho da Petrobrás em explorar e produzir petróleo. O famoso relatório Nehring, feito em 1978, para a CIA, trazendo um relato dos campos gigantes de petróleo descobertos no mundo até o final de 1975, traz na página 112 um reconhecimento do esforço exploratório intenso e vultoso que a Petrobrás vinha fazendo naqueles 25 anos após sua criação.
Os espiões acreditavam que nosso primeiro campo gigante ainda estava para ser descoberto com a perfuração das futuras extensões do poço descobridor de Namorado que eles acreditavam possuir reservas de 400 a 440 milhões de barris de petróleo. Mal sabiam eles que nós já havíamos descoberto nosso primeiro gigante na parte terrestre da Bacia de Sergipe-Alagoas com Carmópolis, em 1963. Os técnicos da Petrobrás haviam divergido do pessimismo do Relatório Link e feito uma revisão que deu origem ao nosso primeiro gigante.
A pressão econômica em cima dos militares era enorme pois ao final da década, após o primeiro choque do petróleo em 1973, as importações de petróleo respondiam por um quinto da dívida externa. Com o aumento do consumo devido ao desenvolvimento da indústria automotiva e ao milagre econômico de Médici que encheu o Brasil de autoestradas e carros, apesar de todos os esforços da Petrobrás, produzíamos apenas um quinto do que consumíamos (cerca de 200 mil barris para 1 milhão).
Os contratos de serviço com cláusula de risco foram autorizados por Geisel em outubro de 1975, apenas para a exploração de petróleo e gás (i.e. as companhias estrangeiras não seriam donas das eventuais reservas que viessem a descobrir) e assinados com as principais multinacionais estrangeiras de petróleo e gás. No livro comemorativo dos 50 anos da Associação dos Engenheiros da Petrobrás, a AEPET, o ex-presidente da entidade Fernando Siqueira faz um resumo do resultado da vigência dos contratos de risco: “Durante a vigência dos contratos de risco, 243 contratos foram assinados com 35 das maiores e mais experientes empresas internacionais. Estas dispuseram, por força de diretriz superior, de 85% do total das áreas com rochas sedimentares passíveis de conter petróleo. Tais áreas, postas em licitação, foram divididas e subdivididas em áreas ou blocos, oferecidos com todas as informações geológicas e geofísicas até então coletadas pela Petrobrás”.
Ressalta-se aqui que a Bacia de Santos, onde o Pré-Sal foi descoberto em 2006 pela Petrobrás, ficou com as multinacionais estrangeiras no período da vigência dos contratos de risco (1975-1987). E tudo o que elas descobriram foi o campo de gás de Merluza (1979/Pecten, Shell) no pós-sal (http://www.searchanddiscovery.com/…/in…/abstracts/enciso.htm).
A Bacia de Campos foi resguardada pelos militares mas, com o segundo choque do petróleo no final da década de 70, a Revolução Islâmica no Irã (uma reação ao golpe de estado militar promovido em 1953 por EUA a pedido do Reino Unido após o primeiro ministro democraticamente eleito em 1951, Mohammed Mossadeg nacionalizar o petróleo iraniano), as multinacionais voltaram à carga querendo a Bacia de Campos. Com a nacionalização das reservas e produção em muitos países produtores, as multinacionais estrangeiras (7 irmãs) tinham perdido importantes reservas e produção que passaram aos seus legítimos donos, as populações dos países em que elas ocorriam.
Em 29 de dezembro de 1979 (entre Natal e Ano Novo, época ideal para passar despercebido?!), o coronel César Cals que era ministro de Minas e Energia enviou um telegrama à direção da Petrobrás dizendo falar em nome do presidente, o general Figueiredo, onde ordenava a entrega às multinacionais de todas as áreas que as multinacionais estrangeiras quisessem. Novamente recorremos a Fernando Siqueira, que transcreveu o telegrama em suas memórias: “Conforme nossos entendimentos telefônicos retransmito teor meu despacho ontem com exmo. Senhor presidente República a respeito adaptações devem ser feitas nos modelos contrato risco estão sendo celebrados pela Petrobrás. Informo-lhe que senhor presidente aprovou referidas modificações. Para alcançar maior cooperação da iniciativa privada na prospecção de petróleo, propomos as seguintes modificações:
1 – Delimitar a área atual de prospecção que a Petrobrás está realizando, com recursos próprios e abrir demais áreas para a iniciativa privada.(…)
2 – Oferecer às empresas privadas a possibilidade de ter acesso a bacias inteiras, inclusive proporcionando-lhes toda a informação geológica necessária sobre a área total das bacias, para que possam ser escolhidos os blocos que interessam a cada empresa.
3 – A participação da empresa contratante na fase de produção, como é de praxe internacional.
Naturalmente, a Petrobrás exercerá a adequada fiscalização.
4 – Decisão conjunta sobre o nível comercial da reserva descoberta pela pesquisa objeto do contrato de risco.
5 – Garantia de reembolso e/ou remuneração em moeda estrangeira, com registro do contrato no Banco Central do Brasil.
6 – Admitir que parte da remuneração seja feita em petróleo, ressalvando os interesses nacionais em caso de crise.
7 – Estimular a participação de pequena e média empresa nacional, que poderiam, sob a forma de consórcio, ser contratadas, até mesmo, com assistência técnica da Petrobrás.
César Cals – ministro das Minas e Energia”.
O diretor de Exploração que recebeu o telegrama foi Carlos Walter Marinho Campos, o homem que comandou a ida para o mar, e revoltado com o entreguismo da ordem de seus superiores hierárquicos, ele chamou em sua sala o geólogo Francisco Celso Ponte, que além de brilhante técnico da companhia e gerente de Exploração, era também o presidente da Sociedade Brasileira de Geologia, a SBG, e pediu ajuda para evitar o que seria uma tragédia para a Petrobrás. Celso Ponte por sua vez confidenciou o problema ao amigo e geólogo Frederico Pereira Laier, que sugeriu o senador de Alagoas, Teotônio Vilela, o pai, como interlocutor.
Os geólogos conseguiram contato telefônico com Teotônio na sexta-feira 11 de abril de 1980. Após ouvir a explicação por telefone, Teotônio vendo a gravidade dos fatos decidiu vir ao Rio de Janeiro no sábado 12 para encontrar pessoalmente com os geólogos. E assim fizeram.
Teotônio partiu rumo a Brasília levando extenso dossiê preparado por Celso Ponte que provava que a Petrobrás já havia iniciado os estudos para perfuração nas “águas profundas” da Bacia de Campos.
No dia 14 de abril de 1980, Teotônio pediu a palavra e apresentou a denúncia no Congresso Nacional: através de um telegrama, César Cals e Figueiredo, estavam passando por cima do Congresso Nacional e entregando nossas riquezas aos estrangeiros. Acalorado debate se seguiu entre os senadores dentre os quais tínhamos nacionalistas e entreguistas.
Na manhã seguinte, o jornal carioca A Tribuna da Imprensa do jornalista Hélio Fernandes trazia a manchete “Teotônio convoca os militares para conter César Cals”. E os militares nacionalistas vieram: o general Andrada Serpa, na época comandante do Departamento Geral de Pessoal do Exército, e o general Ernani Ayrosa. Ambos vinham criticando os rumos da economia no governo Figueiredo. Andrada Serpa foi um mártir desta batalha em defesa do país, pois em função de um discurso nacionalista que ele proferiu onde defendia a Petrobrás, foi afastado do cargo por telefone ainda naquela semana. O motivo oficial alegado foi “não o que falou, mas porquê falou”. Em resumo: na ditadura, nem mesmo militar de alta patente podia se expressar livremente.
No meio civil também houve imensa repercussão e os partidos recém reorganizados se apressaram a defender tanto a Petrobrás, quanto o general Andrada Serpa.
Infelizmente esta história não está contada em quase nenhum lugar. É como se não quisessem que soubéssemos. Há até uma biografia de Teotônio que menciona a Petrobrás, mas não o episódio. Mas é primordial saber o que o país poderia ter perdido.
Em 1984 a Petrobrás descobriu o primeiro gigante do pós-sal da Bacia de Campos, o campo de Albacora. Em 1985 descobriu o segundo gigante, Marlim. Em 1986 foi a vez de Albacora Leste e em 1987 de Marlim Sul e Marlim Leste. Marlim e Albacora foram desenvolvidos primeiro. E em 2000 Marlim era citado como um dos poucos campos gigantes mundiais que produzia cerca de 500 mil barris por dia. Albacora Leste, Marlim Leste e Marlim Sul foram desenvolvidos depois.
E não seria impossível que se Lula não tivesse ganho em 2002 toda esta riqueza tivesse sido entregue às multinacionais estrangeiras. FHC vinha preparando a Petrobrás pra ser privatizada através da criação das unidades de negócio. Havia sido criada a UO-RIO em 2000 e o desenvolvimento da produção dos gigantes do pós-sal Albacora Leste, Marlim Leste, Marlim Sul, Barracuda-Caratinga e Roncador estavam sob a responsabilidade desta unidade. Para Macaé, tinham deixado Marlim e Albacora e outros campos menores.
O que teríamos perdido se as águas profundas da Bacia de Campos tivessem sido entregues às multinacionais é passível de ser calculado. Somos grandes consumidores de petróleo e foi a Bacia de Campos que nos trouxe a autossuficiência em abril de 2006 quando a plataforma P-50 entrou em operação em Albacora Leste, e que com a entrada de novas unidades em produção em outros campos, destacando-se Roncador, nos manteve até 2014, quando o Pré-Sal começou de fato a entrar em produção de forma mais intensa e a bater sucessivos recordes.
Enquanto isto repórteres do grupo empresarial deste mesmo jornal duvidavam do Pré-Sal. Qual a desculpa para não se informarem corretamente se a Petrobrás publicava mensalmente a produção de petróleo da empresa enquanto operadora e concessionária no Brasil, no exterior, no pós-sal e no pré-sal? Talvez ideologia?
A defesa da Pátria, a defesa das riquezas nacionais, e a defesa da geração e repartição de riquezas para beneficiar toda a sociedade brasileira deveriam ser caros a todos os brasileiros independentemente de sua ideologia. Mas infelizmente não é o que se vê. Ainda há muitos que sofrem da síndrome do vira-latas e tudo o que conseguem almejar é um apartamento em Miami ou Orlando e um Greencard.
Patrícia Laier – Diretora de Formação Política e Sindical do Sindipetro-RJ, filiado à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP); Conselheira da AEPET; Geóloga (UERJ) e Jornalista (UFF)

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor

Assine e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Na atmosfera gananciosa de políticos e empresários, a era dos prestidigitadores de Toga, por Fábio de Oliveira Ribeiro



A hermenêutica cede espaço à prestidigitação. O jurista deixa de estudar e de aplicar o Direito. A função de alguns deles agora é iludir o "respeitável público"

A era dos prestidigitadores de toga, por Fábio de Oliveira Ribeiro, no GGN

Neoliberalismo é privatização. A consequência dessa ideologia no “campo jurídico” é uma inevitável apropriação privada do “múnus público”. Assim, o juiz aplica a Lei se quiser. Se não quiser ele a ignora. E o promotor pode processar seus inimigos e perdoar seus amigos.
Não há um desaparecimento da distinção entre público e privado. Tudo é privado. O Estado privatizado não pode distribuir justiça. Ele vende produtos. A questão mais importante não é QUANDO aplicar a Lei, mas QUANTO isso vai acrescentar ao prestígio ou ao patrimônio da autoridade.
A hermenêutica cede espaço à prestidigitação. O jurista deixa de estudar e de aplicar o Direito. A função dele é iludir o “respeitável público”. Nenhum ato precisa ser legítimo, todos devem ter apenas uma aparência de legitimidade.
O rigor é indispensável ao Direito. O neoliberalismo jurídico jorra da fenda aberta entre o simulacro e a condescendência. Diante de um problema, o jurista pergunta “Qual Lei se aplica ao caso?”. O ativista neo-jurídico só quer saber “Como esse caso atenderá meus interesses?”
Para garantir o sucesso do ilusionismo mediante a supressão do direito de defesa, o processo deixa de ser uma sucessão de atos “non personalem” (impessoais) e se transforma num horrendo “personatus” (mascarado). Caso se recuse a participar do show o advogado será perseguido.
Durante a Lava Jato o promotor e o juiz definiam em segredo e através de mensagens a “fórmula processual” mais adequada aos interesses de ambos. Tecnologia moderna a serviço do deslocamento temporal. Voltamos a um estágio do Direito Romano anterior à Cognitio Extra Ordinem.
Não podemos deixar de registrar uma ironia. Sérgio Moro e Deltan Dellagnol se colocaram a serviço do Império norte-americano, mas eles empregaram instituições processuais dos primórdios da República Romana para introduzir e consolidar o neoliberalismo jurídico no Brasil.
Sob o verniz neoliberal vemos toda arbitrariedade que existia antes da Lei das 12 Tábulas. Os patrícios resistiram muito a compartilhar os segredos de suas fórmulas jurídicas. Os juristas lavajateiros se entregaram à tentação de criar fórmulas jurídicas controladas por poucos.
In Fux we trust! O futuro presidente do STF já demonstrou que não pretende frustrar as expectativas dos heróis lavajateiros e dos seus “manos” banqueiros. Ao suspender a Lei do Juiz de Garantias revogando uma decisão do Ministro Dias Toffoli ele incorporou o papel de Flâmine do Neoliberalismo Jurídico.
O império da prestidigitação jurídica é luminoso, sedutor, envolvente e lucrativo. Mas em algum momento ele terá que enfrentar sua sobra: a realidade do isolamento diplomático, o drama do fracasso econômico, a tragédia das instituições sem credibilidade e a violência de uma população faminta.
Nós reverenciamos o Direito Romano, mas não podemos esquecer que os bárbaros invadiram e saquearam Roma. Em algum momento a barbárie produzida pelo neoliberalismo destruirá esse Estado cujo poder emana de um punhado de juízes que adoram inventar fórmulas ilegais para garantir a insegurança jurídica da maioria da população.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Privatização, a face oculta da maldita PEC-241


161027-grana

Por sucatear serviços públicos, governo levará parte da população a descrer da ideia de direitos e a comprar, no mercado, Saúde, Educação de Previdência
Por Paulo Kliass*, na Carta Maior e Outras Palavras
Uma das principais consequências que o golpeachment pode proporcionar ao País refere-se à implementação de um conjunto de medidas que já haviam sido sistematicamente rechaçadas pelas urnas nas eleições presidenciais de 2002, 2006, 2010 e 2014. A agenda assumidamente conservadora envolvida nas candidaturas de Serra, Alckmin e Aécio não conseguiu convencer a população e a opção majoritária sempre foi no sentido de apoiar o processo político visando a consolidação da melhoria da distribuição de renda e da diminuição das desigualdades.
As dificuldades que começaram a surgir no domínio da política macroeconômica terminaram por induzir o governo Dilma a adotar as soluções apresentadas pelos setores ligados ao capital financeiro. Com isso, cresceu o espaço para a consolidação de uma narrativa ortodoxa hegemônica a respeito dos problemas nacionais, e que se propaga com fluidez através dos meios de comunicação. Para além das denúncias seletivas envolvendo os casos de corrupção da Lava Jato, o foco da imprensa passa a ser a criminalização das alternativas para a política econômica que não fossem as previstas na cartilha da ortodoxia.
Tudo pode ser resumido naquilo que passou a ser chamado genericamente de “irresponsabilidade fiscal”. De acordo com as opiniões dos “especialistas” e articulistas vinculados ao financismo, tudo não teria passado de má fé e incompetência de um governo irresponsável e populista. E ponto final. O que o Brasil necessitaria é de uma equipe governamental com um perfil oposto e que contasse com o bem querer e a simpatia dos detentores do capital. Bingo!
Golpeachment e desmonte conservador
Pouco a pouco, diversos representantes de setores que haviam compartilhado das benesses de poder desde a primeira eleição de Lula vão abandonando o barco de Dilma e do PT. Para comprovar tal incoerência aparente, basta olhar os nomes de boa parte dos ocupantes de ministérios e integrantes da base de apoio governista no Congresso Nacional. Estavam com Dilma e ficaram com Temer.
O desenrolar dos acontecimentos é conhecido de todos nós. Consumado o golpe e o afastamento de Dilma, Temer assume o governo e resgata o programa elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães do PMDB, presidida por Moreira Franco. As propostas constantes do documento “Ponte para o Futuro” consolidam a via liberal-conservadora para nossa crise, com especial atenção dedicada à saída do Estado da economia, em uma espécie de recuperação anacrônica dos desígnios do neoliberalismo já ultrapassado no resto do mundo.
O mote para viabilizar tal estratégia é a crise fiscal. Argumentando ao extremo a respeito de uma suposta falência orçamentária estrutural do Estado brasileiro, o novo governo apresenta um conjunto de medidas de redução do espaço público na economia. Assim, pretende-se promover a venda de ativos importantes das empresas estatais ainda existentes, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobrás. Por outro lado, o estratégico “Programa de Parcerias de Investimento” (PPI) lança novas oportunidades de investimento privado em áreas de presença tradicional do setor público, como infraestrutura e energia.
O círculo se fecha com a profunda asfixia na maneira como se encara a busca de soluções para a situação fiscal. Ao manter a armadilha do superávit primário como plano orientador do voo, o governo continua mirando apenas no corte das despesas de natureza social e de investimentos no orçamento. Dessa forma, ficam livres para crescer os gastos de natureza financeira, envolvidos no pagamento de juros da dívida pública. Para o exercício atual, a previsão é de encerramento do ano com um déficit de R$ 176 bilhões nas contas do governo federal.
PEC 241 e a redução dos gastos sociais.
A intenção declarada é aproveitar dessa oportunidade única de ter chegado ao poder sem o voto popular para implementar o conjunto do pacote de maldades, com impacto de longo prazo. Essa é a lógica que está por trás da PEC 241, que promete congelar as despesas primárias por 20 anos, ao introduzir no corpo da Constituição aquilo que eufemisticamente foi qualificado como “Novo Regime Fiscal”.
Ora os estudos e pesquisas são unânimes em denunciar o absurdo volume de perdas que seriam imputados a setores como previdência social, saúde, educação, assistência social, cultura, esportes, investimentos, funcionalismo e outros. Como a fórmula prevê o teto máximo de correção pelos índices inflacionários a cada ano, na prática isso significa uma redução dos valores atribuídos a tais áreas. Isso porque certamente haverá crescimento populacional no período e o gasto per capita vai cair. Ou ainda pelo fato de que o eventual crescimento do PIB em algum período ao longo das próximas duas décadas tampouco será considerado para efeito de maior despesa primária.
Por mais que o governo tente dourar a pílula e fazer contorcionismo retórico, o fato é que a intenção do Novo Regime Fiscal é impor redução de gastos. As polêmicas permanecem apenas na determinação dos números bilionários relativos a tais diminuições. Estudo elaborado pelo IPEA chega a apurar uma perda potencial de R$ 654 bilhões apenas para a área da saúde até 2036. Já as perdas para assistência social são estimadas em R$ 868 bi ao longo dos vinte anos, de acordo com outro estudo da mesma instituição de pesquisa do próprio governo federal.
Nesse modelo elaborado a partir de uma concepção meramente financeira do Brasil e do mundo, apenas poderão crescer os valores orçamentários das despesas associadas a operações da política monetária ou destinados ao pagamento de juros da dívida. Uma loucura!
Como se pode perceber, esse sistema inviabiliza que sejam assegurados pelo Estado aos cidadãos e cidadãs aqueles direitos sociais previstos na Constituição. O discurso liberal já se preparou para esse fato e constrói a lengalenga de que o modelo previsto em 1988 não cabe mais no Orçamento de 2016. Assim, a solução passa por transferir de forma crescente a oferta de serviços como saúde, previdência e educação para o setor privado. Essa, aliás, tem sido a tendência observada ao longo dos últimos anos. O capital internacional já farejou esse novo campo de ganhos seguros e fundos multinacionais de investimento já estão penetrando pesado em educação e saúde, por exemplo.
Asfixia e privatização.
A PEC 41 chega, portanto, para não deixar mais sobra de dúvidas a respeito desse caminho. O Estado não poderá mais gastar nesses setores, nem mesmo se a população quiser e se houver sobras de caixa. Haverá proibição constitucional. Ao longo das próximas décadas, a única alternativa para tornar real esse tipo de serviço essencial será recorrer aos empreendimentos realizados pelo capital privado. O reino absoluto da mercantilização dos direitos de cidadania.
Ao estabelecer o garrote na capacidade orçamentária, o governo impede a promoção do crescimento e do aperfeiçoamento da rede pública de saúde, previdência social, educação, assistência social, entre outras. Assim, os mentores do governo Temer hipotecam o futuro da Nação aos desejos do capital privado e às regras insensíveis do mercado de bens e serviços.
A PEC 241 é o caminho seguro para consolidar e perpetuar o mecanismo perverso da privatização como principal instrumento de políticas públicas em nosso País.

* Paulo Kliass é doutor em Economia pela Universidade de Paris 10 e Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Dentro da ganância neoliberal, o presidente da Nestlé diz que a água não é um Direito Humano e deve ser Privatizada


  Na opinião de Peter Brabeck, atual presidente da Nestlé, a água não é um direito humano básico e deveria ser tratada como qualquer outro bem alimentício e ter um valor de mercado estabelecido pela lei de oferta e procura...

Presidente da Nestlé diz que a água não é um Direito Humano e deve ser privatizada




Fonte: Portal MetrópolePortal do Meio Ambiente

Na opinião de Peter Brabeck, a água deveria ser tratada como qualquer outro bem alimentício e ter um valor de mercado estabelecido pela lei de oferta e procura
Por Redação, com informações de Abdla Digital
O atual presidente e ex-CEO da Nestlé, o maior produtor de alimentos do mundo, acredita que a resposta para as questões globais da água é a privatização. Esta afirmação está no registro da maravilhosa empresa que vende junk food na Amazônia, tem investido dinheiro para impedir a rotulagem de produtos cheios de organismos geneticamente modificados,tem um preocupante registro médico e ético devido à sua fórmula dirigida a crianças e tem implementado um exército cibernético para monitorar crítica na internet e moldar discussões nas mídias sociais.
Esta é, aparentemente, a empresa a qual devemos confiar a gestão da nossa água, apesar de grandes empresas de bebidas como a Nestlé terem um histórico na criação de escassez:Peter Brabeck-Letmathe, um empresário austríaco que é presidente do grupo Nestle desde 2005, afirma que é necessário privatizar o fornecimento da água. Isso para que nós, como sociedade, tomemos consciência de sua importância e acabássemos com o subpreço que se produz na atualidade.
Palavras sujas que provocaram estupor, sobretudo quando se tem em conta que a Nestlé é a líder mundial na venda de água engarrafada. Um setor que representa 8% de seu capital, que em 2011 totalizaram aproximadamente 68,5 bilhões de euros.
Pero Brabeker junta essa a outras críticas para destacar que o fato de muitas pessoas terem a percepção de que a água é gratuita faz com que em várias ocasiões não lhes deem valor e a desperdicem. Assim sustenta que os governos devem garantir que cada pessoa disponha de 5 litros de água diária para beber e outros 25 litros para sua higiene pessoal, mas que o resto do consumo teria que gerido segundo critérios empresariais.
Apesar das rejeições que sua posição provoca, faz tempo que ele defende, sem cerimônia, com entrevistas como esta que aparece no vídeo abaixo, que qualifica de extremistas as ONGs que sustentam que a água deveria ser um direito fundamental.
Confira o vídeo:

sábado, 2 de maio de 2015

Entenda os motivos da ligação simbiótica entre a grande mídia e veículos de comunicação com a direita mais sórdida e fascista



Donos de empresas de comunicação figuram nas listas de famílias mais ricas do Brasil e representam interesses de anunciantes. Isso explica posições editoriais como as em defesa do PL 4330, que abre caminho para redução de direitos trabalhistas, redução da maioridade penal, aumento de poder a setores reacionários, etc.


Por que os grandes veículos de comunicação têm viés editorial de direita?


Por Róber Avila, no Brasil Debate 
As posições políticas de direita e de esquerda expressam valores, diagnósticos e prescrições distintas para os problemas da sociedade. De maneira genérica, as perspectivas da direita econômica entendem que o mercado é eficiente na produção de bens e na distribuição da renda. Ao contrário da esquerda econômica, que prescreve tanto regulação na produção, quanto políticas distributivas.
Esse último aspecto se justifica, sobretudo, pela compreensão de que o mercado funcionando livremente tende a concentrar riqueza. De um lado porque o capital influencia a remuneração e a condição do trabalho, e de outro, pelas distintas grandezas dos capitais, uns com mais escala do que outros, desencadeando em poder de mercado de grupos empresariais e capacidades competitivas assimétricas.
Nesse sentido, muitas das políticas apregoadas pelas forças de esquerda objetivam melhorar a repartição da renda e da riqueza. Elevação dos níveis salariais, estabelecimento de um salário mínimo, políticas de crédito para microempresas e tributação progressiva são pautas comuns a esse campo do pensamento.
Especificamente no caso do Brasil, a política tributária é regressiva e penaliza mais os pobres. Já as fatias mais ricas da população brasileira pagam menos impostos do que seus congêneres na maioria dos países. Para além desse ponto, a Operação Zelotes da Polícia Federal e o caso SwissLeaks indicam alguns caminhos utilizados pelos estratos com elevada renda, entre eles vários donos de empresas midiáticas, para pagarem menos impostos.
A participação do salário, do lucro e a estruturação dos tributos são focos de divergências importantes entre a direita e a esquerda. Geralmente, aqueles que são mais ricos são contra a esquerda porque não querem contribuir mais com o bem-estar coletivo, por entenderem que sua renda/riqueza é fruto de seu esforço.
Já a esquerda, genericamente, compreende que as condições de colocação no mercado são desiguais, sobretudo porque os pontos de partida e as possibilidades de ascensão não são equânimes. Além disso, o histórico familiar e as heranças recebidas são determinantes na colocação social dos indivíduos. Nessa medida, a renda individual é um resultado social, haja vista que sua distribuição reflete a assimetria de oportunidades e a influência que alguns estratos com poder político e econômico têm sobre as regras de distribuição e a tributação.
Sob esse pano de fundo, é possível levantar elementos que ajudam a compreender por que boa parte dos grupos jornalísticos brasileiros têm uma linha editorial de direita. A despeito de existir uma vasta pluralidade nas concepções teóricas de economia e de sociologia, os comentaristas, repórteres e analistas que expõem suas posições nos meios de imprensa de referência são, majoritariamente, de direita. Dessa maneira, a perspectiva que chega ao grande público pelos principais veículos transpassa a ideia de que existe apenas uma visão de mundo.
A “mídia” não conforma um grupo monolítico, há veículos de esquerda, sobretudo nos meios eletrônicos. Entretanto, as posições e as interpretações da realidade mais expostas nos principais canais de comunicação apontam que as soluções para os problemas sociais passam pela redução do Estado, pela redução de impostos, pela menor oneração tributária sobre as empresas, entre outros.