Deutsche Welle - Quando o deputado André Moura (PSC-SE) foi anunciado como líder do governo Temer na Câmara em maio do ano passado, críticos da indicação logo apontaram a extensa ficha de suspeitas do deputado: uma acusação por tentativa de homicídio, uma condenação por improbidade administrativa e um inquérito por envolvimento nos crimes investigados pela operação Lava Jato. Além disso, o membro do chamado "centrão" era um aliado próximo do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Na noite desta quinta-feira (23/02), o governo anunciou a saída de Moura e indicou um substituto: o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Outro membro do "centrão", ele tem um currículo parecido com o do antecessor: foi aliado de Cunha, já foi condenado por improbidade administrativa e também é alvo de um inquérito da Lava Jato.
Ele é um dos 32 membros do PP que fazem parte da "lista de Janot", a relação de políticos suspeitos de integrarem uma "organização criminosa" que atuava na Petrobras e que é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).
Tal como Cunha e Moura, Aguinaldo também faz parte da bancada religiosa que promove uma pauta conservadora na Câmara. Se Moura promovia projetos que dificultavam o aborto em casos de estupro, Aguinaldo é autor de propostas que beneficiam financeiramente igrejas, como a que isenta entidades religiosas de contribuir para o INSS quando elas pagarem salários relacionados à construção de templos.
Família
Assim como Moura, Aguinaldo é membro de uma família de políticos que tem como base eleitoral municípios do interior do Nordeste. No caso, a família de Aguinaldo participa da política de Campina Grande, a segunda maior cidade da Paraíba.
A mãe dele foi prefeita de Pilar, e a irmã, Daniella Ribeiro (PP), é deputada estadual na Paraíba. O pai, Enivaldo (PP), é atualmente vice-prefeito da cidade.
O patriarca também já foi condenado por seu envolvimento, em 2006, no escândalo das sanguessugas quando era deputado federal. No caso, deputados foram acusados de direcionar emendas para a compra de ambulâncias superfaturadas em troca de propina.
Já o avô materno do novo líder do governo, o usineiro Aguinaldo Veloso Borges, foi acusado de ser o mandante de um líder camponês paraibano em 1962. O caso é o tema do célebre documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho.
Aliado de ocasião
Aguinaldo Ribeiro ocupa uma vaga na Câmara desde 2011. Ele também foi ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff entre 2012 e 2014, como parte parte da cota do Partido Progressista no governo petista. Ele assumiu a posição quando seu antecessor, Mário Negromonte, pediu demissão em meio a uma série de escândalos de corrupção.
Quando o impeachment de Dilma começou a avançar na Câmara, no início de 2016, Aguinaldo permaneceu como um dos defensores públicos da então presidente.
Ele chegou a votar contra o afastamento de Dilma na comissão que analisou o assunto, apesar da pressão de parte do PP e de Cunha. Dias depois, no entanto, quando o que restava da base do governo começou a ruir, passou para a oposição e votou a favor do impeachment no plenário da Câmara. Interlocutores de Dilma afirmaram que a mudança de posição do deputado enfureceu a ex-presidente.
O padrão de cálculo político voltou a se repetir quando foi a vez de Cunha cair em desgraça meses depois. Aguinaldo permaneceu até o último minuto apoiando seu aliado – foi um dos poucos deputados que estava ao lado de Cunha quando este renunciou à presidência da Câmara em julho –, mas acabou votando pela cassação dele em setembro. Em uma entrevista a uma rádio da Paraíba dias após a sua cassação, Cunha chamou Aguinaldo de "covarde e hipócrita".
"O eleitor não gosta de deputado covarde. O povo da Paraíba precisa conhecer o deputado Aguinaldo Ribeiro”, disse Cunha na ocasião.
Articulação
Atualmente afastado de Cunha, Ribeiro é bastante próximo do grupo político do presidente do PP, o senador Ciro Nogueira, do Piauí, e do deputado Arthur Lira (AL). Nogueira já foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato.
Arthur Lira, por sua vez, também faz parte da lista de Janot e na semana passada teve 10,4 milhões de reais em bens bloqueados pela Justiça Federal do Paraná por suspeita de ter se beneficiado dos desvios na Petrobras.
Segundo a imprensa brasileira, a saída de Moura da liderança e ascensão de Aguinaldo foram resultados da pressão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que estava indisposto com o deputado sergipano desde que ele apoiou um de seus concorrentes na eleição para a chefia da casa no início deste mês.
Na liderança do governo, Aguinaldo deverá se reunir com outros deputados da base de apoio para articular votações de projetos que interessam ao Planalto. O líder também serve como ponte com os ministros responsáveis pela articulação política Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Eliseu Padilha (Casa Civil).
No ano passado, Moura ajudou na articulação que resultou na aprovarão pela Câmara da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabeleceu um teto para os gastos públicos. De agora em diante, Aguinaldo terá a tarefa de articular a aprovação das PECs da reforma da Previdência e da legislação trabalhista.
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