sábado, 31 de agosto de 2024
sexta-feira, 30 de agosto de 2024
Da coluna de Tácio Lorran, no Metrópoles: Pablo Marçal deu procuração a réu acusado de integrar grupo de traficante
O ex-coach Pablo Marçal (PRTB) concedeu poderes para que um empresário acusado de integrar a organização criminosa de um megatraficante o representasse junto a órgãos do governo federal, revelam documentos obtidos pela coluna. Florindo Miranda Ciorlin, empresário e piloto nomeado por Pablo Marçal para representá-lo, é acusado pelo Ministério Público Federal de atuar na aquisição e ocultação de aeronaves para traficantes responsáveis pelo transporte de pelo menos 5,1 toneladas de cocaína da Bolívia ao Brasil.
Do Metrópoles:
Procuração assinada por Marçal dá poderes para réu o representar em órgãos do governo federal
atualizado
Candidato a prefeito de São Paulo, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) concedeu poderes para que um empresário acusado de integrar a organização criminosa de um megatraficante o representasse junto a órgãos do governo federal, revelam documentos obtidos pela coluna. Florindo Miranda Ciorlin, empresário e piloto nomeado por Pablo Marçal para representá-lo, é acusado pelo Ministério Público Federal de atuar na aquisição e ocultação de aeronaves para traficantes responsáveis pelo transporte de pelo menos 5,1 toneladas de cocaína da Bolívia ao Brasil.
A procuração a favor de Florindo foi assinada por Marçal em 28 de outubro de 2021. Naquela data, o empresário já havia sido preso pela Polícia Federal, denunciado pelo Ministério Público e se tornado réu na 1ª Vara Federal Cível e Criminal de Cáceres (MT). Bastava uma pesquisa simples no Google para conhecer o histórico do piloto.
Apesar de Marçal não ser citado na investigação da PF, a procuração revela uma ligação direta do candidato com o empresário acusado de integrar o crime organizado de tráfico de drogas. Até então, era público o envolvimento de lideranças do PRTB, partido do ex-coach, com um esquema criminoso coordenado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Marçal disse que, se pudesse, teria afastado o presidente do PRTB, Leonardo Avalanche. Ele classificou a situação como “constrangedora” e afirmou que não tem “amor por bandido”.
Procurado, Marçal se limitou a informar que sua relação com Florindo é estritamente profissional.
Além de Pablo Marçal, assina a procuração Marcos Paulo de Oliveira, sócio do candidato na Aviation Participações LTDA. Oficialmente, o documento constitui como procuradora a Preflight Serviços Aeronáuticos LTDA – empresa especializada em assessoria de compra de aeronaves que pertence a Florindo e a seu irmão Ewerton Miranda Ciorlin – para representar a Aviation Participações em duas agências do governo federal: a Anac, que regula o mercado aéreo, e a Anatel, de telecomunicações.
A procuração transfere poderes para Florindo realizar todos “os atos que se fizerem necessários, para a obtenção de documentos pertinentes à aeronave de prefixo PR-FAC […], podendo assinar documentos e praticar todos os atos necessários ao bom e fiel cumprimento do presente mandato”. Funciona quase como uma “carta branca”.
A referida aeronave de prefixo PR-FAC pertence a Marçal. Trata-se de um Cessna Aircraft, modelo 510 e ano 2008. O jatinho foi comprado pelo ex-coach em outubro de 2021 por R$ 9,13 milhões, segundo documentos obtidos pela coluna. Após a aquisição, o ex-coach mandou imprimir a bandeira do Brasil na cauda do avião.
A aeronave foi usada por Pablo Marçal durante a campanha dele em 2022. Na ocasião, o ex-coach iniciou uma disputa pela Presidência da República, mas seu então partido, o Pros, retirou a candidatura para apoiar Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No mesmo pleito, Marçal concorreu a deputado federal por São Paulo; contudo, apesar de ter conquistado votos suficientes para ser eleito, teve o registro negado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A atuação de Florindo
Florindo e o irmão Ewerton Ciorlin foram alvo da Operação Grão Branco, da Polícia Federal, deflagrada em 30 de abril de 2021 – portanto, seis meses antes de Pablo Marçal nomeá-los como procuradores.
A operação desmontou a organização criminosa liderada pelo megatraficante Ary Flávio Swenson Hernandes, suspeito de traficar mais de 5 toneladas de drogas.
Foram cumpridos mais de 110 mandados judiciais em nove estados. Trinta e oito pessoas foram presas, incluindo Florindo. O empresário, no entanto, teve a prisão temporária revogada duas semanas depois. Em seguida, foi denunciado pelo Ministério Público Federal e se tornou réu na Justiça Federal. O processo, porém, ainda não foi julgado.
A investigação da Polícia Federal identificou que Florindo atuou em favor da organização criminosa adquirindo e regularizando aeronaves usadas no tráfico. O empresário chegou a utilizar documentos falsos e laranjas com o objetivo de ocultar o verdadeiro dono dos jatinhos. Além disso, Florindo deu aulas para pilotos do grupo criminoso e chegou a manifestar interesse em ir à Bolívia para conhecer Ary Flávio Hernandes pessoalmente.
“Florindo tinha total ciência de que as aeronaves as quais ajudava a adquirir, titular e transferir eram utilizadas para o tráfico de drogas. Desse modo, Florindo não apenas estava exercendo sua atividade comercial, mas contribuindo, com consciência e vontade, para que estas fossem adquiridas e utilizadas pelos traficantes, além de demonstrar interesse em pessoalmente pilotá-las e conhecer o líder da Orcim, Ary Flávio Swenson Hernandes.”
O relatório da Polícia Federal cita ainda que Florindo conversava em códigos com membros da organização criminosa, entre eles, Eliseu Hernandes, pai do megatraficante. Mensagens interceptadas pelos investigadores mostram extenso diálogos entre os dois.
“Sem a intermediação dos irmãos Ciorlin, certamente o grupo criminoso não teria sucesso na importação e no transporte de cocaína por meio de aeronaves, havendo indícios seguros de que ambos (Florindo e Ewerton) tinham a ciência de que estavam contribuindo para o tráfico internacional.” Ao contrário do irmão, Ewerton Ciorlin já foi absolvido.
No âmbito do processo, a defesa de Florindo alegou que o empresário estava apenas fazendo seu trabalho de forma legal. Florindo afirmou que sua empresa, a Preflight, é reconhecida nacionalmente e que precisa se relacionar diretamente com seus clientes.
Para a defesa, a denúncia do MPF se pautou exclusivamente em “achismos e convicções”. “A conclusão do órgão acusador é tomada com base apenas em suposições e achismos pinçados de conversas entre qualquer vendedor que busca prestar um bom serviço e atender as necessidades do comprador, que especifica as próprias necessidades”, assinalaram os advogados Henrique Tremura Lopes, Luciano Macri Neto e Augusto Cunha Junior.
Florindo alegou, ainda, que as transações das aeronaves para o grupo criminoso foram realizadas dentro de “padrões internacionais de cuidado” e afirmou que as interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal foram ilegais.
“A primeira interceptação telefônica foi autorizada em 26/03/2020. Apesar de não haver qualquer referência a Florindo, salienta-se que tal medida, que deveria ser a última a ser utilizada, foi requerida de plano pela autoridade policial, iniciando-se, assim, uma verdadeira pescaria probatória [fishing expedition]”, afirmaram os advogados.
O que diz Pablo Marçal
Em nota, a assessoria de Pablo Marçal afirmou que o candidato “não possui qualquer relação pessoal com o Sr. Florindo, sendo sua atuação restrita a um contrato profissional para a realização de transferências de aeronaves.”
Por sua vez, o advogado Henrique Tremura Lopes, que representa Florindo Ciorlin na ação, disse que a Preflight não interrompeu os serviços após a Grão Branco e que “continua atuando até hoje da maneira como sempre atuou”.
“O Florindo e o Ewerton, apenas e tão somente, prestam serviços de assessoria de transferência e compra e venda de aeronaves. Nunca tiveram qualquer envolvimento com qualquer integrante da suposta organização. A única coisa que fizeram é que, quando um cliente os procuram, eles prestam assessoria da forma como prestam a qualquer clientes, e foi isso que aconteceu neste caso”, afirmou o advogado.
“A Preflight é uma empresa série e idônea, que presta serviços e é reconhecida nacionalmente pela excelencência. E todos os serviços são chancelados pela Anac”, acresentou Tremura Lopes.
Questionado sobre as conversas interceptadas pela PF que indicam o interesse de Florindo em ir para a Bolívia e conhecer o megatraficante, a defesa explicou que a corporação fez uma interpretação “absolutamente” equivocada.
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
Suspeitas de laços com PCC e com o crime organizado cercam campanha de Pablo Marçal
Candidato a prefeito de São Paulo têm ao seu redor vários suspeitos de envolvimento com a maior facção criminosa do Brasil
247 - Na corrida acirrada pela Prefeitura de São Paulo, o ex-coach Pablo Marçal, candidato pelo PRTB, tem enfrentado uma série de acusações que envolvem membros de seu círculo político e possíveis conexões com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção criminosa do Brasil, destaca a Folha de S. Paulo nesta terça-feira (27). As revelações têm colocado em xeque a campanha do candidato, que disputa a liderança com Guilherme Boulos (Psol) e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).
No início de agosto, a Folha de S. Paulo divulgou um áudio comprometedor atribuído a Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, presidente do PRTB e figura central na campanha de Marçal. Na gravação, Avalanche afirma ter relações diretas com integrantes do PCC, incluindo a participação na soltura de André do Rap, um dos principais chefes do tráfico internacional de drogas vinculado à facção. André do Rap foi libertado após uma controversa decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e atualmente está foragido. "Eu sou o cara que soltou o André [do Rap]. Esse é o meu trabalho, entendeu? A próxima, agora, a gente vai botar um lugar acima dele", declarou Avalanche no áudio.
Além disso, reportagem do portal Metrópoles revelou que Marçal foi fotografado ao lado de Valquito Soares da Silva, irmão de Francisco Antonio Cesário da Silva, o "Piauí", ex-líder do PCC na favela de Paraisópolis, em São Paulo. A imagem foi publicada nas redes sociais e gerou uma onda de críticas e questionamentos sobre as associações do candidato.
O entorno de Avalanche também tem sido alvo de investigações policiais. Tarcísio Escobar de Almeida e Júlio César Pereira, conhecidos como "Gordão", antigos aliados do presidente do PRTB, são suspeitos de trocar carros de luxo por cocaína em operações que beneficiariam o PCC, conforme apurou O Estado de S. Paulo. Escobar chegou a ocupar brevemente o cargo de presidente estadual do partido sob a gestão de Avalanche, enquanto Gordão, seu sócio, participou de eventos da legenda.
Outro nome que desperta atenção é Edílson Ricardo da Silva, ex-policial militar condenado por colaborar com o PCC, que também foi vinculado ao grupo de Escobar e Gordão. De acordo com o Metrópoles, Avalanche chegou a embarcar em um voo particular acompanhado por Escobar e Edilson, intensificando as suspeitas de envolvimento com atividades ilícitas.
Em entrevista ao UOL, Marçal admitiu ser amigo do influenciador Renato Cariani, que enfrenta acusações de envolvimento em um esquema de desvio de produtos químicos para a produção de drogas como cocaína e crack. A Polícia Federal suspeita que esses produtos estavam destinados à rede de distribuição do PCC.
Em meio às controvérsias, Pablo Marçal tenta se distanciar das acusações de ligação com o PCC, mas, além destes recentes escândalos, o ex-coach também carrega em seu histórico uma condenação de 2010 pela Justiça Federal de Goiás, que o sentenciou a quatro anos e cinco meses de reclusão por furto qualificado. No entanto, a pena nunca foi cumprida devido à prescrição do caso. Na época, ele foi acusado de integrar uma quadrilha de fraude bancária, responsável pela captação de dados bancários de vítimas por meio de spams.
Presidente do PRTB, partido de Pablo Marçal, suspeito de envolvimento com PCC, foi acusado de roubar R$ 4 mi em bitcoins
Além da acusação de roubo de bitcoins, pairam sobre o presidente do PRTB suspeitas de ligações com o Primeiro Comando da Capital
247 - O presidente do PRTB de Pablo Marçal, Leonardo Avalanche, foi acusado na Justiça do Distrito Federal, em março deste ano, de roubar 14.5 bitcoins do policial civil Bruno Pires, algo equivalente a R$4 milhões. As denúncias complicam ainda mais a situação do político, após a sua relação com o PCC ser exposta pela imprensa.
“Pires alegou à Justiça que, quando conheceu Avalanche, em 2020, ele prometeu ganhos ‘com rendimentos acima do mercado’ com a compra de bitcoins. O presidente do PRTB, então, pediu que Pires transferisse 15 bitcoins para ele. Uma parte das criptomoedas — 14.4 bitcoins — foi repassada para o operador financeiro de Avalanche, e o restante — 0.6 bitcoin — ficou com o presidente do PRTB, segundo a ação”, detalha o jornalista Guilherme Amado em sua coluna no Metrópoles.
Leonardo Avalanche também é acusado por adversários dentro do partido de vender candidaturas, fazer ameaças e fraudar filiações. A acusação foi protocolada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo secretário-geral da legenda, Marcos Andrade, e pela ex-vice-presidente Rachel de Carvalho, que diz ter deixado o posto após sofrer ameaça de morte, revela reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
Mentiroso, vigarista e bolsonarista, Pablo Marçal usa antigo BO contra réu com nome semelhante ao de Guilheme Boulos, e atual cadidato a vereador junto ao partido de Ricardo Nunes, para pressionar o candidaro do PSOL sobre uso de drogas
Ataques do candidato do PRTB a Guilherme Castro Boulos baseiam-se em processo extinto contra empresário Guilherme Bardauil Boulos
Marçal recorre a réu homônimo para pressionar Boulos sobre uso de drogas
Por Ana Luiza Albuquerque, Eduardo Scolese e Flávio Ferreira
(Folhapress) — A campanha do influenciador Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, tem usado em seu arsenal para ataques ao rival Guilherme Boulos um processo judicial sobre posse de drogas no qual figura como réu um homônimo do candidato do PSOL. Marçal tem acusado o adversário de ser usuário de cocaína sem apresentar nenhuma prova.
Reiteradas vezes em debates e em publicações nas redes sociais, o autodenominado ex-coach se referiu ao psolista como “aspirador de pó” e fez gestos no nariz antes de se dirigir a ele. Boulos nega a acusação de uso de cocaína, já chamou Marçal de “psicopata” e “mentiroso compulsivo” e foi à Justiça contra ele.
Dossiê contra Boulos ignorou CPF
A reportagem apurou que esse dossiê de Marçal contra Boulos é uma lista de processos buscados na Justiça apenas com o filtro das palavras-chave “Guilherme” e “Boulos”, e não pelo CPF, por exemplo.
O resultado disso é uma listagem sem detalhamento. A maioria das ações é de reintegração de posse (Boulos é ex-líder do MTST) e, em uma delas, o assunto é “posse de drogas para consumo pessoal”.
A reportagem obteve a certidão do caso, que ocorreu em 2001, e verificou que quem figura como réu nesse processo sobre drogas nas mãos de Marçal não é Guilherme Castro Boulos, candidato à prefeitura, e sim Guilherme Bardauil Boulos, um empresário que hoje, coincidentemente, disputa uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo pelo Solidariedade.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa de Marçal para esclarecer se as acusações do candidato têm como base apenas o processo do homônimo, mas não obteve resposta. A assessoria também não compartilhou o número do suposto processo que fundamentaria as acusações do influenciador contra o adversário.
Processo do homônimo envolveu maconha
Guilherme Bardauil Boulos, réu no processo por posse de drogas, disse à reportagem que o caso envolveu maconha, e não cocaína.
“Houve esse incidente quando eu tinha 21 anos e foi um ato imprudente que ocorreu na minha juventude na época de faculdade. Mas isso é coisa do passado, que aconteceu há 23 anos”, escreveu ele por mensagem.
“Hoje eu tenho uma família, dois filhos, uma empresa de transporte executivo de que me orgulho muito e sou candidato a vereador pelo Solidariedade para contribuir com uma São Paulo melhor para os cidadãos.”
Em sabatina da CNN na tarde desta segunda-feira (26), Marçal voltou a se referir a Boulos como “cheirador de cocaína”, disse que tem a prova e que a mostrará no último debate. “Vou provar, ninguém vai me segurar. Já foi preso portando droga, e eu vou mostrar. Está no segredo de Justiça, aguarde que eu estou resolvendo para te mostrar.”
O processo em que Bardauil Boulos figura como réu está em segredo de Justiça e foi tipificado como posse de drogas para consumo pessoal. O Ministério Público ofereceu a denúncia naquele ano, mas o processo foi extinto em 2006, com base no artigo 89 da lei 9.099/95.
O artigo prevê que, nos crimes em que a pena mínima for igual ou inferior a um ano, a Promotoria, ao oferecer a denúncia, pode propor a suspensão do processo por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime. Passado esse período sem revogação, o juiz extingue a punibilidade.
Na certidão do processo consta o nome completo de Bardauil Boulos, o número de seu documento, data de nascimento e nome dos pais.
Marçal debochou de reação de Boulos
Nesta segunda, à CNN, Marçal afirmou ainda, sobre o psolista: “E não adianta vir com fabulazinha de ‘minha filha tá chorando’. Ela vai chorar duas vezes quando descobrir que você realmente é um mentiroso, um drogado, e não faz o exame toxicológico porque vai sair no exame”.
Em entrevista na noite de segunda ao programa Roda Viva, Boulos chorou ao falar sobre o tema e disse que nunca usou a droga. Ele voltou a dizer que sua filha chorou por ouvir comentários na escola sobre a acusação.
“Minha filha chega, chora, como que fica? Olha o nível que chega, olha o esgoto que chega”, afirmou o deputado. “Quando mexe com sua família, com quem você mais ama na vida, com criança, aí te faz perder o prumo.”
Marçal levantou a acusação pela primeira vez no início de agosto, na convenção que oficializou sua candidatura. Na ocasião, ele disse que dois de seus adversários eram usuários de drogas, mas que só tinha provas a respeito de um. O influenciador afirmou ainda que tinha o registro de uma internação, mas nunca apresentou o documento, assim como não mostrou o processo no qual, segundo ele, Boulos seria réu.
O Tribunal Regional Eleitoral concedeu ao psolista direito de resposta nas redes sociais de Marçal diante da acusação sem provas de uso de drogas. A Justiça entendeu que “as imputações extrapolam os limites da liberdade de expressão e do debate político e configuram unicamente ofensas à honra”.
SAIBA MAIS:
Boulos critica Marçal mas diz que não vai normalizar Ricardo Nunes
quarta-feira, 28 de agosto de 2024
Portal do José: Vigarice de Marçal revelada... FARSA DESCOBERTA! BOLSONARISTA MARÇAL: NOVO ATO CRIMINOSO COMPLICA! LULA INDICA GALÍPOLO!
Do Portal do José:
28/08/24 - TARDE REPLETA DE FATOS IMPORTANTES. Lula indica Galípolo para o BC. Nikolas processado junto a PGR. Será condenado! Farsa do esgoto bolsonarista de Marçal vem à tona! Sigamos!
terça-feira, 27 de agosto de 2024
Bob Fernandes: O Brasil da porção ogro do agro bolsonarista tarcisista marçalista posto em chamas... e Pablo Marçal avança rodeado por criminosos e crimes
E quem votou em Collor, Bolsonaro, Tarcísio e agora flerta com Marçal mostra o tipo de "gente" que é...
Do Canal do analista político Bob Fernandes:
Obesidade, ultraprocessados e o PL dos Agrotóxicos da bancada do boir e do agro "pop": necropolítica e nutricídio no Brasil
Projeto dabancada do Agro-boi pró extrema-direita flexibiliza regras e reduz regulação de produtos cancerígenos e até tóxicos para o sistema reprodutivo
Por Joana de Vilhena Novaes* no ICL Notícias
Nas últimas semanas observamos reacender, nas redes sociais, o polêmico debate sobre o Projeto de Lei 1.459/2022, também conhecido como “PL do Veneno”. Aprovado pelo Senado em novembro de 2023, seguiu para sanção do presidente Lula.
Originalmente tratado como assunto relativo à saúde pública, agora ressurge como “pauta de costumes”, em função do aspecto moral que a dietética assumiu na cultura neoliberal.
Para aqueles que não estão familiarizados, o projeto flexibiliza as regras de aprovação, registro e comercialização de agrotóxicos, reduzindo a regulação e interferência dos órgãos fiscalizadores, de modo a permitir o registro de produtos mutagênicos, cancerígenos, teratogênicos e tóxicos para o sistema reprodutivo. Como se não bastasse, em 2022, pesquisadores da Fiocruz publicaram um documento denunciando os 12 retrocessos e falácias propagados pelo Projeto de Lei 6.299 — numeração original do PL quando o mesmo fora originalmente proposto pelo então senador Blairo Maggi (ex-ministro da agricultura).
Muito embora a nova composição da cesta básica priorize alimentos in natura (leguminosas, frutas, cereais, oleaginosas, leite, ovos, etc) ou minimamente processados, a pauta central parece girar em torno da reforma tributária. Ou seja, de que a taxação dos ultraprocessados siga o modelo das bebidas alcoólicas e do cigarro.
A alimentação é uma necessidade básica permeada por processos históricos referentes ao desenvolvimento econômico, cultural e demográfico de cada nação. Assim, o ato de comer não representa apenas o fato de reunir elementos nutritivos importantes para o organismo; antes de tudo, é um ato social que expressa o mundo da necessidade, da liberdade, da dominação e do desejo.
O avanço da economia no Brasil é um marco importante na história da alimentação no país, pois o primeiro salário mínimo, instituído em 1940, por Getúlio Vargas, teve como base de cálculo o que se convencionou chamar de cesta básica. Na economia brasileira, o processo de industrialização teve seu crescimento a partir da década de 70. Acrescenta-se ao contexto econômico atual e do final do século 20 o Plano Real, que deu início à fortes mudanças na economia e propiciou um aumento real do poder de compras.
O sistema capitalista de produção, a economia de mercado e a urbanização induziram uma mudança nos padrões de vida e comportamentos alimentares das populações, principalmente devido à rapidez e à facilidade com que o brasileiro absorve itens das culturas americana e europeia, por serem considerados modos de vida “superiores”. Adicionalmente, não é possível ignorar que o consumo de guloseimas e supérfluos, nas classes populares, simbolicamente também está associado ao prestígio de quem superou um passado de miséria e fome, mesmo que referido à geração anterior.
No Brasil, com base nas Pesquisas de Orçamento Familiar (2004), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizadas em 1960, 1980 e 2004, verificou-se que as mudanças no padrão alimentar do brasileiro, nos últimos 30 anos, abrangeram toda a população urbana do país. A taxa de obesidade e sobrepeso da população brasileira atingia 40,6% da população adulta em 2004, sendo 11% (10,5 milhões) de obesos.
Os dados do Ministério da Saúde indicam que a obesidade no país aumentou 60% entre 2006 e 2016. A prevalência da doença passou de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 2016. O crescimento da obesidade pode, inclusive, ter colaborado para o aumento da prevalência de diabetes e hipertensão. A incidência de indivíduos com sobrepeso ou obesos é maior em pessoas com menor ou nenhuma escolaridade. Isso se explica porque, nos países em desenvolvimento, o tipo de alimento consumido na zona rural é diferente daquele consumido na zona urbana, numa relação diretamente proporcional ao poder aquisitivo ou ao nível socioeconômico.
Conforme mencionado anteriormente, a população urbana, de baixa renda, apresenta uma ingestão calórica inferior quando comparada à população rural. Ela acaba consumindo maior quantidade de alimentos processados, como é o caso da salsicha e da linguiça, ou seja, elege os alimentos que conferem uma sensação máxima de saciedade, sendo palatáveis e de menor custo. Deve-se também considerar os avanços na tecnologia de conservação, armazenamento e transportes de alimentos que, superando as fronteiras, distribui pelo mundo enlatados, conservas, refrigerantes, sucos de caixinha, ketchup, hambúrgueres, pizzas, bolos e biscoitos recheados.
A empresa de pesquisa de mercado Datamark Ltda – Market Intelligence, a qual se utiliza de embalagens para fazer suas estimativas, diz que houve um incremento importante na produção dos embutidos, principalmente a salsicha e a linguiça, que, durante a década de 80, tiveram sua produção duplicada. Até 1996 foi multiplicada por 2,8 e 2,3, totalizando uma produção anual de 221.588 toneladas de salsichas e 238.866 toneladas de linguiça. Os alimentos congelados cresceram 126% no período de 1990 a 1996 (totalizando, em 1996, uma produção de 46.141 toneladas).
Em 1980, eram produzidas 20.095 toneladas de salgadinhos industrializados; em 1996 essa produção foi 6,2 vezes maior. A produção de refrigerante cresceu nos últimos dez anos 90%; e de 1990 a 1996 a produção de biscoitos aumentou 108%. É nesse contexto que o aumento da prevalência da obesidade no Brasil torna-se ainda mais preocupante, ao se verificar que esse acréscimo, apesar de distribuído em todas as regiões do país e nos diferentes estratos socioeconômicos da população, é proporcionalmente mais elevado entre as famílias de baixa renda.
Não é difícil imaginar, dado o baixo custo comparativo destes alimentos, a dificuldade dos pais em negarem a seus filhos as guloseimas, ainda que supérfluas e altamente calóricas. A aposta, além de econômica, é indicativa da necessidade, bem como da rara satisfação de possíveis desejos.
A observação do corpo nas classes populares vem em par com a compreensão de que o mesmo é sempre um capital e que os ditames estéticos são indicativos de uma cartografia que precisa ser decodificada. Tal cartografia aponta para um imaginário com valoração moral bastante distinta. Dentro desse contexto, acreditamos ser de fundamental importância a inclusão do racismo como determinante social da saúde.
Neste sentido, saúde e adoecimento estão relacionados a uma série de fatores socioeconômicos e culturais que afetam a integridade física e psicológica, individual e coletiva do sujeito. As condições históricas de inserção social, somadas às condições de moradia, renda, saúde e localização geográfica são elementos determinantes no acesso aos bens e serviços de saúde. Aqui, a definição do conceito filosófico de Necropolítica parece ratificar a tríade: obesidade com seus fatores de comorbidades associados,consumo de ultraprocessados e desigualdade social.
O termo refere-se ao uso do poder político e social, especialmente por parte do Estado. De forma a determinar como algumas pessoas podem viver e como outras devem morrer, por meio de ações ou omissões, gerando condições de risco para alguns grupos ou setores da sociedade, em contextos de desigualdade, em zonas de exclusão social e violência, bem como condições de vida precárias.
Isto posto, acreditamos que uma discussão sobre obesidade, enquanto um problema de saúde pública no Brasil, não possa vir desvinculada da menção aos séculos de escravização da população negra. O que, inequivocamente, contribui para um desigual e desfavorável acesso aos direitos e oportunidades, inclusive de saúde. Essas características se refletem no quadro epidemiológico que evidencia iniquidades e vulnerabilidades no acesso às condições promotoras de saúde.
Ou seja, não à toa, é justamente a população negra e menos favorecida quem sofre o que entendemos ser o nutricídio — resultante de uma alimentação de pior qualidade e que, portanto, estaria associado aos fatores geradores das comorbidades ligadas à obesidade.
Finalmente, acredita-se que o acesso a uma educação nutricional de boa qualidade, através de material escolar coerente com a proposta pedagógica do ensino, leve a comunidade estudantil a se sentir motivada a refletir sobre o significado da saúde, discutindo sobre prevenções, causas e possíveis soluções para uma vida de qualidade. Outro fator importante — que faz parte desse panorama alimentar — a que a família se encontra exposta são as contradições sociais presentes na cultura.
Enquanto se estabelecem programas incentivando estilo de vida e hábitos alimentares saudáveis, não se deixa de comemorar os finais de semana com a feijoada do sábado e o churrasco do domingo, sem contar que todo o prazer e desprazer de um acontecimento na vida das pessoas pode ser compensado com uma bebida, um doce ou um chocolate. Esse fator salienta a ambiguidade das questões culturais presentes no cotidiano da população, bem como um imaginário popular no qual a fartura e a ostentação ainda estão associadas a um ideal de saúde.
*Coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza PUC-Rio. Profa. Programa de Pós-Graduação em Psicanálise, Saúde e Sociedade da UVA. Autora e organizadora de vários livros e coletâneas, dentre eles: Com que corpo eu vou? Sociabilidade e usos do corpo nas mulheres das camadas altas e populares. Ed. Pallas.
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Tirzepatida, usado para diabetes e obesidade, pode proteger coração, diz estudo
Máfia dos Bets e do jogo do tigrinho impactam orçamento das famílias, saúde mental e economia
Demora na regulamentação, atendendo os interesses da direita e do centra de Arthur Lira, permitiu crescimento desordenado do setor e mudou padrão de consumo de parte da população
Por Nara Lacerda — Brasil de Fato
O Brasil encerrou, na semana passada, mais um passo no processo de regulamentação de casas de apostas online. Foram recebidos mais de 100 pedidos de autorização de funcionamento de empresas de jogos e apostas virtuais.
A partir da finalização desse processo, todas as iniciativas que não tiverem autorização do governo serão consideradas ilegais. Quem descumprir regras e normas legais sofrerá sanção. Essa é uma das etapas finais do processo de legalização dessas atividades no Brasil, que começou no governo de Michel Temer (MDB), em 2018.
No entanto, dados relativos aos impactos sociais e econômicos dessas atividades apontam que a efetivação das regras legais de operação chega tarde e pode já estar defasada.
Na economia do país e das famílias, as consequências das chamadas bets e de jogos conhecidos como tigrinho estão aparecendo e causando preocupação: elas vão do aumento do endividamento e diminuição de recursos para itens básicos ao adoecimento mental e até suicídio.
Bets
Uma pesquisa do banco Itaú, um dos maiores do Brasil, estima que brasileiros e brasileiras perderam quase R$ 24 bilhões em jogos e apostas online em um ano.
Recentemente, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, apontou que alguns estudos mostram que o aumento de renda no Brasil não elevou o consumo e nem as economias das famílias como poderia. A explicação pode estar no consumo dos jogos e das apostas online.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a consultora do programa de Serviços Financeiros do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), Ione Amorim, afirma que a demora na regulamentação da atividade trouxe prejuízos consideráveis.
“Há um ambiente com muitos recursos financeiros, que fez com que essas empresas capturassem influenciadores que passaram a ser os seus grandes patrocinadores. Os seguidores foram induzidos para esse ambiente de jogos, que se alastrou muito rapidamente, com o atrativo de se ganhar recursos rapidamente.”
Segundo ela, o setor de apostas e jogos online já preocupa diversos setores da cadeia produtiva brasileira. “O comportamento de consumo das famílias já afeta o ambiente de entretenimento e de lazer. As pessoas estão modificando os seus hábitos. Já afeta o sistema bancário, já impacta fortemente a questão do endividamento e a saúde mental das pessoas.”
“O Hospital das Clínicas aqui em São Paulo já admite não ter mais estrutura para receber pessoas para tratar esse problema este ano. Estamos falando de saúde pública, de um problema que é uma epidemia”, explica.
Análise da a empresa de consultoria Strategy&, as apostas representam o equivalente a 76% das despesas de “lazer e cultura” das classes D e E. O total gasto com os jogos corresponde a 5% do que é destinado à alimentação.
O relatório expressa preocupação com a ampliação desse tipo de atividade frente ao índice de brasileiros e brasileiras que revelam não ter segurança financeira. Segundo a pesquisa Hopes and Fears 2024, ele chega a 43%.
Ainda de acordo com a consultoria, as apostas já representam 1,38% do orçamento familiar nas classes com menor poder aquisitivo. A análise aponta também que boa parte do dinheiro ganho é colocado novamente no jogo, o mostra que o eventual lucro de quem joga não tem impacto significativo na economia real.
A informação é reafirmada em um estudo de 2023, divulgado pelo Instituto Locomotiva, que mostra que somente 36% dos ganhos são usados em outros gastos. O levantamento estima que 20% da população de baixa renda aposta pelo menos uma vez por mês.
“Precisamos trabalhar a educação financeira e o risco do endividamento. As pessoas precisam estar cientes de que este ambiente não é saudável. A maioria das pessoas que hoje estão perdendo mais dinheiro são as que já estão negativadas. Elas estão sendo expostas a agiotagem em redes sociais”, alerta Ione Amorim.
Confira a entrevista na íntegra a seguir:
Brasil de Fato: Quais são as consequências que o crescimento das apostas e jogos virtuais trazem para a economia brasileira.
Ione Amorim: Os impactos podem ser e já estão sendo gigantescos. Ficamos esse período sem regulamentação. Essas empresas já estavam operando desde que a lei foi aprovada. E ao longo desse período, o que vimos foi essa disseminação totalmente sem respaldo legal, porque a regulamentação estava sendo discutida paralelamente. Então esse problema já se alastrou.
Podemos fazer um paralelo desse impacto na economia com o que aconteceu há algumas décadas com bingos e máquinas caça-níqueis. Elas já tinham causado grandes danos financeiros para as famílias, com muito foco nos idosos.
Quando retomamos esse ambiente de jogos e apostas, chegamos nesse ambiente de forma eletrônica. Isso mudou o comportamento da população e criou um ambiente muito favorável para a atuação dessas empresas. Hoje, não temos uma população afetada somente de idosos. Temos jovens e crianças.
Há um ambiente com muitos recursos financeiros, que fez com que essas empresas capturassem influenciadores que passaram a ser os seus grandes patrocinadores. Os seguidores foram induzidos para esse ambiente de jogos, que se alastrou muito rapidamente, com o atrativo de se ganhar recursos rapidamente.
O problema está instalado e nós estamos vivendo uma epidemia de jogos de apostas bets e jogos eletrônicos. A maioria dessas empresas, neste momento, não tem sede no Brasil, atuam todas lá fora. Os recursos que a população, de modo geral, disponibiliza para essa finalidade já impactam a economia.
O comportamento de consumo das famílias já afeta o ambiente de entretenimento e de lazer. As pessoas estão modificando os seus hábitos. Já afeta o sistema bancário, já impacta fortemente a questão do endividamento e a saúde mental das pessoas.
Temos um problema extremamente severo e esse conjunto de medidas ainda vai ser adotado para consolidar a regulamentação – quando chegar em sua plenitude – já vai estar muito ultrapassado.
Que consequências o fato de essas empresas estarem fora do país pode trazer?
É um dinheiro que não entra na economia, porque se deixa de consumir bens e serviços. É pior neste momento que o país está em recuperação econômica, saiu de uma pandemia e de um ambiente político e econômico extremamente frágil. Esse recurso adicional que vem sendo criado, que poderia ser o motor para estimular novamente o consumo, empresas, arrecadação, está indo lá para fora.
A promessa das empresas de jogos e apostas no Brasil é aumentar a arrecadação e a geração de emprego, mas onde? Que emprego vai gerar se o produto é desenvolvido lá fora e se a receita é transferida?
Há um impacto no campo macroeconômico bastante expressivo. Talvez, até o momento em que essas medidas entrarem em vigor, o dano já estará bastante consolidado.
Como os gastos com apostas e jogos online prejudicam a economia doméstica das famílias?
O jogo é classificado como entretenimento, um ambiente para um momento de lazer e de descontração. Mas hoje, por exemplo, não se assiste futebol pelo prazer de assistir à partida, mas pelas expectativas de ganho que o desempenho daquela partida vai te proporcionar financeiramente.
Isso no caso das bets. Os jogos online, como o jogo do tigrinho, lembram muito os caça-níqueis. É um desafio de ganho rápido. Essa facilidade de acesso ao recurso contamina e estimula a ficar nesse ambiente apostando. As empresas trabalham muito bem esses critérios de estímulo para a busca de resultados.
Por isso falamos dessa rápida dependência. Temos acompanhado centenas de casos. Assim como em outros vícios, a pessoa entra achando que vai apenas experimentar e conhecer. Mas nesse caso, a aposta é o próprio recurso financeiro, então ela vai direto no bolso.
Já há um comprometimento no consumo de alimentos, bens e serviços, inclusive de lazer. O problema escalou para diversas esferas sociais. Temos grandes corporações altamente preocupadas, porque profissionais de diversas categorias estão antecipando férias, tomando crédito, antecipando e vendendo o 13º salário para pagar as dívidas que foram contraídas nesse ambiente.
Temos mudanças de comportamento, crises dentro da família porque as economias estão sendo perdidas, assim como imóveis e bens de qualquer outra natureza. No ambiente de trabalho, há perda de produtividade, problemas nos relacionamentos e perda do emprego.
Nas pesquisas que acompanho, as classes mais altas pensam que jogam como entretenimento porque têm um bom domínio, mas elas não estão isentas de problemas severos. As classes mais baixas de renda não estão pelo lazer, estão pela monetização, então ali é que ocorre o maior problema, porque a pessoa está na expectativa do ganho.
Você menciona que a legislação pode já chegar defasada frente à realidade. A publicidade massiva e desregulada é um exemplo disso?
O primeiro ponto que não é suficiente é o fato de se adotar o conceito de jogos responsáveis e que a empresa vai observar se o apostador tem uma tendência a ser um dependente. Que empresa está preocupada em saber disso?
Não faz nenhum sentido pensar que estratégias como essa vão atender à necessidade de conter o avanço da forma como já colocamos aqui. Quase todos os 20 times da primeira divisão são patrocinados por essas empresas. Os influenciadores digitais são pagos por elas. Muitos têm como razão de existir fazer esse trabalho de divulgação. O dinheiro que elas têm para colocar em publicidade é gigantesco.
O trabalho de uma publicidade responsável de apostas seria fazer o mesmo que foi feito com o cigarro: acabar. Não tem publicidade na televisão, não tem publicidade durante o intervalo de jogos sobre esse tipo de produto, porque eles são danosos à saúde mental e financeira das pessoas.
Essa questão é um grande desafio para o governo, para poder colocar uma regulação que seja, de fato, efetiva, uma vez que a legalização já foi aprovada. Então você tem que ter uma regulação que venha atender essa expectativa. Um outro ponto importante é o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) criar as regras de publicidade.
Estamos falando de uma questão de saúde. Uma empresa que está ofertando um serviço ou colocando essa plataforma para ser consumida no mercado não tem mecanismos para dizer quem tem tendências ao vício.
O que eu entendo que ainda não foi discutido nesse ambiente é trazer todas as plataformas que estão no exterior. Uma das medidas propostas é fazer com que todas elas tenham sede no Brasil. Porque um dos problemas também é a falta de transparência nas regras.
Muitas dessas empresas não permitem o saque de todo o recurso ganho. Você tem que apostar ou acumular uma parte na plataforma. É preciso continuar jogando até estabelecer um patamar de valor que pode ser sacado. Observe que estamos falando de estratégias de retenção, de fidelização dessas pessoas enquanto apostadores.
Isso configura falta de transparência. Há casos em que o apostador ganhou e a empresa disse que ele burlou as regras da empresa sobre jogos. Ao trazê-las para o ambiente com sede no Brasil, isso poderá ser questionado. As regras são muito leoninas e muito favoráveis às empresas, elas não são favoráveis aos apostadores nesse sentido.
Uma questão que também que preocupa é que há muitos consumidores que entendem que esse ambiente é um ambiente de investimento. Há segmentos que entendem que isso é investimento, porque quem tem alta renda tem estratégias para jogar. Quem ganha não é quem mais aposta, quem mais aposta é quem mais perde.
Precisamos trabalhar a educação financeira e o risco do endividamento. As pessoas precisam estar cientes de que este ambiente não é saudável. A maioria das pessoas que hoje estão perdendo mais dinheiro são as que já estão negativadas. Elas estão sendo expostas à agiotagem em redes sociais.
Paralelo a isso, tem a questão da saúde. O Hospital das Clínicas aqui em São Paulo já admite não ter mais estrutura para receber pessoas para tratar esse problema este ano. Estamos falando de saúde pública, de um problema que é uma epidemia.
Essas empresas precisam, dentro desse contexto de regulamentação, serem responsabilizadas, colocar dinheiro para reduzir os impactos dos danos que vêm sendo causados pela atividade delas. Precisamos debater muito como iremos responsabilizá-las financeiramente para dar suporte para que hospitais possam tratar, para que haja programas de educação financeira, para que haja uma publicidade mais responsiva, que possa informar que há riscos.
Universidade de Portugal usa as aberrações da Lava Jato de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol como estudo de caso para evitar violações de direitos
Além de identificar a normalização de meios não usuais na colheita de provas, diretor da FDUL demonstra preocupação com o avanço da extrema-direita
Do Jornal GGN:
Universidade de Portugal usa a Lava Jato como estudo de caso para evitar violações de direitos
Docentes da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) usam a Lava Jato brasileira como estudo de caso para avaliar as normas vigentes em Portugal e evitar eventuais violações de direitos dos suspeitos, a exemplo de prisões antes do trânsito em julgado.
A informação é do professor e diretor da FDUL, Eduardo Vera-Cruz Pinto, em entrevista ao Consultor Jurídico, que tem a preocupação com as semelhanças entre a Lava Jato brasileira e uma eventual repetição dos erros com o ex-primeiro-ministro português, António Costa.
Costa renunciou em 2023, depois que o Ministério Público insinuou suposto envolvimento em irregularidades em negócios do governo. Porém, o próprio MP constatou que a citação obtida em escutas telefônicas se referia a um homônimo.
Segundo o diretor da FDUL, o caso revelou “uma certa normalização de meios extraordinários de colheita de prova e do seu prolongamento no tempo que muitos setores da sociedade civil e da comunidade jurídica consideraram sem justificativa”, o que demanda uma reforma da Justiça.
Outra preocupação do docente é o crescimento de políticos extremistas em Portugal, que têm histórico de afrontar a civilidade e cultura jurídica, trazendo retrocesso em questões já resolvidas anteriormente pelo Direito.
*Com informações do Conjur.
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