domingo, 31 de julho de 2016

Estatal norueguesa agarrou correndo petróleo que golpistas jogaram fora, por Eduardo Guimarães

petroleo capa
Não vá falar para os “atrasados” noruegueses sobre privatização ou regime de concessão de empresas e campos de petróleo, respectivamente. Vão mandá-lo catar coquinho, porque consideram o petróleo um negócio altamente estratégico e que deve ficar sob controle do Estado, e esse conceito é cada vez mais difundido mundo afora.
Antes de prosseguir, porém, vale explicar de que nação estamos falando quando falamos da Noruega. Pelo 12º ano consecutivo, só deu ela: no fim do ano passado, foi eleita pela ONU, novamente, como o melhor pais do mundo para se viver. Segundo Jens Wandel, diretor do Programa de Desenvolvimento da ONU, o sucesso do país consiste em combinar o crescimento de renda com um elevado nível de igualdade.
“Ao longo do tempo, a Noruega conseguiu aumentar sua renda e, ao mesmo tempo, garantir que os rendimentos sejam distribuídos de modo uniforme”, diz Wandel.
Pelo que dizem os basbaques hipnotizados pela mídia e pelos políticos privatistas que tomaram o poder de assalto, porém, os noruegueses são “atrasados” por manterem o petróleo sob controle estatal.
Com direitos trabalhistas rígidos e ampla rede de proteção social aos cidadãos, os noruegueses confrontam os picaretas que tomaram o poder no Brasil e que afirmam que ter muito petróleo, hoje, virou quase uma maldição, e que quanto mais precárias as condições de trabalho e mais ralos forem os programas sociais, melhor.
Privatizar, privatizar e privatizar é o que pregam os privatistas ressuscitados pela crise econômica forjada pelo golpismo.
Na semana passada, os golpistas conseguiram entregar aos “atrasados” e “desinformados” noruegueses um campo de petróleo que especialistas e jornalistas do setor petrolífero consideram que valia quase o triplo do preço pelo qual foi doado para a estatal de petróleo do melhor país do mundo para se viver, a Noruega.
O campo de Carcará foi vendido para a empresa estatal de petróleo norueguesa batizada com o sugestivo nome de Statoil, uma das maiores do mundo. Segundo vários especialistas, o negócio de 8,5 bilhões de dólares poderia ter sido fechado por 22 bilhões, se respeitado o potencial do campo que foi vendido.
A mídia corporativa tradicional tratou de forma diferente o caso, limitando-se a registrar o negócio. Mas há anos vem defendendo a privatização da Petrobrás e a entrega dos campos do pré-sal a petroleiras estrangeiras sob regime de concessão, ou seja, por um regime em que a empresa que explora o campo petrolífero fica com tudo que encontrar e paga ao Estado apenas os impostos, enquanto que nos governos petistas o regime era de partilha, ou seja, tudo que a empresa exploradora encontrasse seria do Estado e ela receberia apenas uma remuneração pela prestação de serviço.
O governo Temer está seguindo a pregação midiática e a prática da direita quando governava o país, até 2002. Vem pregando a privatização de campos de petróleo e quem sabe até da própria Petrobras. E vendendo a teoria de que petróleo é um ativo que irá perder valor.
A Petrobras, no entanto, vendeu o campo de Carcará para a norueguesa Statoil e pretende ampliar sua parceria com essa empresa, disse a diretora de exploração e produção da estatal brasileira,  Solange Guedes. “Temos um memorando de entendimento que começa a ser negociado agora.” Segundo ela, há uma série de ações em potencial para novos acordos, considerando que os negócios das companhias são complementares.
De acordo com Solange, essa parceria com a Statoil sempre foi uma ambição. “A Statoil é reconhecida mundialmente como uma empresa competente na gestão de ativos maduros”, disse ela. Segundo a diretora, a Petrobras vai direcionar as discussões para que possam trabalhar conjuntamente, buscando “alavancar valores em ativos maduros existentes”.
É uma contradição da administração atual da Petrobrás, que está adotando um caminho diametralmente diferente do adotado pela Statoil, pois o sistema norueguês prevê forte ação estatal no que diz respeito ao petróleo.
No modelo norueguês, não há leilão nem licitação para decidir que companhias petrolíferas vão extrair o óleo de sua costa marítima. A última palavra é do governo.
Criado em 2001 pelo Partido Trabalhista, o modelo norueguês estipula que as empresas interessadas devem apresentar suas propostas para exploração de determinado campo ao Diretório de Petróleo da Noruega.
Órgão similar à ANP (Agência Nacional de Petróleo), mas não independente e vinculado ao Ministério do Petróleo e Energia. Cabe a esse diretório analisar tecnicamente as propostas. O passo seguinte é informar aos ministros de Finanças e do Petróleo as empresas que considera mais experientes, com capacidade financeira e tecnologia para ganhar o direito da exploração.
Com base nesses estudos do diretório, o governo faz a escolha. Inclusive se outra estatal norueguesa, a Petoro, será ou não sócia daquele campo. Decisão sempre é tomada de acordo com o potencial da reserva em disputa pelas empresas privadas. Os noruegueses não se aferram tanto a modelos, mas a conjunturas para cada caso, o que soa muito mais lógico.
Na Noruega, a Petoro, 100% controlada pelo governo, tem participações que vão de 5% a 65% em vários campos de petróleo na plataforma continental. O governo pode também decidir que a sua empresa ficará de fora de certas áreas. Nesse caso, o Estado deixa de ter participação direta no negócio, não lucrando com o faturamento do consórcio, mas recebe impostos pagos pelas petrolíferas – na casa dos 78%. Tributos cobrados de todas as empresas do setor.
Já a Petoro, a estatal pura, é isenta. Ela funciona como administradora da riqueza do petróleo. Não é, porém, operadora, não comanda plataformas. Isso fica por conta de uma das empresas que participa com ela da exploração do campo.
Além da Petoro, o governo também controla a Statoil, a primeira estatal norueguesa no setor, da qual possui 62,5% das ações. É a Petrobras norueguesa, que opera diretamente os campos, tem ações em Bolsa e investimentos em outros países, o que a sua irmã puramente estatal não pode fazer.
Criada em 1971 também pelo Partido Trabalhista, legenda de linha parecida com a do PT, a Statoil surgiu logo depois das descobertas dos megacampos de petróleo. Até então, o setor privado era quem se arriscava no negócio de encontrar óleo na costa do país.
Ao longo dos anos, tornou-se uma empresa poderosa com as descobertas das grandes reservas de óleo, que fizeram da Noruega o terceiro maior exportador mundial de petróleo e o quinto produtor.
Enquanto no Brasil a mídia e os novos donos do poder pregam que petróleo não vale mais nada e que é bom vendê-lo por qualquer preço porque em breve ninguém mais vai querer, amparam-se na baixa conjuntural do preço da commodity e nos prejuízos que quedas do preço do petróleo causam às petrolíferas de toda parte para “provar” esse ponto de vista.
Esse é um golpe, um conto do vigário. No gráfico abaixo o leitor pode verificar que preço do petróleo sempre oscilou com força, para cima e para baixo.
petroleo 1
A baixa atual nem é das maiores. O ciclo de valorização do petróleo virá, e quando vier, se os golpistas tiverem conseguido jogar o pré-sal no lixo, perderemos oportunidade que poderia educar uma geração com ensino de primeiro mundo bancado pelas receitas do petróleo.
É óbvio que a Petrobrás está endividada. A investigação de casos de corrupção que sempre existiram na empresa transformou-se em um show político destinado a derrubar o governo Dilma e a empresa Além disso, há os problemas gerados pela baixa do preço do petróleo e pela necessidade de investir na exploração hoje para colher os frutos amanhã.
Mas que ninguém tenha dúvida de que daqui a algum tempo o preço do petróleo voltará a subir. E se o golpe contra Dilma vingar, daqui a algumas semanas Temer irá torrar todo esse patrimônio público a preço de banana e deixará a Petrobrás sem dívida, sim, mas, também, sem patrimônio.
Em uma metáfora rápida, é como se você desse uma entrada de 300 mil reais em um imóvel de um milhão e, por ter dificuldade de pagar as parcelas, resolvesse entregar o negócio para algum espertalhão que lhe daria 30 mil e arcaria com o financiamento. O detalhe é que, apesar da dificuldade, seria possível pagar o imóvel, mas com a saída do negócio o prejuízo foi materializado e tornado irreversível.
As mudanças radicais que estão para ser feitas na Petrobras vão na contramão do que ocorre no resto do mundo no setor do petróleo. Cada vez mais as nações adotam empresas estatais para explorar o petróleo que têm e impõem regimes de partilha como os adotados pela Petrobrás antes da chegada dos golpistas ao poder.
Por trás do golpe contra Dilma Rousseff está o maior crime de lesa-pátria da história deste país: roubar o pré-sal e vendê-lo a preço vil – se possível, junto com a Petrobrás – a fim de que alguns grupos políticos consigam propinas gigantescas que serão pagas pelos felizes compradores do saldão petrolífero que o governo de facto de Michel Temer já começa a levar a cabo.

Direitos Humanos na ONU e o Corporativismo golpista dos juízes brasileiros pró-Moro



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247. - "Ao acusar Lula de procurar o Comitê de Direitos Humanos da ONU “para constranger o andamento de investigações em curso”, a AMB a um só tempo revela sua ignorância quanto ao alcance do Direito Internacional no Direito brasileiro e, portanto, ao Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos, como expressa sua má vontade em relação à ONU", dizem os juristas Luiz Moreira e Claudia Maria Barbosa, que defendem a iniciativa do ex-presidente de recorrer à ONU em defesa de suas garantias individuais; na semana passada, os advogados Cristiano Martins e Geoffrey Robertson apresentaram o pedido de Lula no comitê das Nações Unidas, em Genebra
Por Claudia Maria Barbosa e Luiz Moreira (Doutores em Direito)
A pressa com que a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e a Associação dos Juízes Federais (AJUFE) emitiram notas criticando a ação do ex-presidente Lula de acionar o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), para lhe garantir julgamento justo e imparcial, talvez possa justificar em parte a fragilidade e os equívocos nelas contidos.
O Brasil é, desde 1992, signatário do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos da ONU e, desde 2009, também de seu Protocolo Facultativo, que expressamente prevê a possibilidade de particulares encaminharem comunicação escrita ao referido Comitê, quando se sentirem ameaçados pela violação dos direitos protegidos pelo citado Pacto de Direitos Civis e Políticos da ONU.
O ex-presidente Lula não fez nada de diferente do que poderia fazer qualquer cidadão, inclusive um ex-presidente ungido duas vezes ao poder pelo voto dos brasileiros e que deixou seu segundo mandato com 80% de aprovação popular.
Ao acusar Lula de procurar o Comitê de Direitos Humanos da ONU “para constranger o andamento de investigações em curso”, a AMB a um só tempo revela sua ignorância quanto ao alcance do Direito Internacional no Direito brasileiro e, portanto, ao Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos, como expressa sua má vontade em relação à ONU.
Conforme decisão do Supremo Tribunal Federal, os Tratados de Direitos Humanos de que o Brasil é signatário, têm caráter de norma supralegal, sendo de observância obrigatória para todos, especialmente para o Poder Judiciário.
Em sua nota a AMB parece confundir força e independência com irresponsabilidade. A força do Judiciário decorre da legitimidade que advém de sua atuação dentro dos estritos parâmetros normativos e de sua defesa intransigente da Constituição.
Nesse sentido, a independência judicial é condição necessária, mas não suficiente, para a vigência do Estado de Direito, especialmente para aquele que se afirma democrático. Assim, espera-se que o Judiciário brasileiro mantenha-se contra majoritário, evitando “jogar para a torcida” ao invés de preservar imparcialmente as regras do jogo.
A Constituição da República preconiza a separação, o respeito e a harmonia entre os Poderes, mas também assegura que não existam poderes irresponsáveis, de maneira que todo exercício do poder obedeça a parâmetros jurídicos, passíveis de controle.
No Brasil de hoje há o papel politico do Judiciário, evidenciado pela parcialidade de alguns dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e pela seletividade e pelos métodos extravagantes do juiz Sérgio Moro, levanta questionamentos sobre o que se pode esperar do Judiciário brasileiro, tornando atual a já clássica pergunta sobre “quem controla os julgadores...”.
A AMB, difícil saber se intencionalmente ou não, aproveita a crítica ao ex-presidente Lula para posicionar-se contra o Projeto de Lei do Senado 280, de 2016, que trata do abuso de poder cometido por autoridades. Certamente a AMB não desconhece que essa iniciativa não é patrocinada pelo partido do ex-presidente Lula, nem por ele e nem pela Presidenta Dilma, em cujos governos foram aprovados inúmeros e variados mecanismos de combate à corrupção.
A AMB expressamente declara que sua vigência “jamais tornaria possível uma investigação como a Lava Jato”. O que a AMB não diz é que referido projeto de lei apenas tipifica como abuso de poder ações que já são reprovadas pela Constituição, pelo Código de Processo Penal e pelo Pacto de Direitos Civis e Políticos. A novidade do projeto de lei, em tramitação no Senado, consiste no reconhecimento de que os controles sobre determinados órgãos e autoridades podem não ser eficazes ou não resultarem em punições efetivas. Nunca é demais rememorar que, no Brasil, juízes que cometem crimes não são demitidos, mas aposentados compulsoriamente, preservando vencimentos proporcionais ao seu tempo de serviço.
É constrangedor perceber que a AMB possa ter receio que juízes sejam punidos por se valerem de métodos e de procedimentos ilegais, proibidos tanto pelo direito brasileiro, quanto pelas normas internacionais.
É um desrespeito à cultura jurídica nacional que AMB e AJUFE pretendam estabelecer um “vale tudo” jurídico, admitindo que o sucesso de processos judiciais possa decorrer da violação ao direito e à Constituição. Ninguém está acima da lei, nem magistrados, nem cidadãos.
As notas da AMB e da AJUFE, ao sugerirem a infalibilidade de Sérgio Moro, apenas consolidam a ideia segundo a qual a alguns é permitida a adoção de práticas arbitrárias e indicam que os fins justificam os meios.
Como nenhum juiz é infalível e o direito brasileiro adota para si as normas da ONU, é de se esperar que as associações de juízes não assumam discursos de ódio contra a Organização das Nações Unidas, nem pretendam o “nós contra eles”, somente para garantir que os atos judiciais praticados por seus associados se sobreponham aos Direitos Humanos.
A reclamação do ex-presidente Lula é legal e singela. Ele exerceu seu direito de petição, isto é, solicitou que o Comitê de Direitos Humanos da ONU, não submetido às disputas partidárias e não sujeito à pressão da mídia brasileira, verifique se ele é vítima de perseguição, se seus direitos estão sendo violados e se Sérgio Moro se porta como juiz ou como acusador. Ele requer um julgamento isento e se submeterá a este novo julgamento: o resultado será o decidido pela ONU.
Em síntese: Lula que ser julgado, mas por juiz imparcial; Lula respeita a justiça, mas não quer ser justiçado.
                                                                                                         Claudia Maria Barbosa (doutora em Direito, advogada, professora titular de direito constitucional da Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Luiz Moreira (doutor em Direito, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, ex Conselheiro Nacional do Ministério Público).

Apesar do conchavo e manipulações da mídia, especialmente da Globo e de O Globo, o povo vai às ruas.... #ForaTemer !



Do Brasil 247:

Milhares de brasileiros participaram de protestos contra o golpe neste domingo 31 em diversas cidades do País e até no exterior, como em Berlim, na Alemanha, e Lisboa, em Portugal; atos também marcaram posição contra a retirada de direitos trabalhistas, mudanças na Previdência, em defesa da saída do interino Michel Temer e da realização de um plebiscito sobre novas eleições; em São Paulo, a concentração maior aconteceu no Largo da Batata, onde mais de 40 mil se reuniram em ato organizado pela Frente Povo Sem Medo e marcharam em direção à casa do vice interino


247 - Milhares de brasileiros foram às ruas neste domingo 31 em protesto contra o golpe praticado contra a presidente Dilma Rousseff e pela saída do presidente interino, Michel Temer. Protestos aconteceram em várias cidades do País e até no exterior, como Berlim, na Alemanha, e Lisboa, em Portugal.


Os protestos também foram contra a retirada de direitos trabalhistas pelo governo interino, contra mudanças na Previdência e em defesa de um plebiscito sobre novas eleições, como defende Dilma.

Foto: Pedro Lima 
Em São Paulo, a concentração maior é no Largo da Batata, em ato organizado pela Frente Povo Sem Medo. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) participa da manifestação.
A manisfestação em São Paulo é promovida pela Frente Povo Sem Medo. Os manifestantes começaram a se reunir às 14h e, por volta das 16h15, saíram em caminhada, na direção da Praça Panamericana, local próximo à casa do presidente interino Michel Temer, no bairro Alto de Pinheiros.
O tema do ato é “Fora Temer! O povo deve decidir! Defender nossos direitos, radicalizar a democracia!”. Segundo a Frente Povo Sem Medo, que considera o impeachment de Dilma um golpe, “não precisou nem dois meses para que as máscaras caíssem e as razões do golpe fossem expostas em praça pública”, citando a queda de três ministros de Temer em um mês.
Representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que integra a Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos explicou que o ato tem três frentes: a destituição do presidente interino, a defesa dos direitos sociais e o direito de o povo decidir os rumos do país.
“A primeira é o Fora Temer, porque nós consideramos que esse governo é ilegítimo. [A segunda frente] é também em defesa dos nossos direitos que estão ameaçados com o programa do golpe, programa de regressão social no país, reforma da Previdência, reforma trabalhista, desmonte dos programas sociais, desmonte do SUS [Sistema Único de Saúde]. [A terceira] é que povo deve decidir. Um dos pontos desse ato é que o Congresso não tem autoridade, não tem credibilidade para definir os rumos do país, para definir a saída política para essa crise, então entendemos que o povo deve ser chamado a decidir”, declarou Boulos.
Sobre um eventual plebiscito, Boulos disse que essa seria uma alternativa, não apenas para a questão do impeachment, mas para impulsionar a reforma política. De acordo com integrantes da Frente Povo Sem Medo, uma profunda reforma política é necessária porque o sistema político brasileiro faliu e perdeu qualquer vínculo de representação efetiva com a maior parte da sociedade.
Os movimentos defendem o que chamam de radicalização da democracia, por meio do enfrentamento do poder econômico nas eleições e na construção de mecanismos de maior participação popular na política. Os ativistas reivindicam ainda uma reforma tributária, com taxação de grandes fortunas, no lugar da reforma da Previdência; e as reformas urbana e agrária, em vez da reforma trabalhista. Para eles, essas medidas vão contemplar a maioria do povo brasileiro.
Políticos presentes
Os deputados federais Luiza Erundina e Ivan Valente, do PSOL-SP, compareceram ao ato. “Eu lutei como muitos que aqui estão contra a ditadura militar. Fomos expulsas do Nordeste porque defendíamos a reforma agrária e a democracia”, discursou Erundina do alto do carro de som. Ela chamou a população a ir às ruas defender a democracia e pedir a saída de Temer.
Também presente ao ato, o ex-senador Eduardo Suplicy defendeu a presidenta afastada Dilma Rousseff, dizendo que ela não cometeu crime de responsabilidade. Ele acrescentou que, se estivesse no Senado atualmente, votaria contra o impeachment e aconselhou os atuais senadores a votar contra o afastamento definitivo da presidenta.
Segundo Boulos, 40 mil pessoas participavam do ato às 16h15. No ato, havia bandeiras de diversas entidades, como Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, União da Juventude Socialista, Central Única dos Trabalhadores, União Nacional dos Estudantes, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Em todo o país, movimentos favoráveis e contrários ao impeachment de Dilma Rousseff promoveram manifestações neste domingo.

Gilmar Mendes, também conhecido como Gilmar pró-golpe, pró-Daniel Dantas, pró-Roger Abdelmassih, pró-Aécio, cai no grampo da Polícia Federal

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Gravação registra diálogo entre o ministro do Supremo Tribunal Federal e o ex-governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, do PMDB, que havia sido implicado na Operação Ararath, da Polícia Federal; Barbosa chegou a ser detido pela Polícia Federal porque tinha porte de arma vencido;  "E é com isso que fizeram a busca e apreensão aqui em casa", disse o então governador; "Que absurdo! Eu vou lá. Depois, se for o caso, a gente conversa", disse Gilmar, que prometeu procurar o ministro Dias Toffoli, que havia autorizado a batida policial; assim como o ministro do STF, outro que caiu no grampo da PF foi o próprio ministro José Eduardo Cardozo, que também ligou para Silval Barbosa (leia mais, do 247, clicando aqui).

Veto dos EUA a visto para Jucá é humilhação para Temer e Serra

"Bandido de estimação brasileiro fica de fora"... Portanto, além de Jucá, #FORATEMER !


jucavisto
Por Fernando Brito, em O Tijolaço:
Imagine se o Brasil negar visto de entrada para um senador dos EUA que está sendo investigado, mas sem condenação…Ou se sugerisse que faria o mesmo como o próprio Presidente do Senado norte-americano?
O “grande irmão do Norte” estaria em pé de guerra, chamando de volta embaixador e fazendo os mais vigorosos protestos. A fila de vistos para brasileiros teria parado, em unzinho mais…
Agora leia a notícia dada em  O Globo por Jorge Bastos Moreno – intimíssimo do Governo de Michel Temer –  de que os EUA negaram visto para o senador Romero Jucá, até poucos dias atrás poderoso Ministro do Planejamento  e até agora integrante do núcleo do Governo é uma bofetada na cara do governo de usurpação. Do próprio presidente e de seu chanceler, José Serra.
Pessoalmente, acho que Jucá só deve ter visto de entrada em estabelecimentos prisionais, mas isso não é uma questão de opinião: ele não está condenado por coisa alguma e um governo estrangeiro não pode bloquear a entrada de um senador de “país amigo” (e, agora, com  Serra, “amiguinho”).
Vamos ver agora como age a turma que “fala grosso com índio e fala fino com cowboy” age.
Voltaram os tempos em que tirávamos os sapatos para entrar na Casa Grande.

sábado, 30 de julho de 2016

Quem desmoraliza a justiça brasileira é a própria justiça brasileira e não Lula

Moro cercado da Globo: uma vergonha
Moro cercado da Globo: uma vergonha

Texto de Paulo Nogueira

Quem desmoraliza a justiça brasileira é a própria justiça brasileira.


Ou, para sair do plano impessoal: são os juízes brasileiros.


Não adianta fingir indignação com Lula por recorrer a um tribunal internacional. É mais decente olhar para o espelho e dizer: “Onde foi que erramos? Que podemos fazer para recuperar a dignidade perdida?”


São absurdos de todos os lados. Materiais, por exemplo. Privilégios, mordomias em doses copiosas. Nenhum respeito pelo dinheiro público. Quem não se lembra dos 90 mil reais que Joaquim Barbosa queimou para reformar os quatro, repito, quatro banheiros do seu apartamento funcional?


Isto, em si, conta uma história.


Passemos agora para o plano do comportamento. Em que sociedade minimamente avançada você vai ver um juiz tão descaradamente ativista de direita como Gilmar Mendes?


Gilmar Mendes chegou a ser flagrado num telefonema com Bonner para combinar uma pauta do JN. É uma coisa de um primitivismo brutal: não evidencia apenas a falta de ética da justiça mas, também, da imprensa.


A desenfreada militância política de Gilmar Mendes jamais foi objeto de um único editorial reprovador. Claro, mídia e justiça são aliados. Mas a ausência de fiscalização da imprensa não elimina o mal que Gilmar faz à imagem da justiça. Não põe sequer para baixo do tapete.


Consideremos Teori Zavascki, do STF. Ele demorou cinco meses para tomar providências sobre o gângster Eduardo Cunha. Teori tinha em mãos um documento que detalhava os crimes de Cunha, e mesmo assim deixou que este comandasse, absoluto, o processo de impeachment. Fico pensando como os historiadores do futuro explicarão a lentidão patológica de Teori.


E chegamos agora a Moro.


É um horror — não existe outra palavra — que Moro se deixe fotografar ao lado de João Dória, dos irmãos Marinhos, do autor de um livro de um jornalista da Globo que o glorifica e arrasa Lula.


É o triunfo do despudor. Você está dizendo qual é o seu lado, o que num juiz é intolerável.


De novo: as consequências para a reputação da justiça são monstruosamente negativas. É um ato de autodesmoralização fulminante. É algo que é aplaudido por fanáticos antipetistas e incentivado pela mídia plutocrata.


Mas de novo: nada disso altera o absurdo da situação.


E as parcerias de Moro e Lava Jato com Globo, Folha etc nas operações circenses que miravam invariavelmente o PT?


Em suma.


Você tem que se dar ao respeito antes que possa exigir que os outros o respeitem.


A justiça não se dá ao respeito.


É dentro desse quadro que Lula recorreu à ONU — com inteiro, total, monumental acerto.

Paulo Nogueira

No DCM

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Efeitos perversos da neoliberal "salvação" do país, por Juremir Machado

"Pobres dos velhinhos aposentados, coitados dos jovens, que pena dos brasileiros próximos da aposentadoria, acreditaram que o maior problema do país era a corrupção e que os novos donos do poder trariam honestidade, transparência e progresso. Sabem agora que eles não querem novas eleições por uma simples razão: nas urnas, não obteriam votos para implantar reformas que assaltam direitos adquiridos, saqueiam a plebe e enchem de alegria e ganhos os donos dos camarotes nacionais. O remédio, além de amargo, tem efeitos colaterais nefastos. Mata o pobre para engordar o rico. É macabro."



Texto de Juremir Machado

A ideia era boa. Combater a corrupção. Eles se vestiram de verde e amarelo e foram às ruas. Eram homens e mulheres de meia idade com alguns anos de trabalho pela frente. Eram senhoras e senhores aposentados. Eram jovens preocupados com o futuro. A causa era tão urgente que, para tirar os corruptos do governo, aceitaram colocar no lugar deles gente de reputação duvidosa, mas que lhes parecia menos pior. Panelas bateram. Manifestações multiplicaram-se. Parques, antes reservados ao lazer das elites, viraram palcos de ação política.


O governo corrupto caiu. Os ex-aliados dos depostos assumiram as rédeas do país. Para deslumbramento do chamado mercado, anunciaram o que pretendem fazer: reforma da previdência, desmontagem da legislação trabalhista e reformulação dos programas sociais. O cinquentão de camisa da CBF que lutou contra a corrupção do antigo governo e que aceitou o pretexto para o impeachment como suficiente descobre a sua nova realidade: em lugar de se aposentar dentro de quatro ou cinco anos, terá de trabalhar, na melhor das hipóteses, mais 40% além do tempo previsto, ou, na hipótese intermediária, até 65 anos de idade, ou, ainda, quem sabe, até 70 anos de sua vidinha.


O aposentado, que se sentiu de volta à ativa enrolado na bandeira nacional, recebe o seu quinhão: o reajuste das aposentadorias será desvinculado do aumento do salário mínimo. O seu ganho, depois de ter trabalhado muito, vai minguar mais a cada ano. Além disso, rubricas com porcentagem de gastos obrigatórios no orçamento federal, como educação e saúde, perderão esse caráter impositivo. Jovens e aposentados viverão o mesmo drama na hora da maior necessidade: o Estado poderá gastar menos em educação e em saúde. O cenário de horror é apresentado como o portal do paraíso.


O trabalhador que só queria um país mais honesto fica sabendo que alguns pensam em fazê-lo trabalhar 60 ou 80 horas semanais até que complete 70 anos de vida. O plano inclui “flexibilização” da jornada diária de trabalho e dos salários: leia-se, trabalhar mais e ganhar menos. O negociado deve prevalecer sobre o legislado. Traduzindo, a lei não vale mais. Os ricos riem sozinhos. A mídia mancheteia: país dá sinais de recuperação. FMI fala em crescimento. Programas como Ciência sem Fronteiras dispensam alunos de graduação.


Pobres dos velhinhos aposentados, coitados dos jovens, que pena dos brasileiros próximos da aposentadoria, acreditaram que o maior problema do país era a corrupção e que os novos donos do poder trariam honestidade, transparência e progresso. Sabem agora que eles não querem novas eleições por uma simples razão: nas urnas, não obteriam votos para implantar reformas que assaltam direitos adquiridos, saqueiam a plebe e enchem de alegria e ganhos os donos dos camarotes nacionais. O remédio, além de amargo, tem efeitos colaterais nefastos. Mata o pobre para engordar o rico. É macabro.


O ódio da "grande mídia" nacional aos blogs, à democracia e o retorno à Ditadura, pelo Professor Bajonas Teixeira de Brito Junior

Mídia pós-golpe não aceita ser contrariada, transforma notícia em ficção e regride mais de 30 anos



A chamada “grande mídia brasileira”, que está cada dia menor, usa a força de seu imenso aparato empresarial para manipular notícias e informações e transformar os fatos em pura ficção. E não é a ficção de Marcel Proust nem a de Thomas Mann, mas a das novelas insípidas da Globo.


O único senão que resta contra o totalitarismo da mídia é a má vontade dos blogs. Sem eles, sem a contradição e sem a exposição da mídia golpista ao ridículo, o mundo seria perfeito. Por isso, o sentimento de ódio e os ataques frequentes que a grande mídia dirige aos blogs.


Vive num mundo de fantasia quem acredita que a mídia não vai transformar seu ódio em guerra de extermínio contra os blogs. Por enquanto, assistimos a uma guerra de desgaste, de atrito, mas isso não vai durar para sempre.


Ainda que a mentira não seja fato novo na mídia, a falta de compromisso com a verdade ultimamente chegou à quintessência do desplante. Retornamos ao período pré-Nova República, aquela época (1984) em que a Globo anunciava no Jornal Nacional que o comício pelas Diretas Já na Praça da Sé, que reuniu 300 mil pessoas, era um evento de comemoração dos 430 anos da cidade de São Paulo.


A Folha de São Paulo, por sua vez, esquecendo sua tentativa de passar uma borracha no passado sinistro e se penitenciar de sua colaboração com a Ditadura, mea culpa que a levou a dar início a um projeto de jornalismo imparcial e equilibrado há 40 anos — mas que não durou tanto, é claro — mergulha novamente em práticas manipulatórias abaixo da linha da decência jornalística.


Enfim, a mídia brasileira regride voltando ao status quo ante, ou seja, à situação pré-Nova República, o que significa tornar-se, nada mais nada menos, que uma mídia de Ditadura. É o que temos hoje.


Um exemplo bem recente, e muito comentado, foi o da manipulação de dados de pesquisa do DataFolha sobre o apoio do eleitorado à figura de Michel Temer. Esse fato, que denuncia a total irresponsabilidade da mídia, agindo como se seus interesses justificassem qualquer distorção, já foi bastante discutido e me contento em remeter o leitor ao segundo artigo de Glenn Greenwald sobre o assunto.


Já que não podemos citar todos, porque são muitos, vejamos quatro exemplos da atual virada da mídia:


Para colaborar no esforço da Globo de promover um clima de ameaça terrorista, reforçando a iniciativa do governo Temer, através do seu ministro de Justiça, de prender um grupo de simpatizantes úteis na véspera das Olimpíadas, o ex-atleta e comentarista Tande recitou o script ditado pela emissora. No quadro que dividiu com Hortência, ex-rainha do basquete, Tande confidenciou que um dos momentos que marcou a sua história foi o atentado nas Olimpíadas de Munique, quando um comando palestino invadiu as instalações, sequestrou e matou diversos atletas israelenses (1972).


É provável que esse trágico acontecimento tenha sido lembrado pela produção do programa depois do episódio ocorrido no dia 22 na mesma Munique, quando um atirador matou 9 antes de cometer suicídio. De fato, são situações nefastas que nunca deveriam ter ocorrido. Involuntariamente, porém, ao fazer sua declaração, que tudo leva a crer nem foi imaginada por ele, o ex-jogador trouxe uma nota cômica. O fato é que o episódio aconteceu em setembro de 1972 e Tande nasceu em março de 1970. Portanto, ele tinha pouco mais de dois anos na ocasião.


É pouco provável que o pequeno Tande, embora a precocidade não possa ser descartada, desse alguma atenção à política internacional naquele período. Não fosse o crescente distanciamento do público (que nem notou) dos critérios de realidade, esse teria seria eleito um dos grandes micos da mídia nos últimos tempos. A cegueira do público (de direita e de esquerda) mostra a atual hipnose coletiva com a aproximação do evento.


Na mesma linha, a home do G1, embalando a atmosfera de terror, deu em letras garrafais a fuga de dois suspeitos de terrorismo para o exterior (22/07). Poderia haver prova mais contundente de que a ameaça terrorista era real do que dois envolvidos fugindo?


Dois suspeitos fogem


O link, contudo, aponta para uma matéria da rádio CBN em que não se encontra uma gota de verdade. Sem qualquer fonte, a matéria afirma com toda segurança informações que logo depois vão ser desmentidas, e cuja única função foi atuar como um factoide coadjuvante para criar a sensação de plausibilidade para as prisões arbitrárias (Vale ler o texto e depois ouvir o áudio, que chega a fazer acusações à mulher de um dos presos envolvendo-a na trama como a pessoa que teria dado o sinal para a fuga dos dois terroristas):


CBN - suspeitos fogem para o Paraguai


Outro episódio interessante, na mesma linha, apareceu na home da Folha-UOL, na qual se estampou uma chamada destinada, ao que parece, a amenizar as críticas que estão vindo à tona (junto com água, fios elétricos, esgoto, e outras impurezas da política brasileira) com os primeiros hospedes que chegam à Vila Olímpica.


O número de problemas de acabamento e defeitos registrados é tão grande que choca as delegações que se aventuram. No afã de amaciar para o governo Temer, uma chamada insistentemente grudada na home do UOL ontem (27/07) nos informava que haveria coisa pior pelo mundo:


Brasileiro já viu coisa pior


Embora não seja coisa agradável de ouvir quando alguém tenta disfarçar a imundície de uma residência, ou de uma Vila, com a alegada menção ao suposto desleixo (“situação pior”) do vizinho, o fato é que até isso na matéria é falso. Lendo a matéria, constatamos que o  halterofilista brasileiro Fernando Reis, em entrevista na terça-feira (26) na Vila Olímpica, disse coisa diferente:


“Já competi em inúmeros eventos nos Estados Unidos e na Europa e nem sempre as condições são as melhores”, emendou, em entrevista na tarde desta terça na Vila.


Uma coisa é ter visto “coisa pior”, outra muito diferente é dizer que “nem sempre as condições são as melhores”. Mas o mais interessante é que o título da matéria insiste em não ser fiel ao que o atleta disse: Atleta brasileiro defende Vila e diz que já competiu em condições piores no exterior. Essa insensibilidade à contradição, ou esse desprezo pela verdade, parece agir na crença de que a mídia tornou-se tão forte, que os títulos viraram palavras mágicas, bastando pronunciá-los para criar um real que se encaixaria perfeitamente no desejo dos patrões.


E não foi isso que a mídia fez no período que antecedeu ao golpe? A mídia dizia “fiat lux”, e fazia-se a luz. Pedia chuva, e chovia. A realidade, formada pela multidão de zumbis, se tornou cada vez mais dócil e amestrada. Não é à-toa, portanto, que o ódio aos blogs cresce diariamente na grande mídia. Eles são o grande obstáculo ao fascínio e à mágica da mídia.


Enfim, parece que chegamos a uma nova situação, em que a mídia está convencida de que bastam suas palavras para que a realidade brote, ofertando suas flores e frutos, não precisando senão que um apresentador, um repórter ou jornalista, as pronuncie. Estamos vivendo a era não do Anti-Cristo, mas do Anti-Nietzsche, já que em vez do crepúsculo dos deuses presenciamos a ascensão de uma nova divindade, a Mídia.


A Mídia divinizada logo ressuscitará os antigos códigos canônicos, aqueles que justificaram as atrocidades da Inquisição, e cobrará do judiciário a imolação dos novos infiéis, os blogs. Como a Globo, do alto do seu poder, tentou bloquear o aumento do Judiciário dizendo que era esquizofrenia temerária, pode ser que o assunto não prospere. É aguardar para ver.


Bajonas Teixeira de Brito Júnior – doutor em filosofia, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas, e professor do departamento de comunicação social da UFES

Rio 2016: com o Golpe no Brasil e as ações dos imperialismo americano, a Guerra Fria volta aos Jogos Olímpicos, artigo de Andrey Fomin

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Boa parte da delegação russa está prestes a ser excluída dos Jogos Olímpicos. Conheça a trama que deu origem a esta punição e suas circunstâncias e personagens muito suspeitos
Por Andrey Fomin, no Oriental Review | Tradução: Vila Vudu - Fonte: Outras Palavras
O 6º Princípio Fundamental do Olimpismo (nenhuma discriminação de qualquer tipo, incluídas por nacionalidade ou opinião política) parece já ter sido esquecido há muito tempo. Na Grécia Antiga, a competição entre os melhores atletas fazia parar guerras e servia como ponte de compreensão até entre inimigos recentes. Mas no século 20, os Jogos Olímpicos foram convertidos em arma política.
Nos anos 1980, os EUA e aliados boicotaram os jogos de Moscou como protesto contra tropas soviéticas que entraram no Afeganistão a pedido do governo legítimo daquele país (bem diferente disso, osJogos Olímpicos de 1936 na Alemanha Nazista, com Hitler no palanque, foram realizados sem qualquer percalço, sob os aplausos do mundo “civilizado”).
Em 8/5/2016, o programa 60 Minutes da rede CBS levou ao ar uma matéria sobre dopagem na Rússia. As entrevistas eram conversações gravadas entre um ex-funcionário da Russian Anti-Doping Agency (Rusada) [Agência Russa Antidopagem], Vitaly Stepanov, e o ex-diretor do laboratório antidopagem da Rússia em Moscou, Grigory Rodchenkov. Foi o quarto programa do que seria uma longa sériesobre a alegada existência de um sistema de apoio “estatal” à dopagem, nos esportes russos.
Poucos dias depois, o New York Times publicou uma entrevista com Rodchenkov. Na entrevista, aquele ex-funcionário disse que teria havido, ativo nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014, um programa de dopagem apoiado pelo Estado russo, que seria orientado quase diretamente pelo presidente da Rússia.
Fato importante, mas que não chamou a atenção da grande maioria dos “analistas” internacionais foi que aquela campanha “jornalística”, que começara pouco depois do extra-congelamento nas relações russo-ocidentais de 2014, foi integralmente construída em torno de “depoimentos” de apenas três cidadãos russos, interconectados e cúmplices numa cadeia de escândalos de dopagem – e que pouco depois deixaram a Rússia para recomeçar a vida no Ocidente.
Uma corredora de meia-distância, de 29 anos, Yulia Stepanova, pode ser considerada a instigadora de todo o escândalo. O melhor resultado pessoal dessa atleta em competições globais fora uma medalha de bronze no Campeonato de Atletismo Europeu Indoor em 2011. No Campeonato Mundial daquele mesmo ano, obteve a 8ª colocação. A carreira de Stepanova saiu completamente dos trilhos em 2013, quando a Comissão Antidopagem da Federação Russa de Atletismo desqualificou-a por dois anos, por haver constatado “flutuações no sangue, no Passaporte Atlético Biológico da corredora”. Essas flutuações são consideradas prova de dopagem. Todos os resultados de Stepanova desde 2011 foram invalidados. E ela teve de devolver o dinheiro dos prêmios que recebera como corredora profissional nos anos 2011-2012.
Stepanova, que sofrera suspensão por dopagem, foi a informante primária do jornalista da ARD[1] Hajo Seppelt, que começara a filmar um documentário sobre conduta desviante e crime nos esportes russos. Depois de divulgado o primeiro documentário da ARD, em dezembro de 2014, Stepanova deixou a Rússia com o marido e o filho. Em 2015, solicitou asilo político no Canadá. Mesmo depois de sua suspensão já ter acabado em 2015, Stepanova disse à Comissão da World Anti-Doping Agency (WADA) (p.142 do relatório Nov. 2015 WADA Report) que testara positivo para dopagem durante o campeonato russo de atletismo em Saransk em julho de 2010, e pagara 30 mil rublos (aproximadamente US$1.000 à época) ao diretor do laboratório russo antidopagem em Moscou, Gregory Rodchenkov, em troca de ele ocultar aqueles resultados de testes.
9ddace3b6715832d3d03e370a879bf3a-300x199Yulia Stepanova é casada com Vitaly Stepanov, ex-funcionário da agência russa antidopagem,Rusada. Stepanov viveu e estudou nos EUA desde os 15 anos, mas mais tarde decidiu retornar à Rússia. Em 2008, Vitaly Stepanov começou a trabalhar para a Rusada como controlador de dopagem. Vitaly conheceu Yulia Rusanova em 2009 no campeonato nacional russo em Cheboksary. Stepanov diz agora que enviou uma carta à WADAdetalhando suas revelações em 2010, mas jamais recebeu resposta. Em 2011, Stepanov deixou o cargo que tinha na agência Rusada. Fato que merece atenção é que Vitaly confessou que sabia que a esposa ingeria substâncias proibidas, tanto enquanto ele ainda trabalhava para aRusada como depois que deixou aquela organização. Vale lembrar que os testes de sangue de Stepanova passaram a ter resultados positivos a partir de 2011 – isto é, depois que o marido, funcionário especialista em antidopagem, deixou a Rusada. Sem preocupações, os Stepanovs, então já casados, aceitaram prêmios em dinheiro, em competições profissionais, até que Yulia foi desqualificada. Daí em diante, sem qualquer outra fonte de renda, Vitaly Stepanov optou por procurar jornalistas estrangeiros para revelar “a verdade sobre os esportes russos”. No início de junho, admitiu que a WADA não só ajudara sua família a mudar-se para os EUA, como também lhe pagara US$30 mil, como ajuda financeira.
E finalmente, a terceira figura na campanha para “revelar]’ o escândalo da dopagem nos esportes russos – o ex-chefe do laboratório russo antidopagem em Moscou, Gregory Rodchenkov. Segundo Vitaly Stepanov, seria ele o homem que vendia drogas para melhorar o desempenho, ajudava a ocultar os sinais dessas mesmas drogas, e foi quem surgiu com a ideia conhecida como “doped Chivas mouth swishing” (pg. 50) [aprox. “bochechar com (uísque) Chivas dopado, sem engolir”], técnica que transforma homens em campeões olímpicos. Esse moscovita de 57 anos é conhecido como o melhor no que faz. Formou-se na Universidade Estatal de Moscou com um Ph.D.em química e passou a trabalhar no laboratório antidopagem em Moscou nos idos de 1985. Adiante trabalhou no Canadá e em empresas petroquímicas russas, e em 2005 foi nomeado diretor do laboratório nacional russo antidopagem.
Em 2013, Marina Rodchenkova – irmã de Gregory Rodchenkov – foi considerada culpada e condenada por vender esteroides anabólicos a atletas. O irmão também estava sob investigação, acusado de fornecer drogas proibidas. Ameaçado de processo, Gregory Rodchenkov começou a agir de modo estranho e foi várias vezes hospitalizado e submetido “a exames por psiquiatra forense”. Adiante a corte recebeu comunicado médico segundo o qual Rodchenkov sofreria de “desordem esquizotípica de personalidade” exacerbada por estresse. Resultado disso, todas as acusações contra Rodchenkov foram retiradas. Mas, muito surpreendentemente, esse homem diagnosticado como portador de desordem esquizotípica de personalidade, cuja irmã fora condenada por tráfico de drogas para turbinar o desempenho atlético, continuou no cargo de diretor do único laboratório credenciado para operar na pela Associação Mundial Anti-Dopagem, WADA!
Na verdade, Rodchenkov manteve o emprego até os Jogos Olímpicos de Sochi, de 2014. Só foi demitido no outono de 2015, depois que eclodiu o escândalo insuflado pela rede alemã ARD e os Stepanovs. Em setembro de 2015, a WADA acusou Rodchenkov de destruir intencionalmente mais de mil amostras, para esconder a dopagem em atletas russos. Pessoalmente, ele negou todas as acusações, mas renunciou e mudou-se para os EUA, onde foi recebido calorosamente pelo documentarista Bryan Fogel, que então filmava mais um documentário “sob medida” sobre dopagem na Rússia.
No momento em que escrevo esse artigo, o Comitê Olímpico Internacional examina um relatório assinado por “fonte independente”, o professor canadense Richard H. McLaren, que acusou toda a Federação Russa, não apenas atletas individuais, de cumplicidade no uso de drogas para otimizar o desempenho. McLaren foi rapidamente convocado para conversar com a WADA, depois que o NYTpublicou entrevista com Rodchenkov.
Prof. Richard H. McLaren
Prof. Richard H. McLaren
O objetivo desses movimentos é bem claro: armar um “relatório científico” a ser distribuído em meados de julho, que dará “provas”, ao IOC para banir a equipe russa dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Em conferência de imprensa dia 18/7, o próprio McLaren teve dereconhecer que no prazo de apenas 57 dias, não conseguiria “identificar todos os atletas que possam ter-se beneficiado da manipulação para esconder resultados positivos em testes de dopagem”. A lógica da Associação Mundial Antidopagem [ing.WADA] é aqui bem clara: é indispensável que a associação afaste dela qualquer acusação de viés, antiprofissionalismo, mascaramento de fatos, manipulação de resultados e/ou viés político antiesportivo e antiolímpico. Não importa quantas distorções ou mentiras haja no “relatório”: sempre será relatório assinado por “especialista independente”. Ponto final. Mas McLaren nem tenta ocultar que todo o “relatório” é baseado no testemunho de uma única pessoa – o próprio Rodchenkov, repetidas vezes apresentado como fonte “confiável, com total credibilidade”.
E Rodchenkov, claro, acusado pela própria Associação Mundial Antidopagem de ter destruído 1.417 testes, e que está ameaçado de ser deportado para a Rússia para ser julgado por crimes associados à dopagem de atletas, viu ali uma oportunidade para se converter em “testemunha valiosa” e “prisioneiro de consciência”, mais um infeliz perseguido pelo “regime totalitário de Putin na Rússia”.
O privilégio de que goza essa “comissão independente” – sobre cujo relatório o Comitê Olímpico Internacional está decidindo o destino dos atletas russos aspirantes ao título olímpico nos Jogos Rio-2016 – está em que as acusações que ali se veem não serão examinadas pela justiça, nem as “provas” podem ser contestadas por advogados de defesa. Sequer se assegura ali a tradicional centenária presunção de inocência até a conclusão do processo.
Pelo que já se conhece das declarações do professor McLaren, não haverá acusação formal contra nenhum atleta russo específico. Importante: os atletas podem competir, desde que se declarem “independentes”, vale dizer, como não representantes da Rússia nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Tudo aí é facilmente explicável, até a “seletividade”.
Professor de Direito e há muito tempo membro da Corte de Arbitragem Esportiva, o professor McClaren sabe bem que qualquer acusação direta a indivíduos, feita publicamente e que resulte em “ato significativo perante a lei” (como o impedimento de participar de Jogos Olímpicos) pode ser e com certeza será contestada nos tribunais, nos termos da lei internacional e considerada a presunção de inocência. Todas as provas que a acusação use serão contestadas legalmente e, se houver nas acusações qualquer fato que possa ser interpretado a favor do acusado, a Corte tem de excluir o tal fato e os Procuradores de Justiça ficam impedidos de considerá-lo.
McLaren é advogado e compreende tudo isso muito bem. Centenas de processos iniciados por atletas e que certamente resultarão em condenação dos “especialistas” não apenas destruiriam sua reputação e o arruinariam profissionalmente, como, além disso, serviriam de base para uma investigação criminal mais do que bem servida de provas, que levaria a acusação contra o próprio McLaren de ter intencionalmente distorcido alguns fatos, que segundo seu ponto de vista podem ser expostos como se segue:
Durante os Jogos Olímpicos de Sochi, um agente do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa [ru. FSB] de nome Evgeny Blokhin teria trocado a urina de atletas russos que teriam tido resultado positivo para dopagem, por amostras de urina “limpa”. Esse agente portaria um crachá de uma empresa de manutenção de encanamentos, que lhe permitiria entrar no laboratório. Além disso, há relatos de que Evgeny Kurdyatsev – chefe do Departamento de Registro e Controle de Amostras Biológicas – trocaria as amostras durante a noite, através de um “buraco de rato” na parede (!). No prédio ao lado, estavam o homem que agora dá “testemunho confiável” – Gregory Rodchenkov – e outros não identificados, que passavam para Blokhin novas amostras ‘limpas’ a serem usadas para substituir as amostras originais. Se a gravidade específica da urina limpa não coincidisse com o perfil original, era “adaptada” com sal de mesa ou água destilada. Claro que em todos os casos, o DNA era incompatível. E tudo isso acontecia no único laboratório credenciado pela WADA para fazer testes de antidopagem em toda a Rússia!
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Como uma trama desse tipo seria apresentada em qualquer tribunal do mundo? Temos testemunhas, mas a defesa não pode interrogá-las? Não podemos provar que Blokhin é agente secreto, mas temos fé de que sim, é? Não temos nenhum documento original – uma foto, uma declaração assinada de interrogatório oficial de testemunhas – mas o homem nos confessou seu crime? Nada garante que não seja criminoso ele também, mas…?! Nenhum perito jamais examinou os e-mails que Rodchenkov nos trouxe, mas temos fé que, sim, eram genuínos, que todos os fatos estão ali corretamente narrados e que os nomes dos que teriam enviado as mensagens, sim, estão corretos e perfeitos?! Em outras palavras: Sim. Não há como acusar atletas limpos… Então acusamos e condenamos o governo do país cujo nome apareça escrito nas camisetas de atletas limpos?! Simples assim?
Falando bem sinceramente, ainda não estamos convencidos de que o movimento Olímpico teria caído tanto. Seria como dar adeus à reputação da Associação Mundial de Antidopagem, WADA, do Comitê Olímpico Internacional e a todo o sistema global de esportes. É possível que o colossal problema da dopagem de atletas já tenha ultrapassado todos os limites razoáveis e exija solução drástica e imediata. Mas de onde tiraram que essa solução tenha de ser encontrada num único país, mesmo que seja um grande país, como a Rússia?
Não seria mais racional parar e examinar a história de muitos e muitos volumes impressos de escândalos de dopagem em todos os países do mundo? E, diante dos fatos que agora estão vindo à luz, não seria mais racional começar por investigar a própria Associação Mundial de Antidopagem, WADA e seus laboratórios credenciados em todo o mundo?
Para concluir, citamos abaixo a íntegra da tradução da declaração do Comitê Olímpico Russo, em resposta ao relatório da WADA:
“As acusações contra esportistas russos que se leem no relatório assinado por Richard McLaren são tão graves, que exigem investigação completa, com a participação de todos os citados e envolvidos e referidos.
O Comitê Olímpico Russo tem política de tolerância zero e apoia a luta contra todos os tipos de dopagem. Estamos preparados para oferecer total colaboração e para trabalhar juntos, se necessário, com qualquer organização internacional.
Discordamos total e completamente da ideia introduzida pelo Sr. McLaren, para quem banir centenas de atletas russos limpos, impedindo-os de participar dos Jogos Olímpicos Rio-2016, seria “consequência desagradável” aceitável das acusações reunidas no relatório daquele professor.
As acusações vêm baseadas exclusivamente no que disse Grigory Rodchenkov. Vêm baseadas no testemunho de alguém que está no epicentro do mesmo esquema criminoso – o que atinge não só a carreira e o destino de muitos atletas limpos, mas também a integridade de todo o movimento Olímpico internacional.
A Rússia sempre lutou contra a dopagem e continuará a lutar com todo o empenho no plano do Estado, endurecendo as penas por qualquer atividade ilegal desse tipo, sob a prescrição de punição inevitável.
O Comitê Olímpico Russo apoia integralmente que se imponham as penas mais duras contra qualquer pessoa que use ou estimule ou facilite o uso de substâncias proibidas.
Ao mesmo tempo, o Comitê Olímpico Russo – agindo em plena observância da Carta Olímpica – defenderá e protegerá os direitos de atletas limpos. Atletas que ao longo das suas carreiras – graças a treino incansável, talento e força de vontade – lutam para realizar seus sonhos olímpicos não podem ter o futuro determinado por acusações insubstanciais e infundadas e por atos criminosos de vários indivíduos. Para nós, essa é uma questão de princípio.”
[1] ARD, al., Arbeitsgemeinschaft der Rundfunkanstalten Deutschlands, uma associação de emissoras de radiodifusão pública na Alemanha, conhecida como Canal 1 [NTs].