sábado, 18 de dezembro de 2010

A coerência faz a diferença



"Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo; de fato, sempre foi somente assim que o mundo mudou."

Fritjof Capra

Imprensa e Golpes



Jorge Folena

IMPRENSA E GOLPES

Como salientamos em outras oportunidades, a História registra diversos casos em que os meios de comunicação foram empregados para atacar governantes que apenas se colocaram contrários à entrega das riquezas nacionais e à exploração de seu povo.

Está na hora de aprofundarmos o debate sobre qual tipo de imprensa desejamos, pois “se você ler o jornal com atenção todos os dias, só há notícias ruins, pouca esperança, e você tem vontade de cometer um suicídio por dia, se isso fosse possível.” (Oliver Stone, cineasta americano, Revista Versus, n.º 5 – agosto de 2010, p.15).

Em todo o mundo tem se disseminado a “invasão” de grupos multinacionais de especulação financeira, que controlam os veículos de comunicação, sendo que um deles, no Brasil, se apresenta com o sugestivo título de “Grupo de Defesa da América.” A propósito, o que é este “grupo” e que interesses representa?

Afirmam defender a liberdade de imprensa e expressão, mas, na prática, seus veículos raramente analisam com profundidade o conteúdo do fato e, muitas vezes, não divulgam a correta informação, praticando uma censura branca.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Psicologia Sistêmica

Carlos Antonio Fragoso Guimarães


Teorias Organísmicas da Personalidade Humana

Desde que René Descartes estabeleceu seu método de análise como um instrumento cientificamente eficaz no estudo dos fenômenos físicos e humanos, exaltando o reducionismo e as relações causais entre as partes que constituem um todo complexo, no século XVII, e postulou uma divisão estrita entre corpo e mente - ou entre a res extensa e a res cogitans -, que as diversas disciplinas acadêmicas tentam se adaptar a um esquema cartesiano de explicação dos diversos fenômenos a que se dedicam. Assim sendo, na esteira da tradição biomédica, a Psicologia foi, desde Wundt, moldada como uma disciplina voltada para a análise do comportamento humano de acordo com preceitos academicamente aceitos de reducionismo e mecanicismo. Tal bagagem referencial vem dificultando o entendimento das relações complementares e a maneira como a mente e o corpo interagem.

Wundt, que é considerado o pai da Psicologia experimental moderna, seguindo a tradição empírica tão cara ao século XIX - tradição esta que advém dos enormes sucessos da Física Clássica de Issac Newton, que, por seu turno, foi precedida pela preparação de uma filosofia racionalista apropriada e em grande parte desenvolvida por René Descartes - estabeleceu uma orientação atômica ou elementarista dos processos mentais, a qual sustentava que todo o funcionamento do nosso psiquismo poderia ser analisado em elementos básicos, elementares e indivisíveis ( como os átomos elementares e indivisíveis que constituiriam o universo mecânico imaginado por Newton), e que seriam os tijolos constituintes das nossas sensações, sentimentos, memória, etc. Esta abordagem reducionista e mecanicista, muito simplória para dar conta de toda a imensa e complexa riqueza do psiquismo humano, logo suscitaram uma forte oposição entre muitos psicólogos e filósofos europeus, que não aceitavam a natureza extremamente fragmentária da psicologia de Wundt. Estes críticos europeus enfatizavam uma compreensão unitária entre a cônsciência e a percepção, e, em parte, de sua interelação com o organismo como um todo. Esta pioneira abordagem holística em Psicologia deu origem a uma importante escola na Alemanha: a Gestalt.


A Psicologia da Gestalt
Formulada entre fins do século passado e início do nosso século, a Psicologia dos Padrões de Totalidade ou de Totalidades Significativas (Gestalten, em alemão) surgiu como um protesto contra a tentativa de se compreender a experiência psíquico-emocional através de uma análise atomística-mecanicista tal como era proposto por Wundt - análise esta no qual os elementos de uma experiência são reduzidos aos seus componentes mais simples, sendo que cada um destes componentes são peças estudadas sioladamente dos outros, ou seja, a experiência é entendida como a soma das propriedades das partes que a constituiriam, assim como um relógio é constituído de peças isoladas. A principal caraterística da abordagem mecanicista é, pois, a de que a totalidade pode ser entendida a partir das características de suas partes constituivas. Porém, para os psicólogos da Gestalt, a totalidade possui características muito particulares que vão muito além da mera soma de suas partes constitutivas. Como exemplo, poderíamos tomar uma fotografia de jornal é que constituída por inúmeros pontinhos negros espalhados numa área da folha de jornal. Nenhum desses pontinhos, isoladamente, pode nos dizer coisa alguma sobre a fotografia. Apenas quando tomamos a totalidade da figura, é que percebemos a sua significação. A própria palavra Gestalt significa uma disposição ou configuração de partes que, juntas, constituem um novo sistema, um todo significativo. Sendo assim, o princípio fundamental da abordagem gestáltica é a de que as partes nunca podem proporcionar uma real compreensão do todo, que emerge desta configuração de interações e interdependências de partes constituintes. O todo se fragmenta em meras partes e/ou deixa de ter um significado quando é analisado ou dissecado, ou seja, deixa de ser um todo. Esta escola teve como principais expoentes Max Wertheimer, Wolfgang Kohler e Kurt Koffka. Posteriormente, Kurt Lewin elaboraria uma teoria da personalidade com base na compreensão gestáltica da totalidade significativa, onde se estipula que o comportamento do indivíduo é a resultante da configuração de elementos internos num "espaço vital", que é a totalidade da experiência vivencial do indivíduo num dado momento ( ou seja, todo o conjunto de experiências que se faz sentir num dado momento, de acordo com a percepção/interpretação do indivíduo ). Estas idéias foram, em parte, adotadas por Carl Rogers em sua teoria da personalidade, conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa já que é o cliente que dirige o andamento do processo psicoterapêutico, trazendo e vivenciando o material pessoal exposto nas sessões. Já o psicoterapeuta Frederick S. Perls desenvolveria uma corrente de psicoterapia baseada nos fundamentos da escola da gestalt, pondo em prática uma ação terapêutica voltada aos padrões vivenciais significativos do indivíduo. Esta corrente é conhecida como Gestalt-Terapia.


A Psicologia Organísmica de Kurt Goldstein
Jan Smuts, militar e estadista inglês, que se tornou uma figura importante na história da África do Sul, é frequentemente reconhecido e citado como o grande pioneiro e precursor filosófico da moderna teoria organísmica ou holística do século XX. Seu livro seminal intitulado Holism and Evolution, de 1926, exerceu uma grande influência sobre vários cientistas e pensadores, muito embora, na época de seu lançamento, tenha passado quase despercebido da elite intelectual da primeira metada do século, tendo só aos poucos ganhando seu merecido espaço nos meios acadêmicos e filosóficos, principalmente graças ao impacto que exerceu em pensadores e teóricos do porte de um Alfred Adler, famoso teórico da personalidade e discípulo dissidente de Sigmundo Freud; ou de um Adolf Meyer, psicobiólogo; ou na recente e menos mecanicista linha médica, dentro da alopatia, chamada de psicossomática, etc. Smuts cunhou o termo holismo da raiz grega holos, que significa todo, inteiro, completo. Mas as verdadeiras bases da concepção holística, ou do pensamento holístico, vêm verdadeiramente de muito antes, desde Heráclito, Pitágoras, Aristóteles e Plotino até Spinoza, Goethe, Schelling, Flammarion e Willian James (Hall e Lindzey, 1978; Crema, 1988; Guimarães, 1996).

Um dos maiores expoentes do pensamento holístico em psicologia e em psiquiatria é Kurt Goldstein. Ele formulou a sua teoria holística da psique a partir de seus estudos e observações clínicas realizados em soldados lesionados no cérebro durante a I Guerra Mundial, e de estudos sobre distúrbios de linguagem. Deste leque de observações, Goldstein chegou à conclusão (hoje mais ou menos óbvia) de que um determinado sintoma patológico não pode ser compreendido ou reduzido a uma mera lesão orgânica localizada, mas como tendo características e/ou fortes reforços ou abrandamentos do organismo como um todo, como um conjunto integrado, como um holos e não como um conjunto de partes mais ou menos independentes.

Segundo Goldstein, o corpo e a mente não podem ser vistos como entidades separadas, tais como separamos o software do hardware, pois ambos só se expressam na conjunção, na união e íntima conexão de ambos. O organismo é uma só unidade e o que ocorre em uma parte afeta o todo, como já era reconhecido pela da medicina Homeopática e pelas artes da cura não ocidentais, como na medicina chinesa, e na sabedoria das tradições populares e xamanísticas de povos ditos "primitvos" (Capra, 1986; Eliade, 1997; Guimarães, 1996).

Qualquer fenômeno, quer seja positivo ou não, se passa tanto ao nível fisiológico quanto psicológico, ou seja, se passa sempre no contexto do organismo como um todo, a menos que se tenha isolado artificialmente este contexto, como se fez nas ciências e nos meios acadêmicos desde Descartes, com as esferas da Res Cogitans, que é a esfera do mental, e da Res Extensa ou a esfera do físico, e a ramificação entre ciências naturais e ciências humanas. Ora, não existe real diferencianção (no sentido de mensuração) entre estes dois ramos. Assim, qualquer redução ou caracterização em um ou outro destes critérios (físico e mental) é um isolamento artificial e, conseqüentemente, parcial.

As leis do organismo são as leis de uma totalidade dinâmica, que harmoniza as "diferentes" partes que constituem esta totalidade. Portanto, é necessário descobrir as leis pelas quais o organimso inteiro funciona, para que se possa compreender a função de qualquer de seus componentes, e não o inverso, como se tem feito até hoje (Hall e Lindzey, 1978). É este o princípio básico da teoria organísmica ou holística em saúde, principalmente em Psicologia.

Goldstein acreditava que os sintomas patológicos eram uma interferência do meio sobre a organização do todo, ou eram, em menor grau, consequencias de anomalias internas. Mas, de qualquer forma, a tendência intrínseca ao equilibrio dinâmico poderia levar o indivíduo a se adpatar à nova realidade, desde existam os meios que sejam apropriados para isso. Assim, Goldstein via em todo o ser vivo uma tendência de auto-realização que significaria uma esforço constante para a realização das potencialidades inerentes dos seres vivos, mesmo que haja um meio ostil. É assim que, mesmo em abientes não propícios, vemos nascerem plantas que, mal grado, não consigam se desenvolver totalmente, mesmo assim teimam em nascer, mesmo que venhma a morrer ou a se atrofiarem em breve, mas a ânsia de viver é mais forte. Esta idéia de auto-realização ou de auto-atualização foi, posteriomente, adotada por teóricos vários, desde Carl Rogers até biólogos, como Maturana.

Andras Angyal e o conceito de Biosfera
Assim como Goldstein, Andras Angyal, húngaro naturalizado americano, não poderia conceber uma ciência que não fosse holística, alcançando a pessoa e a vida como um todo. Mas, ao contrário de Goldstein, Angyal não podia admitir numa distinção entre o organismo e o meio-ambiente, assim como um físico relativista não pode acreditar numa sepação rígida entre matéria e energia. Angyal afirma que organismo e meio ambiente se interpenetam de uma forma tão complexa que qualquer tentativa para separá-lo expressa uma visão mecanicista do mundo que destrói a unidade natural de todas as coisas (unidade sutil, é verdade, mas bem visível na interdependência bio-ecológica e social de todos os seres vivos), o que cria uma diferenciação artificial e patológica entre o organismo e o meio (Hall e Lindzey, 1978; Capra, 1986), o que estimula todo o tipo de crime social e ecológico que vemos em nosso século. Se, na história da humanidade, houve grandes catrofes naturais e grandes genocídios através da mão humana em nome da religião, por exempo, mesmo assim nunca se matou tanto como em nossos dias, em nome de uma concepção de mundo mecanicista- racionalista e capitalista, onde tudo foi separado de tudo, e os seres vivos são vistos como máquinas e nada mais.

Angyal criou o termo biosfera para traduzir uma concepção holística ou ecológica que compreenda o indvíduo e o meio "não como partes em interação, não como constituintes que tenham uma existência independente dos demais, como peças de um relógio, mas como aspectos de uma mesma realidade, que só podem ser separados realizando-se uma abstração" (Angyal, cit. em Hall e Lindzey, 1978, p. 43).

A biosfera, portanto, em seu sentido mais amplo seria mais ou menos como a atual conceção de Gaia, ou da Terra viva. A biosfera pode ser vista em vários níveis, inclusive no nível humano, onde um indíviduo constitui uma biosfera particular em relação ao seu conjunto orgânico e psíquico, assim como uma sociedade, etc. Assim, a Biosfera inclui tanto os processos somáticos quanto os psicológicos (individuais e coletivos) e os sociais, que podem ser estudados assim, separadamente, mas só até certo ponto.

Segundo Hall e Lindzey (1978), embora seja a Biosfera um todo indivisível, ela é composta e organizada por sistemas estruturalmente articulados. A tarefa do cientista seria, assim, de identificar as linhas de demarcação determinadas na biosfera pela estutura antural do todo em si mesmo. Assim, um homem se diferencia de outro homem, mas ambos possuem características que nos permitem classificá-los como homens e não como peixes, etc.

O organismo individual, um sujeito, portanto, constitui um pólo da biosfera, e o meio ambiente, natural e social, o outro polo. Toda a dinâmica essencial da vida está fundanda na interação entre estes dois pólos. Angyal postula que não são os processos de um ou de outo que determinam ou refletem a realidade, mas a interação contínua de ambos. Assim, a vida como um todo unitário nos daria uma nova visão e a possiblidade de percebermos fenômenos e detalhes que nos escapam no estudo polar de ambos os níveis da realidade.

Bibliografia do texto:
Hall, Calvin S. & Lindzey, Gardner. Theories of Personality, 3º Ed., Jonh Wiley & Sons, Inc. 1978
Fadiman, James & Frager, Robert. Teorias da Personalidade. Ed. Harbra, São Paulo, 1986
Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação, Ed. Cultrix, São Paulo, 1986.
Guimarães, Carlos. Percepção e Consciência, Ed. Persona, João Pessoa

Carlos Antonio Fragoso Guimarães - Formado em Psiclogia Clínica pela UFPB e Mestre em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPB. Doutorando em Ciências da Educação pela Universidade de Trás-os-Montes e Vale Douro, Utad, de Vila Rea,m Portugal. Professor do Centro de Ciências da Biológicas e da Saúde da UFCG

sexta-feira, 10 de setembro de 2010




Filme "Nosso Lar", baseado na obra homônima de Chico Xavier, bate recorde de público em apenas cinco dias.

O filme Nosso Lar bateu, em menos de uma semana de exibição, a marca de 1 milhão de espectadores. É um feito inédito no cinema brasileiro recente e indica que a velha fórmula de filmes de violência gratuita e apelo vazio já atingiu um nível de saturamento. O público deseja alento e beleza, esperança e um pouco de reflexão, coisa que raramente se vêem no cinema hoje em dia.

Outro filme de sucesso, atrelado à temática espírita, Chico Xavier, que também é o atual recordista de bilheteria do cinema nacional neste ano, chegou ao mesmo resultado em sete dias.

Nosso Lar, do diretor Wagner de Assis, é inspirado em obra homônima de Chico Xavier, e, com certa liberdade resumo do texto original do livro, narra um caso - dentro dos muitos possíveis - de um médico que desperta após a morte em um mundo ao mesmo tempo diferente e semelhante ao nosso.

O filme é uma co-produção Brasil-Estados Unidos, unindo, entre outras, a produtora Cinética Filmes, a Globo Filmes e Twenth-Century Fox. A direção de fotografia ficou a cargo do Ueli Steiger, de filmes como "O Dia Depois de Amanhã" e "10.000 a. C". Os efeitos especiais foram efetuados pela equipe canadense da Intelligent Creatures , responsável pelos efeitos de filmes conhecidos, como "Watchemen".
O elenco do filme brilha com as atuações de Renato Prieto, Lu Grimaldi, Othon Bastos, Werner Schunemman, Paulo Goulart e outros.

sábado, 28 de agosto de 2010





O Pa$tor Malafaia e seu jatinho de 12 milhões de dólares

Carlos Antonio Fragoso Guimarães
O lúcido e combativo jornalista Hélio Fernandes (irmão do não menos lúcido e combativo Millôr) escreveu no site de seu jornal Tribuna da Imprensa, no dia 03/01/2010:
Pastor Malafaia, compra avião de 12 milhões de dólares

Nem vou dizer que saiu na coluna do Góis, é a terceira vez que cito o colunista esta semana, acaba advertido, já que citado por mim não é nada divertido.
Só que considero humilhação o pastor poder comprar avião de 12 milhões, mesmo de dólares. A “fúria” e a forma “avassaladora” com que “pede” dinheiro aos “companheiros da fé”, mereceriam um jato muito mais abrangente e dominador dos ares.

Palavras preferenciais (repetidas de forma autoritária) do pastor: “Vocês precisam nos ajudar com suas contribuições, pois só assim podemos ajudá-los. Este programa é nosso, vocês contribuem para que eu possa levá-los no caminho de Deus”. Agora, com o avião, esse caminho será percorrido em muito menos tempo.

E o que se poderia dizer disso? Bem, fica patente, antes de tudo, que ser televangelista é um bom negócio. Mas parece que o “bom” Pa$tor, além de paladino do televangelismo, demonstra bastante altruísmo: em um país de miseráveis e desesperados como o Brasil, a venda da fé se reverte em mordomias para que os mercadores continuem a... vender! Não precisa nem ser canetas bic com “água do Jordão”, como faz Edir Macedo, ou orações e preces, como outros. Basta a compra de bíblias por meros 900 reais e muitas “doações voluntárias” para que os carentes, os desesperados e os desesperançados tenham uma maneira eficaz de garantir um visto para o céu. Afinal, é necessário o sacrifício expresso na doação dos outros para que os “Missionários” possam salvar almas mais eficazmente, o que inclui cômodos e rápidos meios de transporte para a “expansão da palavra”. Nada mais nobre nem mais humilde. Repetindo o grande Frei Betto: ele está tão convencido de que só ele enxerga a verdade que trata de forçar os demais a aceitar o seu ponto de vista…e pagar por ele!
Pessoalmente, me espanta a forma pouco cristã e arrogante do citado evangélico nos horários pagos da televisão comercial. Ele não debate, impõe "verdades". Além disso, seguindo na esfera dos fundamentalistas (veja-se o artigo de Frei Betto emhttp://www.voltairenet.org/article122917.html), ele não apresenta argumentos, mas vocifera; não propõe, determina; não opina, ajuíza; não sugere, ordena; não discorda, censura; não advoga, condena e fala muito mais em Satanás - no fim o grande aliado de quem quer dominar mentes pelo medo - que na bondade de um Deus Pai compreensivo e amoroso.

Mas vivemos em tempos surreais… Onde as pessoas de bem estão presas enquanto a marginália (de tantas modalidades diferentes, desde o assaltante de rua até os grandes ladrões da nação) estão soltas, onde, como dizia Einstein, é mais fácil quebrar um átomo que acabar com um preconceito e onde, em nome do Deus universal – que recebe tantos nomes e é compreendido de tantas formas conforme a capacidade de cada cultura – agora surgem auto-entendidos "novos" representantes demagógicos, a quem causa repulsa palavras como tolerância, compreensão, ecumenismo e fratenidade, e fazem de sua suposta sapiência profissão a ser paga, e bem paga, à maneira dos sofistas.

Enquanto um Doutor precisa ter ao menos um curso supererior e suficiente bagagem intelectual, e passa desapercebido nesse nosso pais, para ser um Pastor conhecido basta saber tanger e manipular um rebanho que, diante das mazelas da modernidade, têm medo de pensar…

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Essência do Budismo

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Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.

Buda

Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de todos, aceite-o e viva-o.

Buda

A paz vem de dentro de você mesmo. Não a procure à sua volta.

Buda

Só há um tempo em que é fundamental despertar. Esse tempo é agora.

Buda

segunda-feira, 28 de junho de 2010

É real o "déficit" da Previdência? Se não for, a quem interessa essa mentira? E os Planos de Saúde?

segunda-feira, 28 de junho de 2010 | 05:34

O governo mente. A Previdência brasileira não tem déficit. Ao contrário, seu superávit é espantoso. Confira aqui.

Nogueira Lopes

O governo vive a alegar que a Previdência está em déficit e por isso não pode reajustar condignamente as aposentadorias e pensões. Mas não existe déficit, nunca existiu. Quem faz essa espantosa revelação é a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip).

Todo ano, os auditores divulgam um importante trabalho, denominado Análise da Seguridade Social, e desmontam essa mentira do déficit da Previdência Social. O mais recente levantamento da Anfip mostra, por exemplo, que de 2000 a 2008 houve superávit total de R$ 392,2 bilhões, pois esta foi a diferença entre o total das receitas da Seguridade Social e o total das despesas.

Ainda segundo os auditores fiscais da Receita, no primeiro semestre de 2009 a Previdência teve superávit de R$ 20,04 bilhões, ou seja, arrecadadas todas as receitas de custeio e pagas todas as despesas com assistência social, previdência e saúde, sobrou todo este dinheiro.

Os planos de saúde não tomam jeito

Estimulada pela inércia da tal Agência Nacional de Saúde, a ganância dos planos de saúde chegou a tal ponto que foi criado um Plantão Judiciário no Fórum do Rio, 24 horas (inclusive finais de semana e feriados), exclusivamente para resolver problemas relativos a atendimento médico negado pelas seguradoras, que inclusive acabam de ganhar do governo um novo reajuste dos preços das mensalidades.

Se você ou alguém que conheça tiver necessidade de uma cirurgia de emergência ou colocação de prótese, e o plano de saúde não quiser liberar a cirurgia, recorra a esse Plantão Judiciário. Serão fornecidas todas as orientações de como proceder e, se for necessário, eles mesmos farão contato com o hospital e o plano para solucionar o problema.

Anotem os telefones, coloquem na memória dos celulares: (21) 3133-4144 e 2588-4144. E vamos fazer pressão para que esse tipo de Plantão Judiciário seja criado em todo o país.

Como medir a riqueza de uma nação?

Diante da realidade da previdência e dos planos de saúde no Brasil, devemos lembrar o grande intelectual escocês Adam Smith, que viveu no século XVIII e é considerado o pai da Economia moderna. “A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos governantes”, dizia ele. E de lá para cá, nada mudou.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Que é a Vida?




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Texto escrito em 17 de março de 1997

Originalmente publicado no site "Para Além do Cérebro" situado no extinto GeoCities.

Holismo X Mecanicismo: O Conflito de Percepções

"Podemos afirmar definitivamente, com base em investigações estreitamente empíricas, que a pura e simples inversão de nossa ênfase analítica do universo, separando componetes constituintes como peças, para proceder de maneira inversa, unindo o que foi cortado em pedaços - seja na realidade ou tão só em nossa mente -, não pode explicar por si só o comportamento sequer do mais elementar sistema vivo".

Paul Weiss


Talvez a melhor maneira de se compreender as diferenças fundamentais entre as duas atuais visões de mundo - a do paradigma da ciência cartesiana (hoje dominante) e da concepção chamada holística, sistémica ou ecológica (em sua acepção profunda. O termo ecológico é mais abrangente, menos gasto, por isso talvez seja preferível à holismo), hoje emergente - possa ser adquirida através do estudo de como estas diferentes formas de entender e perceber, de se posicionar ante o que julgamos ser a realidade, explicam o porquê da existência - ou da origem e finalidade - de um dado fenômeno, ou a sua ocorrência. Assim, partindo deste princípio, resolvi tomar como ilustração das diferenças entre o Holismo - mais precisamente a Teoria Sistêmica da Vida - e o Reducionismo Mecanicista a maneira como cada uma destas difentes concepções teórico-filosóficas entendem, percebem e/ou explicam o que é a vida, quais suas características, objetivos e finalidade.


Como vemos a vida

Apesar do discurso ideológico, em grande parte calcada no sucesso tecnológico e no conseqüente poder político e econômico daí resultante, a ciência ocidental - muitíssimo bem sucedida em várias áreas de atuação - é uma espécie de saber especializado e aceito como válido por uma civilização mas, de modo bem mais amplo, constitui-se em uma modalidade de saber entre tantas outras tão válidas e coerentes quanto ela mesma, e que são próprias das atualmente violentadas e moribundas (situação esta causada pela dominante civilização ocidental) civilizações, culturas ou tradições não industriais...

Como bem esclarece o pofessor Renato Machado, "a ciência não é um objeto natural, um objeto dado; é uma produção cultural, um objeto construído, produzido. (...) A ciência é essencialmente discurso, um conjunto de proposições articuladas sistematicamente. Mas, além disso, é um tipo específico de discurso: é um discurso que tem a pretensão de verdade" (MACHADO, Ciência e Saber, A Trajetória Arqueológica de Foucault, p. 20, edições Graal, Rio de Janeiro, 1988). Um pouco mais além, o mesmo autor afirma que "a questão da verdade significa a dos critérios do conhecimento dito verdadeiro, que dependem da própria ciência enquanto processo de produção do conhecimento ou daquilo que Canguilhem chama veridicidade: 'A veridicidade ou o dizer-o-verdadeiro da ciência não consiste em uma reprodução fiel de alguma verdade inscrita desde sempre nas coisas ou no intelecto. O verdadeiro é o dito do dizer científico'. A ciência não reproduz uma verdade; cada ciência produz sua verdade. Não existem critérios universais ou exteriores para julgar da verdade de uma ciência"(MACHADO, op. cit., p. 21). Em um uma nota, o autor ainda cita Fraçois Jacob, que diz: "Como as outras ciências, a biologia perdeu hoje muitas de suas ilusões. Ela não procura mais a verdade. Ela constrói a sua".

A biologia moderna, como de resto todas as outras ciências, não escapou ao triunfo olímpico do modelo newtoniano de mundo e de sua Física. Mais que isso, ela abraçou ardorosamente a filosofia subjacente a tal modelo, elaborada por René Descartes e que estabelecia o universo e todos os seres vivos como sendo máquinas semelhantes em sua constituição às máquinas construídas pelos homens, cabendo, portanto, apenas desmontar estas e analisar suas peças e a forma como elas se relacionam na estrutura para entender seu funcionamento.

O físico Fritjof Capra, com bastante clareza, cita que:


"Empolgados pelos êxitos do método reducionista (analítico), com especial destaque, recentemente, no campo da engenharia genética, eles tendem a acreditar que este é o único enfoque válido, e organizaram a pesquisa biológica de acordo com ele. Os estudantes não são encorajados a desenvolver conceitos integrativos, relacionais, e as instituições de pesquisa dirigem suas verbas quase exclusivamente para a solução de problemas formulados no âmbito dos conceitos cartesianos. Os fenômenos biológicos que não podem ser explicados em termos reducionistas são considerados indignos de investigação científica. Por conseguinte, os biólogos desenvolveram métodos muito curiosos para lidar com os organismo vivos. Como sublinhou o eminente biólogo e ecologista René Dubos, eles usualmente sentem-se muito à vontade quando a coisa que estão estudando já não vive" (CAPRA, 1986, p. 96)



Dentre os principais problemas não explicados pelo método analítico reducionista estão os mais encantadores fenômenos biológicos, em especial a regeneração celular de feridas, a integração mente/corpo, o desenvolvimento e diferenciação embrional, a integração harmônica do sistema nervoso e seu permamente contato integrativo interrelacional com o meio, que afinal sustenta o organismo. E só em nosso século a Ecologia começou a ser aceita - ainda que como inimiga para o sistema Industrial, em especial o que se calca na exploração e poluição do meio-ambiente. De qualquer modo, a biologia, adotando um determinado modelo mecanicista da vida, está dando retorno a um segmento social que a financia e espera, de qualquer modo, algo em troca, se possível algo que dê lucro. Desta forma, fazendo dos organismos vivos "máquinas", não é preciso ter uma ética "humanista" de pleno respeito a estes organismos, que podem ser plenamente explorados comercialmente. Da mesma forma, a indústria faramacêutica, visando mais o lucro que a ajuda humanitária, pouco se importa se quem pode comprar seus produtos constitua apenas um setor mínimo da população. A educação médica, sendo prioritariamente interventiva que preventiva, faz parte desta estrutura mercadológica, já que a industria não só contribui para a manutenção de cursos de medicina, como também está o tempo todo, às custas de uma extraordinária máquina de propaganda, impondo referenciais de tratamento aos médicos.
É interessante notar o modo como o discurso científico é um discurso cultural. Basta olha a história de uma ciência para perceber isso... Toda a forma de saber e toda a ciência, por ser uma aproximação e por ser uma construção, é coerente com o contexto político e econômico onde se situa e triunfa. Conceitos superados e conceitos sancionados estão mais ligadas à ideologia de uma sociedade do que se pensa, o que não significa que o que foi rejeitado num dia não possa ser ressuscitado, totalmente ou reformado, em outro. Canguilhem explicita isso em seu conceito de "ideologia cienífica", que é um discurso que, por ser aceito e apoiado por um conjunto de pessoas socialmente reconhecidas como especialistas, tem a presunção de verdade - mesmo que seja de uma verdade contextualmente temporária. Por ter a ambição de cientificidade, este discurso imita os procedimentos de ciências tecnologicamente e teoricamente mais bem sucedidas, em especial a Fìsica. Adotando critérios análogos, entra a perspectica de poder que é utilizada com ambição à totalidade explicativa. No caso, o modelo de máquina abarcaria todas as áreas da biologia.

Há pouco mais de cem anos, seguindo uma análise feita pelo físico Paul Davies em seu livro Deus a e Nova Física, com a publicação dos trabalhos de Darwin e Wallace, o tema da origem e da evolução dos sistemas vivos tornou-se o mais visível ponto de colisão e conflito entre entre a ciência e a religião, ou, mais precimanete, entre duas formas diferentes de se entender a natureza. Antes, era lugar comum que a vida era, ou pareceia ser, a manifestação mais óbvia da sabedoria e do poder da Divindade, sendo que a vida humana era considerada o ápice do plano universal de Deus. Todas as formas vivas pareciam fazer sentido como a resultante visível dos desígnios da Suprema Mente de um Grande Arquiteto, cabendo ao homem usufruir de uma localização privilegiada na hierarquia dos seres vivos. Hoje em dia, a vida continua a ser um fenômeno espantoso, mas a autoria de tal milagre foi transferida, pela ciência, de Deus para um complexo jogo de forças determinísticas e, em última análise, cegas, regidas pelo acaso, que, combinando elementos "casualmente" apropriados em ambientes igualmente propícios, teriam, de modo absolutamente aleatório e através dos milênios, possibilitado a eclosão da imensa e rica variedade de formas vivas que nos cercam e encantam. É interessante observar uma certa ingenuidade reducionista de tal concepção. Dificilmente uma enciclopéida seria feita a partir da explosão de um saco de jornais, mas é mais ou menos assim que a ciência diz que se formou o universo. As conseqüências de tal mudança de "crenças", é claro, resultaram em um profundo abalo na mentalidade humana: a ciência mudou a perspectiva que o homem tinha de si mesmo e do universo, e de sua relação para com este. Como tudo o mais no mundo, esta revolução de crenças trouxe coisas boas e outras nem tanto, e, de igual forma, mostrou um certo limite de aplicabilidade e de exatidão: embora, em linhas gerais, a evolução seja um fato inquestionável, o prédio especulativo mecanicista que se construiu ao redor e à pretexto dela tem demonstrado um lado negro e, em última instância, nocivo à própria sobrevivência da vida no planeta, como veremos adiante.

Para a ciência oficial, especialmente para as disciplinas científicas mais atreladas ao modelo científico advindo da Física Clássica, as duas facetas básicas que distinguem e caracterizam os sistemas vivos dos não-vivos são a Organização e a Complexidade (Davies). Ora, mesmo um "primitivo" organismo unicelular, como uma ameba, por exemplo, por mais simples que seja apresenta uma intrincada estrutura biológica (Complexidade) que nunca se encontrará em qualquer que seja o produto do engenho humano. Qualquer modificação sintética numa estrutura desse tipo sempre partirá da matéria prima básica que o homem irá utilizar, ou seja, o próprio organismo uniceluar já existente. Este mesmo organismo uniceluar, em seu funcionamento interno, apresenta-se como uma grande cidade muito bem organizada. Ela é formada por organelas muito especializadas que trabalham de forma altamente sincronizada para que o ser unicelular possa sobreviver, auto-renovar-se, locomover-se, alimentar-se, atacar, fugir e se reproduzir. As estruturas químicas que dirigem e controlam toda esta "cidade" minúscula encontram-se codificadas em moléculas localizadas no interior do núcleo da célula: o DNA.
O mais incrível é que os componentes elementares básicos de um sistema biológico qualquer é formado por átomos perfeitamente comuns, encontrados em toda a parte. Qualquer que seja o átomo que se encontre dentro da célula viva - quer seja um átomo de carbono, de hidrogênio ou de qualquer outro elemento - não apresentará ele difeeerença alguma de qualquer dos átomos do mesmo elemento que se encontrem no meio inanimado externo. Aliás, há uma corrente ininterrupta de trocas de componentes internos da célula com o meio externo e, apesar disso, a célula continua a ser e a se desenvolver como um organismo independente, de onde se deduz que a vida não pode ser reduzida a uma propriedade de mera junção ou união das suas partes constituintes. Estas partes constituintes estão em constante transformação. Seus átomos estão sempre sendo trocados, mas o padrão do conjunto se mantém. É este padrão, não a estrutura, que é responsável pela existência do conjunto. A vida não é um fenômeno cumulativo. Se o fosse, um biólogo poderia muito bem formar uma célula viva a partir da junção de todos os seus componentes. O máximo que ele conseguirá é um saquinho gelatinoso muito parecido com uma célula morta.

Na biologia acadêmica, de modo geral, a concepção mecanicista dos organismos vivos como máquinas, consituídas de partes definidas e, fundamentalmente, passívies de separação e análise - como peças de um relógio -, ainda é a base conceitual dominante. Empolgados e estimulados pelo êxitos inquestionáveis do método analítico, cartesiano, ou científico, eles tendem a conceber que esse método é o que possibilita o único enfoque válido para a compreensão dos fenômenos biológicos, e organizam todas as pesquisas de acordo com ele. Os fenômenos biológicos que não podem ser coerentemente explicados dentro dos termos reducionistas, como, por exemplo, o processo de cura de ferimentos, a concentração da atenção, são considerados indignos de investigação científica, ou como fatos sujeitos à explicação futura, dentro dos moldes reducionistas.

Muito embora o conceito simplista de seres vivos como máquinas próximas a de um relógio fosse, na prática, superado na biologia, a essência conceitual da idéia, porém, permaneceu, já que a obsessão na pesquisa está em se reduzir todos os aspectos ao processo de reação de constituintes moleculares nas células. Quanto à parte da fisiologia e da anatomia, a aproximação ao ideal mecanicista cartesiano ainda é dominante. O tratado de La Mettrie, escrito no século XVIII e intitulado "O Homem-Máquina" deu o ponta pé inicial de toda a abordagem mecanicista em fisiologia por mais de dois séculos:


"Será preciso mais (...) para provar que o Homem nada mais é que um Animal, ou uma montagem de molas que se engatam umas nas outras de tal modo que não é possível dizer em que ponto do círculo humano a Natureza começou?... Na verdade. não estou equivocado; o corpo humano é um relógio, mas imenso e construído com tanto engenho e habilidade que, se a roda denteada, cuja função é marcar os segundos, pára, a dos minutos continua girando em seu curso" (cit. in CAPRA, 1986, p. 101).

Muitos importantes biólogos ainda defendiam esta forma de "entendimento" da vida em pleno século XX.
Ora, o interessante é que a ênfase na pesquisa científica, em geral, e, muito particularmente, em biologia está em se isolar e classificar sempre mais e mais os chamados constituíntes fundamentais dos sitemas vivos, ou seja, em se decobrir quais as moléculas - e sua composição - respoonsáveis pela manutenção e/ou ação dos processos biológicos. Pretende-se com isso ter uma visão compreensiva e mais aprofundada do que seja a vida. No final das contas, o que descobrimos é que enquanto aprofundamos mais e mais o conhecimento das estruturas microscópicas que constituem a base biofísica e bioquímica das células, perdemos a visão de relação ou a visão do conjunto da vida em si em em suas manifestações dinâmicas. Cria-se, assim, a ilusão de que a superespecialização linear aumenta o conjunto geral do conhecimento. Na verdade, aumenta-se o conjunto de conhecimento sobre os detalhes de um determinado aspecto da vida. Pouco se faz para se ter uma idéia de relação funcional das partes com o todo. O erro fundamental reside no fato de a ciência não levar realmente em conta que um conjunto pode muito bem apresentar propriedades que não se encontram nos seus componentes individuais. Um exemplo clássico para demonstrar tal fato é o da fotografia de jornal que é constituída por inúmeros pontinhos. Ora, nenhum desses pontinhos, quando isolados, revela o que quer que seja sobre a figura que o conjunto representa. Só quando nos afastamos do nível dos componentes individuais e ascendemos ao todo, é que temos idéia da informação, da mensagem, da figura que surge da fotografia de jornal. Ou seja, a figura não é a resultante das propriedas dos pontinhos, mas sim a resultante do padrão do todo formado tanto pelos pontinhos, quanto pelo espaço entre eles.

Da mesma forma, o erro básico do paradigma científico atual subjacente ao modelo biomédico reside na fato de que se confunde a vida com os seus elementos contituintes. Não é nos átomos, enquanto conetúdo, que reside o segredo da vida ou suas moléculas constituintes per si, mas no padrão, na informação que emerge de sua associação. É a informação contida no DNA que possibilita que alguém tenha olhos claros ou escuros, e não que uma coleção de um átomo específico possa estabeler que a pessoa tenha olhos dessa ou daquela cor. É a informação, expressa na síntese protéica, que utilizará os mesmos átomos presentes em todos os seres vivos para estabelecer características fenotípicas diversas.

Pela lúcida análise de Capra, percebemos que no conturbado e tecnicista século XX, a genética tornou-se a área mais ativa, mais sedutora e mais poderosa na pesquisa biológica, médica e farmacêutica. Os sucessos na descrição e entendimento da estrutra do DNA proporcionou um forte reforço à abordagem mecanicista dos organimos vivos. Ao ficar claro que o material hereditário estava contido nos cromossomos, em posicões especiais ao longo dos filamentos que os constituem, os geneticistas acreditavam ter fixados os "átomos da hereditariedade", e passaram a explicar as características biológicas em termos de suas "unidades elementares": os genes, sendo, de início, considerado que cada gene corresponderia a um traço hereditário específico, em causação lienar. Porém, logo se descobriu que esta linearidade não era perfeita pois pesquisas mostraram que um único gene pode afetar vários traços e que, inversamente, muitos genes separados combinam-se frequentemente para produzir um só traço. Obviamente, o estudo da cooperação e da atividade integrativa, holística, dos genes separados se apresentou como sendo de profunda importância, mas a estrutura conceitual cartesiana-mecanicista tornou difícil lidar com estas questões. Como diz Fritijof Capra, "quando os cientistas reduzem um todo a seus constituintes fundamentais - sejam eles células, genes ou partículas elementares - e tentam explicar todos os fenômmmenos em função desses elementos, eles perdem a capacidade de entender as atividades coordenadoras do sistema como um todo" (Capra, 1986, pág. 107).
Ainda segundo Capra, "uma outra falácia da abordagem reducionistas em genética é a crença de que os traços de caráter de um organismo são determinados unicamente por sua composição genética ( ou são mais profundamente determinados por eles). Esse 'determinismo genético' é uma conseqüência direta do fato de se considerar os organismos vivos como máquinas controladas por cadeias lineares de causa e efeito. Ele ignora o fato de que os organismos são sistemas de múltiplos níveis, estando os genes implatados nos cromossomos, estes funcionando dentro dos núcleos de suas células, estas embutidas nos tecidos, e assim por diante. Todos esses níveis estão envolvidos em interações mútuas que influenciam o desenvolvimento do organismo e resultam em amplas variações da 'cópia genética' ".

Ainda mais recentemente, o fascínio do determinismo genético deu origem a uma teoria que reabilitaria o próprio Joseph Mengele frente à comunidade científica: a sociobiologia, na qual todo o comportamento social é entendido como predeterminado, ou mesmo totalmente determinado pela estrutura genética. Vários críticos apontaram para o perigo que esta teoria representa, inclusive por dar uma base pseudo-científica para o racismo. Esta teoria também é conhecida como o neodarwinismo social.


Duas visões de mundo
A distinção fundamental entre uma perspectiva reducionista e uma outra de conjunto, ou sistêmica, é representada por duas abordagens paradigmáticas amplamente distintas: a abordagem mecanicista (reducionista) e a abordagem holísitca (do grego holos, totalidade). A ênfase básica e característica da ciência acadêmica oficial, nos últimos três séculos e meio, tem sido mecanicista-reducionista. Na verdade, o tão caro vocábulo científico análise bem ilustra o hábito, ou melhor, a crença, de que o único processo válido de pesquisa científica é o da dissecação de um problema, separando seus componentes, para o resolver. Só que, hoje em dia, a análise leva sempre a mais análise, e, frequentemente, o problema original fica sem solução. Se pegarmos o exemplo do quebra-cabeças, poderemos chegar à conclusão de que existem problemas que só se solucionam quando temos uma visão de conjunto, casos esses em que o todo possui característcas bem mais específicas que as suas partes constituintes.
O aspecto mecanicista-reducionista que se apresenta na ciência atual se consolidou definitivamente com os extraordinários sucessos da física clássica dos séculos XVIII e XIX, e ficou ainda mais forte com o desenvolvimento da teoria atômica da matéria. Com o exemplo dado pela física, e o grande reconhecimento que esta ciência obteve nos meios intelectuais, não é de se surpreender que a biologia e, ainda mais, a medicina tenham enveredado pelo mesmo caminho, obtendo sucessos estrondosos em deslindar as bases moleculares da vida, tendo como um dos pontos altos a descoberta dos componentes e da estrutura, por exemplo, do DNA. Todo esse sucesso condicionou a pesquisa e a escolha de tópicos de estudo que se retroalimentaram, exigindo novos experimentos a análises reducionistas e encorajando, ad infinitum, a replicação do processo e a adoção do mesmo sistema em quase todas as outras áreas da investigação humana resultando em verdadeiras enxurradas de trabalhos cientificistas, em chuvas de aberrações de explicações causais para todo tipo de fenômeno, incluindo os psicológicos e sociais.

Tanto exagero na crença de que o método reducionista é o único válido acabou por provocar reações enérgicas de muitos críticos inteligentes, mas que foram ridicularizadas, minimizadas ou abafadas pelo status quo da ciência normal padrão. Só que o próprio procedimento científico começou a se mostrar impotente para solucionar inúmeros problemas importantes, o que abriu um espaço para que estas críticas pudessem, finalmente, ser ouvidas e aceitas. Arthur Koestler, por exemplo, deixou muito claro uma das principais mazelas desta abordagem: "Ao se negar um lugar para os valores, um sentido e um objetivo para a tão decantada interação casual de forças cegas, a atitude reducionista acabou por lançar a sombra de sua influência para além dos confins da ciência, afetando todo o nosso clima cultural e político". Ou seja, as tentativas para explicar a nossa existência e a de todos os organismos vivos como se nada mais se tratassem a não ser de aglomerados atômicos casualmente formados levou a um processo de desvalorização moral e de uma supervalorização mercantil, egoísta e hedonista da vida, linearizando a própria existência como uma coisa fútil, acidental e sem sentido.
O neurobiofisiologista britânico Donald MacKey chama esta atitude reducionista em biologia de "nada mais que". Ele tenta exemplificar o atual estado de coisas na abordagem biomédica usando como exemplo um letreiro luminoso. Neste instrumento, um conjunto de lâmpadas acendem e apagam alternadamente com o propósito de transmitir uma mensagem. Qualquer engenheiro elétrico poderia descrever exatamente o modo como funciona o letreiro em termos da teoria dos circuitos elétricos. Mas ele seria ridículo se afirmasse que a função desta máquina é apenas o de acender e pagar lâmpadas devido a pulsações elétricas num circuito elétrico complexo. A função do letreiro é o de passar mensagens. E estas se utilizam do substrato eletro- físico para expressar estas mensagens. Na verdade, a descrição do engenheiro está correta, mas muito incompleta, pois não mencionou o fundamental: a mensagem. O conceito de mensagem, de informação, está além do referencial teórico do engenheiro, assim como o de psique está frequentemente fora do referencial teórico de um neurologista. Estas limitações, porém, só se tornam evidentes quando a operação de exibição como um todo é levado em consideração: a mensagem que o letreiro expressa está num nível acima do nível dos circuitos elétricos: ela está num nível holístico.

Outra crítica profunda feita à concepção mecanicista da vida deve-se ao Prêmio Nobel de Química, 1977, Ilya Prigine. Ele demonstrou que a ciência normal teima em retratar a vida em consonância com a ideologia cultural dominante na ciência, ou seja, como um acidental processo linear, ocorrido ao acaso. Um acidente especial que, a partir de então, se encontra numa fútil luta quixotesca contra a imperioso segunda lei da termodinâmica, que impele os sistemas químico-físicos a bsucarem um equilíbrio térmico, o que, em termos orgânicos, teria como resultado o esgotamento funcional do sistema vivo. Mas Prigogine demonstrou que isso não ocorre em sistemas complexos. Certas reações químicas têm a especial capacidade de manterem o grau de entropia baixo, como ocorre nos seres vivos. Através do estudo das chamadas Estruturas Dissipativas, Prigogine chegou ao entendimento da ordem através da flutuação, ou seja, em condições dinâmicas de troca de informações e matéria com o meio, um equilíbrio dinâmico, longe do que ocorre em estrutras fechadas, como as máquinas. Esse princípio não se limita a processos químicos complexos, mas se estendem aos domínios dos átomos, células, pessoas e galáxias.

Prigogine demonstrou, juntamente com outros biólogos sistêmicos, que um organismo biológico é um sistema aberto, cuja saga evolutiva os tornam aptos a assegurar a vida em regimes dinâmicos de trocas com o meio. Eles são sistemas autotranscendentes e auto-organizadores, coisa que falta às máquinas convencionais, que são sistemas fechados. Esta tendência do organismo de se auto-atualizar e de se autorealizar também tem uma importância fundamental para a Psicologia, notadamente a Psicologia Humanista, como a de Carl Rogers, a Psicologia Holística, como a de Kurt Goldstein, e a Psicologia Transpessoal.

Como muito bem nos fala o físico Paul Davies em seu livro Deus e a Nova Física, ninguém pode negar que um organismo é uma coleção de átomos, moléculas, tecidos, etc. O erro está exatamente em se supor que ele é nada mais que isso. Semelhante pretensão, logicamente, é tão ou mais ridícula quanto dizer que a Nona Sinfonia de Beethoven nada mais é que uma coleção de notas, ou que um poema de Augusto dos Anjos é apenas um conjunto de palavras, embora seja exatamene isso que muitos cientistas dizem quando falam dos processos biológicos e até mesmo psicológicos. A vida, o tema de uma sinfonia ou o enredo de um romance são qualidades que emergem do nível mais basico de seu substrato físico, e não podem ser percebidas a nível de seus componentes.

O fato de um conceito ser abstrato em vez de concreto ou substancial não o torna, por isso, irreal ou ilusório. O pensamento de uma pessoa não pode ser pesado ou medido, e nem ocupa nenhum lugar no espaço e, contudo, ele é parte integrante do que ela é. Conceitos como sonhos, entropia, informação não envolvem objetos ou corpos defindos, mas relações e condições entre objetos, ou entre idéias, e se destacam deles. Muitos dos antigos problemas do entendimento da vida desaparecem quando se considera que conceitos "abstratos" e de alto nível - como o de software - podem ser tão reais como as estruturas concretas e de baixo nível que as suportam - o hardware. O nosso mundo está cheio de coisas que não são nem misteriosas nem fantasmagóricas, mas que tampouco são constituídos de tijolinhos atômicos. Pena que as pessoas não pensem muito nisso, pois as conclusões e conseqüências disso tudo seriam consideráveis. "Essas coisas não são objetos físicos com massa ou composição química definidas, mas tampouco são objetos puramente fantasiosos, como o valor do número grego Pi, que é imutável e não pode ser localizado no espaço ou no tempo. Estas coisas têm um lugar de nascimento e uma história. Podem mudar e é possível que lhes aconteça algo. Podem mover-se tanto quanto uma espécie, uma doença ou uma epidemia. Não devemos supor que a ciência atual nos ensina que tudo o que se pretende estudar seriamente se pode identificar como um conjunto de partículas movendo-se no espaço e no tempo. Poder-se-á talvez pensar que é senso comum - ou até muito bom pensamento científico - supor que cada um de nós não passa de um ser particular, um organismo físico montado de forma compreensível - um montão de átomos em movimento - mas, na realidade, esta idéia revela uma falta de imaginação científica, não uma sofosticação fora do vulgar. Não é necessário acreditar em fantasmas para que se acredite no Eu, que tem uma identidade que transcende qualquer corpo vivo em particular" - D. R. Hosfstadter. (Davies, s/d, pág. 93).

O fato muito pouco percebido é o de que a visão de mundo que a ciência normal nos dá é condicionado por um paradigma, uma ideologia culturalmente determinada que estabelece, a priori, o modo como o mundo deve se comportar para que faça sentido dentro dos pressupostos básicos do paradigma adotado pela comunidade científica. Nossa percepção de mundo é condicionada pelos conceitos que nos foram passados pela nossa formação e educação intelectual. Conceitos clássicos de matéria e energia, tempo e espaço, causalidade linear, entre outros, contribuiram de modo definitivo para o estabelecimento de valores e expectativas "lógicas" que determinam a explicação e o entendimento de fenômenos, bem como na formulação de teorias compatíveis como o background perceputal adotado. Este peso cultural, que é inconsciente, representa um risco. Em face de uma ciência oficial - sustentada nos moldes de uma estrutura econômica e de relações de poder cristalizadas - que se associa a um complexo de noções como causalidade, determinismo, mecanicismo, racionalismo, surgiu um conjunto de temas humanos que são estranhos a este corpo de concepções, como o de vida, liberdade, etc. Não reconhecendo qualquer lugar para estas concepções dentro de sua estrutura, a ciência clássica viu esses temas se tornarem pontos de fixação que serviram de base para o seu questionamento valorativo. A partir de então, ficou claro que tinhamos montado anteriormente uma ciência que procurava obter o máximo controle sobre a natureza, e, para isso, era muito bom que buscássemos ve-la como uma máquina. Ficou claro, assim, que os problemas que marcam uma cultura têm uma grande influência no conteúdo e no desenvolvimento das teorias científicas.

É necessário que prestemos atenção ao fato de que nossa visão de mundo condiciona nossa percepção das coisas. Devemos resgatar a importância da distinção de níveis para não cairmos na presunção de que nossa "especialidade" pode ser generalizada para tudo. Por exemplo, todos os jovens que gostam de computação sabem muito bem distinguir, no funcionamento do computador, dois níveis diferentes de realidades que, juntas, explicam como a máquina funciona. Temos o nível físico denomindo hardware e o nível lógico, denominado software. Ambos os níveis explicam muito bem determinado aspecto do funcionamento do computador, mas nenhum dos dois se mantêm para explicar o desempenho total da máquina. Eles decrevem muito bem coisas que se encontram em níveis conceptuais inteiramente diferentes. Tudo depende do que se pretende saber, mas a visão que emerge das duas abordagens é a mais próxima da realidade, pois nenhuma das duas, isoladas, pode ser a única correta.

Todos os programadores, técnicos, operadores e pessoas que mexem com computadores sabem que não existe incompatibilidade entre conexões causais a nível de hardware e software. Da mesma forma, pegando a deixa e fazendo uma comparação, o cérebro humano consiste em bilhões de neurônios, zumbindo interminavelmente, cada um deles ignorando o plano do conjunto cérebro (como provavelmente uma formiga desconhece o sistema formigueiro em toda a sua complexidade). Este mundo primário dos neurônios em si é o mundo físico, ou bio-físico e bio-químico, que forma um hardware. Por outro lado, temos pensamentos, sentimentos e emoções. Este outro nível superior, e mais abstrato, totalizante e mental, ignora o funcionamento das células cerebrais; podemos pensar alegremente ignorando totalmente a ajuda que os neurônios nos prestam. Mas o fato de que o nível do hardware ser regulado pela lógica da bioquímica não entra em contradição com o fato de o nível do software ser ilógico ou emocional, regido por leis psicológicas mais complexas, do mesmo modo que um romance bem escrito, rigidamente fiel às regras da gramática, não impede que seus personagens possam se comportar de maneira totalmente irracional. Exigir que a vida se comporte do modo que pensamos ser o mais racionalmente correto é querer confundir a realidade com nossos desejos do que qeremos que ela seja. Implica em confundir os níveis de percepção. Parece não existir qualquer razão para que a mente não possa evoluir no tempo, embora não possa localizar-se no espaço (Davies). Desta forma, disciplinas psicológicas que se fundamentam em teorias como o behaviorismo e a psicanálise clássica precisam ser revistas, por se basearem na concepção clássica mecanicista de reação à forças mais ou menos independentes do indivíduo.

Uma área em que as limitações da abordagem reducionista fica muito evidente é o da neurobiologia. O sistema nervoso é um sistema integrativo, holísitco por excelência. Questões como as que envolvem a percepção, a memória e a inteligência não podem ser compreendidas apenas no âmbito de uma estrutura reducionista. Como disse Paul Weiss, eminente biólogo e ecologista, "não existe nenhum fenômeno em um sistema vivo que não seja molecular, mas tampouco existe um que seja unicamente molecular". Francis Crick, por sua vez, nos diz que "todo o trabalho biológico genético e molecular dos últimos sessenta anos pode ser considerado um longo interlúdio. (...) Agora que esse programa foi completado, temos de voltar ao princípio - de voltar aos problemas deixados para trás sem solução. Como um organismo ferido se regenera? Como é que o zigoto forma o organismo?".

Como muito bem expressou Sidney Brenner, "nos próximos 25 anos teremos de ensinar aos biólogos uma outra linguagem. (...) O que se almeja, penso eu, é resolver o problema fundamental da teoria de sistemas elaborados. (...) E aí nos deparamos com um grave problema de níveis: talvez seja um erro acreditar que toda a lógica está no nível molecular. Talvez seja preciso ir além dos mecanismos de relógio".(Capra, 1986, p.115)

Bibliografia:

Boff, Leonardo. A Águia e a Galinha - Uma metáfora da condição Humana. Vozes, Petrópolis, 1997.

Capra, Fritjof. A Teia da Vida. Editora Cultrix, São Paulo, 1997.


Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação. Editora Cultrix, São Paulo, 1986.

Capra, Fritjof. O Tao da Física. Editora Cultrix, São Paulo, 1985.

Brandão, Dênis & Crema, Roberto. O Novo Paradigma Holístico. Summus Editorial, São Paulo, 1992

Crema, Roberto. Introdução à Visão Holística. Summus Editorial, São Paulo, 1988.

Davies, Paul. Deus e a Nova Física. Coleção Universo da Ciência. Edições 70, Liboa, s/d.

Grof, Stanislav. Além do Cérebro. Editora McGraw Hill, São Paulo, 1988

Gaarder, Jostein. O Mundo de Sofia. Companhia das Letras, São Paulo, 1995

Guimarães, Carlos. Percepção e Consciência. Ed. Persona, João Pessoa, 1996

Perrault, Gilles (organizador). O Livro Negro do Capitalismo. Ed. Record, Rio de Janeiro, 1999

domingo, 2 de maio de 2010

A Psicologia Transpessoal




Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Escrito e publiado originalmente em 08/12/1996 pela extinta GeoCities

Ampliado em 08/07/1998



   "Não apenas é o homem parte da natureza - e esta é parte sua -, como deve ser minimamente isomórfico (semelhante a) com ela para nela ser viável. Ela o gerou. Sua comunhão com aquilo que o transcende não precisa ser definida, portanto, como não-natural ou sobrenatural. Pode ser vista como uma experiência 'biológica' ".

Abraham Maslow.


I - O que é e como surgiu a Psicologia Transpessoal

   Foi em meados da década de sessenta, durante o rápido desenvolvimento e aceitação dos pressupostos básicos da psicologia humanista, com Maslow e Rogers, que alguns psicólogos e psiquiatras começaram a discutir quais os limites e características a que seria possível chegar o potencial da consciência humana. Muitos pesquisadores achavam que a visão da psique dada pela Psicanálise e pelo Behaviorismo eram, no mínimo, bastante simplificadas e reducionistas, não explicando uma grande gama de fenômenos mentais que escapavam - e muito - do campo de alcance de tais teorias. E a Psiquiatria dava ainda menos clareza sobre uma ampla gama de estados de conciência claramente chocantes e, ao mesmo tempo, fascinantes, que não podiam se restringir unicamente à história orgânico-biográfica de alguns pacientes.

  A grande maioria dos teóricos da personalidade toma por fundamento básico a consciência em estado de vigília, ou consciência normal, como sendo a única possibilidade saudável de nível de percepção cognitiva. 

   As características básicas desta consciência normal, segundo Fadiman & Frager (1986), é que a pessoa sabe "quem é", tem perfeita noção de si mesma como uma individualidade, e seu sentido de identidade é estável. Ou seja, a pessoa tem uma idéia clara de ser uma individualidade diferenciada do meio que a cerca. Estudos vários sobre a imagem corporal e do sentido do ego concluem que qualquer desvio desses limites é um grave sintoma psicopatológico. Só que tal conclusão começou a ser seriamente questionada com vários relatos e pesquisas sérias realizadas em várias partes do mundo. 

  Às vezes, experiências correlacionadas com um declínio de uma psicopatologia e com a restauração da saúde psíquica podem muito bem expor experiências subjetivas que ultrapassam e muito os chamados limites normais do ego. William James já o havia notado em fins do século passado. O resultado de muitas destas pesquisas, muitas delas envolvendo psiquiatras e psicólogos famosos, levantou uma séria questão: seria possível que algumas das distinções que mantemos entre nós mesmos e o resto do mundo sejam arbitrárias e/ou culturalmente condicionadas? 

  Talvez a consciência humana seja um vasto campo ou espectro, semelhante ao espectro eletromagnético, onde cada "freqüência" expressaria um modo de percepção, muito mais que um conjunto firme de traços ou características rigidamente definidas de expressão, já que em certas experiências - algumas delas envolvendo psicodélicos ou drogas psicoativas - a consciência do sujeito parece abranger elementos que não têm nenhuma continuidade com sua identidade do ego usual e que não podem ser considerados simples derivativos de suas experiências no mundo convencional. 

  Vejamos esta descrição, feita por Stanislav Grof, de experiências correlacionadas com o declínio de uma patologia (extraído, com comentários meus, de Fadiman & Frager, 1986, página 168):

  "No estado de consciência 'normal' ou usual, o indivíduo se experimenta existindo dentro dos limites de seu corpo físico (a imagem corporal), e sua percepção do meio ambiente é restringida pela extensão, fisicamente determinada, de seus órgãos de percepção externa; tanto a percepção interna quanto a percepção do meio ambiente estão confinadas dentro dos limites do espaço e do tempo (numa aceitação cultural das premissas do paradigma cartesiano-newtoniano próprio da visão de mundo ocidental nos últimos 300 anos). Em experiências psicodélicas (área explorada por Grof em fins dos anos 50, na Tchecoslováquia, e nos anos 60 nos EUA) de cunho transpessoais, uma ou várias destas limitações parecem ser transcendidas (este fenômeno também se encontra, de modo esporádico, nas várias terapias psicológicas, tendo recebido nomes como "Experiências Oceânicas" em Freud, "Experiências Culminates" em Maslow, "Consciência Cósmica", em Weil, "Experiência Mística", etc). Em alguns casos, o sujeito experiencia um afrouxamento de seus limites usuais de ego e sua consciência e autopercepção parecem expandir-se para incluir e abranger outros indivíduos e elementos do mundo externo. Em outros casos, ele continua experienciando sua própria identidade, mas numa percepção de tempo diferente, num lugar diferente ou em um diferente contexto. Ainda em outros casos, o individiuo pode experienciar uma completa perda de sua própria identidade egóica e uma total identificação com a consciência de uma 'outra' entidade. Finalmente (em similiraridade com o que experiencia o místico), numa categoria bastante ampla destas experiências psicodélicas transpessoais (experiências arquetípicas, união com Deus, etc.), a consciência do sejueito parece ambranger elementos que não têm nenhuma continuidade com a sua identidade de ego usual e que não podem ser considerados simples derivativos de suas experiências do mundo tridimensional".

  São, pois, estas experiências culminates e transuamas que são o foco central da Psicologia Transpessoal.

  Muitos renomados psicólogos humanísticos e alguns psiquiatras insatisfeitos com a abordagem excessivamente mecanicista e biomédica de sua disciplina mostraram crescente interesse por áreas de estudo antes negligenciadas, e por tópicos de psicologia próximas a estes estados-alterados de consciência, como, por exemplo, as experiências denominadas talvez erroneamente de místicas, ou de consciência de transe.

  As tendências isoladas começaram a se unir graças aos trabalhos de Abraham Maslow e Anthony Sutich, o que acabou por consolidar a chamada Quarta Força em Psicologia (esta classificação é feita com base em características próprias de cada escola, não pelo contexto histórico. Assim, a Primeira seria o Behaviorismo, a Segunda a Psicanálise e a Terceira o Humanismo). Foi assim que nasceu a Psicologia Transpessoal, como disciplina autônoma, no final dos anos sessenta, mas as tendências desse movimento já existiam há muito tempo. Por exemplo, Carl Gustav Jung, Roberto Assagioli e o próprio Maslow já haviam lançado as bases para o movimento transpessoal (Grof, 1988). Outros psicólogos, como Carl Rogers, acabaram, na evolução de seu trabalho e de sua prática clínica, por se encontrarem com dimensões transcendentes trazidos à tona por clientes e grupos terapêuticos.

II - Carl Gustav Jung

   Carl Gustav Jung pode ser considerado o mentor máximo e o primeiro psicólogo transpessoal. 

  As diferenças entre a Psicanálise Freudiana e as teorias de Jung, segundo Grof (1988), são muito bem representativas das diferenças entre uma psicoterapia mecanicista e biomédica e uma mais humana e holística. Ainda que Freud e muitos dos seus discípulos tenham ido muito a fundo nas suas revisões da psicologia ocidental, atingindo os limites do paradigma cartesiano em Psicologia, apenas Jung questionou radicalemente seus fundamentos filosóficos: a visão de mundo de Descartes e Newton. Jung salientou, de modo convincente, aspectos não racionais e não lineares da psique, que inclui o misterioso, o criativo e o espiritual como meios válidos, ou formas holísticas-intuitivas de conhecimento.

  Ainda de acordo com Grof, Jung via a psique como uma interação complementar entre elementos conscientes e insconscientes, com uma constante troca de informação e fluidez entre ambos. O insconsciente não seria um mero depósito psicobiológico de tendências instintivas reprimidas. Ele seria um princípio ativo inteligente, que, em seu estrato mais profundo, ligaria o indivíduo à toda a humanidade, à natureza e ao cosmos. Ele não seria governado apenas pelo determinismo histórico, como postulado por Freud, mas também por uma ânsia evolutiva com uma função projetiva e teleológica.

  Estudando a dinâmica do inconsciente, Jung descobriu as unidades funcionais que chamou de complexos e, como tais, foram adotadas po Freud. Os complexos são constelações de elementos psíquicos - idéias, opiniões, atitudes e convicções - associados com sensações diversas e que se juntam ao redor de um tema nuclear. Partindo de áreas biograficamente determinadas do inconsciente, Jung chegou aos padrões de criação dos mitos, lendas e símbolos universais, aos quais ele deu o nome de arquétipos e que expressam, de forma simbólica, conteúdos psíquicos de significação emocional universal, como o processo de maturação psíquica e outros.

  Jung não acreditava que o ser humano fosse uma mera máquina biológica. O conceito de máquina é extremamente antropomórfico para ser um conceito natural. Além disso, ele reconhecia que o processo de maturação psíquica pode, em certos casos, transcender e muito os estreitos limites do ego e do inconsciente individual. Por isso ele é considerado o primeiro representante da orientação transpessoal em psicologia.

   Pela sutil e cuidadosa análise de seus próprios sonhos, tal como antes fizera Freud, bem como dos sonhos de seus pacientes e dos delírios de pacientes psicóticos, Jung descobriu que os sonhos têm, algumas vezes, imagens e motivos que se repetem e que podem ser encontrados não só nas diversas partes do mundo, como também em diferentes períodos da história. Assim, ele chegou à conclusão de que, além do inconsciente individual, há um inconsciente coletivo ou racial, comum a toda a humanidade, manifestação da criatividade universal. As únicas fontes de informação sobre os aspectos coletivos do inconsciente seriam o estudo das religiões comparadas e da mitologia universal. Para Freud, os mitos podem ser interpretados em termos de problemas e conflitos caracterísiticos da infância e sua universalidade reflete o conjunto da experiência humana compartilhada culturalmente. Jung rejeitou tal explicação reducionista. Ele havia observado que os enredos mitológicos universais ocorriam em indivíduos que não tinham, de maneira alguma, qualquer conhecimento deles. Isso lhe sugeriu que haveria elementos estruturais formadores de mitos na psique inconsciente. Tais elementos originariam tanto a fantasia viva e os sonhos pessoais quanto a mitologia dos povos. Assim, os sonhos podem ser encarados como mitos individuais e os mitos, como sonhos coletivos. De qualquer modo, estas matrizes primárias são como a expressão instintual do potencial psíquico que cada indivíduo terá de, em seu crescimento, desenvolver.

  Freud sempre demonstrou durante toda a sua vida um apaixoante interesse por religião e espiritualidade, mas como expressão de recalques do desenvolvimento psicossexual do homem expresso na forma da cultura religiosa. Ele acreditava que era possível uma compreensão do processo irracional conflitivo, que viria das que fases do desenvolvimento psicossexual, responsável pelo surgimento da religião. Jung, ao contrário, dispunha-se a aceitar o irracional e o paradoxal como válidos em si mesmos. Ele estava convicto da realidade da dimensão espiritual no esquema universal das coisas. Sua suposição básica era que o elemento espiritual é uma parte orgânica integral da psique. A verdadeira espiritualidade, ou a sua busca, é um aspecto pulsional do inconsciente coletivo, independente do condicionamento da infância e da vida do indivíduo, do ponto de vista cultural e educacional. Assim, se a análise e a auto-exploração alcançam suficiente profundidade, os elementos espirituais emergem espontanemante na consciência. A maior contribuição de Jung para a psicoterapia é seu reconhecimento das dimensões espirituais da psique e suas descobertas nos campos transpessoais .

 O que faz de Jung um gênio na psicologia moderna é sua ampla visão, que vai bem além de sua época, e o seu método científico. O enfoque de Freud era estritamente histórico e determinísitco, bem ao gosto do paradigma cartesiano-newtonino; ele se interessava em encontrar explicações lineares-racionais para todos os fenômenos psíquicos, seguindo uma gênese histórico-biográfica. Jung estava convencido de que a causalidade linear não era o único princípio mandatório na natureza. Ele criou um termo, sincronicidade, para designar um princípio de ligação entre eventos de forma NÃO-causal, o que explicaraia as chamamdas coincidências significativas de ventos separados no tempo e/ou no espaço. Também se interessava intensamente pelo desenvolvimento da Física Moderna e mantinha estreito contato com seus representantes mais proeminentes. Grof indica que foi Einstein que, durante um encontro pessoal, encorajou Jung a perseguir o conceito de sincronicidade, e Wolfgang Pauli, um dos fundadores da teoria quântica, publicou um ensaio conjunto com Jung sobre sincronicidade, bem como escreveu um estudo sobre os arquétipos na obra do físico Johannes Kepler. Não deixa de ser tremendamente irônico o fato de que, embora Freud se orgulhasse de a Psicanálise ser atrelada ao mecanicismo newtoniano e de que os psicanalistas serem "mecanicistas incorrigíveis", ter sido a psicologia "esotérica" de Jung a que tenha exercido maior impacto entre os gênios da ciência moderna.

  Mas o que tem a ver Física e Psicologia? Bem, os Físicos modernos têm muito a dizer sobre a importância da consciência na definição do que seja realidade. Eles, juntamente com os místicos genuínos, parecem estar cada vez mais próximos uns dos outros em suas tentativas para descrever o que seja o universo (ver os excelentes livros de Fritjof Capra e de Lawrence LeShan). Os reseultados das experiências transpessoais sugerem que a natureza da gênese da consciência podem ser mais realisticamente descritas por mísiticos e físicos modernos do que pela mais estável e aceita linha psicológica acadêmica.

  Muitos autores (Abraham Maslow, Pierre Weil, Stanislav Grof, Ken Wilber, Walsh, Vaughan entre outros) oferecem a evidência de que os assim chamados "estados alterados" são não só naturais, como também são necessários para o bem-estar e a saúde do indivíduo, após atingir um certo grau de desenvolvimento cognitivo e ter atendido as necessidades básicas mais urgentes. Maslow acredita que, a menos que tenhamos oportunidade de mudarmos nosso estado de consciência, podem se desenvolver sintomas emocionais graves se imperdirmos o afloramente dos níves transcendentes da personalidade. Da mesma forma como existe uma pulsão para a experiência sexual, também parece haver uma pulsão para o desenvolvimento de níveis de percepção.

III- Roberto Assagioli

  Outro autor de importância para o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal é Roberto Assagioli. Ele é o criador da psicossíntese, que é um tipo de resposta ao método fragmentar da psicanálise, onde está claro a responsabilidade do indivíduo no processo do próprio crescimento, que é um impulso constante em todos as pessoas, apesar de relativamente tênue, embora poucas se dêem a chance de se desenvolverem plenamente. 

  A cartografia de Assagioli sobre a personalidade humana tem muito em comum com o modelo junguiano da psique, uma vez que inclui os campos espirituais e os elementos coletivos da psique (Grof, 1988). Ele se consitui de sete consituintes dinâmicos: o insconsciente inferior orienta as atividades psicológicas básicas, como as pulsões sexuais e os complexos emocionais. O inconsciente médio seria algo como o subconsciente. O campo superconsciente é o local dos sentimentos e aptidões superiores, onde se localizam a intuição e a inspiração. O campo da consciência inclui os pensamentos e sentimentos analisáveis. O ponto central da psique é o self. Todos esses componentes são anexados ao inconsciente coletivo. 

  O processo terapêutico fundamental da psicossíntese envolve quatro estágios consecutivos. Primeiro, o cliente toma conhecimento dos vários elementos (didaticamente falando) de sua personalidade, o que inclui seu ego ideal e o seu ego real, com todos os defeitos que a pessoa gostaria de suprimir. Depois que estiver bem familiarizado com eles, ele terá que começar a se desindentificar com esses elementos (conhecer-se a si mesmo e perceber que suas várias características são apenas características, não o fundamento do ser, ou self). Depois que a pessoa descobre seu centro psicológico unificador, é possível a realização total da psicossíntese, caracterizada pela culminância do processo de auto-realização pela integração dos componentes da personalidade à volta do novo centro, o self.


IV - Abraham Maslow


  Foi Abraham  Maslow quem primeiro formulou, explicitamente, os princípios da psicologia transpessoal como uma abordagem diferenciada das demais escolas de psicologia, embora reconheça suas raizes em Jung e no desenvolvimento posterior da Psicologia Humnista (das quais Maslouw, juntamente com Rogers, foi um dos principais teóricos). Uma de suas mais importantes contribuições é seu estudo sobre pessoas que vivenciaram, espontaneamente, as chamadas experiências místicas de "pico". Na psicoterapia tradicional, experiências místicas de qualquer tipo são sempre taxadas como sérias psicopatologias. Em seu muito bem-feito estudo, Maslow desmonstrou que as pessoas que tiveram experieencias espontâneas de "pico" benceficiavam-se delas e mostravam um claríssima tendência para a auto-realização, que é o objetivo da psicoterapia humanística. Ele julgou estas experiências como supernormais em vez de subnormais. A partir desse fato, ele erigiu os fundamentos da nova psicologia. 

  Um outro aspecto importante do trabalho de Maslow é a análise das necessidades humanas e sua revisão geral da teoria dos instintos. Ele descobriu que as maiores necessidades representam um aspecto importante e autêntico das estrutura da personalidade humana e não pode ser reduzido a uma mera derivação de instintos básicos (a idéia de instinto sugere uma busca da ligação do comportamento humano dentro das diretrizes da ciência mecanicista convencional). Segundo ele, as maiores necessidades têm um papel importante na doença e na saúde mental. Valores superiores (metavalores) e os impulsos para alcança-los (metamotivações) são intrínsecos à natureza humana, possuindo uma fundamentação tão biológica quanto a pulsão sexual, por exemplo. 

  Eis as palavras de Maslow anunciando o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal (Maslow, 1968, página 12):

  "Devo também dizer que considero a Psicologia Humanística, ou Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Força ainda "mais elevada", transpessoal, transumana, centrada mais na ecologia universal do que nas necessidades interesses restritos ao ego, indo além da identidade, da individuação e congêneres... Necessitamos de algo "maior do que somos", que seja respeitado por nós mesmos e a que nos entreguemos num novo sentido, naturalista, empírico, não-eclesiástico, talvez como Thoreau e Whitman, William James e John Dewey fizeram".

V - Carl Rogers


   Apesar de não ser incluído, pela maioria dos autores, como um psicólogo transpessoal, mas como um dos mais significativos psicólogos humanistas, não escapou à Carl Rogers as chamadas dimensões transcendentes ou espirituais que frequentemente emergiam no contexto terapêutico, especialmente em termos de Terapia de Grupo, na qual Rogers foi grande pioneiro. E foi exatamente a partir do revolucionário trabalho com Grandes Grupos e em Workshorps, na última fase de sua formulação teórica, que a temática transpessoal começa a se delinear nos escritos do criador da Abordagem Centrada na Pessoa, e nos escritos de seus principais colaboradores. John K. Wood, por exemplo, escreveu o seguinte comentário (Rogers, 1983b) sobre as ocorrências transpessoais que costumam ocorrer em Grandes Grupos:  

  Freqüentemente as pessoas compartilham e falam de sonhos sem interpretação ou comentário. Sonhos comuns muitas vezes ocorrem. Algumas pessoas reportam "experiências místicas" (...). As mesmas idéias e mitos [imagens arquetípicas] frequentemente emergem de várias pessoas ao mesmo tempo. (Rogers, 1983b, p. 34) 

  O próprio Rogers se refere muitas vezes em suas últimas obras às percepções transpessoais e fenômenos congêneres de estados sutis de consciência, e estabelece que estes são eventos observáveis e inerentes ao trabalho bem sucedido com Grandes Grupos e Workshops:

  O outro aspecto importante do processo de formação de [Grandes Grupos] com que tenho tido contato é a sua transcendência e espiritualidade. Há alguns anos eu jamais empregaria estas palavras. Mas a estrema sabedoria do grupo, a presença de uma comunicação profunda quase telepática, a sensação de que existe "algo mais", parecem exigir tais termos (Rogers, 1983a, p. 62). 

 Tenho a certeza de que este tipo de fenômeno transcendente às vezes é vivido em alguns grupos com que tenho trabalhado, provocando mudanças na vida de alguns participantes. Um deles colocou de forma eloqüente: "Acho que vivi uma experiência espiritual profunda, senti que havia uma comunhão espiritual no grupo. Respiramos juntos, sentimos juntos, e até falamos uns pelos outros. Senti o poder de força vital que anima cada um de nós, não importa o que isso seja. Senti sua presença sem as barreiras usuais do 'eu' e do 'você' - foi como uma experiência de meditação, quando me sinto como um centro de consciência, como parte de uma consciência mais ampla, universal. (Rogers, 1983a, pp. 47-48)


  De certa forma, Rogers parecia estar indicando que a ACP por ele elaborada, junto com seus colaboradores, estaria se desenvolvendo ao ponto de incluir as dimensões transpessoais em seu arcabouço teórico, mas a sua morte o impediu de levar adiante seus insights:

"Tenho a certeza de que nossas experiências terapêuticas e grupais lidam com o transcendente, o indescritível, o espiritual. Sou levado a crer que eu, como muitos outros, tenho subestimado a importância da dimensão espiritual ou mística" (Rogers, 1983a, p. 53).


VI -Características de uma nova área da Psicologia


  A nova psicologia que surge, apoiada nuca concepção holística e sistêmica, considera o organismo humano como um todo integrado que envolve padrões físicos, mentais, sociais e espirituais. Assim, a base conceitual da Psicologia dever ser compatível tanto com a da Biologia quanto da Sociologia, Antropologia e Filosofia. No modelo acadêmico moderno, a estrutura voltada à especialização do conhecimento tornou muito difícil a comunicação entre as disciplinas, e entre biólogos e psicólogos o entendimento era muito sofrido. E pior era a comunicação, cheia de medos e ressentimentos, entre psicólogos e médicos. Mas a abordagem sistêmica fornece um terreno propício para a compreensão das manifestações psicossomática do organismo na saúde e na doença, permitindo um intercâmbio, desde que se queira, entre biomédicos e psicólogos.

  O foco central da psicologia está tendendo a se transferir das estruturas psicológicas para os processos relacionais subjacentes. A psique humana é vista como um sistema dinâmico que envolve uma variedade de fenômenos ligados à auto-atualização e crescimento contínuos. Assim, a psique teria um tipo de inteligência intríseca que a habilita a envolver-se a tal ponto com o meio, que este processo pode levar não só a uma doença, mas também ao processo de cura e crescimento, como a concepção de autortranscendência da teoria dos sistemas.

VII - O Espectro da Consciência

  Um dos sistemas didáticos, em psicologia, que procura integrar os diferentes insights das várias escolas psicoterapêuticas do ocidente entre si, e estas com as várias abordagens orientais, é a Psicologia do Espectro, proposta por Ken Wilber, como um modelo da compreensão transpessoal das diferenças entre psicoterapias. Nele, cada uma das diferentes escolas é vista como uma faixa que se dedica a um aspecto específico do total a que se pode apresentar a consciência humana. Cada uma dessas escolas aponta para um estado de consciência que se caracteriza por possuir um diferente senso de identidade, indo da pequena identidade restrita ao ego até à suprema identidade com todo o universo, que é o nível extremo da consciência transpessoal. Este espectro pode ser entendido a partir de qutro níveis: o do ego, o biossocial, o existencial e o transpessal. 

  No nível do ego, a pessoa não se indentifica, a rigor, com o seu organismo, mas com uma representação mental, ou com um conceito do mesmo, como uma auto-imagem construida, ou egóica. É, pois, um problema de identificação com um modelo que a pessoa aceita, num investimento, como sendo seu "eu". Existe - para ela - um "eu" que é diferente e independente de tudo e de todos. A pessoa não se interessa muito em cultivar relações interpessoas sem que haja uma vantagem específica para o ego, e muito menos se preocupa com aspectos ecológicos ou sociais.

  O nível biossocial já envolve a consciência e a preocupação com o nível e com os aspectos do ambiente social da pessoa. A influência preponderante é a de padrões culturais e sociais. A pessoa sente como fazendo parte - e tendo alguma responsabilidade - pelo seu meio-ambiente social e natural.

  O Nível existencial é o nível do organismo total, caracterizado por um senso de identidade corpo/mente auto-organizador. É o nível dos ideais humanistas e do pensamento mais sofisiticado, em termos de filosofia de vida. Emoção e rezão estão mais ou menos associadas para o crescimento e o desenvolvimento das potencialidades do homem, desde que os meios sejam razoavelmente propícios. Quando não, ainda assim a pessoa luta para se auto-atualizar e a ajudar seus semelhantes. Alto grau de desenvolvimento moral é frequentemente associado a este estágio.

  O nível transpessoal é o nível da expansão da consciência para além das fronteiras do ego, correspondendo a um senso de indentidade mais amplo. Elas podem encolver percepções do meio ambiente, onde tudo está, de uma forma sutil mas muito presente, ligado - de forma NÃO LINEAR - a tudo. É o nível do inconsciente coletivo e dos fenômenos que lhe estão associados, tal como descritos por Jung e seguidores. É também neste nível de percepção que podem - mas não necessariamente ocorrem ou são regra geral próprias de uma percepção transpessoal - surgir, como eventos secundários, certos fenômenos parpsicológicos, como telepatia, precognição ou - o que não tipifica um fenômeno parapsicológico, mas sim psicológico - lembranças de vidas passadas. É uma forma extremamente sofisticada e não oprdinária de consciência em que a pessoa não aceita mais a crença uma separação rígida entre ela e todo o universo, a não ser como uma forma de atuar praticamente sobre o meio em que vive com outras pessoas. Essa forma de consciência transcende,e muito, o raciocíonio lógico concvencional, e aproxima-se das assim chamadas experiências místicas. E é este estado que é objeto mais íntimo de estudo da Psicologia Transpessoal.

  Enfim, concluindo, é preciso definir o relacionamento entre a prática da psicologia transpessoal e os enfoques tradicionais de psicoterapia. O que caraceteriza um terapeuta transpessoal não é o seu conteúdo, mas o contexto. O conteúdo é determinado pela relação terapêutica em si, entre cliente e terapeuta, como bem o estabeleceu Carl Rogers. Um terapêuta transpessoal lida com os problemas que emergem durante o processo terapêutico, incluindo acontecimentos mundanos, fatos biográficos e problemas existenciais. O que realmente define a orientação transpessoal é um modelo da psique humana que reconhece a importância das dimensões espirituais e o potencial para a evolução da consciência. O terapeuta transpessoal deve ser consciente do espectro total e deve sempre acompanhar o cliente a novos campos experienciais, quando há oportunidade, não importando qual o nível que o processo terapêutico esteja focalizando.

Bibliografia e Links:


Capra, Fritjof. - O Ponto de Mutação, Editora Cultrix, São Paulo, 1986.
Grof, Stanislav. - Além do Cérebro, Editora McGraw-Hill, São Paulo, 1988.
Fadiman, J. & Frager, R.- Teorias da Personalidade, Editora Harbra, São Paulo, 1986.
Maslow, Abraham. - El hombre Autorealizado, Editora Kairós, Barcelona, 1990.
Rogers, Carl R. - Um Jeito de Ser, Editora EPU, São Paulo, 1983.
Rogers, Carl R e outros.- Em Busca de Vida: Da Terapia Centrada no Cliente à Abordagem Centrada na Pessoa. Summus Editorial, São Paulo, 1983.
Walsh, R. & Vaughan, F.- Além do Ego: Dimensões Transpessoais em Psicologia, Editora Cultrix, São Paulo, 1991.

Além do Cérebro.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Estado Brasileiro: instrumento de poucos para explorar muitos




No Brasil fica demonstrado à exaustação o fato de que o Estado é uma máquina a gerir os interesses de uma minoria... Enquanto estes interesses forem atendidos, vivemos em uma "democracia". Caso contrário, a coisa mais fácil é mudar a constituição, financiar revistas semanas e emissoras de TV a "popualrizarem" um discurso que justifiquem a sangria do próprio povo ou, se isso falhar, apelar para uma "revolução" de direita, como a de 64, sempre será uma possibilidade... Afinal, só vale aquele que consome e produz enquanto consome e produz para setores cada vez mais restritos do grande capital...

Vejamos, então, a ação de rapinagem do setor "produtivo" no que tange ao processo de de dizimação dos aposentados, cruelmente chamados de "vagabundos" pelo ilustre déspota FHC, que iniciou a dizimação dos velhinhos, em artigo do jornalista Carlos Chagas publicado no blog do Jornal Tribuna da Imprensa, do Rio, em 16 de abril de 2010:

Vão chamar o Herodes?

Carlos Chagas


Comportam-se certas elites como o mar: chegam em ondas. Alegando déficit na Previdência Social, insurgem-se contra os aposentados sempre que, no Congresso, discute-se a reconquista de direitos surripiados daqueles que pararam de trabalhar. Desta vez, criticam projeto aprovado no Senado desobrigando os aposentados de descontar para o INSS. Da mesma forma, rejeitam o reajuste de 7,7% para quantos recebem pouco mais do que o salário mínimo.

O raciocínio básico desses privilegiados é de que tudo deve dar lucro, no governo e fora do governo. Se dá prejuízo, precisa ser fechado. Ou que se penalize ainda mais os envolvidos. Ignoram o sistema dos vasos comunicantes, que se aprendia no ginásio. Porque se a Previdência Social dá prejuízo, o Imposto de Renda dá lucro, ficando as coisas pelo menos equilibradas.

Trata-se de uma aberração exigir que aposentados tenham parte de seus vencimentos desviados para a Previdência Social, cujo objetivo é precisamente arcar com as aposentadorias. Estarão descontando para um segundo benefício, a ser conquistado dentro de trinta anos, no cemitério?

Pior é o reajuste. Quem recebe salário mínimo tem os vencimentos corrigidos de acordo com a inflação. Acima disso, menos, coisa que os 7,7% poderiam corrigir. Continuando esse abominável regime, em poucos anos todos os aposentados estarão nivelados por baixo, fazendo jus apenas ao salário mínimo.

Espera-se que o governo Lula resista às investidas de sua própria equipe econômica e atue no Congresso para a aprovação das duas mudanças referidas. Caso contrário, melhor será chamar o Herodes, aquele que mandava matar criancinhas. Poderá dedicar-se agora aos velhinhos…

sábado, 10 de abril de 2010

A Mercantilização do que é precioso ao ser humano



Carlos Antonio Fragoso Guimarães


“A desvalorização do mundo humano cresce na razão direta da valorização do mundo das coisas”.

Karl Marx


E o que vemos hoje é exatamente o crescimento da barbárie na civilização... Mecanização do trabalho, competitividade, meritocracia de alguns poucos, falta de oportunidades à maioria... E vemos gente sendo soterrada em chuvas que deveriam ser bênçaos, por não haver políticas de habitação. Mas os políticos que dirigem o Estado culpam os pobres por terem erguidos seus casebres em lugares perigosos - como se houvessem tido oportunidade e apoio para terem uma habitação minimamente digna em qualquer outra parte.

A alta burguesia financia o tráfico de drogas em seus consumos particulares, em suas festas, em sua participação na corrupção e a criminalidade, assim, se torna profissão a quem o Estado nega educação, moradia, saúde e pão, e a violência, assim, aumenta dentro de um Estado que se diz democrático, mas que privilegia apenas bancos, empresas e ricaços. Prefere-se, assim, cada vez mais, a fantasia do mundo virtual a encrar o pedido do menino de rua por um pedaço de pão...

Os responsáveis pela administração pública, francamente em sua maioria financiados e formados ou ligados à cultura individualista e materialista das elites, governam para uma sociedade fundamentada na exclusão e na indiferença. Homens e mulheres comuns representam apenas, senão problemas, parte de uma massa de mão-de-obra barata a ser manipulada ideologicamente para a obtenção de votos, com promessas feitas para nunca serem cumpridas.


Ao povo, diz nossa constituição sempre e cada vez mais vilipendiada de acordo com os interesses dos políticos plantados por poderosos, pertence a soberania. Essa idéia foi acalentada por Jean Jacques Rousseau e serviu de bandeira para os ideais democráticos pós-Iluminismo. Rousseau refletia que não há real liberdade onde não existe a real igualdade de direitos, deveres e oportunidades. Mas o nosso Estado real é benéfico apenas a alguns: a quem tem a propriedade das terras, dos bancos, das máquinas produtivas - que, ainda, só funcionam pelo braço e dedos dos assalariados que vendem a única coisa que possuem, sua força física - e esquece os demais cidadãos até os meses que antecedem a próxima eleição. O feitiche e o poder da grande propriedade privada: eis a origem de todos os males da humanidade.

Este é o nosso mundo, o mundo da ética protestante pentencostal das tvs, extorquindo dinheiro de gente que acredita em que o dízimo suadamente conquistado e doado voltará em bênçaos materiais e, assim fazendo, permitem a gente como Silas Malafaia comprar um jatinho particular de 12 milhões de dólares, e a Edir Macedo multplicar nas grandes cidades suas Casas da Moeda, o que confirma a exposição de Max Weber de que o espírito do capitalismo muito deve à certa ética protestante...

O mundo onde o "caráter" está deturpadamente refletido na quantidade de esbanjamento que se demonstra, enquanto a poluição aumenta, os recursos da terra são exauridos e pessoas valem muito menos que coisas... E quem ousa pensar ou falar sobre isso é encarado como um chato, um sonhador ou um socialista ultrapassado... Esse é o nosso mundo...

Aos poderosos é conviniente falar do desrespeito aos direitos humanos em alguns países considerados inimigos da democracia, mas esquecem que eles próprios possuem suas prisões (na própria Guantânamo cubana, na Abu Ghraib dos país invadido por quem fala, ou nas ruas onde excluídos são condenados que cumprem pena de sub-vida) onde prisioneiros políticos em número muito maior do que em Cuba são torturados e humilhados.

Aos poderosos, então, toda a honra e toda a glória. Eles dominam as instituições e, assim, possuem a "verdade" oficial. A mídia, por sua vez, fará a sua parte, escondendo a maquiando os diferentes pesos e diferentes medidias utilizados por quem joga no xadrez do poder, de acordo com o gosto de quem paga mais.