GGN. - Há dezenas de eventos em defesa dos direitos humanos e da democracia agendados para este mês em todo o país porque março é o mês que marca o golpe civil-militar de 1964, o dia da mulher, das mortes de Marielle e Anderson e de mobilização pela educação. Porém, o que mais tem se falado nos últimos dias é sobre um suposto apoio da presidência da República a um convite que circula nas redes sociais para uma manifestação popular de repúdio ao Poder Legislativo e, consequentemente, ao Estado Democrático de Direito. Isto demonstra o quanto o cenário brasileiro de retrocesso democrático tem se agravado, enquanto a consciência dos motivos dessa perda de referenciais é praticamente nula.
Acompanhe aqui esse calendário e os textos diários que serão publicados como forma de (re)avivar a memória da população sobre a gravidade de se quebrar valores e princípios essenciais à democracia.
A II Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado Será realizada no dia 29 de março de 2020, domingo, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Será nos mesmos moldes em que foi a realizada a I Caminhada no ano passado, na qual compareceram mais de 10 mil pessoas. Haverá também um show de acolhimento a partir das 16h, na Praça da Paz (acesso pelo Portão 07) e a marcha silenciosa terá início depois do pôr do sol. Os/as participantes poderão levar flores, velas e fotos de vítimas da violência estatal para serem depositadas no Monumento aos Mortos e Desaparecidos Políticos, que fica em frente a Portão 10 do Parque.
O evento deste ano em São Paulo é uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog, do Núcleo Memória e de várias entidades que apoiam o Movimento Vozes do Silêncio contra a Violência de Estado (https://vozesdosilencio.com/).
Outras capitais brasileiras, como Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife e Salvador, já estão organizando eventos similares, todos baseados nas marchas silenciosas realizadas em países vizinhos há mais de 20 anos.
O mês de março é marcado pelo Golpe Civil-Militar de 1964, assim, além das caminhadas há dezenas de outros atos agendados em todo o país em defesa da democracia, da educação e dos direitos das mulheres.
Apesar de tantos eventos, o que mais tem se falado nos últimos dias é sobre um suposto apoio da presidência da República a convites que estão circulando em redes sociais para uma manifestação popular, porém de repúdio ao Poder Legislativo e, consequentemente, ao Estado Democrático de Direito. Isto demonstra que o cenário brasileiro de retrocesso democrático tem se agravado.
Por isso, assim como foi feito por ocasião da I Caminhada, publicaremos a partir de 1º de março textos diários com o título “Para que não se esqueça, para que nunca mais se repita”, com relatos sobre as violações ocorridas durante a ditadura militar e até no período democrático.
Os abusos cometidos por governos autoritários são de conhecimento público, mas as pessoas e instituições responsáveis pelos crimes cometidos procuram dar a eles as mais variadas justificativas e com isso vão apagando da memória coletiva o sentimento de repulsa que deveria imperar em relação a qualquer tipo de violência, quebra da legalidade ou abuso do poder.
O Ministério da Defesa, por exemplo, em nota oficial publicada em 29 de março de 2019, assinada pelo Ministro e pelos representantes das três Armas, justificou o Golpe de 1964 dizendo que apenas “agiram conforme os anseios da Nação Brasileira”.
Ocorre que não cabe às Forças Armadas, que são o braço armado do Estado para defesa da soberania nacional, agirem em desacordo com a lei e a Constituição, sob qualquer pretexto. Mas o que é pior, para se manterem no poder, naquela época, agentes da ditadura militar reprimiram violentamente trabalhadores/as, estudantes, artistas, donas de casa e até crianças. Estupraram, torturaram, mataram e esconderam corpos de pessoas que morreram em suas mãos. Será que eram estes os “anseios da Nação brasileira”?
Será que as pessoas que saíram às ruas em 1964 clamando pela derrubada do governo e as que pensam fazê-lo nos próximos dias nas manifestações de repúdio ao Congresso não se importam (assumem o risco de) que estas violações ocorram?
Ninguém está seguro/a em um ambiente de desrespeito das autoridades armadas à lei vigente. Mesmo as pessoas que se consideram parceiras de quem está no poder, ou que acreditam agir de acordo com seus mandamentos, correm riscos se não puderem recorrer à lei e à Constituição.
Por mais que a população possa estar insatisfeita e decepcionada com a classe política é preciso compreender que não se pode abrir mão de valores e princípios constitucionais que foram alcançados a duras penas.
No dizer da Juíza Federal, Raquel Domingues do Amaral[1], os direitos “são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha.” E complementa “quando abro a Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho! […] Deparo-me com crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das fábricas com os estômagos vazios! Sufoco-me nas chaminés dos campos de concentração, expelindo cinzas humanas! Vejo africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros. Ouço o gemido das mulheres indígenas violentadas. Os direitos são feitos de fluido vital! Pra se fazer valer o direito mais elementar, a liberdade, gastou-se séculos e milhares de vidas foram tragadas. Quando se revoga um direito, desperdiça-se milhares de vidas…”
Esperamos que os eventos do mês de março a favor da democracia e a respectiva divulgação, contribuam para o fortalecimento desse tipo de consciência civil que nosso país precisa urgentemente.
EUGÊNIA AUGUSTA GONZAGA
Procuradora Regional da República
Mestre em Direito Constitucional
Coautora das primeiras iniciativas de responsabilização de agentes da ditadura
Stephen Fry, que gravou documentário sobre o avanço da homofobia no mundo, diz que que o espírito do brasileiro, de inclusão, aceitação e amor não combina com o do presidenciável do PSL
Por Redação RBA
Publicado 26/09/2018 - 10h03
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Reprodução/Out There
“Um dos confrontos mais sinistros que eu já tive com um ser humano”, diz Fry sobre entrevista com Bolsonaro
São Paulo – Ator, cineasta e ativista inglês, Stephen Fry, que entrevistou o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) para o documentário Stephen Fry e a Luta Gay pelo Mundo (2013), gravou vídeo divulgado nessa terça-feira (25) falando sobre as ameaças representadas pelo atual candidato à presidência. Ele diz que “o Brasil é melhor que Bolsonaro” e pede para que a população reflita sobre “o que significa ser brasileiro”.
“Venho assistindo à forte ascensão dele na política brasileira com algum espanto. Eu o conheci, o entrevistei. E tenho que dizer, como fiz na época: foi um dos confrontos mais sinistros que eu já tive com um ser humano. Realmente senti que estava encarando dois olhos bem mortos e apavorantes.” Fry diz que Bolsonaro “vive em um mundo de fantasia, de militarismo”, que ele considera “profundamente perturbador e tenebroso”.
O ator afirma que ama o Brasil e conta ter visitado o país inúmeras vezes. “Acho que sei o que o Brasil significa. Significa cor, riqueza, diversidade, uma simpatia espantosa, cordialidade. E, sim, inquestionavelmente, crime, drogas e violência e todo tipo de efeitos colaterais nefastos de tanta gente vivendo junto numa mistura de pobreza e riqueza extremas. Não estou dizendo que é uma sociedade perfeita. E nenhum brasileiro diria que é. Mas eu diria que o espírito brasileiro é de inclusão, aceitação, amor e puro prazer na variedade.”
Fry diz ainda que as declarações de Bolsonaro contra negros, mulheres e população LGBT são “genuinamente aterrorizantes”. “Vai resultar em mais cabeças quebradas nas calçadas. Mais sangue derramado, mais tortura, mais morte. Mais infelicidade, menos aceitação, mais pais chorando… E isso não pode estar certo.”
Durante a gravação do documentário, que retratava o avanço da homofobia pelo mundo, Fry chegou inclusive a tentar o suicídio. “Ver tanta ignorância, brutalidade, estupidez e horror não ajudou. Tive que me concentrar para não perder a calma diante dos absurdos ditos por esse senhor”, contou em entrevista. Na parte do filme sobre o Brasil, Fry conta a história de Alexandre Ivo, de 14 anos, que foi sequestrado por skinheads quando voltava de uma festa e foi brutalmente assassinado em 2010, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro.
Fry, que também é jornalista e escritor, atuou em filmes como Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras (2011), Alice no País das Maravilhas (2010), V de Vingança (2006), Wilde (1997), Um Peixe Chamado Wanda (1988), dentre outros. Também atuou como dublador em língua inglesa no desenho animado Pocoyo.
Assista ao trecho com a entrevista de Fry com Bolsonaro
As publicações da #vazajato pelo The Intercept fecham uma história. Mostram que Dilma foi vítima de um golpe arquitetado por uma quadrilha que operava em aparelhos do Estado. Mostra que a trama para prender Lula foi articulada por esses mesmos agentes. Que eles não investigavam para chegar a um cenário real, mas para conseguir qualquer coisa que pudessem amarrar numa história fictícia.
Jornalistas sérios que cobrem Brasília e mantém ao menos meia dúzia de fontes para checar suas análises ou reportagens sabiam que Lula nunca quis ser ministro de Dilma. Sabiam também que só aceitou quando viu a lama do impeachment já no terceiro andar do Palácio do Planalto e que percebeu que ou entrava no jogo ou ele se decidiria contra o governo.
Lula vivenciou uma romaria de pedidos para que aceitasse o cargo de ministro da Casa Civil. A quase todos que iam procurá-lo dizia que Dilma é quem tinha que fazer os movimentos que ele poderia fazer se fosse ao ministério. Que não adiantava nada ele assumir o cargo se a presidenta não aceitasse recompor a relação, entre outros, com Temer e Eduardo Cunha. Que se aceitasse o cargo e a missão, iriam achar que ele estava fugindo da Lava Jato. E ainda brincava, dizendo que aqueles que o indicavam para ser chefiado por Dilma já não queriam mais ser chefiados por ela. Porque entre muitos que lhe pediam isso estavam ex-ministros da petista.
Hoje, a farsa que foi montada para provar exatamente o contrário ficou comprada nos vazamentos do The Intercept. Moro, Dallagnol e outros da quadrilha que montaram o golpe usando aparelhos do Estado estão desmascarados. Ele esconderam 22 conversas de Lula com diferentes atores políticos, Temer incluído, e divulgaram apenas um áudio. Um dos grampos ilegais.
Foi este grampo ilegal de uma conversa com Dilma e Lula, que não comprovava nada do que os agentes públicos da quadrilha faziam crer, que foi parar no Jornal Nacional da Globo. Foi com base neste grampo ilegal que o arrependido Gilmar Mendes impediu que Lula fosse nomeado ministro de Dilma. Foi este áudio que foi usado pelos quadrilheiros da Lava Jato para colocar gente na rua pedindo o impeachment.
A história como sempre faz o trabalho de ir deixando algumas coisas mais claras. Hoje, os familiares daqueles que defendiam a escravidão nas páginas de jornais não querem ter seus nomes associados a eles. Amanhã, o mesmo acontecerá com esta escumalha capitaneada por Moro e Dallagnol.
Mas a pergunta que fica é bem objetiva. Esses agentes que ainda continuam a operar por dentro do Estado para prender uns e soltar outros, para favorecer candidatos que depois os levam para cargos públicos, como o de ministro da Justiça, não vão ser punidos? Continuarão a desfilar suas arrogâncias, prepotências e crimes como troféus? Continuarão a fazer tudo que fizeram contra outras pessoas que os desafiam e os enfrentam? Vão continuar impunes e cometendo crimes?
O vazamento de hoje fecha uma história. Ele mostra que Dilma foi vítima de um golpe arquitetado por uma quadrilha que operava em aparelhos do Estado. Mostra que a trama para prender Lula foi articulada por esses mesmos agentes. Que eles não investigavam para chegar a um cenário real, mas para conseguir qualquer coisa que pudessem amarrar numa história fictícia.
Este crime não prescreveu. Ele mantém Lula na prisão e tornou Bolsonaro presidente e Moro ministro da Justiça. Este crime transformou Dallagnol num riquinho palestrante. E fez com que muita gente se tornasse deputado e senador. Além de governador, como Doria e Witzel.
Este crime mudou o Brasil de forma acachapante. E para pior. Este crime está demolindo a democracia. Ou os criminosos que o cometeram são punidos e se faz justiça por dentro da democracia ou o Brasil se tornará um imenso Bacurau. Entendedores, entenderão.
Sinopse: Carl Gustav Jung tem um lugar proeminente, figurando ao lado de Freud, nas origens da psicoterapia psicanalítica. O que a maioria ignora são suas relações profundas e diversificadas com o mundo dos fenômenos psíquicos, ditos paranormais, que compareceram em profusão ao longo de toda sua vida, com raízes em sua família, e perpassam suas vivências, pesquisas e reflexões.
Esta obra, de feição biográfica, é um detalhado registro de todas as ligações de Jung, ao longo da vida, com o universo dos fenômenos psi – cuja existência sempre o atraiu e foi um dos dois motivos capitais de sua divergência e afinal distanciamento de Freud, que se negava a admitir sequer a pesquisa deles.
Entre os temas abordados, as ocorrências de fenômenos psíquicos na família Jung, suas experiências com os fenômenos paranormais, sozinho ou com outros psiquiatras, suas relações com os pesquisadores da parapsicologia, como o dr. Joseph B. Rhine, da Universidade de Duke, o dr. Willian James, considerado o pai da psicologia moderna, e os diversificados fenômenos que pontuaram a trajetória de Jung, merecendo-lhe profundas reflexões, orientando a direção de suas pesquisas e comparecendo de variadas formas em sua obra e na construção de suas teorias sobre o mundo da psique humana.
Nenhuma análise da obra e postulados de Jung será completa sem esta visão do universo dos fenômenos psi, que figuram nas raízes de sua visão de mundo, da qual a presente obra faz uma abordagem ampla, detalhada e fascinante, lastreada em sólida documentação.´
Imprensa conservadora ataca Bolsonaro de maneira cada vez mais violenta, rompendo com quem apoiou abertamente nas eleições de 2018, mas preserva Paulo Guedes. Antagonismo com Bolsonaro não afeta adesão das elites ao programa econômico que massacra os pobres e destrói o país.
Equilibrando-se corajosamente no fio da navalha entre tragédia e humor, o diretor Taika Waititi mergulha na guerra interior do pequeno protagonista: entre o superego do seu amigo imaginário (nada menos que o próprio Hitler) e o inconsciente secreto que se esconde no sótão da sua casa. Jojo finge ser uma nazista cruel da juventude hitlerista.
Nazistas são maus, frios e assassinos. É a própria encarnação do Mal no cinema, criando dramas pessoais e tragédias humanas. Tão poderosos que, através da propaganda política, teriam poderes totais sobre as massas hipnotizadas. Mas o filme “Jojo Rabbit” (seis indicações ao Oscar) é uma visão alternativa nesse senso comum. Equilibrando-se corajosamente no fio da navalha entre tragédia e humor, o diretor Taika Waititi mergulha na guerra interior do pequeno protagonista: entre o superego do seu amigo imaginário (nada menos que o próprio Hitler) e o inconsciente secreto que se esconde no sótão da sua casa. Jojo finge ser uma nazista cruel da juventude hitlerista. Mas tudo o que quer é fazer parte de um clube. “Jojo Rabbit” cria uma representação fílmica da psicologia freudiana no nazismo: no fundo, as pessoas sentem-se solitárias e mal-amadas – sós, procuram a sensação de pertencimento. Nem que seja entre nazistas.
Nazistas sempre foram os vilões perfeitos para o cinema: frios, maus, calculistas, cínicos, assassinos. Como não poderia deixar de ser, filmes sobre nazistas e segunda guerra mundial sempre focalizaram nos dramas pessoais, famílias que se separam e o horror diante do genocídio, o ódio e o racismo organizado como um sistema político-ideológico.
Mas além da maldade, os nazistas parecem dotados de algum tipo de poder hipnótico sobre as massas, capazes de agitar as multidões e arrastá-las à irracionalidade.
Essa visão que perpassa todos os subgêneros dos filmes sobre nazismo (exploitation, históricos, biográficos, humor negro etc.) é um senso comum diretamente originado do polímata francês Gustave Le Bon, no século XIX – para ele, as multidões seriam contagiadas pelo poder hipnótico dos líderes. Solto na multidão, o indivíduo abandonaria a responsabilidade individual e cederia às emoções. Um prato cheio para a propaganda política.
Mas o filme Jojo Rabbit (2019), com seis indicações ao Oscar (Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Atriz Coadjuvante, Figurino, Montagem e Design de Produção), do diretor judeu polinésio Taika Waititi, traz um enfoque diferente. Mais freudiano para fenômenos de massa como foi o nazismo no século XX.
Jojo Rabbit é uma comédia dramática que satiriza a Alemanha nazista já nos estertores da guerra e na iminência da derrota, cujo protagonista é um garoto solitário que tem como amigo imaginário nada menos do que Adolf Hitler. É justamente aí que está a aposta arriscada de Waititi quanto ao tom do humor – um dos maiores genocidas da História como uma figura paterna alternativa, aparecendo para oferecer apoio e conselhos. Aliás, interpretado pelo próprio diretor.
Mas é justamente nesse improvável amigo imaginário de um garoto de dez anos que está a novidade de Jojo Rabbit entre a cinematografia do nazismo: o garoto é um fanático aspirante à juventude nazista, mas não porque foi contagiado pelo poder hipnótico da propaganda nazi em uma pequena cidade no interior da Alemanha.
Solitário (seu pai e irmã morreram e vive com sua mãe), ele está desesperado pelo anseio de pertencer a um grupo, ser reconhecido, respeitado e amado. Adere ao nazismo, assim como poderia aderir a qualquer movimento que estivesse em evidência.
Tudo o que deseja é ter a sensação de pertencimento. Nada mais freudiano do que a psicologia de massas na qual se baseia o drama do pequeno protagonista: o que as pessoas mais temem não é a morte, mas a tragédia de não serem amadas – de morrerem em vida, sós e anônimas. Por isso, tendem a acompanhar a maioria, pelo medo de ficarem para trás. Não amadas.
O Filme
Jojo Betzler (brilhantemente interpretado por Roman Griffin Davis) é um garoto solitário em algum lugar da Alemanha nazista nos últimos estágios da guerra. Ele mora com sua mãe Rosie (Scarlett Johansson), tendo perdido o pai e a irmã.Desesperado por pertencer a alguma coisa, o pequeno Jojo torna-se um membro fanático da Juventude Hitlerista, sempre acompanhado pela assessoria do seu amigo imaginário Adolf Hitler.
Este Hitler imaginário é um amálgama de superego nazista e racionalizações reconfortantes. Às vezes, ele se enfurece (“Me acalme!”). Quando não tem o que dizer, oferece cigarros para o garoto. Às vezes ele fala gírias adolescentes… e come unicórnios.
Jojo parte para um campo de treinamento para jovens de Hitler, liderado pelo ex-capitão da SS alcoólatra chamado Capitão K (Sam Rockwell) e sua grotesca assistente, Fraulein Rahm (Rebel Wilson).
Não demonstrando a crueldade necessária ao ser desafiado a matar um coelho, é humilhado pelo grupo e passa a ser chamado de “Jojo Rabbit”. Depois de uma conversa motivacional com o Hitler imaginário, Jojo então tenta demonstrar suas proezas marciais arrebatando uma granada de mão, apenas para explodir em si mesmo, tornando-se manco e com grandes cicatrizes no rosto.
Jojo, um antissemita fanático, descobre horrorizado, que sua mãe está escondendo uma adolescente judia, Elsa (Thomasin McKenzie) no sótão.
Incapaz de traí-la sem também trair sua própria mãe, Jojo faz um pacto desconfortável com Elsa, insistindo que ela revele os segredos sinistros dos judeus para um livro que está escrevendo chamada “Yoohoo Jew”. Para assustar ainda mais Jojo, Elsa informa os “segredos” dos judeus: eles têm chifres, são atraídos por coisas brilhantes e penduram-se no teto quando dormem, como morcegos.
Pelo menos três jornalistas foram atacadas por milícias digitais, seus filhos expostos, ameaçados, e Sérgio Moro nada fez. O mesmo está ocorrendo com Ministros dos tribunais superiores e qualquer pessoa que ouse enfrentar as milícias.
O silêncio obsequioso de Moro, ante os ataques das milícias digitais é a maior prova do processo de fascistização do governo.
Assim como não há a menor dúvida das relações próximas dos Bolsonaro com as milícias envolvidas com a morte de Marielle, há evidências concretas do seu controle sobre os grupos de Internet que manipulam robôs e comandam assassinatos de reputação de críticos do governo.
Do Canal do economista e analista político Eduardo Moreira, seguido de texto de WilsonLuiz Müller, do Coletivo Auditores Fiscais pela Democacia:
Vídeo para reflexão ante o obscurantismo neofascista-autoritarista-reacionário que está destruindo o Brasil atualmente...
Para Ler:
O Fascismo é um só, por Wilson Luiz Müller
No atual estágio, o bolsonarismo está tentando consolidar um processo de brutal transferência de riqueza da maioria da população para uma minoria bilionária
A essência do fascismo é uma combinação de mentiras, manipulação e opressão. O resto são contextos históricos, personagens e condições objetivas diferentes. Os que não se atém à essência vão ficar discutindo firulas, procurando similaridades aqui e ali, sem chegar nunca à conclusão de que o bolsonarismo é o fascismo made in brazil.
O fascismo genuinamente bolsonarista está em construção. Nenhum fascismo nasce pronto. Para fazer uma analogia, a partir de que momento estava instalado o nazismo na Alemanha? Evidente que não foi a partir do funcionamento das câmaras de gás.
No atual estágio, o bolsonarismo está tentando consolidar um processo de brutal transferência de riqueza da maioria da população para uma minoria bilionária que, para preservar seus ganhos, tenderá a defender o regime. Para isso é necessário aparelhar e domesticar os órgãos policiais, militares e os de investigação; garantir a fidelidade de classe das principais instâncias do poder judiciário (tudo conforme a sábia recomendação do estrategista Jucá: com Supremo com tudo); aniquilar o poder de resistência da sociedade civil organizada (vide estrangulamento financeiro dos sindicatos).
Tudo isso é planejado – apesar de não ser dito de forma aberta – para que no processo de expropriação os atingidos pela perda de direitos não tenham recursos para se defender; se os tiverem que não tenham a quem recorrer; que se recorrerem às ruas, as polícias e os militares saibam de que lado ficar.
Portanto, as fontes do fascismo bolsonarista estão na política, nas instituições estatais e de forma destacada na economia.
O fascismo, apesar das mentiras e da violência que lhe são características, também depende do sucesso econômico. A melhoria econômica é a sua principal propaganda, sendo uma das formas de justificar o cometimento de atrocidades. A Itália fascista de Mussolini e a sua variante nazista da Alemanha de Hitler apresentaram resultados econômicos que trouxeram benefícios econômicos percebidos como favoráveis pela maioria da população.
Foi por causa dos bilionários que Bolsonaro, então candidato ainda desprezado pelas elites econômicas, trouxe Paulo Guedes para seu lado. Tempos depois Bolsonaro iria se referir ao ministro não mais como posto Ipiranga, mas como patrão, utilizando uma definição mais precisa para deixar claro que tudo isso está sendo feito para a elite bilionária parasita (o deus mercado) da qual Guedes é o sócio/preposto.
Enquanto a maioria do povo não acorda do pesadelo, os fascistas no poder vão tentando convencer a sociedade de que a transferência das riquezas para os mais ricos é uma necessidade que a todos beneficiará no futuro, por mais que pareça o contrário no presente.
Na falta de resultados econômicos positivos e perceptíveis pela população, o regime monta um cenário em que ilusionistas e bufões e assassinos se revezam no palco para prender a respiração da platéia. As emoções da plateia se movem entre o riso e o terror. Às vezes é engraçado, depois é humilhante, outra hora deprimente, depois vem a sensação de que nada tem solução. A encenação visa que ninguém da plateia se levante para espiar o que ocorre nos bastidores do cenário farsesco.
Se o sucesso na economia não for verdadeiro, os fascistas no poder passam a depender da eficiência com que mentiras são contadas para convencer as pessoas de que as coisas vão bem, apesar da percepção geral de que tudo vai mal. Bolsonaro tem tido uma ajuda e tanto da grande mídia corporativa na propagação de mentiras sobre uma economia que estaria prestes a deslanchar para o crescimento. É um comportamento esquizofrênico. Os donos das mídias arrancam os cabelos por causa dos insultos e mentiras contra jornalistas ao mesmo tempo em que replicam as mentiras sobre o crescimento econômico. Antifascistas num aspecto; fascistas em outro.
Manchete sobre os mais pobres:“Cortes no Bolsa Família impulsionam aumento da extrema pobreza no Brasil”.
Manchete para a alegria dos mais ricos: “Petrobras tem lucro recorde de R$ 40,1 bilhões, em 2019. A Petrobras registrou em 2019 lucro líquido de R$ 40,137 bilhões, alta de 55,7% em comparação com 2018”.
O que os “especialistas do mercado” vão dizer: estamos no caminho certo, lucros sobem como nunca, em breve os bons resultados serão sentidos no crescimento econômico…
O que os papagaios da mídia corporativa vão dizer: especialistas dizem que estamos no caminho certo…
Certo. Vamos ao real. A Petrobras vendeu muitos ativos nos anos recentes – patrimônio do povo. A Petrobras (empresa do povo) vende a gasolina, o gás e o diesel a um preço absurdo para seus donos, o povo. Por isso tem lucro recorde. Aos acionistas (muitos deles estrangeiros) serão distribuídos os lucros da empresa do povo, lucros que serão investidos na bolsa de valores e não na Petrobras. É uma das formas como ocorre o saque contra a população mais pobre, de como a riqueza produzida por dezenas de milhões de brasileiros é transferida, via fascismo, para uma minoria de bilionários, muitos dos quais são estrangeiros, e de como o saque é noticiado com tons coloridos e festivos.
A instauração do ultraliberalismo de Guedes – com a expropriação rápida das riquezas da nação – exige o avanço do regime fascista. Porque os pobres estão ficando mais pobres. O empobrecimento causa revolta. Para conter a revolta popular é preciso um regime fascista.
Mas o regime não pode ser apresentado de uma forma tão crua. É preciso revesti-lo com uma roupagem palatável, até desejável, para uma parcela importante da população. Aqui entra a outra forma clássica de transferência de riqueza, travestida de benefício acessível a todos, desde o bilionário até o trabalhador braçal: a bolsa de valores. A bolsa cumpre esse papel propagandístico porque uma expressiva parcela da classe média – formadora de opinião – passa a ter a percepção de que está ganhando dinheiro como nunca, e que pode, com um pouco de sorte e ficando do lado dos poderosos, entrar no clube dos ricos.
A bolsa de valores é uma das principais chaves para entender as mentiras e manipulações que tem sido difundidas sobre a economia. Desde a véspera da eleição presidencial em outubro de 2018, com as pesquisas indicando a eleição de Bolsonaro, a bolsa saiu de 81.000 pontos e chegou a 119.000 pontos em meados de janeiro de 2020, uma alta de quase 50% em pouco mais de um ano.
Dizem os “especialistas” que a bolsa antecipa o humor com a economia. Ora, o que se viu durante todo o ano de 2019 foi um bando de incompetentes e desqualificados dirigindo o país, batendo cabeça, espalhando boatos, chefiados por um ser abjeto, fazendo qualquer coisa menos cuidar do crescimento da economia. Adivinhem quanto a economia cresceu neste meio tempo. UM POR CENTO! Para onde os “especialistas “ olham para justificar esse otimismo, quando há uma distorção de cinquenta por um entre a alta da bolsa e o crescimento da economia?
Mas os “especialistas” podem ter se enganado, pode dizer algum ingênuo. Não, os “especialistas” não se enganam. Eles estão enganando as gentes. Eles também estão lucrando com as enganações a que submetem os incautos.
Sobre os sucessivos erros dos “especialistas enganadores” escrevi o artigo “As previsões de crescimento do PIB são uma farsa”, publicado no GGN e 247, onde demonstro que, de forma reiterada, no período de 2016 a 2019, os ditos cujos projetavam crescimento médio de 2,5% ao ano.
Tivessem algum fundamento as previsões que não a simples vontade de enganar as gentes, teríamos crescido uns dez por cento no período. Crescemos pouco mais que quatro, menos que o crescimento vegetativo da população. Ou seja, entregaram zero de resultado. Ninguém devia dar a mínima para o que falam. Mas a mídia corporativa segue lhes dando ouvidos. E segue replicando suas visões desprovidas de verdade material. No popular: a mídia corporativa segue replicando as mentiras dos autodenominados especialistas do mercado. Tudo para o bom êxito da implantação da agenda ultraliberal e neofascista.
A bolsa há tempo deixou de ser um termômetro da economia para se transformar num mecanismo eficiente para promover a rápida expropriação das riquezas da sociedade. As pessoas que não investem na bolsa tendem a achar que o dinheiro que lá circula é dinheiro dos investidores. É difícil entender como o dinheiro que deveria estar girando nas empresas e nas economias familiares acaba se transferindo para a ciranda financeira.
A análise de algumas manchetes ajudam a compreender o nexo existente entre a alta da bolsa, a arrecadação federal estável, economia estagnada e sensação de bem-estar de uma parte expressiva da classe média.
“Grandes bancos brasileiros distribuíram R$ 58 bilhões em dividendos em 2019”.
“Arrecadação federal atinge melhor patamar dos últimos 5 anos […] a arrecadação cresceu 1,69% e chegou a R$ 1,537 trilhão em 2019”.
“A arrecadação do IRPF (imposto de renda das pessoas físicas) dos ganhos líquidos em operações na bolsa subiu 49%. Fonte: Receita Federal”.
Como tudo isso se relaciona? De onde vêm esses lucros fabulosos?
Bancos e outras grandes corporações aumentam seus lucros investindo em ações na bolsa. A bolsa sobe. Bancos e empresas reinvestem a maior parte do lucro na bolsa; não reinvestem em tecnologias e máquinas para melhorar sua produtividade porque a economia está estagnada. A bolsa sobe mais um pouco porque tem mais gente investindo, o volume de dinheiro aumenta, os lucros dos bancos e empresas sobem. Uma parte dos lucros obtidos na bolsa é distribuída aos sócios e acionistas das empresas, sem tributação, lucro limpinho, caso único. Uma das justificativas para a distribuição de lucros ser isenta de tributação era que os acionistas iriam investir os ganhos em novas atividades produtivas. Mas os acionistas não investem na empresa; voltam a aplicar os lucros na bolsa. E a bolsa continua subindo.
A bolsa também sobe porque os juros estão muito baixos. A classe média que tem algumas economias começa a investir na bolsa. Esse é o momento mais desejado pelos bilionários. A partir do momento em que milhões de pequenos poupadores começam a investir suas economias na bolsa, todos se tornam defensores do sistema que remunera muito para não produzir nada. É o paraíso chileno a que Paulo Guedes se referia algumas semanas antes do país entrar em convulsão, dizendo que no país andino os trabalhadores não queriam mais saber de sindicato, que eles aplicavam na bolsa e se sentiam capitalistas.
Para manter o sistema funcional, é preciso que muitos se sintam beneficiados com esse processo especulativo e improdutivo, multiplicando vozes em defesa do sistema. Os que entram na ciranda passam a desejar que a roda não pare de girar. É preciso sempre colocar água nova no moinho. Se houver a percepção generalizada de que a ciranda é artificial, a roda trava e começa a andar para trás. As primeiras vítimas são os pequenos poupadores que entraram por último. Mas isso é apenas um detalhe para o sistema. Afinal, é para essas horas que existem os especialistas, que vão dizer que bolsa é risco, informação que será replicada pela mídia corporativa tal e qual. Taokei?
Os resultados da arrecadação federal em 2019 revelam lucros fantásticos em alguns setores (não é somente a Petrobras e os bancos), graças aos resultados auferidos com a especulação da bolsa de valores. Isso acontece a despeito do avanço rápido do processo de desindustrialização da economia nacional. Vários setores industriais tiveram forte recuo nos últimos meses do ano passado, com destaque negativo para os setores de produtos químicos e metalurgia, que somente em dezembro de 2019 tiveram sua arrecadação reduzida em percentuais de 16% e 31%.
Isso tudo sem falar do avanço do poder das milícias em várias esferas da economia e nas estruturas estatais, com um impacto nada desprezível para a desorganização das atividades econômicas tradicionais.
O estágio atual do fascismo bolsonarista em construção no país pode ser assim sintetizado:
Os muito ricos estão ficando mais ricos.
Os remediados estão ganhando dinheiro com a especulação financeira da bolsa.
Os tralhadores e desempregados são esculachados e proibidos de lutar por seus direitos, com Supremo com tudo.
O ogro escolhido para comandar o espetáculo insulta dia sim e outro também os segmentos sociais que insistem em defender um resto de civilidade.
E a mídia corporativa dizendo: se ao menos o presidente não elogiasse torturadores e não fizesse insultos de cunho sexual contra jornalistas! Vejam que apenas por um detalhe não estamos todos felizes.
Wilson Luiz Müller – Membro do Coletivo Auditores Fiscais pela Democracia (AFD)
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