quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Pepe Escobar explica Gaza e a guerra do Império (e de seu aliado, Israel) contra o Sul Global

 

Vìdeo da TV 247:

Geopolítica, imperialismo e a guerra como indústria e instrumento de dominação e subjugação. 

"O projeto Ucrânia (contra a Rússia e a China) desabou completamente. Por isso, a Casa Branca deu carta branca a Netanyahu para a guerra na Palestina."



New York Times se desculpa por reportagem sobre ataque em Hospital de Gaza

 

Dos canais ICL Notícias e Rede TVT:




Uso indevido de programa de espionagem pela Abin partidarizada por Bolsonaro/militares ameaçou a soberania nacional, avaliam investigadores da PF

 

Dados de geolocalização utilizados pela Abin para monitorar ilegalmente adversários e opositores do governo Bolsonaro iam, sem filtro, para o sistema israelense

Fachada da Abin

Fachada da Abin (Foto: Reprodução/Abin)

247Investigadores da Polícia Federal (PF) avaliam que o uso do sistema israelense First Mile, empregado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar ilegalmente adversários políticos, críticos e opositores do governo Jair Bolsonaro (PL), colocou em risco a soberania nacional. 

Segundo a coluna do jornalista Paulo Cappelli, do Metrópoles, “a ameaça à soberania nacional estaria configurada uma vez que as informações foram obtidas por meio de um sistema criado em outro país. É que não havia proteção, fiscalização ou regulamentação por parte da Anatel. Os dados de geolocalização iam, sem filtro, para o sistema israelense”. >>> Abin já identificou metade dos 1,8 mil alvos de espionagem ilegal sob o governo Bolsonaro 

Durante seus quatro anos de governo, Bolsonaro manteve uma relação próxima com o governo de Israel, de onde a Abin importou o sistema. No ano passado, Bolsonaro manteve uma reunião confidencial  com o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, poucos dias antes de deixar a Presidência.

A Polícia Federal, ao investigar o caso, enfrentou obstáculos, como a falta de colaboração da Abin, que forneceu apenas números, sem os nomes correspondentes, da lista de pessoas monitoradas pelo software First Mile. 

Entre os alvos do suposto monitoramento ilegal estão jornalistas, políticos e opositores da gestão Bolsonaro. A suspeita de obstrução das investigações levou à discussão na PF sobre a possibilidade de prisão preventiva de mais servidores da Abin, além dos dois já detidos. O comando da Polícia Federal, porém, interveio para evitar que mais membros da agência fossem alvos da operação.


Como muitos evangélicos se tornaram radicais protofascistas bolsonaristas

 

Vídeo do canal Meteoro Brasil:

Dizem que Deus é amor, mas ele pode ser também poder. Um plano de poder. No Brasil, até não muito tempo atrás, esse arranjo aparecia principalmente no Congresso Nacional, e tinha nome e sobrenome: bancada evangélica.



Bob Fernandes: Caos e terror no RJ; espionagem ilegal bolsonarista, PF e ABIN duelam; mídias usam “libertário” no flerte com fascista

 

Do Canal do Ananlista Político Bob Fernandes:




quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Uma criança palestina morta a cada 9 minutos; nenhuma delas militante do Hamas. Artigo de Jeferson Miola

 

"Esse crime bárbaro contra a infância só tem equivalência em termos de monstruosidade com o Holocausto", diz Jeferson Miola

Um homem palestino carrega uma menina ferida no local dos ataques israelenses, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, 14 de outubro

Um homem palestino carrega uma menina ferida no local dos ataques israelenses, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, 14 de outubro (Foto: REUTERS/Yasser Qudih)

Em 15 dias de ofensiva genocida na Faixa de Gaza, Israel já matou 5.791 palestinos. Dentre as vítimas, 2.360 crianças e 1.230 mulheres, segundo informes de autoridades sanitárias do território acompanhadas por técnicos da OMS – Organização Mundial de Saúde.

Em média, são quase 160 crianças palestinas mortas por dia, o que corresponde a praticamente 7 crianças mortas por hora – uma a cada 9 minutos.

Não consta em nenhum registro fotográfico, jornalístico ou documental, que uma única dessas crianças assassinadas estava armada, em combate; ou que fosse militante do Hamas ou estava entrincheirada.

Esse crime bárbaro contra a infância, produzido em escala industrial e com o propósito de promover uma limpeza étnica, só tem equivalência em termos de monstruosidade com o Holocausto.

Até aqui, Israel já vingou mais de quatro palestinos para cada vítima israelense do ataque do Hamas em 7 de outubro. Escore “baixo” e ainda provisório, que contabiliza apenas até o 15º dia de agressões brutais incessantes.

Considerando-se, porém, o “parâmetro de compensação” sionista, que considera que a vida de um israelense equivale à vida de pelo menos 100 “animais selvagens” palestinos, esta terrível proporção deverá se multiplicar muitas vezes ainda.

E Israel está trabalhando forte para atingir este escore tétrico. O gabinete nazi-fascista de guerra faz um esforço danado. Seguem-se os bombardeios, as destruições, os ataques desproporcionais e o morticínio com bombas de fósforo branco e fuzilamentos.

Nem hospitais são poupados nesta ofensiva criminosa que não pode ser chamada, do ponto de vista técnico e legal, de guerra, porque é um genocídio!

Israel controla totalmente a “câmara de gás” conhecida pelo nome de Faixa de Gaza, embora não causaria nenhuma estranheza se se chamasse Auschwitz.

Israel detém sob seu controle a energia elétrica, a comida, os remédios, a água, os combustíveis e todos recursos elementares de vida.

A Faixa de Gaza é a maior prisão ao céu aberto do mundo. Cercada e monitorada por terra, mar e ar pelo regime sionista de apartheid.

Mandela já havia ensinado lá atrás, há mais de meio século, que a luta do povo sul-africano contra o apartheid tinha absoluta identidade com a luta do povo palestino. Duas formas idênticas de racismo, colonialismo, escravidão, segregação e subjugação humana.

Israel está fortemente empenhado em seguir com seu plano de extermínio para ocupação da “terra prometida”. Trata-se, portanto, de um passo insano rumo ao aprofundamento do regime étnico-teocrático fundamentalista. Isso não combina com modernidade democrática e civilizacional, com laicidade.

Em nome disso, desse Estado étnico-teocrático fanático, é preciso cortar todo o mal pela raiz, entendem os sionistas. É necessário extirpar e esterilizar até a última semente. Por isso mais de 50 mil mulheres palestinas grávidas estão sob o ataque asqueroso de Israel.

Funcionários da ONU testemunham o colapso humanitário. Apesar disso, a tragédia transcorre sem parar, como num filme transmitido em tempo real para a excitação de uma platéia estupidizada e desumanizada que se entretém com o espetáculo dantesco de dizimação do povo palestino.

A tragédia vai descendo degraus cada vez mais profundos do precipício. A tragédia de Gaza nos aproxima do fim da humanidade. Estamos muito próximos da falência absoluta de um ideal aceitável de sociedade humana.

Israel mata uma criança palestina a cada 9 minutos. É disso que precisamos falar! É isso que precisamos deter!

Nenhuma dessas crianças mortas a cada 9 minutos é militante do Hamas. Nenhuma delas que foi assassinada estava armada ou em combate. Nenhuma dessas crianças assassinadas a cada 9 minutos por Israel estava entrincheirada.

Todas essas 2.360 crianças assassinadas até aqui, 15º dia da ofensiva genocida, estavam nas suas casas, nas suas escolas, brincando inocentemente sobre os destroços da destruição causada pelos bombardeios do regime sionista de apartheid nas suas casas, nas suas escolas, nos seus hospitais …

Cada hora de inação criminosa e cúmplice da ONU representa a morte de 7 crianças palestinas.

Mas esta cifra “ainda modesta” de mortes de “animaizinhos selvagens”, como o ministro sionista da Defesa chamaria as crianças palestinas, é bastante provisória, porque está em constante crescimento.

O morticínio palestino crescerá de modo exponencial quando Israel decretar o momento da “solução final”. As crianças, as mulheres e as pessoas idosas, ao lado da verdade, serão, como sempre, as primeiras vítimas da barbárie.

Gaza e a falência moral dos EUA e de Israel. Artigo de Aldo Fornazieri

 

Se olharmos para as sentenças morais da história de todos os tempos, não resta duvida de que o tirano, o explorador, o exterminador, o genocida será condenado

Gaza bombardeada, Benjamin Netanyahu e Joe Biden

Gaza bombardeada, Benjamin Netanyahu e Joe Biden (Foto: reuters)

247. - Quando a tempestade de bombas cessar, quando o rugido de morte dos tanques e canhões se aquietar, quando os prédios deixarem de queimar e de ruir, sobrará uma coisa. Quando as valas comuns de mulheres e crianças não forem mais visíveis, quando não existir mais terror nos olhos das meninas e dos meninos, quando o choro e os lamentos não forem mais ouvidos, quando os gemidos de dor se apagarem, sobrará uma coisa. Quando os generais tiverem sua sede de sangue saciada, quando as análises do realismo político e militar se apagarem na palidez dos tempos, quando a falha justiça dos homens estiver morta, quando Biden, Netanyahu, seus ministros e estrategistas virarem pó, sobrará uma coisa.

Sobrará o implacável juízo da História. Claro, a história pode ser escrita e reescrita, pode ser contada de várias maneiras, mas o seu juízo sempre tem um sentido universal. E no sentido universal deste juízo sobressai a sentença moral, pois é a perspectiva da humanidade, de sua construção e de sua opção que estará em jogo. Esta sentença moral será profundamente condenatória às decisões e às ações dos Estados Unidos e de Israel acerca do que fizeram, estão fazendo e farão em Gaza de modo particular e com os palestinos em geral. 

Se olharmos para as sentenças morais da história de todos os tempos, não resta duvida de que o tirano, o dominador, o explorador, o exterminador, o genocida será condenado. Os oprimidos, os explorados, os humilhados, os espezinhados, os massacrados serão louvados, porque são as vítimas. A compaixão humana sempre triunfa sobre a impiedade, embora as vítimas quase nunca triunfem sobre a crueldade dos tiranos criminosos. 

A história condenará Estados Unidos e Israel e seus atuais governantes e renderá suas homenagens aos palestinos. Não ao Hamas, mas ao povo palestino. É o povo palestino que está sofrendo as piores aflições. O Deus de Moisés mandou que este voltasse para o Egito, libertasse os hebreus, pois eles estavam sofrendo terríveis aflições. Os palestinos de hoje são os hebreus antigos. Esperam um líder, um enviado de Deus, para que os liberte da tirania dos “faraós” de Tel Aviv e de Washington. 

Ao voltar de Israel, onde foi dar apoio a Netanyahu para continuar a matança em Gaza, Biden pretendeu buscar legitimidade nos discursos fundacionais de John Winthrop. Trata-se de uma farsa: Os Estados Unidos não são mais uma cidade no alto da colina a espargir a luz da razão e da liberdade no mundo como uma lamparina. Despois da Segunda Guerra, os Estados Unidos começaram a pairar sobre o mundo como uma nuvem escura, ameaçadora da liberdade e da autodeterminação dos povos. 

Agrediram o Vietnã, incendiaram inocentes, semearam fogo, mentiram para destruir o Iraque, invadiram o Afeganistão, derrubaram governos democráticos e apoiaram ditaduras. Nessas guerras todas, os Estados Unidos já foram sentenciados e condenados pela história. Além disso, foram derrotados e voltaram para casa com os ombros cobertos de vergonha. Não aprenderam essas lições da história e agora são o escudo da brutalidade praticada por Israel em Gaza.

Desde a criação do Estado de Israel, são o escudo para que Israel desobedeça as resoluções da ONU, viole as balizas originais das destinações de territórios. São o escudo para que os judeus ortodoxos roubem as terras dos palestinos, cometam massacres e deslocamentos desses deserdados da terra. 

O conceito de “dois Estados” é uma mentira que vem sendo propagada há mais de 50 anos. Os judeus têm seu Estado e isto é correto. Mas por que, até hoje, os palestinos não têm o seu? Porque Israel e os Estados Unidos não querem. 

Biden comparou o Hamas a Putin. Deveria ter comparado os Estados Unidos com a Rússia e Putin com Netanyahu. A guerra de Gaza não é uma guerra da barbárie contra a democracia. É uma guerra por terra e liberdade contra grileiros e opressores. 

O secretário geral da ONU, António Guterres tem razão: o terrorismo do Hamas é injustificável, mas ele não vem do vácuo. A opressão imposta aos palestinos por Israel e os Estados Unidos é a causa dessa violência. Os palestinos, há mais de 50 anos, têm suas casas invadidas, suas terras roubadas, suas fontes tomadas. Não podem cultivar seus campos, colher os frutos de suas oliveiras, videiras e romãzeiras. Não podem ter paz, não podem sonhar com a paz, não podem criar seus filhos em paz, não podem sonhar com um futuro esperançoso. É neste terreno de sofrimentos e humilhações que germina o terrorismo. 

É certo que as queixas do povo palestino não justificam a violência do Hamas. Mas também é certo que o terror do Hamas não justifica o terrorismo de Estado praticado por Israel contra a população civil de Gaza. Nem o discurso do extermino do Hamas pode encobrir o massacre dos palestinos. O holocausto ensejou a criação do Estado de Israel. Mas o holocausto não legitima a história de violência que o Estado de Israel desenvolve contra os palestinos. No fundo, Netanyahu e seus ministros radicais querem exterminar os palestinos. Já vocalizaram esta intenção várias vezes. 

A destruição de hospitais, mesquitas, escolas, edifícios, bairros e cidades em Gaza precisa parar. Gaza já é um campo de concentração a céu aberto. Agora, os bombardeios impiedosos, estão transformando Gaza num grande cemitério a céu aberto. São milhões de pessoas sem comida, sem água, sem remédios.

Não podemos ficar indiferentes com o que está acontecendo em Gaza. Precisamos nos indignar e agir. Milhares de pessoas estão se manifestando pelo mundo em favor dos palestinos. O senso moral dessas pessoas e sua compaixão diante do sofrimento, dor e morte, mobilizam essas pessoas nas ruas. Querem o fim da matança e querem uma solução definitiva para a causa dos palestinos. 

Só existem três medidas justas, neste momento, em relação à guerra em Gaza: a suspensão da matança, ajuda humanitária aos palestinos e a libertação dos reféns do Hamas. O resto vem depois. São medidas urgentes, desesperadas, capazes de impedir milhares de mortes. Mas Israel e os Estados Unidos não querem estas medidas. Sem escrúpulos morais, desprovidos de valores humanistas, a história os condenará.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política e autor de Liderança e Poder.

Fonte do Texto: Brasil 247

Como explicar a Nazisraelfilia fundamentalista da direita brasileira?, por Luis Felipe Miguel

 

Ou é uma compulsão para apoiar o racismo e a violência onde quer que se manifestem? Tipo “hay brutalidad, soy a favor”.

Do Jornal GGN:


Goebbels e Alvim

Como explicar a Nazisraelfilia da direita brasileira?

por Luis Felipe Miguel

Vocês lembram do Roberto Alvim? Como dramaturgo, certamente não. Mas como secretário da Cultura do governo Bolsonaro, talvez. Foi ele que incorporou um Goebbels num vídeo “patriótico”, que plagiou falas do ministro da Propaganda nazista.

E o Silvinei, o homem que pôs a Polícia Rodoviária Federal a serviço do golpe? Está preso. No celular dele, ali onde as pessoas guardam fotos dos filhos, do animal de estimação, do conje, das férias na praia, foram encontradas galerias dedicadas a Hitler, Mussolini e Bolsonaro.

João Henrique Catan. Quem? Ah, o deputado estadual do Mato Grosso, obviamente bolsonarista, que exibiu o livro de Hitler – Mein Kampf, “minha luta” – da tribuna da assembleia.

O notório olavete que se tornou assessor de Bolsonaro para assuntos internacionais, Filipe Martins, fez sinal supremacista em audiência no Senado. O mesmo olavete que, por mera “coincidência”, colocou, na foto de abertura do seu perfil no Twitter, um verso do poema de Dylan Thomas que abria o manifesto de um neonazista que matou 51 pessoas na Nova Zelândia.

O neonazismo vive um boom no Brasil, graças ao bolsonarismo. No Sul do país, as manifestações em favor do golpismo do então presidente muitas vezes incluíam a saudação nazista.

Não dá para negar: há um laço que liga o bolsonarismo ao neonazismo. De identidade, em muitos casos, mas ao menos de fascinação, em outros.

O antissemitismo, como todos sabemos, está no coração da doutrina nazista. Hitler comandou o extermínio de 6 milhões de judeus. Como explicar, então, o apoio ferrenho que a extrema-direita dá ao Estado de Israel?

Será que é só a vontade de “limpar a barra”? Os acenos ao nazismo tomam a forma de apitos de cachorro e o apoio a Israel seria uma demonstração pública de que “não somos neonazistas”.

Ou é uma compulsão para apoiar o racismo e a violência onde quer que se manifestem? Tipo “hay brutalidad, soy a favor”.

Talvez um espírito de oposição? A extrema-direita se coloca contra tudo que a esquerda defende. Se a esquerda é antinazista, já pinta uma simpatia por Adolf. Como a esquerda apoia a autonomia do povo palestino, então ficam do lado do Estado de Israel.

Explicações mais complexas incluem os evangélicos de direita. Como disse o pastor e teólogo Alexandre Gonçalves à BBC Brasil, eles confundem “o povo de Deus histórico, a nação de Israel do Velho Testamento, com o Estado moderno de Israel, com a política sionista”.

Ou, então, a reconfiguração do tradicionalismo – doutrina que teve influência na formação do nazismo histórico e que recuperou importância graças à ação de seguidores como Steve Bannon ou Olavo de Carvalho – reposicionou o antissemitismo no universo mental da extrema-direita.

Não sei a resposta. Mas é um fenômeno estranho.

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A Lava Jato de Moro, Dallagnol & Cia. beneficiou Estados Unidos com pelo menos R$ 1,3 bilhão, mostra estudo inédito

 


Outros R$ 982 milhões foram para os bolsos da Suíça, aponta material do Observatório da Lava Jato

Deltan Dallagnol e Sergio Moro

Fotos: Fernando Frazão/Lula Marques

Jornal GGN:

Graças às investigações da Operação Lava Jato contra grandes construtoras brasileiras, países como Estados Unidos e Suíça saíram ganhando uma fortuna. Somente em multas aplicadas em acordos de leniência, delação premiada e outros compromissos, gigantes nacionais tiveram de desembolsar pelo menos R$ 1,3 bilhão para o caixa dos Estados Unidos, e outros R$ 982 milhões para os suíços.

Os dados são parciais (ou seja, os valores ainda podem aumentar) e foram divulgados pelo Observatório da Lava Jato, organização integrada pelos juristas Carol Proner, Lenio Streck, Fernando Augusto Fernandes, Ney Strozake e Charlotth Back. Com o levantamento inédito, o grupo busca lançar luz sobre o paradeiro dos recursos bilionários que foram arrecadados pela Lava Jato e que, até hoje, seguem sem controle e transparência.

“Os valores referem-se apenas aos acordos que subimos até o momento no Observatório. Não esgotam, no entanto, o total, à medida que ainda estamos tratando e levantando todo material”, explicam os membros dos Observatório.

Entre as empresas que pagaram recursos aos EUA ou Suíça, na esteira das investigações da Lava Jato, estão a Braskem e Odebrecht, que teve provas extraídas dos sistemas Drousys e MyWebDay, usadas em seu acordo de leniência, anuladas pelo Supremo Tribunal Federal por quebra na cadeia de custódia e outras ilegalidades, incluindo a cooperação internacional ilegal com os suíços.

A tabela do Observatório da Lava Jato contém as pessoas físicas ou jurídicas que foram multadas, o processo que originou a penalidade, a destinação dos recursos e pagamento efetuados. Além dos Estados Unidos e Suíça, a própria Lava Jato foi beneficiada. Há sinalização de milhões de reais para a “força-tarefa” do Ministério Público Federal e também para a Polícia Federal.




Protagonismo do dólar em xeque? Tudo indica que sim, por Tatiane Correia

 

Maiores credores diminuem participação no mercado de treasuries, e China já tem aparecido como alternativa para os mercados emergentes

Foto: Eric Prouzet via Unsplash


GGN. -Os Estados Unidos detêm o protagonismo político e econômico no cenário global há muitas décadas, ao ponto de sua moeda local ser usada como referência para as negociações no mercado financeiro internacional.

“O mercado de US$ 25,8 trilhões dos títulos do Tesouro (os treasuries) é o sistema circulatório dos mercados financeiros mundiais – todo o resto depende dele”, destaca o jornal norte-americano The Washington Post, afirmando ainda que é papel das autoridades “manter o mercado saudável” diante da mudança de perspectivas nas taxas de juros de longo prazo e ao elevado endividamento norte-americano.

Porém, esse protagonismo está começando a ser questionado – o que pode inclusive causar mais problemas a um país que tem tido alguma dificuldade em se recuperar da crise gerada pela pandemia de covid-19 e está envolvido com as mais recentes guerras em andamento.

E essa fuga pode ser vista em números: entre agosto de 2022 e agosto de 2023, o Japão (maior credor dos Estados Unidos) diminuiu o montante de títulos em mãos de US$ 1,196 trilhão para US$ 1,116 trilhão, ao passo que a China cortou sua parcela de US$ 938,6 bilhões para US$ 805,4 bilhões no mesmo período comparativo.

Fechando a lista dos cinco maiores credores norte-americanos, estão Reino Unido (US$ 698,1 bilhões em agosto de 2023), Luxemburgo (US$ 365,8 bilhões) e a Bélgica (US$ 316,7 bilhões), segundo dados oficiais do Departamento do Tesouro norte-americano.

O avanço chinês junto aos emergentes


O acirramento do confronto entre Israel – aliado histórico norte-americano – e o grupo extremista Hamas e a guerra entre Ucrânia e Rússia, onde norte-americanos e europeus tem fornecido dinheiro e recursos para o governo de Volodymyr Zelensky conter o avanço do exército de Vladimir Putin, também tem sido visto como pontos de alerta diante do impacto na economia e na política global.

Tem sido a China o país a ocupar os espaços historicamente ocupados pelos Estados Unidos e seus aliados, o que pode inclusive levar a mudanças mais destacadas no desenho geopolítico e econômico.

Um dos exemplos nesse sentido é a política Road and Belt promovida pelo governo de Xi Jinping. Lançada há 10 anos, tal estratégia teve como ponto inicial o financiamento de obras de infraestrutura em diversos países, muitos deles localizados na Ásia.

Além dos projetos de infraestrutura, estão previstos a realização de mais negociações, financiamentos e acordos de investimento fechados em moeda chinesa, como forma de os países evitarem os riscos associados ao dólar norte-americano.

Documento divulgado a uma semana da última edição do Fórum de Cúpula de Cooperação Internacional da Iniciativa Road and Belt revela o avanço dos planos chineses para questões financeiras, como a assinatura de contratos bilaterais de swap cambial com 20 países parceiros e acordos de compensação em yuan com outras 17 nações.

Um exemplo disso foi o recente empréstimo obtido pela Argentina, que conseguiu um empréstimo equivalente a US$ 6,5 bilhões em renminbi anunciado pelo presidente do país, Alberto Fernández, durante visita recente ao país.

Yuan como contraponto ao dólar


Artigo publicado no jornal South China Morning Post lembra que a indústria de valores mobiliários chinesa criou diversos fundos e índices temáticos sobre a estratégia Road and Belt desde que as autoridades reguladoras revelaram a existência de um projeto piloto para instituições estrangeiras emitirem bonds denominados em yuan no mercado de títulos chinês.

Outra medida para aumentar a presença internacional do yuan é o incentivo à emissão de obrigações transfronteiriças denominadas em yuan, ou “panda” bonds, por contas dos baixos rendimentos no mercado doméstico.

Até o final do mês de junho, foram emitidos 99 panda bonds com um valor total de 152,54 bilhões de yuans (cerca de US$ 20,9 bilhões) no mercado de títulos negociados na bolsa da China, assim como outros 46 títulos temáticos na estratégia Road and Belt, em um total de 52,72 bilhões de yuans.

Segundo analistas ouvidos pela publicação chinesa, “as tensões geopolíticas, o desenvolvimento tecnológico e o stress da dívida causado pelo aumento dos custos de financiamento em dólares americanos deverão tornar alguma redução inevitável, tanto a nível mundial como na China, uma vez que os patrocinadores e os investidores demoram algum tempo para se adaptar às novas realidades”.

A publicação destaca ainda um estudo elaborado pela BNP Paribas Asset Management afirmando que a expansão dos BRICS e os crescentes fluxos comerciais e de investimento da China com o continente africano são pontos que favorecem a internacionalização do yuan.

Segundo o estudo, “com os Estados Unidos cada vez mais usando o dólar norte-americano como arma através do uso de sanções financeiras, existe um bom incentivo para que os países africanos (e outros) reduzam o risco do dólar americano e mudem para o renminbi (yuan)”.

O relatório destacou ainda que o Egito, mais novo país a integrar os BRICS, se tornou a primeira economia africana a emitir um panda bond: a emissão ocorreu em maio, com foco no financiamento de projetos sociais e ambientais. Além disso, países como Camarões, Quênia e Tanzânia possuem mais de 5% de sua dívida externa denominada em yuan.

A instituição financeira lembra ainda que, em janeiro, a China retomou as conversas com a Arábia Saudita sobre o comércio de petróleo em yuan. Brasil, China e Rússia – membros originais do Brics e os maiores exportadores e importadores mundiais de matérias-primas e energia – já trabalhavam em conjunto para a realização de pagamentos transfronteiriços em yuan.

Devido às sanções internacionais, a Rússia tem conduzido a maior parte do seu comércio com a China em yuan – como o recente acordo de 2,5 trilhões de rublos (cerca de US$ 25,8 bilhões) para a negociação de grãos, considerado o maior da história de transações de itens alimentícios entre os dois países.

Irã, Venezuela e Indonésia também têm liquidado algumas das suas transações petrolíferas com a China em yuan.

Retaliação ocidental à vista?


Em linhas gerais, o aumento das tensões chinesas com o Ocidente não parece afetar o avanço mandarim em outras economias, uma vez que as negociações com Rússia e outros países em desenvolvimento têm transcorrido sem grandes problemas.

Por conta disso, Estados Unidos e Europa começam a olhar com preocupação para esse crescimento: artigo publicado pelo Council on Foreign Relations, analistas consideram o projeto Road and Belt “uma expansão perturbadora do poder chinês, e os Estados Unidos têm lutado para oferecer uma visão competitiva”.

A “perturbação generalizada” causada pelas políticas industriais chinesas, consideradas “não transparentes e que distorcem o mercado”, também deve ser alvo de discussão na próxima reunião dos Ministros do Comércio do G7, que será realizada nos dias 28 e 29 de outubro na cidade japonesa de Osaka.

“Desde que aderiu à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, a China tem sido repetidamente acusada de fornecer subsídios industriais injustos, resultando em vários casos de litígio na OMC”, lembra a economista Lili Yan Ing, secretária geral da International Economic Association e Conselheira para a região do Sudeste Asiático do Instituto de Investigação Econômica para ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático) e o Leste Asiático.

Em artigo recentemente publicado no site Project Syndicate, Lili Yang Ing lembra de diversas queixas relacionadas ao comércio feito pela China desde 2006 até 20185, envolvendo mercados como a indústria automotiva, peças automotivas, fabricantes de equipamento de energia eólica, alumínio, produtos de frango e veículos elétricos.

“No início deste ano, os líderes do G7 comprometeram-se a combater todas as formas de coerção econômica – mas este esforço poderá ter consequências no longo prazo, uma vez que a China é responsável por 19,4%, 7,5%, 6,8% e 6,5% das exportações do Japão, dos EUA, da Alemanha e do Reino Unido, respectivamente”, diz a articulista.

Caso o G7 decida por implementar medidas anti-coercitivas contra a China, tudo indica que Xi Jinping poderá retaliar. Mas a articulista destaca que é preciso ter em vista o impacto que essa campanha terá para o comércio global e não apenas para os negócios com os chineses.

E caso essa política seja adotada de fato, o G7 poderá incentivar outros países a erguerem suas próprias barreiras comerciais – apenas em 2022, quase 3 mil medidas protecionistas foram adotadas mundo afora com efeitos negativos no investimento, comércio e serviços.

“Embora o valor do comércio global tenha atingido US$ 49,5 trilhões em 2022, a OMC reduziu recentemente a sua previsão de crescimento do comércio para 2023 de 1,7% para 0,8%, citando perturbações comerciais e um abrandamento da produção”, pontua a articulista.

Reinaldo Azevedo: Sergio Massa lidera na Argentina; Milei, o fascistoide, decepciona seus fanáticos de extrema-direita e aos bolsonaristas

 

Da Rádio BandNews FM:




sábado, 21 de outubro de 2023

O GGN denuncia desde 2021 o uso da Abin por Bolsonaro para espionar adversários

 

Do Jornal GGN:


Governo Bolsonaro adquiriu dezenas de sistemas para monitorar cidadãos, adversários políticos, jornalistas e manipular eleição


Foto: Divulgação


A prisão de dois servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nesta sexta-feira (20) pela Polícia Federal, por ordem do ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é o resultado de uma investigação ainda em curso, mas apurações do Jornal GGN revelam, desde 2021, aquilo que agora a Operação Última Milha leva à Justiça. 

Em uma série de reportagens, o GGN mostrou como a Abin, a partir de 2019, passou a ser utilizada pelo governo Jair Bolsonaro para espionar adversários políticos do presidente, efetuar grampos sem ordem judicial e ser a base de uma guerra cibernética eleitoral pretendida pelo grupo alocado no Palácio do Planalto para se perpetuar no poder. 

O governo Bolsonaro adquiriu dezenas de sistemas para espionar qualquer cidadão ou cidadã do país sem autorização judicial, mas as investigações policiais sobre a conduta só deslancharam após a derrota do ex-presidente nas urnas.

As reportagens denunciaram ainda a criação da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, então sob o comando de Sérgio Moro, que se converteu em um novo centro de inteligência com acesso a bases de dados estaduais para fustigar adversários. 

O esforço de apuração revelou a polêmica aquisição de um programa israelense de cibersegurança, o CySource, pelo Comando de Defesa Cibernética do Exército (ComDCiber), ao revelar as tratativas da polêmica aquisição pelo chefe do órgão, o general Heber Portella – nomeado para a Comissão de Transparência das Eleições e que disseminou inverdades sobre as urnas eletrônicas.

A aquisição do CySource tomou o noticiário após reportagem de Paulo Motoryn, do Brasil de Fato, mostrar que a firma tem como um de seus executivos o analista de sistemas Hélio Cabral Sant’Ana, ex-diretor de Tecnologia da Informação da Secretaria Geral da Presidência de Jair Bolsonaro, e tanto ele, como o atual diretor global de vendas da israelense, Luiz Katzap, eram tenentes do Exército até pouco mais de 5 anos atrás.

Além das ligações com a administração pública, que motivaram a abertura de uma investigação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o sistema é polêmico por seus objetivos. Segundo nota da empresa, haveria capacitação do Exército para “análise de malware, fundamentos de rede, respostas a incidentes cibernéticos, red team, perícia forense digital e testes de intrusão a sistemas críticos”.

As reportagens do GGN analisam de forma detalhada que o que existe na ABIN e ComDCiber, hoje em dia, mostra, na verdade, um alcance que vai muito além da missão institucional das Forças Armadas, de defesa do território nacional contra inimigos externos. Inclui quem o comando das forças define como inimigo interno. 

Cinco servidores afastados

O ministro Alexandre Moraes determinou ainda, no despacho das prisões efetuadas pela Polícia Federal nesta sexta, o afastamento de cinco servidores da Abin, entre eles dois diretores, pelo uso indevido de sistema de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial. 

Além do uso indevido do sistema, dois desses servidores também são investigados pela PF por coerção indireta dentro da agência, para evitarem a demissão na agência. A dupla passava por um processo administrativo disciplinar. Tudo indica que da operação novas detenções ocorrerão e ações criminosas devem vir à tona. Há muitos episódios a serem investigados.  

A montagem (e divulgação) de uma lista de 574 funcionários federais antifascistas, entre eles professores e policiais, em julho de 2020, quando Moro já tinha sido substituído por André Mendonça no Ministério da Justiça, criou uma crise institucional envolvendo a Seopi, provocou a demissão de seu então diretor de inteligência, o coronel Gilson Mendes, e colocou as entidades da sociedade civil da área de proteção aos dados pessoais, de segurança pública e de direitos humanos de olho nas atividades da Secretaria. 

Menos de um ano depois, Conectas Direitos Humanos, Instituto Igarapé, Instituto Sou da Paz e Transparência Internacional entraram com processo no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo a suspensão da licitação vencida pela Harpia Tec, que tinha como objetivo a compra de um software para extrair informações de fontes abertas como redes sociais, grupos de comunicação e serviços de mensageria com o objetivo de prevenir ataques a sistemas de governo e também monitorar o hacktivismo.

Reinaldo Azevedo: Operação contra a Abin mostra mais um dos braços que serviu ao golpismo fascistóide de Bolsonaro

 

Da Rádio BandNews FM:




TV Afiada: Quem diria? Andréia Sadi se revolta e choca a audiência de direita ao expor e mesmo debochar de ex-integrantes militares do desgoverno Bolsonaro e cúmplices que estão irritados com os indiciamentos da CPMI

 

Da TV Afiada

Andréia Sadi conta na GloboNews que ex-integrantes do governo Bolsonaro estão irritados com os pedidos de indiciamento de militares no relatório da CPI dos Atos Golpistas. "Acharam que teriam alguma blindagem", diz Sadi.





quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Estados Unidos se opõem à paz enquanto Israel limpa etnicamente (genocida) os palestinos. Artigo do jornalista e editor da Geopolitical Economy Report, Ben Norton

 

O plano do governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu é forçar os palestinos a irem para o deserto na Península do Sinai

Faixa de Gaza

Faixa de Gaza

Texto de Ben Norton

O governo israelense está no processo de limpeza étnica de mais de 1 milhão de palestinos, expulsando-os de suas casas em Gaza.

De acordo com altos funcionários israelenses, o plano do governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu é forçar os palestinos a irem para o deserto na Península do Sinai, no Egito, onde viverão em chamadas "cidades de tendas".

Ao mesmo tempo, Israel está bombardeando brutalmente a sitiada Faixa de Gaza - uma das áreas mais densamente povoadas da Terra.

Há até relatos de que Israel atacou comboios de civis palestinos que estavam obedecendo à ordem de evacuação e fugindo do norte para o sul da faixa de 40 quilômetros.

Enquanto isso, os Estados Unidos têm se recusado veementemente a apoiar os pedidos de paz.

Em vez disso, o Departamento de Estado orientou os diplomatas dos EUA a não mencionarem as frases "desescalada/cessar-fogo", "fim da violência/derramamento de sangue" e "restauração da calma" ao discutir Gaza, de acordo com um memorando obtido pelo HuffPost.

Em 12 de outubro, Israel ordenou que os aproximadamente 1,1 milhão de palestinos que vivem na metade norte de Gaza evacuassem para o sul.

As Nações Unidas alertaram que seria "impossível que tal movimento ocorresse sem consequências humanitárias devastadoras".

A ONU "apelo de forma enfática" para que a ordem de evacuação israelense "fosse revogada", observando que "poderia transformar o que já é uma tragédia em uma situação calamitosa".

Israel ignorou a ONU e, em vez disso, reprimiu ainda mais, bombardeando civis palestinos enquanto evacuavam.

A BBC reconheceu que o exército israelense atacou um comboio palestino, escrevendo: "Esses veículos transportavam civis que fugiam do norte de Gaza depois que as Forças de Defesa de Israel (IDF) emitiram uma ordem de evacuação".

A BBC verificou um vídeo do ataque, descrevendo-o como "uma cena de carnificina total", que "é muito gráfica para ser mostrada".

"Corpos, retorcidos e mutilados, estão espalhados por toda parte", descreveu a BBC, acrescentando que muitas das vítimas do ataque israelense eram mulheres e crianças, incluindo bebês com idades entre 2 e 5 anos.

A Associated Press confirmou o mesmo, escrevendo:

Duas testemunhas relataram um ataque a carros em fuga perto da cidade de Deir el-Balah, ao sul da zona de evacuação e na área para onde Israel disse às pessoas para fugirem. Fayza Hamoudi disse que ela e sua família estavam dirigindo de sua casa no norte quando o ataque ocorreu a alguma distância na estrada e dois veículos pegaram fogo. Uma testemunha de outro carro na estrada fez um relato semelhante.

Até 14 de outubro, Israel havia matado pelo menos 2.215 palestinos, incluindo 724 crianças e 458 mulheres, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.

Outros 8.714 palestinos ficaram feridos em uma semana de ataques israelenses, incluindo 2.450 crianças e 1.536 mulheres.

Enquanto isso, altos funcionários israelenses têm utilizado retórica quase genocida.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, declarou em uma coletiva de imprensa que o país está em guerra com a "nação inteira" de Gaza.

"É uma nação inteira lá fora que é responsável", Herzog disse, referindo-se aos palestinos.

"Não é verdade essa retórica sobre civis não estarem cientes, não estarem envolvidos. Isso é absolutamente falso. Eles poderiam ter se levantado [contra o Hamas]", argumentou, segundo informações do HuffPost.

De acordo com o jornalista investigativo vencedor do Prêmio Pulitzer Seymour Hersh, o plano de Israel é realizar uma limpeza étnica dos palestinos e forçá-los ao Egito.

Citando uma fonte anônima de alto nível, Hersh escreveu: "Fui informado por uma fonte interna israelense que Israel está tentando convencer o Catar, que, a pedido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, era um apoiador financeiro de longa data do Hamas, a se juntar ao Egito no financiamento de uma cidade de tendas para um milhão ou mais refugiados esperando do outro lado da fronteira".

Esse plano foi confirmado pelo ex-vice-ministro das Relações Exteriores de Israel, Danny Ayalon, que anteriormente atuou como embaixador de Israel nos Estados Unidos e conselheiro de política externa do primeiro-ministro de extrema-direita Benjamin Netanyahu.

Em uma entrevista com o repórter da Al Jazeera, Marc Lamont Hill, em 12 de outubro, Ayalon afirmou:

DANNY AYALON: Isso foi pensado. Não é algo que dizemos a eles, vão para as praias, se afoguem, Deus nos livre, de jeito nenhum. Há um grande gasto, um espaço quase infinito no deserto do Sinai, logo do outro lado de Gaza.

A ideia é - e isso não é a primeira vez que será feito - a ideia é que eles saiam para áreas abertas onde nós e a comunidade internacional iremos preparar a infraestrutura, sabe, cidades de tendas, com comida e água - sabe, assim como para os refugiados da Síria que fugiram do massacre de Assad há alguns anos para a Turquia; a Turquia recebeu 2 milhões deles.

Esta é a ideia. Agora, o Egito terá que colaborar aqui, porque, uma vez que a população estiver fora de vista, poderemos ir...

...

Vou lhe dizer de forma prática o que devemos fazer e o que podemos fazer: criar, como no passado, na história, um corredor humanitário.

Quando há um corredor humanitário - e temos discutido isso com os Estados Unidos - então podemos garantir que ninguém se machuque neste corredor.

Agora, novamente, digo, há uma maneira de recebê-los temporariamente do outro lado, no Sinai, porque o que o Hamas fez -

MARC LAMONT HILL: Do outro lado? Estamos falando de Rafah? Você está dizendo que do outro lado eles vão para o Egito?

DANNY AYALON: Sim, absolutamente, absolutamente. E o Egito terá que colaborar.

Enquanto Israel está realizando a limpeza étnica dos palestinos e matando um grande número de civis, os governos ocidentais têm mostrado apoio inabalável.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, viajaram para Tel Aviv para apoiar simbolicamente o governo de extrema-direita de Netanyahu.

O Financial Times informou que alguns funcionários da UE estão preocupados "que a presidente da Comissão Europeia possa parecer estar endossando ações militares que causarão baixas civis em massa - e que serão rapidamente rotuladas como crimes de guerra".

Um diplomata da UE não identificado disse ao Times: "Talvez estejamos prestes a ver uma limpeza étnica em grande escala" - uma clara indicação de que as capitais ocidentais sabem exatamente o que Israel está fazendo.

"Nosso medo é que pagaremos um preço alto no sul global por causa desse conflito", confessou um funcionário anônimo da UE ao jornal.

A grande maioria dos países do Sul Global apoia o povo palestino em sua luta contra o colonialismo israelense. Uma rara exceção é o governo de extrema-direita na Índia, cujo primeiro-ministro, Narendra Modi, representa um partido hindu-nacionalista vehementemente anti-muçulmano, o BJP, que vê o estado religioso etno-israelense como uma inspiração e modelo potencial para seus próprios planos de um chamado "Hindu rashtra".

Entretanto, Netanyahu sugeriu que Israel planeja escalar ainda mais sua violência extrema. Ele disse a soldados perto da fronteira de Gaza que a "próxima fase está chegando".

O exército israelense também tem atacado os vizinhos Líbano e Síria.

A Human Rights Watch confirmou que Israel usou fósforo branco em ataques tanto em Gaza quanto no Líbano. A organização de direitos humanos deixou claro que isso "coloca os civis em risco de lesões graves e de longo prazo" e "viola a proibição do direito humanitário internacional de colocar civis em risco desnecessário".

Israel também bombardeou a Síria várias vezes, incluindo o ataque ao aeroporto internacional de Aleppo.

Para os cerca de 2,3 milhões de palestinos encurralados na sitiada Faixa de Gaza, as condições são praticamente insuportáveis.

Israel cortou o acesso de Gaza à eletricidade, água, comida e combustível. A Associated Press informou que "quando a água escorre dos canos, o fluxo mínimo dura no máximo 30 minutos por dia e está tão contaminado com esgoto e água do mar que é impróprio para consumo, segundo os moradores".

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) advertiu que "as vítimas em massa são diferentes de tudo visto nos anos anteriores".

"O sistema de saúde está à beira do colapso. À medida que Gaza perde energia, os hospitais perdem energia. A água não pode ser bombeada. Os sistemas de esgoto provavelmente inundarão. As pessoas não têm para onde ir", afirmou a organização humanitária.