Bolsonaro e a mídia golpista fazem dobradinha para enganar o povo e dizer que há uma retomada econômica e que as coisas estão melhorando. Para que isso funcione, precisam fingir que não se gostam.
"A extrema-direita não acenderia sem fake news. Ou não teria toda essa representatividade. O que eles fazem? Oferecem soluções simples para problemas muito complexos. Essas soluções se espalham através das fake news. Nós sabemos que as notícias falsas sempre existiram, mas com as redes sociais elas ganharam novas características." Do jornal Diário de Pernambuco:
'A extrema-direita não ascenderia sem fake news', diz autor de livro sobre ativismo político na internet
O jornalista e doutor em comunicação Branco di Fátima fez um mergulho no mundo (e submundo) da internet para entender como a rede virtual de computadores afetou o ativismo político mundial nos últimos 30 anos, sobretudo em movimentos que derrubaram líderes políticos tradicionais e contrariaram corporações midiáticas. O mineiro dedicou-se a pesquisas durante cinco anos, resultando no livro Dias de Tormenta: os movimentos de indignação que derrubaram ditaduras, minaram democracias no mundo e levaram a extrema-direita ao poder no Brasil (Geração Editorial).
O autor também ouviu manifestantes e ativistas de diferentes partes do mundo, além de estudiosos e pesquisadores desse fenômeno. Leu documentos do WikiLeaks, e-mails confidenciais e telegramas diplomáticos vazados, relatórios sobre espionagem de governos e reuniu informações de grupos de hackers da deep web, o "lado mais sombrio do ciberespaço".
Em entrevista ao Viver, Branco Di Fátima conversou sobre o panorama do ativismo na internet nos últimos 30 anos, os desdobramentos da Primavera Árabe, as controversas Jornadas de Junho de 2013 no Brasil e, por fim, a ascensão da extrema-direita, as fake news e robôs que manipulam a esfera pública na contemporaneidade.
ENTREVISTA - Branco Di Fátima, jornalista
O ativismo político na internet entrou em pauta na imprensa mundial durante esta década. Seu livro tem como proposta destacar essa temática nos últimos 30 anos. Que episódios foram esses?
Nós tendemos a pensar que o ativismo na internet é um fenômeno recente, mas não é. A primeira vez que a internet foi usada para pressionar um governo foi em 1994, no México, durante o movimento zapatista. Era um levante indígena e camponês, mas a classe média sentiu compatibilidade com a causa e passou a usar os parcos recursos que a internet tinha na época, sobretudo a lista de e-mails. As mensagens convocaram manifestações, serviam como um âmbito de informações contrário ao da grande mídia e tinham como objetivo buscar solidariedade da sociedade, fazendo com que grupos ativistas internacionais olhassem para o México. No começo dos anos 2000, a invasão dos Estados Unidos ao Iraque foi amplamente denunciada em blogs, que eram a novidade da época. As pessoas podiam relatar experiências em sites. Nos atentados de 11 de março de 2004 em Madrid foi a vez dos SMSs se transformarem em uma ferramenta de comunicação. Já as redes sociais conhecemos hoje, foi apenas em 2009, no Irã. Na época, foi a maior manifestação na região desde a revolução islâmica.
Os protestos políticos organizados pela internet ganharam a imprensa mundial durante os anos 2010 com a Primavera Árabe, um movimento bem visto pelo Ocidente. No entanto, mesmo com o clamor popular nas redes, os desfechos de muitos países foram autoritários. Por que?
Em 2010, quando houve o estopim no Egito, depois contaminando Tunísia, Líbia e muitos países do Norte da África e do Oriente Médio, era possível observar uma utilização expressiva do Facebook, do Twitter e do YouTube. Mas, na verdade, todos esses países já viviam ditaduras. Os movimentos que têm a internet como base acabam tendo uma facilidade de expressão nas ruas, mas possuem muita dificuldade enquanto instituição. É uma ferramenta boa para questionar governos e pedir um conjunto de reivindicações sem um grande líder, mas não é boa para organização de partidos políticos. Foi o que faltou nesses países. O Egito, por exemplo, voltou para uma ditadura. A Tunísia é o exemplo mais bem sucedido da Primavera. O comitê que negociou a primeira eleição ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2015. Eles conseguiram uma boa transição para o modelo democrático de administração pública. Já alguns países sequer sentiram a Primavera, como Emirado dos Árabes e Catar. São nações de economia robusta e os cidadãos aceitaram a repressão em nome da estabilidade econômica.
No Brasil, as redes sociais viram protagonistas da articulação de protestos em 2013. Até hoje, as Jornadas de Junho são motivos de controvérsia, sobretudo por enfraquecer a esquerda política. Como você analisa esse episódio?
Esse é um tema complicado porque teríamos que ver o que foi feito nos governos petistas para entender quais as condições socioeconômicas e socioculturais. É inegável que o governo Lula contribuiu muito para a diminuição da desigualdade social no país. Mas, por outro lado, algumas políticas reivindicadas pela classe média não tiveram o sucesso esperado, como a diminuição da criminalidade, por exemplo. A qualidade da educação e da saúde pública também não foi tão aprimorada como a classe média exigia. Esse conjunto de fenômenos já habitava o imaginário brasileiro por muito tempo, eclodindo em 2013 com protestos sem pautas definidas. A então presidente Dilma Rousseff teve certa dificuldade para interpretar o que acontecia e demorou a se pronunciar. Ela teve dificuldade para responder na mesma velocidade que a internet exige. Os movimentos da internet trabalham como um motor de pesquisa do Google: eles perguntam e o governo tem que chegar com uma solução muito rápida. Mas é muito difícil para um governo ter tanta agilidade pelas vias democráticas.
Esse desejo por mudanças rápidas ocasionou a ascensão da extrema-direita?
As Jornadas de Junho ainda estava muito presentes no imaginário da população nas eleições de 2014. Tivemos protestos em diferentes momentos, como contra a Copa e as Olímpiadas. Ali já existiam pessoas que queriam a volta da ditadura ou da monarquia, também aquelas que diziam que “Olavo de Carvalho tem razão”. Era uma fragilidade muito grande de pautas. Dilma Roussef foi reeleita, mas Aécio Neves abriu uma “caixa de Pandora” quando questionou o resultado das eleições. Aquilo aprofundou o problema da representatividade que nós enfrentávamos. O que se viu em diante foi uma grande bofetada no sistema política brasileiro. E talvez o único político profissional que percebeu o potencial extremista da fúria das ruas foi o Bolsonaro. A chegada do perfil oficial de Bolsonaro no Facebook foi justamente durante as manifestações de junho. Em sua primeira publicação, ele já faz um ataque ao PT e suscita a necessidade de uma nova política no Brasil. A publicação teve apenas 60 curtidas, mas nos comentários já tinham pessoas pedindo que ele fosse presidente. No futuro, seriam milhares e milhares de pessoas pedindo o mesmo. A ideia do bolsonarismo nasceu ali.
Acha que, ainda em 2013, algumas das entidades que suscitaram as manifestações já tinham como objetivo a ascensão da direita?
Pesquisas da época revelavam que 80% das pessoas não tinham preferência política, então é difícil prever se alguns organizadores tinham um plano na cabeça. Mas a forma como o movimento se desdobrou possibilitou a ascensão da extrema-direita. Isso se deve em boa medida a um desgaste de toda a classe política. Bolsonaro conseguiu aparecer como renovação mesmo sendo deputado por 27 anos. E claro que também tiveram outros fenômenos para sua eleição, como a facada e a prisão de Lula.
Qual o papel das fakes news no ativismo político contemporâneo?
A extrema-direita não acenderia sem fake news. Ou não teria toda essa representatividade. O que eles fazem? Oferecem soluções simples para problemas muito complexos. Essas soluções se espalham através das fake news. Nós sabemos que as notícias falsas sempre existiram, mas com as redes sociais elas ganharam novas características. Em primeiro, se tornaram muito complexas, difíceis de serem desmascaradas. Em segundo, elas conseguem se propagar em uma velocidade muito mais rápida. Por último, são muito sensacionalistas, então as contrainformações são menos fortes.
Outro fenômeno na militância política atual, sobretudo da extrema-direita mundial, é o uso dos bots (ou robôs). Acha que, por isso, a movimentação da internet pode perder sua credibilidade?
Os robôs realmente têm papéis fundamentais, pois influenciaram nas eleições recentes de vários países e até mesmo no Brexit. Até nas eleições brasileiras de 2014, por exemplo, todos os partidos tiveram contribuição de robôs. Mas nesse livro eu trabalhei com movimentos que tiveram inícios espontâneos. E no caso do Brasil os organizadores iniciais perderam o controle da manifestação. Essa velocidade de partilhar a palavra é fascinante e deve ser olhada com atenção nos próximos anos.
Desde o golpe de 2016 os pastores evangélicos, vetores religiosos do neoliberalismo, conduzem um verdadeiro assalto coordenado às instituições públicas em geral e ao Sistema de Justiça em especial.
O neoliberalismo se caracteriza por dois mitos: a ineficiência do Estado produz decadência econômica; somente a libertação das forças virtuosas do mercado é capaz de garantir o crescimento permanente da economia. Um dos corolários desse mito é a desregulamentação, com a transferência do poder legiferante da esfera pública para a esfera privada. O outro é a desdemocratização, pois seria impossível a existência de mercados livres se eles puderem ser controlados pela política.
Na esfera do Direito os reflexos do neoliberalismo são evidentes e paradoxais. Na produção, circulação e comercialização de produtos e serviços existe um evidente predomínio do direito privado sobre o direito público. Entretanto, esse fenômeno é forçado a coexistir com um aumento significativo do autoritarismo penal.
Não foi por acaso o Direito Penal do Inimigo passou a gozar de muito prestígio nos países neoliberais. Essa teoria que rejeita qualquer limitação ao poder punitivo, que defende a seletividade penal e que desdenha da segurança jurídica garantida pelo devido processo legal é a face autoritária de um sistema que produz tanto riquezas quanto exclusão social. Onde quer que seja implantado o neoliberalismo aumenta a concentração de renda e a criminalidade. A desregulação do mercado somente pode persistir mediante uma crescente repressão aos pequenos furtos e roubos. As manifestações de rua que ameaçam a higidez dos Estados neoliberais levam inevitavelmente à criminalização da política.
O espaço em que o Direito era objeto de discussão e formulação ganhou uma grande amplitude nas democracias liberais. Nos Estados neoliberais autoritários esse espaço está sendo reduzido. O objetivo do neoliberalismo é garantir o predomínio permanente do direito privado sobre o direito público mediante a repressão penal/política. Isso somente pode ser feito mediante um reforço substancial da hierarquia dentro do Sistema de Justiça. Todavia, as vezes a hierarquia existente é desafiada e/ou destruída para que a lógica do poder neoliberal possa se impor dentro do próprio Sistema de Justiça. Foi exatamente isso o que ocorreu durante a Lava Jato.
Alguns juristas chamam esse fenômeno de pós-democracia (Rubens Casara), outros de Estado de exceção (Rafael Valim e Pedro Estevam A. P. Serrano). Sem tirar o mérito destas análises, prefiro mergulhar na história para nela encontrar outros fundamentos possíveis para descrever o que está ocorrendo.
Nascido sob o signo de uma violência inenarrável contra os índios e, depois, contra os negros importados da África, o Brasil é um país extremamente desigual e instável. Períodos de relativa paz social são interrompidos por tiranias violentas implantadas quase sempre com a mesma finalidade: preservar a hierarquia racial e econômica originária do período colonial. A religião sempre ocupou um papel central nas disputas políticas brasileiras.
Desde o golpe de 2016 os pastores evangélicos, vetores religiosos do neoliberalismo, conduzem um verdadeiro assalto coordenado às instituições públicas em geral e ao Sistema de Justiça em especial. Mas eles não querem apenas conquistar cargos, privilégios e controlar o orçamento. O principal objetivo dos pastores é impor a ferro e fogo sua própria moralidade. Dentro dos marcos da Constituição Cidadã, a teologia da dominação total é incompatível com a democracia. Todavia, é evidente que ela tem servido perfeitamente ao ideal de desdemocratização sustentado pelos donos do capital.
Foi nesse contexto que começaram a aparecer juízes que dizem preferir aplicar a Bíblia à Constituição Cidadã. O curto-circuito entre o discurso teológico e o jurídico também pode ser visto nas encenações que ocorrem durante os julgamentos nos principais Tribunais do país.
Apesar de usarem um discurso laico supostamente sofisticado, no STF os inimigos da soberania popular (digo isso pensando especificamente nos Ministros Luiz Fux e Luís Barroso) se comportam como se fossem clérigos medievais. Quando fazem pose para as câmeras de TV durante as transmissões ao vivo dos julgamentos eles sempre dão a entender que as suas teses jurídicas são superiores às dos seus colegas. Quando são votos vencidos, os teólogos do neoliberalismo jurídico não exitam em usar a imprensa para desmoralizar a tese vencedora.
O positivismo jurídico foi claramente superado pela escola da livre interpretação. Quando entra em conflito com as preferências pessoais de alguns Ministros do STF a Constituição Cidadã é considerada inconstitucional. Acima de qualquer norma legal, o poder dos juízes deve ser exercido sem qualquer limitação. Esse dogma explica os ataques violentos da Associação dos Magistrados Brasileiros contra a Lei do Abuso. A rejeição da AMB ao “juiz de garantia” também se escora no mito da supremacia legítima do Direito aplicado de maneira ilimitada pelos juízes.
“En Portugal, como en España, dominó largo tiempo el método escolástico; el Derecho en su generalidad fué estudiado sobre bases teológicas, con intenciones moralistas y con inclinaciones hacia el absolutismo político, por obra cai exclusiva de sacerdotes.” (Filosofía del Derecho, Giorgio Del Vecchio, sexta edición corregida y aumentada, revisada por Luis Legaz y Lacambra, Bosch Casa Editorial, Barcelona, 1953, p. 281/282)
Caracterizada pelo autoritarismo, pela ambição teocrática da transformar a Bíblia em fonte primeira/única do Direito, pelo reforço da hierarquia e pelo mito de que os juízes devem ser totalmente livres de qualquer coação legal, a era neoliberal brasileira é diferente qualitativamente da era neoliberal norte-americana e europeia. O Brasil deu um salto para o futuro anglo-saxão e paradoxalmente aterrizou em seu próprio passado escolástico, moralista e absolutista.
Além do rastro de abuso sexual pelos soldados, Heleno é acusado de ter consentido com a morte de cerca de 60 militares em operação em uma favela de Porto Príncipe, capital do Haiti
Jornal GGN – Soldados em missão de forças de paz das Nações Unidas (ONU) no Haiti, entre 2004 e 2017, abandonaram cerca de 300 filhos. As declarações são de haitianas que sofreram abusos sexuais e tiveram que lutar contra pobreza para sustentar suas crianças, segundo estudo acadêmico publicado em 17 de dezembro, pelo The Conversation.
Entre os agentes, os principais acusados pelas violações são brasileiros, na época comandados pelo general Augusto Heleno, atual chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Bolsonaro.
Além do rastro de abuso sexual no país, Heleno é acusado de ter consentido com a morte de cerca de 60 militares em operação em uma favela de Porto Príncipe, capital do Haiti, no dia 6 de julho de 2005.
O estudo realizado em 2017 por Sabine Lee, professora de história na Universidade de Birmingham, e Susan Bartels, cientista clínica na Universidade Queen’s, em Ontário, contou com 2.500 haitianas que moravam próximas as bases das forças de paz, da missão ‘Minustah’.
Das mulheres entrevistadas, 265 relataram ter filhos de membros das forças de paz, que vieram de pelo menos 13 países, principalmente do Uruguai e Brasil. De acordo com levantamento, os casos de exploração sexual são alarmantes. “Meninas de 11 anos foram abusadas sexualmente e engravidadas”, apontou.
A pesquisa ainda mostra que, a maioria dos casos, incluía a oferta de quantias de dinheiro ou comida por sexo com as mulheres e meninas em situação de extrema pobreza. “Eles punham algumas moedas em suas mãos para deixar um bebê em você”, revelou uma das haitianas entrevistada.
As mulheres também contaram sobre relacionamentos consensuais, mas que terminaram quando as forças de paz deixaram o país.
Para as pesquisadoras, a ONU – que reconhece os casos de exploração e abuso sexual por parte das forças de paz – não é a responsável pelas violações. “Não é um problema da ONU, é um problema militar brasileiro ou um problema militar uruguaio”, disse Lee.
Na entrevista de Sebastião Salgado ao Le Monde Diplomatique, o fotógrafo se manifesta em relação ao governo de Jair Bolsonaro: “O governo que está destruindo uma série de instituições seríssimas e que foram construídas com grande esforço e dificuldade, com dispêndio enorme da sociedade brasileira, como a Funai e o Ibama”.
Quando estava fotografando os cantos mais inóspitos da Terra para a concepção do livro Gênesis, publicado em 2013, Sebastião Salgado ficou impressionado ao visitar a Amazônia, sobretudo no contato com algumas tribos indígenas. Naquele momento, a obra, que serviu como uma homenagem ao planeta, com imagens de lugares não modificados pelo homem, foi o ensejo para o trabalho que segue em andamento, sobre a Amazônia.
Nos últimos sete anos, o fotógrafo visitou comunidades isoladas para compreender, entre outras coisas, que não somos diferentes dos indígenas que estão na mata. “Quando, pela primeira vez, fui trabalhar com uma comunidade indígena, imaginei que o contato seria difícil. Não falava a língua, são pessoas isoladas. Com menos de um dia eu já tinha me adaptado, porque tudo que é essencial para mim é essencial para eles. Os sentimentos são os mesmos, a relação comunitária, a solidariedade, o amor, a tristeza, o ódio”, conta.
Além do Brasil, Salgado esteve em países como Colômbia e Peru para registrar a vida de índios isolados. Sem premeditar o futuro reservado ao Brasil, o fotógrafo é dono de um arquivo com imagens que mostram uma floresta hoje aniquilada pelo fogo que consome a região nos últimos meses. A entrevista, feita antes dos incêndios, não diminui o ceticismo que o fotógrafo manifesta em relação ao governo de Jair Bolsonaro (PSL): “O governo que está destruindo uma série de instituições seríssimas e que foram construídas com grande esforço e dificuldade, com dispêndio enorme da sociedade brasileira, como a Funai e o Ibama”.
Ao Le Monde Diplomatique Brasil, Sebastião Salgado faz um balanço histórico da própria obra, revela influências artísticas que permearam sua trajetória e afirma que os anos dedicados à fotografia profissional estão perto do fim. “As minhas células estão morrendo.”
LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL – Alguns trabalhos seus, como em Êxodos e Trabalhadores, mostram uma contradição entre o progresso e a extração de bens naturais. Você concorda?
SEBASTIÃO SALGADO – É a contradição da nossa espécie. Nós temos carros, casas, precisamos de bens de consumo dos mais sofisticados, e isso precisa sair de algum lugar. Nós criticamos as minas, mas também precisamos do minério de ferro, do carvão, para transformar em aço, que vão nas placas que constroem os navios, nas máquinas fotográficas. Precisamos do petróleo para o gás de cozinha. E, ao mesmo tempo, estamos criando poluição, depredando o planeta, e nossa espécie, profundamente predadora e que cresce cada vez mais, precisa sobreviver. A gente tem uma longevidade imensa. Como resolver essa contradição? Não sei.
Como você acha que a sua fotografia se insere nessa contradição?
Sou uma pessoa que teve uma formação universitária em Ciências Sociais e Economia Política, com diálogo na Macroeconomia, Finanças Públicas e Sociologia. Quase fiz parte da primeira geração que abandonou o campo e foi para a cidade. Quando eu era jovem, 90% da população vivia no campo. A minha fotografia só podia ter uma coerência com o momento histórico que eu vivi e aprendi nascido em um país subdesenvolvido. Hoje, quando vejo o conjunto das minhas fotografias, percebo que tive o privilégio de poder ter me colocado dentro do movimento da onda da história do planeta no período que vivi.
Minha primeira grande história foi na América Latina, rodando com os indígenas (Outras Américas, 1977). Fiz outro trabalho sobre o fim da mão de obra na produção industrial (Trabalhadores, 1986). Antes da grande chegada da eletrônica à linha de produção, a utilização do trabalho humano era muito densa. Fiz um trabalho sobre a reorganização da família humana, o abandono do campo para a cidade, os refugiados, imigrantes (Êxodos, 2000). A minha fotografia foi mais ou menos isso. O último grande projeto que eu fiz foi ligado à grande preocupação planetária, que é o meio ambiente (Gênesis, 2013). Hoje, estou em um trabalho grande, maior. Fiquei sete anos fotografando a Amazônia brasileira. Se você olha isso, há uma coerência de onde eu vim e no que eu fiz na vida.
Após Gênesis, que faz um retrato do planeta, o tema ambiental se mantém, em especial o índio. Por quê?
Quase todos os meus trabalhos nasceram dentro um do outro. Quando fiz Êxodos, ele nasceu do que eu havia feito em Trabalhadores. Trabalhadores era o que hoje chamamos de globalização, termo que não existia. Quando comecei a replantar um pedaço da floresta amazônica em Minas Gerais, no Instituto Terra, com a Lélia [Wanick Salgado], nasceu o projeto Gênesis e, dele, o Amazônia. Eu conheci a Amazônia durante o Gênesis e quis voltar mais profundamente.
É muito importante falar das comunidades indígenas, do respeito que devemos a elas, principalmente no Brasil. O maior componente da raça brasileira, se é que podemos falar nesses termos, é indígena. Quando os portugueses chegaram aqui, em 1500, só vieram homens. As primeiras mulheres chegaram 55 anos depois. Os indígenas tinham outra relação com o sexo, diferente do pensamento cristão. Houve uma miscigenação profunda entre portugueses e indígenas. Quando os escravos chegaram, eles foram suplantados nessa mescla entre portugueses e indígenas. O engraçado é que, ao perguntar para o brasileiro qual é a origem dele, a resposta é sempre “alemã”, “italiana”, “portuguesa”, mas quase nunca indígena.
Ao trabalhar com os indígenas você reencontra a própria espécie, e feliz do país que pode conviver com a sua pré-história. O Brasil tem pelo menos oitenta grupos de indígenas que não foram contactados, que somos nós de 20 mil anos atrás. É uma coisa fabulosa e que precisamos defender, respeitar. É fonte de cultura, ciência e sabedoria.
Você costuma dizer que as necessidades humanas são as mesmas. Isso aconteceu com os índios?
Absolutamente. Quando, pela primeira vez, fui trabalhar com uma comunidade indígena, imaginei que o contato seria difícil. Não falava a língua, são pessoas isoladas. Com menos de um dia eu já tinha me adaptado, porque tudo que é essencial para mim é essencial para eles. Os sentimentos são os mesmos, a relação comunitária, a solidariedade, o amor, a tristeza, o ódio. Nem fisicamente nós mudamos. A nossa pequena deformação está no pé: o fato de utilizarmos sapatos deixou nossos pés finos e longos, ao passo que eles têm o pé triangular e achatado na frente.
Na coleção Photo Poche, dedicada à sua obra, o texto de abertura diz que seu trabalho “faz uma reconciliação da estética-informação, estética-engajamento e estética-política”. Você concorda? Quando você começou, o plano era englobar tudo isso?
Fotografamos com o que herdamos. A minha herança são os meus pais, a terra onde nasci, a influência das primeiras luzes que entraram no meu sistema sensitivo, a sociedade de onde venho, toda a filosofia e ideologia que carrego. Ao fotografar, naquela fração de segundos, toda essa herança se manifesta. É difícil premeditar. Na fotografia você sabe onde vai, mas nunca se sabe o que vai encontrar. É algo instantâneo, instintivo. Se você posicionar cem fotógrafos em um lugar, vão aparecer cem fotos diferentes, porque os profissionais têm origens distintas. Essa revista falou isso de mim, e está certo. Mas eu não premeditei nada, é só a minha forma de viver.
Você citou essa coisa do instantâneo. Há uma frase sua que diz que nós nunca produzimos tanta imagem, mas que nunca fotografamos tão pouco.
Tem uma diferença grande entre o que você faz nessa nova linguagem, com o celular. Isso é linguagem de comunicação: mostra o evento, a relação das pessoas no espaço. Mas isso não é fotografia, é imagem. A fotografia é a memória, o espelho de uma sociedade. É um corte representativo.
Olha as fotografias dessa exposição em Serra Pelada e você vai entender como as pessoas trabalhavam e viviam nos anos de 1980. Essa linguagem eletrônica rápida acaba se perdendo. Você muda de telefone, não guarda, apaga…Sabe quando você era pequeno e seus pais tiraram um retrato e depois você vê essa foto com a ponta quebrada? Isso é uma fotografia.
No Roda Viva de 1996, você disse que tinha muito lirismo em suas fotografias. Você recebeu um prêmio literário na Alemanha recentemente. Se suas fotos fossem versos, quais seriam?
Minha obra é profundamente barroca. Nasci no interior de Minas Gerais, no meio das montanhas, das luzes. Sou ateu e não acredito em religião nenhuma, mas aquilo que vi quando criança, toda a religiosidade, fez que minhas fotos tivessem influência do barroco.
Você já disse que o preto e branco significam a abstração da realidade e confirmam ainda mais a realidade fotografada. O que isso significa?
É uma contradição, não é? O preto e branco significa uma abstração. Toda gama de cor está dissimulada na gama de cinza. Quando comecei a fotografar, usava cores, mas aquilo me desconcentrava profundamente. Os vermelhos, verdes, os tons vivos, eles tinham uma importância enorme no momento de reconstruir a imagem. Em vez de ver a sua dignidade, a personalidade da pessoa, via a cor da cadeira.
Quando fotografo em preto e branco, tudo se transforma em cinza, e aí posso me concentrar no que realmente quero. Foi uma forma de entrar na abstração para mostrar profundamente uma realidade. As pessoas que olham branco e preto veem uma abstração, mas instintivamente há uma reposição de cor, e cada um interpreta à sua forma. As fotografias passam a ser suas também, porque cabe a interpretação de cada um a partir dessa abstração.
Você tem vontade de voltar à fotografia social ou isso é um capítulo encerrado na sua trajetória?
Voltaria, mas já estou com 75 anos. É difícil voltar para qualquer lugar neste estágio. Deixo a porta aberta para a nova geração. Não fotografo mais refugiados, mas há quem esteja fazendo isso, com um jeito diferente, acompanhando o abandono de pessoas na Síria, no Iraque, no norte da África, rumo à Europa. Mas eu já estou muito mais próximo da morte. As minhas células já estão morrendo. Se estiver tudo certo comigo, sem nenhum acidente, vivo mais uns quinze anos e daí acabou.
Mais quinze anos fotografando?
Não, vivendo. Os fotógrafos não param de fotografar. Lembro-me de ir ao México certa vez no aniversário de 100 anos do Manuel Álvarez Bravo (fotógrafo, 1902-2002). Ele me chamou para mostrar as fotografias dele. Sabe o que era? Os pés inchados dentro de uma bacia com água quente. Quando se é realmente fotógrafo, vive-se densamente o ato. Posso ter sido um fotógrafo ligado ao social e ter feito cortes representativos, mas não sou ligado a nenhum partido político, não sou militante de nada. Sou puramente fotógrafo e utilizo minha profissão para contar as histórias que enchem a minha alma, que me revoltam e me motivam.
Como tem visto o Brasil atual?
Acredito em uma forma filosófica de evolução, na dialética. Nós evoluímos por partes. Em alguns momentos negamos a evolução, para solidificar tudo aquilo que acumulamos, para saltar outra vez e evoluir de novo. Hoje, no Brasil, vivemos a negação da negação. Temos um novo governo que está destruindo uma série de instituições seríssimas e que foram construídas com grande esforço e dificuldade, com dispêndio enorme da sociedade brasileira, como a Funai, o Ibama, o sistema de educação pública. Estão destruindo e sem proposta nenhuma, sem apresentar nada. É simplesmente a destruição pela destruição.
Ao mesmo tempo, está se criando uma grande reação a tudo isso. Uma resistência, um amadurecimento do povo brasileiro. É um momento difícil, mas acredito que podemos solidificar o que virá para o Brasil. Somos uma democracia jovem, que se urbanizou recentemente. A França levou quinhentos anos para se urbanizar, ao passo que aqui foram cinquenta anos, com todas as deformações que isso gera. Temos um PIB colossal, o quinto maior espaço geográfico do planeta. E mesmo assim não temos um Prêmio Nobel de Literatura, por exemplo.
Estamos em um nível de desenvolvimento muito precário. Isso não significa que o país seja ruim, mas é tudo muito recente. Veja Serra Pelada, algo que aconteceu na década de 1980, contemporâneo, mas parece ser o Egito antigo. Até os anos 1990 tínhamos uma inflação absurda, interrompida no governo do professor Fernando Henrique Cardoso. O trabalhador ia ficando pobre a cada dia do mês, e toda força de trabalho dele ia para o sistema financeiro. É um roubo! Por isso temos o sistema de bancos mais sólidos do mundo, o que é uma injustiça e configura uma característica profunda do subdesenvolvimento.
Eu espero que apareçam políticos que realmente tenham consciência nacional, que entendam a sociedade, que pensem comunitariamente em direção à grande maioria e que se comportem de outra forma, não um comportamento puramente individual. Ser político no Brasil serve para garantir a sobrevivência da sua família. Aqui não se valoriza o cargo público enquanto poder institucional. Isso ainda não chegou ao Brasil, porque somos uma democracia jovem, recente, mas estou seguro de que vai acontecer.
Olavo de Carvalho voltou agora toda sua ira contra a jornalista Letícia Duarte, que está investigando a ascensão da extrema-direita no Brasil.
E, na medida em que a imprensa dos EUA começa a prestar atenção nesta figura, isto pode jogar areia nos planos de Olavo de Carvalho de chegar ao público americano e exportar o "olavismo cultural". Entenda!
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O pesquisador David Nemer explica que, em 2019, os ultraconservadores se dividiram na Internet em três subgrupos. Em um deles estão os encapuzados que reivindicaram o ataque ao Porta dos Fundos
Bolsonaristas promovem manifestação na avenida Paulista, em São Paulo.FERNANDO BIZERRA (EFE)
Jair Bolsonaro está prestes a completar um ano no cargo de presidente da República. Ao longo deste período, o território virtual que abriga o bolsonarismo, e que foi engrenagem essencial de sua campanha para chegar ao poder, sofreu algumas mudanças e se dividiu. A ideologia de extrema direita continua lá, intacta e até mais radical. Mas a união conseguida por Bolsonaro naquelas eleições se desfez. Os extremistas estão agora divididos em ao menos três subgrupos, segundo explica David Nemer, especialista em Antropologia da Informática. Em um deles, que ele nomeia de insurgentes, estão pessoas com o mesmo perfil dos homens encapuzados que reivindicaram o ataque com coquetel molotov à sede da produtora Porta dos Fundos, na madrugada de 24 de dezembro. Eles se identificam com o integralismo, o movimento fascista que surgiu nos anos 1930 e que, na era da Internet, ganha novo vigor.
“Os insurgentes são mais militaristas e acabaram virando oposição, porque acham que Bolsonaro cedeu ao establishment e não é radical o suficiente. Acreditam que a única forma de salvar o país é fazendo uma insurgência armada para fechar o Congresso e o STF, e começar do zero. Eles falam muito de insurgência armada”, explica Nemer, que desde 2018 está presente em grupos de WhatsApp da extrema direita para monitorar seu comportamento.
Em vídeo que circula nas redes sociais desde a última quarta-feira, os encapuzados que assumiram o ataque ao Porta dos Fundos dizem ser parte do Comando de Insurgência Popular Nacional, recorda Nemer. Já a Frente Integralista Brasileira (FIB) soltou uma negando qualquer relação com os homens que assumiram o atentado. Ainda que não seja possível dizer que aquelas pessoas específicas formem parte dos grupos de WhatsApp que monitora ou que oficialmente estejam ligados aos integralistas, o pesquisador explica que “o tom nacionalista cristão e as ideias de atentar contra as universidades e as instituições” são as mesmas. Ele ainda lembra que o mesmo grupo que diz ter atacado a produtora invadiu a UniRio em 2018 e queimou bandeiras antifascistas, conforme também publicou a Ponte Jornalismo. Esses radicais atuam em fóruns da darkweb, mas também recrutam novas pessoas pelo WhatsApp e pelo Youtube. “Não consegui identificar um só canal no Youtube, porque eles são constantemente banidos ou colocados em quarentena. Então existe uma rotatividade”, completa o pesquisador.
O núcleo de propaganda é outro subgrupo que Nemer identificou após as eleições. Formado por bolsonaristas que apoiam o presidente incondicionalmente, tornou-se uma espécie de cão de guarda do Governo, atuando de acordo com a agenda política diária. Nas redes, essas pessoas defendem a gestão Bolsonaro em situações delicadas ― por exemplo, em momentos nos quais mede força com o Congresso ― ou quando se vê acuado ― como durante a crise internacional desatada pelos incêndios na Amazônia. “Bolsonaro precisa de um inimigo para alimentar a retórica do eles contra nós. E essas pessoas nas redes precisam de um inimigo para trabalhar. Nesse sentido, os peronistas se tornaram inimigos, Macron se tornou inimigo e até pessoas do PSL se tornaram inimigas. Agem como milícia virtual e até pessoas como Alexandre Frota e Joice Hasselmann se tornaram alvos”, explica Nemer, mencionando os dois deputados que romperam com Bolsonaro depois de se elegerem fazendo campanha para ele.
Por fim, o pesquisador também identificou o subgrupo que ele classifica como supremacistas sociais, que estão mais ligados aos evangélicos e podem ser tão radicais quanto os insurgentes. “Os supremacistas sociais não estão muito ligados à política do dia a dia, mas eles capitalizam em cima do discurso do presidente e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Compartilham conteúdo neonazista, racista, anti-LGBT, anti-Nordeste...”, explica Nemer. “Afinal, se o filho do presidente usa uma retórica parecida e não acontece nada com ele, então essas pessoas, que estão no anonimato, se sentem mais livres para compartilhar esses conteúdos. O Governo Bolsonaro valida muito esse pensamento racista que eles têm”.
Por que o bolsonarismo se dividiu em três subgrupos? O pesquisador aponta para a própria natureza das últimas eleições. “Bolsonaro abarca várias linhas de pensamento: a liberal na economia, a evangélica, a militar... Essas linhas são conflitantes, não andam de mãos dadas, como pudemos ver durante a briga entre os seguidores de Olavo de Carvalho e os militares”, argumenta. “Esses grupos estavam todos alinhados numa mensagem de eleger Bolsonaro, mas começaram a entrar em conflito. Umas pessoas queriam mais militarismo, outras queriam mais olavistas, outras mais evangélicos. É um reflexo do que Bolsonaro está fazendo na vida real: se ele demitia um militar, então os militaristas ficavam indignados...”, prossegue. Assim, as pessoas foram deixando os grupos de WhatsApp montados durante a campanha e criando outros mais de acordo com a linha que eles queriam que o presidente seguisse.
O método de sua pesquisa
Professor titular e pesquisador no Departamento de Estudos de Mídia na Universidade da Virgínia, Nemer realiza seu trabalho de campo em ambiente virtual, para averiguar como as pessoas se comportam e interagem entre si. No ano passado, identificou que as conversas dos grupos de família estavam mudando e adquirindo um tom mais político conforme as eleições se aproximavam. Algo aparentemente normal, mas que ganhou força com a difusão de conteúdos feitos de forma caseira ― isto é, pouco profissional ― com informações falsas ou distorcidas. Também foi um dos que identificou o comportamento de milícias virtuais que agem para perseguir determinadas figuras públicas e destruir reputações. Ele mesmo se tornou neste mês de dezembro um dos alvos dessas milícias virtuais. Ao publicar suas análises, conta ter recebido e-mails com ameaças e até mesmo uma foto sua andando em um local de São Paulo.
Com as eleições se aproximando em 2018, Nemer entrou em quatro grupos de WhatsApp bolsonaristas para monitorá-los. Ele identificou na ocasião uma forma de agir hierarquizada. No topo da pirâmide estavam algumas poucas pessoas anônimas que ele classifica como influencers, responsáveis por criar desinformações e distribuí-las nesses grupos. No meio da pirâmide estavam o que chama de exército voluntário, isto é, bolsonaristas que ficavam responsáveis por espalhar esses conteúdos pelas redes e grupos família. Na base estavam os brasileiros comuns, pessoas que conheceram Bolsonaro e impulsionaram sua candidatura. “Eram pessoas que não tinham espaço para debater e eram bombardeadas com conteúdos. Pela repetição, não havia espaço para dúvidas”.
Com a eleição de Bolsonaro, muitos desses brasileiros e brasileiras comuns foram deixando os grupos, que acabaram desinflando. Permaneceram os mais radicais, que se dividiram nos subgrupos explicados acima. Hoje, Nemer monitora cerca de uma dezena de grupos de WhatsApp e já colheu relatos de pessoas que dizem ter recebido quantias de dinheiro para impulsionar conteúdo falso nas redes.
“É uma minoria, uma coisa menor do que era antes, mas é uma minoria extrema e radical. Temos que prestar atenção porque esses espaços obscuros, escondidos, promovem uma radicalização. A pessoa passa a não ter mais senso crítico”, explica. Essa minoria hoje trabalha a partir da política do medo, tentando criar um passado mítico, que não aconteceu, para motivar as pessoas a saírem para votar ou protestar, segundo explica. “A desinformação não quer só puxar uma agenda política. Ela aliena você da verdade e tira todo o seu pensamento crítico”, completa.