sábado, 19 de abril de 2014

David Puttnam discute o que acontece com a Democracia quando a Mídia sobrepõe seus interesses lucrativos aos da população\Nação. A escolha entre informar ou inflamar


      A questão entre informar bem ou buscar a informação como meio de manipulação para se atingir lucros é o tema desta palestra do cineasta David Puttnam (filmado no TEDxHouseofParliament). Você pode encontrar a legenda em português clicando no penúltimo retângulo, no canto abaixo, à sua direita, que aparece assim que o video começa a rodar. Abaixo do vídeo, segue um texto de Eduardo Guimarães sobre o poder das quatro principais famílias midiáticas do Brasil:






As quatro famílias midiáticas

Por Eduardo Guimarães em 13/03/2007 na edição 424 do Observatório da Imprensa
Quatro famílias detêm a parte do leão da imprensa escrita no Brasil. São elas a família Frias, a família Marinho, a família Mesquita e a família Civita, controladoras, respectivamente, dos jornais Folha de S.Paulo,O GloboEstado de S.Paulo e da revista Veja. Durante décadas, essa gente influenciou a sociedade brasileira. Na maior parte do tempo, de forma extremamente nefasta. Só para se ter uma idéia do mal que essas famílias e seus patriarcas já fizeram ao Brasil, basta lembrar que foram responsáveis, por exemplo, por atirá-lo numa ditadura militar que durou duas décadas, e por sustentá-la durante a maior parte desse tempo.
A sustentação da ditadura militar pela grande imprensa familiar brasileira foi possível porque, apesar de o brasileiro ser avesso à leitura – inclusive de jornais –, "formadores de opinião", ou seja, os que lêem esses veículos, tratavam de disseminar pelos estratos sociais, de uma forma ou de outra, as teorias que a aristocracia desejava ver prevalecerem.
Foi graças à imprensa escrita, por exemplo, que a maioria da sociedade viu Lula como um "perigo" durante longos treze anos, até que, fartos de ser esmagados pelos políticos que Frias, Marinhos, Mesquitas e Civitas recomendavam, os brasileiros deram uma banana para essa gente e elegeram – e depois reelegeram – o petista. Mas, depois de 2002, as famílias controladoras da grande imprensa brasileira jamais recuperaram plenamente o poder de eleger governantes. Claro que há o exemplo de São Paulo (a capital), onde a imprensa local conseguiu impedir a reeleição de Marta Suplicy, que melhorou como nunca a vida dos paulistanos mais pobres, e ainda elegeu José Serra governador, depois de ele ter mentido aos paulistanos prometendo que permaneceria no cargo de prefeito até o fim de seu mandato. Mas esse foi um feito paroquial, num estado que, apesar do poderio econômico, ainda persiste como um feudo de descendentes dos barões do café – como os Mesquita, por exemplo.

Injustiça social

Esses órgãos de imprensa familiares (FolhaGloboEstadão e Veja) constituem uma âncora que impede os brasileiros de evoluírem intelectual, política e ideologicamente. Apesar de terem perdido boa parte da influência que sempre tiveram sobre os corações e mentes do nosso povo, em termos regionais ainda causam estragos. Isso sem falar de que colaboram com setores corruptos da Justiça ao acobertarem casos de corrupção de seus aliados do PSDB e do PFL (agora, "PD"), pois suas freqüentes "denúncias" são dirigidas exclusivamente contra os adversários desses que são seus políticos favoritos, enquanto calam sobre as estripulias tucano-pefelistas.
A aristocracia brasileira (o grande empresariado à frente) dá o suporte financeiro a essa imprensa arcaica, que jamais conseguiria sobreviver do "jornalismo" que diz que produz. É por isso que, na condição de cidadão apartidário, totalmente desvinculado de grupos políticos, procuro fazer minha parte na necessária luta para livrar meu país desse câncer que é sua grande imprensa escrita. Aonde quer que vá, com quem quer que eu converse, a quem quer que eu escreva, sempre que possível procuro informar que as famílias Frias, Marinho, Mesquita e Civita são as responsáveis por enorme parte da injustiça social, da concentração de renda, da violência, da criminalidade que grassam neste país.
Se você que me lê acredita no que digo, concentre suas forças na denúncia desses nomes – de órgãos de imprensa e de seus controladores. Esse é o foco da luta por um Brasil melhor, mais justo e igualitário.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Rede Globo Golpista



Jornal Nacional manipulou denúncias sobre Petrobras-Alstom



Jornal GGN - Na edição de ontem, o Jornal Nacional manipulou informações, sonegou dados recebidos e produziu uma denúncia factualmente falha contra a Petrobras.
A denuncia seguiu o padrão atual de criação de factoides abrindo mão do rigor jornalístico. Tratava de um contrato com entidades e pessoas que entraram na linha de fogo da mídia: Petrobras, Alstom, senador Delcídio do Amaral e o ex-vice presidente internacional Nestor Cerveró.
A partir daí, produziu-se mais uma salada que envergonha o jornalismo.
A matéria “Documentos mostram que Petrobras  desprezou opinião de advogados para fechar contrato com a Asltom” (http://tinyurl.com/lrcmbbk) referia-se a compras e manutenção de turbinas em termelétricas adquiridas nos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff.
A matéria começa dando destaque aos gastos de viagem (R$ 44 mil) de um executivo que foi à Suíça negociar a compra das turbinas. Depois informa que o Departamento Jurídico levantou 22 problemas que poderiam causar prejuízo.
Não explicou que em toda compra dessa natureza, cabe ao Jurídico levantar dúvidas, que são respondidas ou não pela área técnica. Se as respostas forem satisfatórias, mantem-se as cláusulas; não sendo, aprimoram-se. Se há respostas, não há desprezo pelas observações do Juridico.
O que a reportagem fez foi colocar apenas as dúvidas e sonegar do leitor as explicações que foram aceitas pelo Jurídico.
Segundo a matéria, “o contrato previa que "o único remédio possível" (em caso de quebra do equipamento) seria receber até 15% do valor, e não o valor integral da peça". Prossegue: "Na mesma cláusula, deixava-se ao critério do vendedor, a Alstom, a alteração de garantias de desempenho. O jurídico sugeriu a supressão dessa possibilidade, e completou: é de se notar que, caso haja atraso por culpa do vendedor, não existe nenhum tipo de penalidade, mesmo considerando-se os prejuízos que poderão advir”.
A nota da área técnica – que foi entregue à reportagem do JN (segundo nota divulgada há pouco pelo senador Delcídio Amaral) - explicava que o reembolso de 15% referia-se apenas no caso das usinas não apresentarem a performance prevista. “A possibilidade de quebra é tratada em outra cláusula do contrato (cláusula de garantia) que obriga o vendedor a repor as peças quebradas durante o período da garantia”.
A segunda denúncia do JN foi a de que o contrato permitiria à Alstom uma revisão unilateral das condições estabelecidas.
Máquinas térmicas têm seu desempenho alterado pelas condições ambientais do local de instalação e pela composição do combustível. A cláusula em questão obrigava o vendedor a corrigir os valores de performance padrão para as condições ambientais reais. Ou seja, a Petrobras adquiriu a performance. Se não fosse atendida pelos equipamentos entregues, o vendedor teria a obrigação de mudar as especificações para atender ao contratado.


Como ser enganado supondo-se informado

Por Mauro Malin em 15/04/2014 na edição 794 do Observatório da Imprensa

Martin Vandenberg, personagem de Amós Oz em Entre amigos, folheia um jornal onde só encontra “barbaridade e feiura e uma dose maciça de lavagem cerebral”. Descontadas a propensão a um radicalismo ingênuo de Vanderberg, e as décadas passadas desde a época de ambientação do livro, nós, os alvos da lavagem cerebral, somos mais enganados pelo que lemos (e mais ainda pelo que não lemos) do que gostaríamos de admitir.
Eis alguns exemplos. São quase bem-comportados, perto de coisas que não saem nos jornais, embora cheguem ao conhecimento das redações. Não lhes diminuo a eventual gravidade, mas vejo com certa ironia tantos pontos de exclamação de personagens do teatro político e leitores indignados. É como se, berrando por causa desses fatos conhecidos, abafassem o ruído de outros, mais pressentidos ou intuídos do que propriamente conhecidos. Mas não desconhecidos, porque, com destaque muito menor, também saem em letra de forma.
1. Por que em nenhum momento os paulistas foram avisados de que caminhavam para a iminência de um colapso do fornecimento de água? Ou melhor: houve avisos dados por técnicos e especialistas, mas eles não tiveram a divulgação necessária a uma tomada de consciência e a um questionamento das políticas adotadas pelo governo do estado.
2. Por que se constata agora uma distância tão grande entre o planejamento dos transportes metropolitanos no país e as necessidades reais da população? Melhor dito: entre a execução de políticas públicas da chamada mobilidade urbana e a demanda real. Em quantos anos está atrasada a construção do metrô de Salvador, por exemplo? (Iniciada em 2000, a obra da primeira linha deveria ter sido concluída em 2008. O panorama não é muito diferente nas outras metrópoles: um serviço, quando existente, caro e insuficiente.)
O mantra da Siemens
Por que a mídia simplesmente repete o mantra da Siemens, usado em press-releases, segundo o qual a empresa “foi a autora da denúncia que deu origem às investigações sobre possível existência de cartel nos contratos” (Folha de S. Paulo, 12/4) no setor de trens? Fica parecendo que a Siemens, um belo dia, descobriu horrorizada que funcionários seus estavam pagando propinas para garantir negócios no Brasil e em outros países.
Não é nada disso. A Siemens, empresa com longa tradição de crimes (usou trabalho escravo judeu durante o nazismo), viu-se acossada por autoridades suíças a pôr termo à prática de corromper funcionários públicos em determinados países. Foi a origem imediata da mudança de atitude da empresa no Brasil. Entregar anéis.
Leia-se, a propósito, reportagem de Patrick Radden Keefe publicada na revista piauí (“O tesouro, o mercador, o ditador e sua amante – Como um bilionário israelense conquistou o controle de uma jazida colossal na Guiné e a dividiu com a Vale”, março de 2014; na sequência vem a reportagem de Consuelo Dieguez “Contrato de risco – Como a Vale assinou um acordo para assumir todos os custos de uma transação bilionária e obscura na Guiné”).
A raiz do fenômeno está descrita assim por Keefe:
“Muitas nações combatem acirradamente a corrupção doméstica, mas se mostram bem permissivas quanto a propinas pagas fora do país. Até pouco tempo, empresas francesas podiam declarar como despesas dedutíveis os valores que desembolsavam à guisa de suborno em negócios no exterior. Recentemente, porém, as normas internacionais começaram a mudar. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos intensificou a observância da Lei de Práticas Corruptas no Exterior, o Reino Unido aprovou uma lei própria e igualmente severa, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico instituiu uma convenção contra o suborno, e várias dezenas de países – entre eles Israel – assinaram o acordo. Empresas de primeira linha, como a Siemens e a KBR responderam a acusações de corrupção pagando multas no valor de centenas de milhões de dólares.”
As multas pagas pela Siemens podem ter ultrapassado a barreira do bilhão de dólares. No verbete em inglês “Siemens” da Wikipedia lê-se que a empresa concordou em pagar uma multa recorde de US$ 1,34 bilhão em dezembro de 2008, após ter sido investigada por suborno pesado. A investigação encontrou pagamentos questionáveis de aproximadamente 1,3 bilhão de euros, entre 2002 e 2006, que dispararam amplo leque de inquéritos na Alemanha, nos Estados Unidos e em vários outros países.
Petróleo e lorotas
3. Por que a mídia levou oito anos para colocar em questão o negócio feito pela Petrobras na Califórnia? (Mais corretamente: para repercutir denúncias que colocaram em questão etc. Não foram jornalistas que apuraram a lambança.)
4. Por que a OGX, de Eike Batista, “levou dez meses para divulgar inviabilidade de campos” de petróleo, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (Valor, 11-13/4), e a mídia levou outro tanto, em seguida, para contar essa história?
A lista poderia ir adiante de modo praticamente ilimitado, mas o objetivo é apenas exemplificar.
Agora, vejamos algumas respostas possíveis.
Primeiro, a dependência que os repórteres têm das autoridades. Obter um furo deixou há muito de ser um feito calcado na competência e na tenacidade do jornalista, para se tornar questão de boas relações acríticas com as fontes, ou seja, com autoridades de todo tipo. Não é preciso dizer que esse “furo” será sempre contaminado pelo beneplácito do informante. Esse tema é constante no Observatório da Imprensadesde sua criação, em abril de 1996.
Crise das empresas e redações
Entendamo-nos: o jornalismo brasileiro foi historicamente vinculado ao poder (e aos contrapoderes), mas passou por processos de renovação que corresponderam, de certa forma, a modernizações democratizantes no país. O regime do golpe de 1964 truncou esse processo, especialmente depois da decretação do AI-5, em 1968, mas na segunda metade dos anos 1970 uma parte ponderável do jornalismo se afastou do poder, até que, movido pela campanha das Diretas Já, em 1984 (usada aqui mais como marco simbólico do que com pretenso rigor científico, porque se trata de todo um processo iniciado dez anos antes), tomou partido cada vez mais claro da redemocratização.
Teve seu momento de “glória”, mas a crise estrutural das empresas jornalísticas, que coincide mais ou menos com a passagem para o século 21, foi fazendo com que assessorias de imprensa se tornassem tão ou mais poderosas do que redações. Quando se aponta a dependência em relação às autoridades, não se deve entender que o jornalista fica literalmente na antessala do poderoso esperando a migalha de informação, como já foi um dia, ou tentando obtê-la por telefone, como ainda é em grande parte, mas um complexo de práticas que inclui também a citação de “declarações oficiais” (como a da Siemens acima mencionada).
Mentiras e enganos
Acresce que as autoridades mentem. Mentir faz parte de seu desempenho esperado, embora isso esteja em contradição com a raiz etimológica da palavra autoridade.
Não só mentem. Enganam-se. Erram.
Hitler se absteve de massacrar a Força Expedicionária Britânica (BEF) durante a retirada de Dunquerque (maio-junho de 1940) porque fez uma aposta errada na prevalência política do sentimento de apaziguamento dominante entre as elites britânicas, mas acabou diante da disposição antinazista capitaneada por Churchill.
Stálin recebeu oitenta avisos sobre iminente invasão alemã (Operação Barbarossa, junho de 1941) e não quis acreditar em nenhum deles. Preferiu deixar-se guiar pela crença de que a Alemanha não atacaria e, nos marcos do acordo assinado em 1939 com Hitler, continuou mandando trens carregados de matérias-primas estratégicas, como borracha, até dias antes da agressão.    
Podemos acrescentar os seguintes fatores:
>> O Brasil não consegue se planejar, apenas acenar com programas de governo que seguem o calendário eleitoral.
>> O planejamento brasileiro parte invariavelmente da premissa de que a maioria do povo continuará sem acesso a serviços públicos, ou que se contentará com doses miserentas de cuidados, embora o voto seja hoje universal.
Uma verdade humana é que não vivemos como nos dita a consciência. Não dizemos o que pensamos. Sentimos uma coisa e fazemos outra. (V. Grossman, Vida y destino.)
Lula e regulação da mídia
Para contrariar a máxima acima, registre-se o absurdo de uma declaração do ex-presidente Lula reproduzida na Folha de S. Paulo (9/4):
“Temos que retomar com muita força essa questão da regulação dos meios de comunicação. Quando vejo o tratamento a Dilma, é de falta de respeito e de compromisso com a verdade. Não é possível que a [a mídia] não se manque que o telespectador está percebendo.”
Em regime democrático, nenhuma regulamentação da mídia vai impedir que veículos de comunicação faltem com respeito a quem quer que seja, nem vai obrigar ninguém a ter compromisso com a verdade – conceito, ademais, de difícil enquadramento administrativo ou jurídico.
Como parece ter se lembrado Lula em meio à alocução, é o destinatário da informação que vai ou não considerá-la correta. E, se a falta de respeito for considerada pelo desrespeitado como crime (calúnia, injúria, difamação), dirija-se à Justiça. Fora disso, trata-se de autoritarismo. Talvez se saiba como começa, nunca como termina.



A Esperança de Gabriel Garcia Marques



terça-feira, 8 de abril de 2014

As forças reacionárias golpistas em 2014 se concentram no Partido da imprensa Golpista, o PiG


Charge de Bessinha sobre a escancarada tendenciosidade golpista da mídia atualmente. Uma imagem que diz tudo.

Abaixo, comentário de Bob Fernandes sobre dois pontos que se ligam: o Fracasso da "Marcha" dos coxinhas golpistas e o caso da Refinaria de Pasadena e seu uso político-golpista-midiático (a transcrição do comentário de Bob Fernandes encontra-se abaixo do vídeo:



Fracasso retumbante a "Marcha com a Família". O conjunto das "marchas" no país todo não juntou mil "testemunhas". Para o mofo, nada melhor DO que a luz do dia.

Os da "Marcha" têm saudades da ditadura. Na ditadura, notícias sobre corrupção e escândalos eram censuradas. Tratemos do presente. Da Petrobras e mais.

A compra de refinaria no Texas ressurge como escândalo. Leigos, experts e espertos, escolhem seus lados na batalha. Que é, também, política e midiática.

De repente, na mídia tradicional e nas redes sociais, quase todos são profundos conhecedores do negócio. Contra ou a favor. Incluindo as cláusulas Put Option e Marlin. 

Visto hoje, e com olhos leigos, parece restar pouca dúvida de ter sido péssimo negócio. As dúvidas reverberadas na mídia concentram-se no erro, incompetência, ou má fé.

Negócio de bilhão é para profissionais. Dois deles, que faziam parte do Conselho da Petrobras, deram opiniões. E expuseram a sinuca de bico. Política e empresarial.

Fábio Barbosa, que fazia parte do Conselho, defende a operação. Disse ele, sobre a compra da refinaria: 

-Estava alinhada com o plano estratégico para a empresa, e o valor estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou um grande banco americano. 

Detalhe: Barbosa é presidente da Abril, da revista Veja. Veja, que opina: "Dilma fez (quase) tudo certo no caso Pasadena". Erro seria, entende a revista, o "aparelhamento da Petrobras". 

Outro empresário, ainda hoje com assento no Conselho da Petrobras, é Jorge Gerdau Johannpeter. Que sobre a decisão para compra da refinaria em Pasadena afirma:

-Se baseou em avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio.

Sinucas e silêncios. Do governo e da Petrobras. Investigue-se. Se houve má fé, é punir. Mas a norma é o uso de denúncia como arma de campanha. Depois, o acerto e o esquecimento.

Acerto, esquecimento, e vítimas pelo caminho. Tomemos como exemplo o caso Alstom, de meio bilhão. Arrasta-se a investigação. Dezenas de nomes nas manchetes.

Nome até de quem já está morto, como Mario Covas. Parece importar pouco não haver, ou não se conhecer, prova alguma que permita citá-lo numa manchete policial.

A presunção de inocência deveria valer para todos. Não vale para mais ninguém. E parece não importar, também, o que aconteceu no Brasil nos últimos 16 anos.

Desde 1999 foram cassados cerca de 700 políticos. De governadores a vereadores. Mas segue a regra geral: acusar, como arma de campanha, e só depois investigar.

E quem for inocente? Que se dane. Isso no país onde cidadãos têm US$ 520 bilhões em paraísos fiscais. E devem R$ 1 trilhão e 300 milhões em impostos.

"Ah, se fosse na ditadura!", dirão as "testemunhas" da Marcha. Ditadura, em qualquer canto, é sinônimo de tortura, morte, e silêncio.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Para conhecer a História: A Grande Imprensa disse SIM ao golpe de 1964.....


1964 + 50

A imprensa disse sim ao golpe

Por Mário Magalhães em 01/04/2014 na edição 792
Reproduzido do blog do autor, 31/3/2014; título original “19 capas de jornais e revistas: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe”


Na semana dos 50 anos do golpe de Estado, o blog compartilha uma coleção de 19 primeiras páginas de jornais e capas de revistas publicadas nas horas quentes do princípio de abril de 1964.
Mais do que informação, constituíam propaganda, notadamente a favor da deposição do presidente constitucional João Goulart.
Até onde alcança o conhecimento do blogueiro, as imagens configuram a mais extensa amostra (ficarei feliz se não for) do comportamento do jornalismo brasileiro meio século atrás.
Trata-se de documento histórico, seja qual for a opinião sobre os acontecimentos.
Desde já o blog agradece novas capas que eventualmente sejam enviadas por meio do Facebook e do Twitter. Caso venham, serão acrescentadas a esta exposição.
Dos 19 periódicos aqui reunidos, oriundos de cinco Estados, 17 são jornais diários, alguns dos quais já não circulam, e dois são revistas hoje extintas.
Apenas três se pronunciaram em defesa da Constituição: “Última Hora”, “A Noite” e “Diário Carioca”. Nos idos de 1964, os dois últimos não tinham muitos leitores.
Os outros 16, em diferentes tons, desfraldaram a bandeira golpista.
As fontes da garimpagem foram: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional; Google News Newspaper Archive; sites e versões impressas de jornais; não menos importantes, blogs e sites, aos quais sou imensamente grato.
É muito provável que, quanto mais capas se somarem, maior seja a proporção das publicações que saudaram o movimento que pariu a ditadura de 21 anos.
Para não ser original e repetir uma expressão consagrada: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe.

A Noite (Rio), 1º de abril de 1964: ”Povo e governo superam a sublevação”.
Contrário ao golpe, jornal aposta no triunfo de Jango.
press - a noite - 1 de abril de 1964
Correio da Manhã (Rio), 1º de abril de 1964: ”(?) Estados já em rebelião contra JG”.
Editorial clama pela deposição de João Goulart: “Fora!”.
000 - correio

Diário Carioca, 1º de abril de 1964: ”Guarnições do I Exército marcham para sufocar rebelião em Minas Gerais”.
O jornal defendeu a Constituição.
000 - diario carioca 5

Diário da Noite (São Paulo), 2 de abril de 1964: ”Ranieri Mazzilli é o presidente”.
O jornal dos Diários Associados trata a nova ordem como “legalidade”
000 - diario da noite 5

Diário da Região (São José do Rio Preto, SP), 2 de abril de 1964: “Exército domina a situação e conclama o povo brasileiro a manter-se em calma”.
Depois do golpe com armas, o apelo por calma.
http://www.diarioweb.com.br/noticias/imagensnoticias/arteditadurapaginadiario_sub34996.jpg

Diário de Notícias (Rio), 2 de abril de 1964: ”Marinha caça Goulart”.
“Ibrahim Sued informa: É o fim do comunismo no Brasil.”
000000 - diario de noticias 6

Diário de Pernambuco, 2 de abril de 1964: ”Jango sai de Brasília rumo a Porto Alegre ou exterior: posse de Mazilli”.
Governador constitucional Miguel Arraes, vestido de branco no Fusca, é preso e cassado.
http://3.bp.blogspot.com/-v3QRZffcx48/UVeqS1hR-5I/AAAAAAAAX2k/38R5oVrLMsM/s1600/c2.JPG

Diário de Piracicaba (SP), 2 de abril de 1964: ”Cessadas as operações militares: A calma volta a reinar no país”.
No dia seguinte: “Relação de deputados que poderão ser enquadrados: Comunistas ou ligações com o comunismo”.
http://4.bp.blogspot.com/-jO-9BgALEtI/UJKA_ub-SoI/AAAAAAAAAT4/70LXYPBSQ1U/s1600/36_01112012.jpg

Diário do Paraná, 2 de abril de 1964: ”Auro Andrade anuncia posse de Mazzilli com situação normalizada”.
No alto: “Povo festejou na Guanabara vitória das forças democráticas”.
000000000000000 - teste

Fatos & Fotos, abril de 1964 (data não identificada): “A grande rebelião”.
Uma revista em júbilo.
http://1.bp.blogspot.com/-TsWhhiz6_mM/UVl-RDwN1BI/AAAAAAAAFfY/o-pIowJbFIo/s1600/04-04-64+-+Fatos+&+Fotos+-+Capa.jpg

Folha de S. Paulo, 2 de abril de 1964: ”Congresso declara Presidência vaga: Mazzilli assume”.
“Papel picado comemorou a ‘renúncia’ de João Goulart.”
press - folha - 2 de abril de 1964

Jornal do Brasil (Rio), 1º de abril de 1964: ”S. Paulo adere a Minas e anuncia marcha ao Rio contra Goulart”.
“‘Gorilas’ [pró-Jango] invadem o JB.”
press - jornal do brasil - 1 de abril de 1964

O Cruzeiro, 10 de abril de 1964: ”Edição histórica da Revolução”.
Revista celebra um herói da “Revolução”, o governador de Minas, Magalhães Pinto, um dos artífices do golpe.
http://boitempoeditorial.files.wordpress.com/2012/05/12-05-29_urariano-mota_ivan-ivanovitch-em-abril-de-1964.jpg?w=500&h=355

O Dia, 3 de abril de 1964: ”Fabulosa demonstração de repulsa ao comunismo”.
Jango chegou ao Rio Grande do Sul no dia 2. De lá, iria para o Uruguai. “O Dia”: “Jango asilado no Paraguai!”.
press - o dia - 3 de abril de 1964

O Estado de S. Paulo, 2 de abril de 1964: ”Vitorioso o movimento democrático”.
É a contracapa, porque a primeira página, era o padrão, só tinha notícias do exterior.
http://acervo.estadao.com.br/publicados/1964/04/02/m/19640402-27283-nac-0038-999-38-not.jpg

O Globo (Rio), 2 de abril de 1964: ”Empossado Mazzilli na Presidência”.
Título do editorial: “Ressurge a democracia!”
press- o globo - 2 de abril de 1964

O Povo (Fortaleza), sem data: ”II e IV Exércitos apoiam movimento mineiro”.
Quartel-general do IV Exército, no Recife, comandava a Força no Nordeste.
press - o povo sem data

Tribuna do Paraná, 2 de abril de 1964: ”Rebelião em Minas”.
“General Mourão Filho abre a revolta: ‘Jango tem planos ditatoriais’.”
http://www.parana-online.com.br/media/uploads/2012/marco/31-03-12/cid1310312.jpg

Última Hora, 2 de abril de 1964: ”Jango no Rio Grande e Mazzilli empossado”.
Jogando a toalha: “Jango dispensa o sacrifício dos gaúchos”.
GOLPE-ultima-hora-2-de-abril-de-1964
***
Mário Magalhães é jornalista, autor de Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo

Lembrar do golpe de 1964 para não esquecer seus efeitos perversos e para evitar que se repita

Segue texto do jornalista, sociólogo e professor Venício A. de Lima, sobre o Golpe de 64, o envolvimento da mídia na sua eclosão e as consequências sociais deste triste evento:




1964 + 50

Lembrar para não esquecer

Por Venício A. de Lima em 03/04/2014 na edição 792
 
Aluno do terceiro ano do ensino médio, morava em “república” de estudantes em Belo Horizonte, no início de 1964. Éramos todos apoiadores das “reformas de base” e ativos na política estudantil secundarista e/ou universitária, opção rotineira naquele início conturbado dos anos 1960, marcado por intenso debate público sobre os destinos do país e da América Latina.
Numa guinada de 180 graus, havia me transferido da Escola Técnica de Mineração e Metalurgia (atual CEFET-Ouro Preto) para o curso clássico noturno do tradicional Colégio Marconi. Desde 1962, militava na JEC (Juventude Estudantil Católica) e na AP (Ação Popular) – que surgira de dentro da Ação Católica. Estava também vinculado a um grupo de jovens engenheiros oriundos da Escola de Minas de Ouro Preto [atual UFOP, Universidade Federal de Ouro Preto] que fundara o GPM, Grupo de Política Mineral, e defendia a nacionalização das riquezas do subsolo brasileiro.
Meses agitados
Os primeiros meses de 1964 foram agitados em Belo Horizonte. Um dia, em especial, merece ser lembrado: o 25 de fevereiro. Nesta data deveria ter sido realizado um ato público da Frente de Mobilização Popular em defesa das reformas de base, com a presença de Leonel Brizola.
Planejado para acontecer na antiga Secretaria de Saúde, bem ao lado do velho Mercado Municipal, o local foi ocupado antecipadamente por grupos organizados contrários ao ato, incluindo padres e senhoras empunhando e rezando o “terço” (rosário) contra o “comunismo ateu”. A pancadaria foi inevitável. Não existiam as condições mínimas de segurança para a realização do ato. Quando a cavalaria da PM entrou em ação, no início da noite, sobrou para todos que estavam por perto. Cassetetes, espadas e bombas de gás lacrimogênio.
Creio que a reação organizada a este ato serviu de exemplo e inspiração para as “Marchas da Família com Deus pela Liberdade” que começaram a acontecer em diversas cidades, após o comício do presidente João Goulart na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, no dia 13 de março.
Os Diários Associados controlavam os principais meios de comunicação da cidade (jornais, emissoras de rádio e televisão) e a cobertura, após o 25 de fevereiro, era de “júbilo cívico” pelo espírito cristão da gente mineira e, sobretudo, das mulheres e mães que enfrentaram os “comunistas” em Belo Horizonte.
Nova realidade
A memória mais viva que guardo dos primeiros dias de abril é a surpresa de deparar com o aparato militar nas ruas. O governo mineiro (Magalhães Pinto) estava inteiramente envolvido com o golpe civil-militar e soldados (não sei se da PM ou do Exército) se postavam nas esquinas, nas praças e até na entrada do Edifício Pio XII, na Rua Espírito Santo, sede da Ação Católica. Amedrontado, não sabia onde ou como buscar informações sobre o que estava acontecendo.
Desinformados e inseguros, decidimos não ficar na “república”. Cada um devia “desaparecer” por alguns dias até que a situação ficasse mais definida. Meu primeiro refúgio foi a casa da família, em Sabará. Meu pai, com formação doutrinária integralista, certamente apoiava o golpe em nome “de Deus, da Pátria e da Família”, além de estar convencido de que o comunismo ateu havia se infiltrado em setores da igreja católica.
Na ingenuidade de meus 18 anos, esperei a noite para procurar contato com um velho e conhecido “comunista” da cidade, líder de um “Grupo dos Onze” vinculado a Leonel Brizola. Ainda bem que ele já havia desaparecido e que não havia vigilância ao redor de sua casa, onde ninguém respondeu à porta.
No dia seguinte, a esposa de um vizinho havia feito uma enorme fogueira com livros e revistas de seu marido – um simples advogado de esquerda – que eventualmente pudessem ser considerados subversivos pelas novas autoridades.
Mais assustado, resolvi voltar a Belo Horizonte e buscar abrigo na casa de um tio que certamente faleceu sem entender o porquê de seu sobrinho estar tão amedrontado e aparecer sem aviso prévio pedindo para ficar por alguns dias.
Aos poucos a nova realidade foi sendo absorvida, voltamos para a “república” e cada um foi fazendo suas opções e escolhendo o caminho a seguir.
Os dias seguintes
Nos meses seguintes nada me marcaria mais profundamente do que uma campanha nacional liderada pelos Diários Associados e inspirada na Revolução Constitucionalista de 1932, com o mote “Dê ouro para o bem do Brasil”.
Pessoa querida de minha própria família, católica fervorosa e convencida de que o maior perigo que a humanidade enfrentava era o “comunismo ateu”, doou sua própria aliança de casamento. Não conseguia compreender como tanta gente podia ser convencida (manipulada?) a fazer uma doação desse tipo, sem questionar qual seria o destino final que alianças, anéis, colares, brincos, broches etc. e etc. de fato teriam.
Até hoje, 50 anos depois, além do silêncio sobre a tal campanha, resta a controvérsia sobre o montante e o destino do ouro arrecadado. Registro, todavia, que na celebrada biografia de Fernando Morais, o único parágrafo das mais de 730 páginas dedicado à campanha “Dê ouro para o bem do Brasil” afirma, sem mais, que “os Associados entregaram efetivamente ao governo o equivalente a 3,8 bilhões de cruzeiros arrecadados em todo o país – aproximadamente 3 milhões de dólares de 1964 ou 12,5 milhões de dólares de 1994 (cf. Chatô – o Rei do Brasil, Companhia das Letras, 1994; p. 653).
Cinquenta nos depois
Tanto tempo depois, a memória de 1964 não pode mais ser ingênua. Aqueles dias mudaram para sempre a vida de muitos de nós e colegas e amigos queridos pagaram um preço alto demais pelo que viria a acontecer nos 21 anos seguintes (1964-1985).
Não há mais qualquer dúvida sobre o envolvimento e a participação dos principais grupos da grande mídia na articulação do golpe civil-militar de 1964 e, posteriormente, na sua legitimação. O que incomoda é a alteridade cínica desses mesmos grupos que recontam hoje a história à sua maneira, como se tivessem sido (e ainda fossem apenas observadores imparciais, sem qualquer responsabilidade pelos longos anos de medo e escuridão.
É preciso lembrar para não esquecer.
***
Venício A. de Lima é jornalista e sociólogo, professor titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado), pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (Cerbras) da UFMG e organizador de Para Garantir o Direito à Comunicação – A lei argentina, o relatório Leveson e o HGL da União Europeia, Perseu Abramo/Maurício Grabois, 2014; entre outros livros

Bob Fernandes discute sobre o delírio reacionário e impositivo do professor da USP e o fascismo do deputado saudosista da ditadura



      O professor fascista que bateu continência para a Ditadura e quis usar de sua posição para impor os valores retrógrados dele e o deputado troglodita que foi calado na tribuna do Congresso pelo mesmo motivo são objetos de análise de Bob Fernandes no video abaixo. O texto do comentário segue o video.





O cotidiano da política pode esperar. O tema ainda é o golpe de Estado e a ditadura imposta há 50 anos.

Cena 1. Terça-feira. Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco, São Paulo. A pretexto de dar aula, o professor Eduardo Lobo Gualazzi, decide ler sua "Continência a 1964".

No texto, o professor lembra ter apoiado o golpe aos 17 anos. Diz ele que em nome do "Aristocratismo, burguesismo, direitismo, capitalismo, música erudita...", e por ai afora.

Lobo cita o "holocausto vermelho" e a "peste rubra que assola o país". É direito dele delirar. E isso no mesmo dia em que a S. Francisco descerrava uma placa ensinando:

-Ditadura nunca mais, Estado de Direito sempre.

Anunciada pelo professor, segundo alunos, a provocação teve reação. Que obedeceu à terceira Lei de Newton; a toda ação há sempre reação oposta e de igual intensidade. 

Alunos encenaram um auto de tortura à entrada da sala de aula. Em seguida, invadiram a incontinência de Lobo Gualazzi. Discute-se quem teria mais ou menos razão.

Talvez seja mais importante perguntar: como um professor de Direito ainda defende um golpe de Estado e ditadura? 

Cena 2. Sala de aula, nesta quarta, São Paulo. A faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas promove um debate. Com 3 ex-ministros da justiça, professores e alunos.

Uma emocionante aula de história. Com testemunhos do que foi a tortura como prática de Estado. Nem o mais alienado dos alunos deixou de prestar atenção.

Em Brasília, outras duas cenas. A pedido da Comissão da Verdade, as Forças Armadas anunciam: vão investigar suas instalações onde se deram torturas e mortes. A conferir.

Outra cena: o deputado Bolsonaro (PP-RJ)não consegue dizer o que queria. Diria o de sempre, em defesa da ditadura e da tortura. Não disse por que o Congresso lhe deu as costas.

Entende-se a recusa. Mas, se ele falasse, da mesma tribuna se poderia dizer a esse personagem o que ele realmente é. O que ele significa e encarna.

Em 1987 a revista Veja relatou: Bolsonaro planejava explodir bombas na Vila Militar e na Academia de Agulhas Negras...E isso para obter melhores salários. 

A valer o ideário de Bolsonaro, esse seria um ato terrorista, a ser punido até com tortura e morte. Como já se vivia uma democracia, Bolsonaro foi à justiça, escapou de punição maior.

Na democracia, Bolsonaro pode hoje desfiar seu bestialógico, repetir tese que carece de inteligência básica.

Segundo tal tese, golpe e a ditadura se fizeram para, supostamente... impedir um golpe e uma ditadura. Por 21 anos, infantilização da sociedade, tortura e morte. 

Ditadura em nome de muitos interesses. Inclusive dos medos e delírios de gente como o professor Lobo. E para o prazer de trogloditas e oportunistas como Bolsonaro.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Para conhecer a História: A Grande Imprensa empresarial e o apoio à Ditadura.... Algo mudou de 64 para hoje?




O seguinte artigo, da historiadora Beatiz Kushnir, foi extraído da Carta Capital:

Política

Especial 50 anos do golpe

A grande imprensa apoiou o golpe e a ditadura



Os grandes veículos se passam por adversários da ditadura, mas colaboraram com ela e não tiveram papel relevante para o fim do regime




por Beatriz Kushnir — publicado 31/03/2014 04:54





  Desde fins da da década de 1990, parte da historiografia brasileira sublinha que o (equivocado) processo de Anistia cunhou a (errônea) visão de que vivemos envoltos em uma tradição de valores democráticos. A partir das lutas pela Anistia, como sublinha Daniel Aarão Reis, “libera-se” a sociedade brasileira de “repudiar a ditadura, reincorporando sua margem esquerda e reconfortando-se na ideia de que suas opções pela democracia tinham fundas e autênticas raízes históricas”. Nesse momento, plasmou-se a imagem de que a sociedade brasileira viveu a ditadura como um hiato, um instante a ser expurgado. Confrontando-nos à tal memória inventada, há no período republicano longos momentos de exceção – como nos referimos aos regimes ditatoriais.

  Se tais premissas correspondessem aos fatos, restaria explicar: por que houve apenas restritos episódios de resistência vinculados igualmente a pequenos grupos? Por que se permitiu aprovar uma Anistia recíproca, que mesmo nestes 50 anos após o golpe civil-militar, ainda é tema espinhoso de revisão?

  A luta contra o arbítrio, de forma armada ou não, definitivamente não caiu nas graças do povo deste berço esplêndido. E, certamente, os meios de comunicação de massa – a grande imprensa e posteriormente, a TV – têm um papel preponderante nase scolhas sociais implantadas.

  São clássicos os editoriais do Correio da Manhã nas vésperas do 1º de Abril de 1964, clamando por “Basta” e “Fora” a Jango. Igualmente, é emblemática a noção de que este jornal, ao realizar um “mea-culpa” e se colocar em oposição ao novo regime, foi punido com perseguições que levaram a sua falência. Esquecem-se, contudo, os amplos problemas de gerenciamento vividos por Niomar Moniz Sodré.


Ícones de resistência são lembrados, afirmados, expostos e sublinhados maciçamente para ratificar a tradição democrática brasileira, como: a meteorologia para o 14/12/1968, no Jornal do Brasil; as receitas de bolo do Jornal da Tarde; os poemas de Camões no Estadão; os inúmeros jornalistas perseguidos, demitidos, torturados e mortos; etc., que definiriam a grande imprensa brasileira como resistente ao golpe e, posteriormente, ao arbítrio. Mesmo com todo este esforço, o processo ditatorial perdurou por mais de duas décadas.

  Meio século depois e com inúmeros textos publicados sobre a mais recente ditadura brasileira, poder-se-ia ressaltar que nunca a grande imprensa brasileira estampou na primeira página dos periódicos um aviso claro afirmando: “Este jornal está sob censura”. As estratégias acima apontadas e outras, que frequentemente voltam à tona para reforçar a ação resistente, contavam com a capacidade do público leitor em decifrar pistas.

  O jornalista Oliveiros Ferreira, que por décadas trabalhou no Estadão, narrou as ligações recebidas pela redação indagando que a receita de bolo na primeira página do Jornal da Tarde estava errada. O bolo solava. Ou, como definiu Coriolano de Loyola Cabral Fagundes, censor desde 1961 e que atuou no Estadão, os poemas de Camões foram ali uma concessão. Certamente a censura federal apostava que o leitor não entenderia o seu porquê, ou se tranquilizaria na (efêmera) ilusão que mesmo no arbítrio lhe eram permitidos lampejos de resistência, os quais, efetivamente nada alteravam.

  Algo semelhante, contudo, não foi autorizado à (antiga) Veja, que, durante a “distensão” do governo Geisel, substitui as matérias censuradas por imagens de diabinhos, já que não se podiam publicar espaços em branco. Advertida, teve que parar, pois certamente o leitor de Veja à época entenderia o recado. Certamente como compreendeu a mensagem da revista quando da morte de Vlado, numa nota pequena de desculpas por não poder nada mais expressar.

  Os inúmeros jornalistas perseguidos, demitidos, torturados e mortos sofreram estas horríveis barbáries enquanto atuavam como militantes das esquerdas, em ações armadas ou como simpatizantes, como demonstram os processos que arrolam os seus nomes. Da mesma forma, existiram imposições governamentais de expurgos nas redações. Tais limpezas ocorreram logo depois do golpe e perduraram até e inclusive no governo Geisel, que impunha a bandeira do fim da censura. Muitos jornalistas/militantes poderiam ser citados como vítimas destas ações, já que, como pontuava lúcida e ferinamente Cláudio Abramo, “nas redações não há lugar para lideranças. Os donos dos jornais não sabem lidar com jornalistas influentes que, muitas vezes, se chocam com as diretrizes do comando. O jornalista tem ali uma função, mas ‘ficou forte, eles eliminam’.”

  Os meios de comunicação são empresas que buscam o lucro, vendendo a visão particular sobre um fato e, como Abramo por vezes demarcou, um “equívoco que a esquerda geralmente comete é o de que, no Brasil, o Estado desempenha papel de controlador maior das informações. Mas não é só o Estado, é uma conjunção de fatores. O Estado não é capaz de exercer o controle, e sim a classe dominante, os donos. O Estado influi pouco, porque é fraco. Até no caso da censura, ela é dos donos e não do Estado. Não é o governo que manda censurar um artigo, e sim o próprio dono do jornal. Como havia censura prévia durante o regime militar, para muitos jornalistas ingênuos ficou a impressão de que eles e o patrão tinham o mesmo interesse em combater a censura”.

  Existiram pouco mais de 220 censores federais, muitos deles com o diploma de jornalista – sendo que o primeiro concurso público para o cargo ocorreu em 1974, quando Geisel prometia o fim da censura. Estas duas centenas de pessoas atuavam reprimindo: cinema, TV, rádio, teatro, jornais, revistas, etc., entre 1964 e 1988, em todo o território nacional. Para que as expectativas governamentais dessem certo, os donos das empresas de comunicação tinham de colaborar – e não resistir.

 
Inúmeros arquétipos podem corroborar tal ideia, até porque a autocensura não é desconhecida das redações, e não se iniciou no pós-1964 no Brasil. No Jornal do Brasil, por exemplo, editou-se, em 29/12/1969, como me cedeu o seu exemplar o secretário de Redação, José Silveira, uma circular interna de cinco páginas, elaborada pelo diretor do jornal, José Sette Câmara, para o editor chefe, Alberto Dines, denominada “Instruções para o controle de qualidade e problemas políticos”, criada com o objetivo de “instituir na equipe um (...) Controle de Qualidade (...) sob o ponto de vista político”.

  Estabelecida dias antes do Decreto-Lei 1.077, de 26/01/1970, que legalizou a censura prévia, e um ano após o AI-5, a diretriz de Sette Câmara pontuava que “não se trata de autocensura, de vez que não há normas governamentais que limitem o exercício da liberdade de expressão, ou que tornem proibitiva a publicação de determinados assuntos. Em teoria há plena liberdade de expressão. Mas na prática o exercício dessa liberdade tem que ser pautado pelo bom senso e pela prudência”, já que “a posição do JB ao proferir que este não é a favor nem contra, (...) não é jornal de situação, nem de oposição. O JB luta pela restauração da plenitude do regime democrático no Brasil, pelo retorno do estado de direito. (...) Enquanto estiver em vigor o regime de exceção, temos que usar todos os nossos recursos de inteligência para defender a linha democrática sem correr os riscos inúteis do desafio quixotesco ao Governo. (…) O JB teve uma parte importante na Revolução de 1964 e continua fiel ao ideário que então pregou. Se alguém mudou foram os líderes da Revolução. [Nesse sentido, o JB deverá] sempre optar pela suspensão de qualquer notícia que possa representar um risco para o jornal. Para bem cumprirmos o nosso maior dever, que é retratar a verdade, é preciso, antes de mais nada, sobreviver”. Sette Câmara termina decretando que, “na dúvida, a decisão deve ser pelo lápis vermelho”.

  Em meados da década de 1970, foi a vez da Rede Globo – uma concessão pública – formalmente instituir o “Padrão Globo de Qualidade”, ao contratar José Leite Ottati – ex-funcionário do Departamento de Polícia Federal – para realizar a censura interna e evitar prejuízos advindos da proibição de telenovelas. Segundo Walter Clark, a primeira interdição da censura na Globo ocorreu em 1976, na novela Despedida de casado. Para blindar a emissora, o “Padrão Globo de Qualidade” receberia o auxílio de pesquisas de opinião feitas por Homero Icaza Sanchez – o “Bruxo” –, encarregado de identificar as motivações da audiência.

  Definindo toda essa tática, Clark explicou que, “(...) enquanto a Censura agia para subjugar e controlar a arte e a cultura do país, perseguindo a inteligência, nós continuávamos trabalhando na Globo para fazer uma televisão com a melhor qualidade possível.” Organizada a autocensura, o “Padrão Globo de Qualidade” teve acrescidos outros ingredientes para o seu sucesso. Em sintonia com a imagem, divulgada pelo governo autoritário, de um “Brasil Grande”, formulou-se também uma “assessoria militar” ou uma “assessoria especial” composta por Edgardo Manoel Ericsen e pelo coronel Paiva Chaves. Segundo Clark, “ambos foram contratados com a função de fazer a ponte entre a emissora e o regime. Tinham boas relações e podiam quebrar os galhos, quando surgissem problemas na área de segurança”.

  Esquema semelhante a este foi adotado pela Editora Abril, exposto em uma correspondência de Waldemar de Souza – funcionário da Abril e conhecido como “professor” –, a Edgardo de Silvio Faria – advogado do grupo e genro do sócio minoritário Gordino Rossi –, na qual comunicava o contato tanto com o chefe do Serviço de Censura em São Paulo – o censor de carreira e jornalista José Vieira Madeira –, como com o diretor do Departamento de Censura de Diversões Públicas – Rogério Nunes – para facilitar a aprovação das revistas e a chegada às bancas sem cortes.


  Estes vínculos do “professor” com membros do governo são anteriores a esse período e justificam seu potencial de negociação. Desde novembro de 1971 o relações-públicas do DPF, João Madeira – irmão de José Vieira Madeira –, expediu uma carta ao diretor-geral da Editora Abril na qual ratificava o convite do general Nilo Caneppa, na época diretor do DPF, a Waldemar de Souza para que fosse a Brasília ministrar um curso especial aos censores. Em maio de 1972, o próprio general Caneppa enviou a Vitor Civita, diretor-geral da Abril, uma correspondência de agradecimento pelas palestras sobre censura de filmes, que Waldemar de Souza proferiu na Academia Nacional de Polícia. Para continuar colaborando, no ano seguinte, Souza formulou uma brochura intitulada “Segurança Nacional: o que os cineastas franceses esquerdistas já realizaram em países da América do Sul e pretendem repetir aqui no Brasil”. E, em 1974, com o general Antonio Bandeira no comando do DPF, Waldemar de Souza, em caráter confidencial, expôs o porquê de censurar Kung Fu e sua mensagem que “infiltra a revolta na juventude”.

  Por fim, mas não menos importante, há a atuação do Grupo Folha da Manhã, proprietário da Folha de S. Paulo e da Folha da Tarde, entre outros, no período. Em dezessete anos, entre 19/10/1967 e 7/5/1984, o país foi dos “anos de chumbo” ao processo das Diretas Já, e a Folha da Tarde vivenciou uma redação tanto de esquerda engajada – até o assassinato de Marighella –, como, a partir daí, de partidários e colaboradores do autoritarismo.

  Durante uma década e meia sob o comando de policiais, o jornal adquiriu um apelido: o de “maior tiragem”, já que muitos dos jornalistas que ali trabalharam eram igualmente “tiras” e exerciam cargos na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. A partir deste perfil de funcionários, a Folha da Tarde carrega a acusação de “legalizar” mortes decorrentes de tortura, se tornando conhecido como o Diário Oficial da Oban.

  Isto explica o porquê de os carros do Grupo Folha da Manhã serem incendiados por militantes de esquerda, nos dias 21/9/1971 e 25/10/1971. A ação era uma represália, já que o grupo era acusado de ceder automóveis ao Doi-Codi que, com esse disfarce, montava emboscadas, prendendo ativistas.

  Nesse momento de ponderações sobre os 50 anos do golpe, recordo-me que, quando dos 30 anos do AI-5, o jornalista Jânio de Freitas publicou na Folha de S. Paulo uma advertência não cumprida por seus pares, inclusive agora, nas reflexões dos periódicos aos 50 anos do golpe civil-militar de 1964. Corroborando com tudo o que foi exposto aqui, Freitas lembrava em 1998 que “a imprensa, embora uma ou outra discordância eventual, mais do que aceitou o regime: foi uma arma essencial da ditadura. Naqueles tempos, e desde 64, o Jornal do Brasil [...] foi o grande propagandista das políticas do regime, das figuras marcantes do regime, dos êxitos verdadeiros ou falsos do regime.  (...) Os arquivos guardam coisas hoje inacreditáveis, pelo teor e pela autoria, já que se tornar herói antiditadura tem dependido só de se passar por tal”.

  O jornalista ao finalizar, adverte, e peço-lhe licença para me utilizar aqui, de suas conclusões. Trocarei 30 por 50 anos, AI-5 por golpe civil-militar de 1964, e o que estiver entre colchetes é de minha autoria. Assim: precisamos aproveitar os 50 anos do golpe civil-militar de 1964 para mostrar mais como foi o regime que [se instaurou a partir dali], eis uma boa iniciativa. Mas não precisava [como fizeram muitas narrativas recentes] reproduzir também os hábitos de deformação costumeiros naqueles tempos.

  * Beatriz Kushnir é historiadora, doutora em História pela Unicamp, autora, entre outros de, Cães de guarda: jornalistas e censores, do AI-5 à Constituição de 1988 (Boitempo, 2012)


Caixa de texto: Notícia sobre morte de Marighella
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