segunda-feira, 31 de dezembro de 2012



2013: coragem para se renovar




Texto de Leonardo Boff

Há mais de quinze anos atrás publiquei no Jornal do Brasil um artigo sob o título “Rejuvenescer como águias”. Relendo aquelas reflexões me dei conta como de elas são ainda atuais nos tempos maus sob os quais vivemos e sofremos. Retomo-as para alimentar nossa esperança enfraquecida e ameaçada pelas ameaças que pesam sobre a Terra e a Humanidade. Se não nos agarrarmos a alguma esperança, perdemos o  horizonte de futuro e corremos o risco de nos entregarmos ao desamparo imobilizador ou à resignação estéril.
Neste contexto lembrei-me de um mito da antiga cultura mediterrânea sobre o rejuvenescimento das águias.
De tempos em tempos, reza o mito, a águia, como a fênix egípcia, se renova totalmente. Ela voa cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendeiam e ela toda começa a arder. Quando chega a este ponto, ela se precipita do céu e se lança qual flecha nas águas frias do lago. E o fogo se apaga. Mas através desta experiência de fogo e de água, a velha águia rejuvenesce totalmente: volta a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e o vigor da juventude. Seguramente este mito constitui o substrato cultural do salmo 103 quando diz:”O Senhor faz com que minha juventude se renove como uma águia”.
E aqui precisamos ser um pouco psicólogos da linha de C.G. Jung que tanto se ocupou do sentido dos mitos. Segunda esta interpretação, fogo e água são opostos. Mas quando unidos, se fazem poderosos símbolos de transformação.
O fogo simboliza o céu, a consciência e as dimensões masculinas no homem e na mulher. A água, ao contrário, a terra, o inconsciente e as dimensões femininas no homem e na mulher.
Passar pelo fogo e pela água significa, portanto, integrar em si os opostos e crescer na identidade pessoal. Ninguém ao passar pelo fogo ou pela água permanece intocado. Ou sucumbe ou se transfigura, porque a água lava e o fogo purifica.
A água nos faz pensar também nas grandes enchentes como conhecemos em 2010 nas cidades serranas do Estado do Rio. Com sua força tudo carregam, especialmente o que não tem consistência e solidez. São os infortúnios da vida.
E o  fogo nos faz imaginar o cadinho ou as fornalhas que queimam e acrisolam tudo o que não é ganga e não é essencial. São as notórias crises existenciais. Ao fazermos esta travessia  pela “noite escura e medonha”, como dizem os mestres espirituais, deixamos aflorar nosso eu profundo sem a ilusões do ego. Então amadurecemos para aquilo que é autenticamente humano e verdadeiro. Quem recebe o batismo de fogo e de água rejuvenesce como a águia do mito antigo.
Mas abstraindo das metáforas, que significa concretamente rejuvenescer como águia? Significa entregar à morte todo o  velho que existe em nós para que o novo possa irromper e fazer o seu curso. O velho em nós são os hábitos e as atitudes que não nos engrandecem: a vontade de ter razão e vantagem em tudo, o descuido para com o lixo, o desperdício da água e o desrespeito para com a natureza, bem como a falta de solidariedade para com os necessitados, próximos e distantes. Tudo isso deve ser entregue à morte para podermos inaugurar uma forma de convivência com os outros que se mostre generosa e cuidadosa com a nossa Casa Comum e com o destino das pessoas. Numa palavra, significa morrer e ressuscitar.
Rejuvenescer como águia significa também desprender-se de coisas que um dia foram boas e de ideias que foram luminosas mas que lentamente, com o passar dos anos, se tornaram ultrapassadas e incapazes de inspirar o caminho da vida. Temos que nos renovar na mente e no coração.
Rejunecer como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar. Não é isso que nos propomos a cada  novo ano?
Que o ano de 2013 que se inaugura, seja oportunidade de perguntar o quanto de galinha existe em nós que não quer outra coisa senão ciscar o chão  e o quanto de águia há ainda em nós, disposta a rejuvenescer ao confrontar-se valentemente com os tropeços e as crises da vida. Só então cresceremos e a vida valerá a pena.
E não podemos esquecer aquela Energia poderosa e amorosa que sempre nos acompanha e que move o inteiro universo. Ela nos habita, nos anima e confere permanente sentido de lutar e de viver.
Que o Spiritus Creator nunca nos falte!
Feliz Ano novo de 2013.
Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/12/31/2013-coragem-para-se-renovar/

A Esperança é a Intuição da Essência Oculta que sustenta a Vida


Antônio Gramsci e a inutilidade dos Indiferentes


A vida como expressão de um ponto de vista


O Ano só se torna realmente Novo se Renovarmos Nossos Pensamentos e Percepções



O Ano Novo só será realmente Novo se Renovarmos nossas Ideias ante as velharias de um sistema impessoal, utilitarista e cada vez mais mecanicista, resgatando o humano, o cuidado e a gratuidade, buscando a solidariedade e não a competitividade.


Carlos Antonio Fragoso Guimrães

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os problemas causados por um modo de consciência são resolvidos por um modo superior de consciência


"Um problema não pode ser resolvido no mesmo nível de consciência que o criou. Você precisa ir para o próximo nível".

Albert Einstein

Nosso lugar no conjunto dos Seres



Texto de Leonardo Boff


  A ética da sociedade dominante no mundo é utilitarista e antropocêntrica. Quer dizer: falsamente considera que o conjunto dos seres da natureza somente possui razão de existir na medida em que serve ao ser humano e que pode dispor deles a seu bel-prazer.
  Continua acreditando que o ser humano, homem e mulher é o centro do universo e rei e rainha da criação.
  Mal sabe que, nós humanos, fomos um dos últimos seres a entrar no teatro da criação. Quando 99,98% de tudo já estava pronto, surgimos nós. O universo, a Terra e os ecossistemas não precisaram de nós para se organizarem e ordenarem sua majestática elegância e beleza.
  Cada ser possui valor intrínseco, independente do uso que fazemos dele. Ele representa uma emergência daquela Energia de fundo, como falam os cosmólogos, ou daquele Abismo gerador de todos os seres. Tem algo a revelar que só ele o pode fazer. E nós a escutar e a celebrar o que nos disser.
  Nós entramos no processo da evolução quando esta alcançou um patamar altíssimo de complexidade. Então irrompeu a vida e como subcapítulo da vida, a vida humana, consciente e livre. Por nós o universo chegou à consciência de si mesmo. E isso ocorreu numa minúscula parte do universo que é a Terra. Por isso nós somos aquela porção da Terra que sente, ama, pensa, cuida e venera. Somos Terra que anda, como diz o poeta e cantador indígena argentino Atauhalpa Yupanqui.
  A nossa missão específica, nosso lugar no conjunto dos seres, é o de sermos aqueles que podem ver a grandeur do universo, escutar as mensagens que cada ser enuncia e celebrar a diversidade dos seres e da vida.
  E porque somos portadores de sensibilidade e de inteligência temos uma missão ética: de cuidar da criação e sermos os guardiães dela para que continue com vitalidade e integridade e com as condições de ainda evoluir já que está evoluindo há 4,4 bilhões de anos.
  Cumpre, portanto, reconhecer e respeitar a história de cada ser da criação, vivo ou inerte. Existiram antes de nós e por milhões e milhões de anos sem nós. Por esta razão devem ser respeitados como respeitamos as pessoas mais idosas e as tratamos com respeito e amor. Eles também tem direito ao presente e ao futuro junto conosco.
  Leonardo Boff
  28/12/2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Leonardo Boff sobre O Natal


Natal: um mito cristão verdadeiro


Texto de Leonardo Boff

24/12/2012

Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2012/12/24/natal-um-mito-cristao-verdadeiro/



  Há poucas semanas, com pompa e circunstância, o atual Papa mostrou-se novamente teólogo ao lançar um livro: “A Infância de Jesus”. Apresentou a versão clássica e tradicional que vê naqueles relatos idílicos uma narrativa histórica. O livro deixou os teólogos perplexos, pois a exegese bíblica sobre estes textos,  há já pelos menos 50 anos, mostrou que não se trata propriamente de um relato histórico, mas de alta e refinada teologia, uma maneira de destacar algo da figura especial de Jesus, elaborada pelos evangelistas Mateus e Lucas (Marcos e João nada falam da infância de Jesus) para provar que Jesus era de fato o Messias, o filho de Davi e o Filho de Deus.
Para esse fim, recorrem a gêneros literários para apresentar uma mensagem, transmitida como se fossem histórias mas que de fato não passam de recursos literários, como, por exemplo, os magos do Oriente (representando os pagãos e os sábios), os pastores (os mais pobres e considerados pecadores por estarem às voltas com animais que os tornavam impuros), a Estrela e o anjos (mostrando o caráter divino de Jesus), Belém que não seria uma referência geográfica mas teria um significado teológico: o lugar onde, segundo as profecias, nasceria o Messias, diferente de Nazaré, totalmente desconhecida, onde Jesus provavelmente teria nascido de fato. E assim outros tópicos como detalhadamente analisei em meu Jesus Cristo Libertador (capitulo VIII).Mas tudo isso não é muito importante porque exige conhecimentos muito especializados.
Importante mesmo é compreender que face aos relatos tão comovedores do Natal estamos diante de um grandioso mito, entendido positivamente como os antropólogos o fazem: o mito como a transmissão de uma verdade tão profunda que somente a linguagem mítica, figurada e simbólica é adequada para expressá-la. É exatamente o que o mito pretende. O mito é verdadeiro quando o sentido que quer transmitir é verdadeiro e ilumina toda a comunidade. Assim o Natal é um mito cristão cheio de verdade, da proximidade de Deus e da familiaridade.
Nós hoje usamos outros mitos para mostrar a relevância de Jesus. Para mim é de grande significação um mito antigo, que a Igreja aproveitou na liturgia do Natal para revelar a comoção cósmica face ao nascimento de Cristo. Ai se diz:
”Quando a noite estava no meio de seu curso e fazia-se profundo silêncio: então as folhas que farfalhavam pararam como mortas; então o vento que sussurrava, ficou parado no ar; então o galo que cantava parou no meio de seu canto; então as águas do riacho que corriam, se paralisaram; então as ovelhas que pastavam, ficaram imóveis; então o pastor que erguia o cajado para golpeá-las, ficou petrificado; então nesse momento tudo parou, tudo silenciou, tudo se suspendeu porque nasceu Jesus, o salvador da humanidade e do universo”.
O Natal nos quer comunicar que Deus não é aquela figura severa e de olhos penetrantes para perscrutar nossas vidas. Não. Ele surge como uma criança. Ela não julga; só quer receber carinho e brincar.
Eis que do presépio veio uma voz que me sussurrou: ”Oh, criatura humana, por que tens medo de Deus? Ele não se fez criança? Não vês que sua mãe enfaixou seus bracinhos e seu corpinho frágil? Não percebes que ela não ameaça ninguém? Nem condena ninguém? Não escutas o seu chorinho doce? Mais que ajudar, essa criança precisa ser ajudado e coberta de carinho porque sozinha não pode fazer nada; não sabes que ela é o Deus-conosco-como nós?”
E ai já não pensamos mais mas damos lugar ao coração que sente, se compadece e ama. Poderíamos fazer outra coisa diante desta Criança, sabendo que é o Deus humanado?
Talvez poucos escreveram tão bem sobre o Natal, sobre Jesus Criança, que o poeta português Fernando Pessoa: ”Ele é a eterna criança, o Deus que faltava. Ele é o divino que sorri e que brinca. É a criança tão humana que é divina”.
Mais tarde transformaram o Menino Jesus no São Nicolau, no Santa Claus e, por fim, no Papai Noel. Pouco importam os nomes, porque no fundo, o espírito de bondade, de proximidade e de Presente divino está, de alguma forma, lá.
Acertado foi o editorialista Francis Church do jornal The New York Sun de 1897 respondendo a uma menina de 8 anos, Virgínia, que lhe escreveu: “Prezado Editor: me diga de verdade, o Papai Noel existe?” E ele sabiamente respondeu:
“Sim, Virgínia, Papai Noel existe. Isto é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção. E você sabe que tudo isto existe de verdade, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Como seria triste o mundo se não houvesse o Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virgínias como você. Não haveria fé das crianças, nem a poesia e a fantasia que tornam nossa existência leve e bonita. Mas para isso temos que aprender a ver com os olhos do coração e do amor. Então percebemos que não há nenhum sinal de que o Papai Noel não exista. Se existe o Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá sempre que houver crianças grandes e pequenas que aprenderam a ver com os olhos do coração”
Nesta festa, tentemos a olhar com os olhos do coração, pois todos fomos educados a olhar com os olhos da razão. Por isso somos frios. Hoje vamos resgatar os direitos do coração que é caloroso: deixar-nos comover com nossas crianças, permitir que sonhem e nos encher de estremecimento diante da Divina Criança que sentiu prazer e alegria ao decidir ser um de nós pela encarnação.
PS. Desejo aos leitores e leitoras de meu blog um Natal de esperança pois precisamos dela no meio de um mundo em voo cego rumo a um futuro incerto. Mas uma Estrela como a de Belém nos mostrará um caminho salvador. E chamaram Jesus de Emanuel, o Deus que caminha conosco, entro e ao nosso lado.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Individuação




Individuação

Dentro do escondido âmago
imerso nas sombras do Eu
perco-me, em meu frágil ego, a procurar
juntar, em um só todo, todos os pedaços meus

A estranha teimosia de buscar manter-me
acaba por transformar-se, aquietar
e de pueris arrogâncias, selvagens defeitos, expurgo ao torcer-me,
abrindo a mente ao novo  que virá

E assim, tento, sou levado, sigo
de vida em vida caminhando ou parando
Dando forma ao ser único que  sou
Continuando a trabalhar o instrumento
aprendendo ainda a tirar novos sons, menos tormentos
Sigo  aspirando, sonhando,
até chegar o momento em que possa perceber-me
indescritível harmonia de contrários.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Linguagem e Significado dos Mitos




A linguagem e função das Imagens, Símbolos e Mitos

Texto de 

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

   Da mesma forma como sonhamos individualmente e estes sonhos possuem elementos de nossa psicologia que apontam para etapas de nosso desenvolvimento pessoal, os mitos nascem do meio da coletividade e apontam para o estágio de desenvolvimento de uma sociedade.

  Freud e Jung demonstraram que a linguagem mais fundamental e própria de nosso psiquismo é fundamentalmente simbólica, imagética (o que não inclui somente imagens, mas representações conceituais e/ou sonoras atreladas a um sentimento ou ideia). Muitas vezes, a sabedoria intuitiva se expressa por imagens ou representações que incluem o que nos é conhecido, mas apresentados de algumas maneiras paradoxais, porque elas tenta, através das imagens e símbolos, apontar para alguma coisa ainda não conhecida ou vivenciada, mas que pode ser conhecida, pode ser vivenciada. Por isso, como diz Joseph Campbell, os mitos são, como os sonhos, expressões da sabedoria da vida, da vida humana. Frequentemente trazem temas universais que vestem roupagens das culturas locais, mas sempre se referindo a um enredo atemporal conhecido de quase todas as pessoas. Por isso, tanto um médico de São Paulo quanto um índio do Xingu podem ter sonhos ou gostarem de um conto que, tirando as diferenças superficiais das roupagens culturais, possuem uma mesma temática, que pode ser desde a jornada épica de um herói ao modo como se dá a paixão entre um homem e uma mulher, por exemplo.

  Como bem aponta o filósofo e historiador romeno Mircea Eliade, as imagens, símbolos e mitos apontam para aquele conteúdo profundo que é próprio da espécie humana: a capacidade de buscar sentido na vida e no mundo, e estes sãos os meios de nossa alma de expressar seus anseios, suas tendências de desenvolvimento (ou de estagnação). As imagens, símbolos e mitos são a linguagem figurada da alma e veículos de uma sabedoria só possível de ser "entendida" quando a aceitamos tal qual se nos apresentam para, assimiladas, poderem ser refletidas na alegoria de sua sabedoria sintética e poética, que ainda não foi deturpada pela racionalização ou pela seleção dos preconceitos de uma sociedade hiper-pragmática e voltada para as coisas externas como a nossa.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A melhor mensagem de Natal passa longe do consumismo...




  A melhor mensagem de Natal não é aquela associada ao consumismo, nem à neurose das aparências, mas sim aquela que sai da alma que, por pelo menos uma hora, relembra do esquecido aniversariante e, mais ainda, do seu exemplo no silêncio de nossos corações  que, sensibilizado, se abre aos corações daqueles que a vida nos deu por acompanhantes no caminhar comum da existência...


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Adeus, Oscar... Obrigado pelo exemplo!


Grato, Oscar
Pela genialidade
Pela generosidade
Pela ousadia de ousar sonhar
Por ter enfrentado a arrogância e a Ignorância da Direita
Por ter mantido a coerência
Pelo exemplo de vida!

Carlos Antonio Fragoso Guimarães