O encontro de Bolsonaro com missões diplomáticas estrangeiras [18/7] funcionou como sinal de alerta para o mundo sobre os propósitos antidemocráticos dele e das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas
(Foto: Clauber Cleber Caetano/PR | Ricardo Stuckert)
Por Jeferson Miola
O encontro de Bolsonaro com missões diplomáticas estrangeiras [18/7] funcionou como sinal de alerta para o mundo sobre os propósitos antidemocráticos dele e das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.
O estapafúrdio evento acelerou a conjuntura e provocou a repulsa de governos, lideranças e instituições internacionais. E provocou, também, muitas reações domésticas; com exceção, claro, dos notórios colaboracionistas do fascismo Arthur Lira e Augusto Aras.
Parece ter chegado ao fim a conveniência e a eficácia de Bolsonaro e do governo militar para a continuidade da guerra de pilhagem e roubo das riquezas e da soberania nacional que os capitais nacionais e estrangeiros promovem desde a derrubada farsesca da presidente Dilma.
Esta que é, aliás, uma guerra de ocupação para a devastação do Brasil. E a força ocupante do nosso território, no entanto, não é nenhuma potência estrangeira, mas o próprio Exército brasileiro – o “braço forte e a mão amiga” que afiança e executa este projeto de destruição e barbárie.
O governo dos EUA deixou claro que Bolsonaro e os militares passaram a atrapalhar os negócios e os interesses geopolíticos da potência imperial no Brasil e, por extensão, no continente. Autoridades do governo Biden hoje condenam as ameaças antidemocráticas publicamente e de modo surpreendentemente peremptório.
As “instruções” da metrópole imperial repercutiram fortemente nos meios empresariais e financeiros do Brasil. Nos últimos dias, frações significativas das oligarquias dominantes – inclusive alguns setores da lúmpen-burguesia extremista e doentiamente antipetista – passaram a se descolar do governo.
O manifesto em defesa da democracia representa a retirada de apoio e de engajamento orgânico de setores centrais do grande capital a Bolsonaro e ao governo militar.
A escalada fascista-militar e autoritária não interessa nem mesmo ao grande capital que vem se refestelando como nunca na apropriação do butim desta guerra de ocupação, saqueio e roubo. A ruptura institucional parece ser, neste sentido, uma linha divisória, pois gera um ambiente duvidoso e de instabilidade crítica para a acumulação capitalista no Brasil.
A ampliação do isolamento do Bolsonaro, há tempos considerado um pária internacional, é acompanhada, também, do aprofundamento da crise de legitimidade do governo militar.
Neste cenário de rejeição acentuada do governo e do Bolsonaro, a eleição do ex-presidente Lula no primeiro turno é uma hipótese bastante realista.
Ainda que empresários, lideranças de direita e das altas finanças ressalvem que a defesa da democracia não significa apoio automático a Lula, o fato concreto é que o movimento em defesa da democracia consolida Lula como o fator vital para a restauração democrática e para a reconstrução do país.
A 66 dias da eleição de 2 de outubro, está evidenciada a inviabilidade de qualquer opção da mal-apelidada “terceira via”. Lula será beneficiário do voto útil, realidade que bloqueará o crescimento de candidaturas sem-votos da direita tradicional, assim como causará a desidratação da candidatura de Ciro Gomes, hoje com cerca de 7 a 9% de intenções de voto.
A vitória da chapa Lula/Alckmin já no primeiro turno é um antídoto fundamental contra as ameaças antidemocráticas e golpistas de Bolsonaro e dos militares conspiradores, que não desistirão de causar caos, tumulto e violência.
Mas esta vitória do Lula não significará, automaticamente, o fim do pesadelo fascista e, tampouco, a reconversão definitiva das classes dominantes à democracia.
Como mostra nossa história de golpes e rupturas, para as elites a democracia tem valor meramente instrumental – pode ser descartada e violada a qualquer momento, sempre que considerarem seus interesses ameaçados.
O governo Lula/Alckmin será eleito no contexto de uma eleição complexa e imponderável. A ampla mobilização popular é o fator decisivo e crucial para garantir-se a realização da eleição e a vitória da chapa Lula/Alckmin no primeiro turno. E será fundamental para assegurar a posse e, principalmente, a sustentação do governo eleito, que sofrerá uma oposição selvagem da extrema-direita no Congresso e na sociedade.