sábado, 31 de dezembro de 2016

Em vídeo, a Petrobrás e os interesses Ocultos da Lava Jato


Do Contexto Livre:

Petrobras - Interesses Ocultos da Lava Jato


Nesse episódio o Olhar TVT mostra o que está por trás da operação Lava-jato. Enquanto a opinião pública se embebeda com a sensação justiça feita, o país para, a economia encolhe, e a Petrobras fica na berlinda, como se fosse inviável. O programa mostra a força da Petrobras e o interesse dos países ricos no pré-sal, a quarta maior reserva de petróleo do mundo. Ao mesmo tempo que a Lava-jato prende os acusados, ela coloca cada dia mais a maior empresa brasileira nas mãos de multinacionais.



2016, o ano da Besta! 2017 ..., por João Feres Jr.



"Gostaria de chamar atenção para um aspecto que para mim é central em todo esse drama -- é na verdade uma lição que todos já deveriam ter aprendido: toda vez que o poder do voto popular é cassado ou manietado, como o foi agora, quem sofre é o próprio povo, e particularmente os mais pobres. Foi assim na ditadura militar, aboliram as eleições e produziram ao longo de vinte anos um país desenvolvido que veio a ser também o mais desigual do mundo.

"Com o retorno da democracia eleitoral, a ampliação de direitos e de políticas públicas sociais produziram inclusão e mitigação das desigualdades, com destaque para a performance do presidente Lula. Pois bastou o golpe se consumar, e Dilma ser removida do cargo, para o novo presidente voltar toda a máquina política sob seu controle à tarefa de desmonte dos mesmos direitos e políticas públicas que haviam produzido a inclusão. O destaque aqui vai para a PEC 55, que promete 20 anos de sofrimento econômico e aumento das desigualdades."
2016, o ano da Besta! 2017 ...
por João Feres Jr.
Jornal GGN - A tentação de escrever um artigo de final de ano, com um sumário dos principais fatos transcorridos, é grande. Porém, o desafio é imenso, uma vez que esse ano de 2016 parece ter produzido mais fatos relevantes do que uma década inteira de anos “normais”.
Este ano foi o terror dos analistas de plantão. O perigo de uma análise ficar ultrapassada antes mesmo de ser publicada foi real e intenso. A sucessão de fatos surpreendentes, alguns estarrecedores, parece ter arrefecido somente com a chegada do final de ano. E eu começo esse texto exatamente por essa constatação. Pois esse arrefecimento já significa algo. Se a sociedade estivesse em ebulição, o final do ano provavelmente seria engolfado em acontecimentos – para além dos desastres e catástrofes que acontecem todo ano nessa época. Mas não, o que está em pandarecos, de pernas para o ar, são as instituições da nossa democracia, mais especificamente, os poderes da república.
No começo deste ano fatídico, participei de programa de rádio da BBC aqui no Rio para o qual também foi convidado um cientista político pernambucano que conheço há décadas. Ele garantia em alto e bom som que o impeachment era produto da saúde das instituições democráticas brasileiras, que não havia nada de errado com elas. Eu fiz questão de discordar, em inglês, como havia já feito várias vezes em português para outros interlocutores. Para mim, o cancelamento das eleições via manu legislativa, da maneira casuística como estava sendo feito, iria acarretar em trauma do qual as instituições não iriam se recuperar tão cedo, colocando inclusive em risco a ordem constitucional criada em 1988. Na época, havia mais de um cientista político pernambucano falando tais asneiras. Hoje, contudo, mergulharam em silêncio tumular.
Eu não gosto de futurologia. Acho que a publicização de opiniões sobre o futuro flerta com o fracasso e também a irresponsabilidade. A minha resposta futurológica foi reativa, e, infelizmente, eu estava certo. Para a sorte dos futurólogos de plantão, as pessoas têm memória curta, e se esquecem das previsões equivocadas feitas mesmo em passado recente. Para azar da maioria dos brasileiros, deceparam o executivo e o caos se instalou no sistema político brasileiro, com consequências dramáticas para o estado de direito, a justiça social e as políticas públicas em geral.
Gostaria de chamar atenção para um aspecto que para mim é central em todo esse drama -- é na verdade uma lição que todos já deveriam ter aprendido: toda vez que o poder do voto popular é cassado ou manietado, como o foi agora, quem sofre é o próprio povo, e particularmente os mais pobres. Foi assim na ditadura militar, aboliram as eleições e produziram ao longo de vinte anos um país desenvolvido que veio a ser também o mais desigual do mundo.
Com o retorno da democracia eleitoral, a ampliação de direitos e de políticas públicas sociais produziram inclusão e mitigação das desigualdades, com destaque para a performance do presidente Lula. Pois bastou o golpe se consumar, e Dilma ser removida do cargo, para o novo presidente voltar toda a máquina política sob seu controle à tarefa de desmonte dos mesmos direitos e políticas públicas que haviam produzido a inclusão. O destaque aqui vai para a PEC 55, que promete 20 anos de sofrimento econômico e aumento das desigualdades.
Já que o ritual manda que, em textos desse tipo, de final de ano, sejamos minimamente positivos, aqui vai: na lógica eleitoral básica reside nossa esperança para o futuro. Ora, é fato que as instituições se encontram em forte desarranjo e conflito: legislativo decapita o executivo, STF decapita o legislativo e tenta repetir a façanha com um voto monocrático, MP ameaça o legislativo federal em cadeia nacional de televisão, juízes e procuradores agem sistematicamente em violação do Estado de direito sem sofrer qualquer sanção, o MP está sendo consumido também por conflitos internos entre a PGR e os MPs federais nos estados, a Polícia Federal, o MP e o judiciário vazam repetidamente informações confidenciais, etc.
Mas enquanto houver democracia eleitoral, enquanto o sistema representativo não for manietado por um golpe dentro do golpe, que reduza o alcance do voto popular, há esperança que os poderes políticos voltem a se impor e saiamos dessa espiral viciosa.
Para que isso aconteça, contudo, é preciso que os poderes eleitos, os únicos aos quais de fato foi transferida a soberania popular, coloquem rédeas nos poderes não eleitos, judiciário e MP, e voltem a controlar as burocracias de Estado, como a Polícia Federal.
Mas não basta concluir que isso precisa ser feito. Tal análise institucional não nos mostra como isso pode ser feito. A meu ver, um ponto fundamental é romper a captura da política pelo discurso da corrupção. Enquanto os brasileiros continuarem a pensar a questão da corrupção como prioridade da política ficaremos presos a esse jogo simbólico e institucional que investe de legitimidade as burocracias de Estado do sistema de justiça e rouba legitimidade dos poderes políticos propriamente ditos.
A submissão da política ao problema corrupção foi a maior conquista da grande mídia na última década. De maneira intensa e continuada as grandes empresas de mídia investiram nesse discurso como principal estratégia para destruir o projeto da esquerda no poder – que na prática era um projeto de centro-esquerda. Conseguiram não somente seduzir a classe média, que foi às ruas de camisa da CBF pedir o fim do PT, mas também muitos indivíduos das classes subalternas, que compram a narrativa de que a classe política é uma elite de sanguessugas responsável pela opressão dos pobres.
Para a classe média, os políticos são corruptos que lhes infligem altos impostos e oferecem serviços públicos sem qualidade suficiente para serem usados. Na verdade, muitos sabem claramente que o projeto político do golpe, que é o do PSDB, é altamente lesivo para os mais pobres, e, assim, nutrem esperanças que o aumento da exploração da mão de obra barata lhes seja benéfica, nem que seja somente para pagar menos a sua empregada doméstica. Em seus variados graus de mesquinhez, tal classe média não consegue ver que não há saída coletiva para nosso país que não contemple a inclusão da massa de pobres e, portanto, a diminuição das desigualdades. Só ela pode produzir melhores serviços, maior riqueza e diminuição brutal da violência urbana – item muito sensível para essa classe.  
Os indivíduos mais pobres que compram o discurso da corrupção me parecem ainda mais equivocados, pois da atual situação não abiscoitam sequer vantagens mesquinhas de curto prazo. O combate à corrupção no Brasil de hoje tem produzido de fato a perseguição política do PT, a violação do Estado de direito para além do que já era feito, o cancelamento do voto popular e a instalação de um governo com políticas extremamente nocivas a seus interesses. Se o coxinha de classe média escolhe o racionalismo imediatista e sórdido ao invés da solução racional de longo prazo, o coxinha pobre sequer tem motivos racionais para sua escolha. Mas ambos se equiparam por chafurdar na própria ignorância – que é produzida cotidianamente pelos meios de comunicação. Afinal de contas, como é que adquiriram todas as informações que os possibilitam reproduzir a narrativa da política como corrupção? Da vivência pessoal é que não foi.  
Dado este estado de coisas, é preciso perguntar: como começamos a desmanchar esse imbróglio? Se a narrativa está nas mãos da grande mídia e esta, por sua vez, está há décadas nas mãos de grandes famílias de tradição conservadora e demófoba, como romper com ela? Se as instituições estão já em estado de profundo desarranjo, como reorganizá-las? A resposta não é simples, mas arrisco dizer que ela passa necessariamente pela manutenção da democracia eleitoral nos moldes como a temos hoje, pelo menos, e pelo esforço contínuo de desmontar, via política institucional e sociedade civil, o oligopólio midiático do qual somos quase todos vítimas.
De uma coisa podemos estar certos para o futuro:  ninguém vai fazer isso por nós. A vida é só uma. O país do qual somos cidadãos é só um. Então, mãos à obra!

Os golpistas esqueceram que o mundo existe. Artigo de Rogério Maestri


"Pois bem, com a Rússia se firmando no oriente médio, a China mais firme na Ásia e na África como nunca esteve o mundo começa a ficar muito pequeno para os Imperialistas Ocidentais.
Nesta nova estratégia o Brasil enredado com todos os problemas internos e com um ministro das relações exteriores que nem sabe direito quem são os Brics (isto deve ser a gozação internacional), esquece por completo que o mundo existe, talvez mais tanto pelo grau de Alzheimer do Chanceler brasileiro, como pela falta de completa e total visão de mundo que todos os golpistas e oligarcas brasileiros têm."
O problema é que os golpistas esqueceram que o Mundo existe
por Rogério Maestri
Jornal GGN. - O que teremos nos próximos meses e anos é um realinhamento das forças políticas que colocarão a Rússia e a China com muito mais evidência que o arsenal nuclear russo e a grandeza da economia chinesa os confere no mundo atual.
Putin simplesmente deu um baile na titubeante diplomacia Norte Americana que é mais conduzida por paspalhos como o John Kerry que bate de frente contra diplomatas russos profissionais como Sergey Lavrov que tem uma carreira de mais de quarenta anos na diplomacia.
Se, por exemplo, o absurdo de prender mais de 110 espiões no meio de Aleppo fosse ao contrário do que ocorreu, onde desta centena 11 eram oficiais norte-americanos e outra penca de oficiais da OTAN e de Israel, fosse os Estados Unidos que tivessem feito à apreensão teriam feito um enorme espalhafato com a CNN filmando os espiões. Mas simplesmente Putin e a diplomacia russa segurou o nome da maioria, divulgou somente 11 e colocou a diplomacia ocidental aos seus pés.
Este incidente, que junto com a tentativa frustrada de golpistas pró-ocidentais de derrubar o presidente Turco, simplesmente tirou o protagonismo de Norte-americanos e europeus do conflito sírio. Bloqueados por todos os lados, turco, curdo, libanês e sírio e sem os mercenários da OTAN e dos USA para apoia-los, surpreendentemente a guerra da Síria, que todos imaginavam que iria se eternizar parece estar chegando a um fim.
Vitória inequívoca de Putin e da diplomacia russa, que sabem aguardar e quando precisam, entram para ganhar. Já por outro lado, Obama não consegue nem eleger o seu sucessor.
Pois bem, com a Rússia se firmando no oriente médio, a China mais firme na Ásia e na África como nunca esteve o mundo começa a ficar muito pequeno para os Imperialistas Ocidentais.
Nesta nova estratégia o Brasil enredado com todos os problemas internos e com um ministro das relações exteriores que nem sabe direito quem são os Brics (isto deve ser a gozação internacional), esquece por completo que o mundo existe, talvez mais tanto pelo grau de Alzheimer do Chanceler brasileiro, como pela falta de completa e total visão de mundo que todos os golpistas e oligarcas brasileiros têm.
A ignorância deste governo em relações exteriores vai custar caríssima para o país. Vamos estar no lado errado, com posições erradas e sem a mínima noção nem que estamos deste jeito.
A debilidade real e verdadeiramente mental de todos Cleptocracia do golpe é tamanha, pois pensam que o estado mais importante dos USA é Flórida, simplesmente porque eles estão só acostumados a irem fazer compras neste estado e se divertirem na Disneylândia. Também a Suíça era importante, até descobrirem que há leis naquele país e que a lavanderia suíça está cada vez menos importante no país, agora vão expandir os conhecimentos de geografia, entrando no cardápio algumas ilhas inglesas, por exemplo.
Esta debilidade fará que o Brasil fique atrás de todas e quaisquer negociações, salvo aquelas que o Itamarati consiga afastar os golpistas, mas se tiver dinheiro vai ser impossível. Com a exclusão das negociações, sem antecipação nenhuma a eventos políticos e econômicos internacionais, vamos ficar correndo depois das oportunidades surgirem e com isto a nossa balança de pagamentos tenderá a cair.
Imagino o que vai ocorrer quando alguém impuser alguma restrição a soja brasileira pelo uso de determinado agrotóxico que estará sendo fabricado no mesmo local de onde partirá a restrição. A Bancada ruralista ou vai vender a soja por um terço do preço, ou vai haver suicídios em grupo do Caiado e seus associados.
Ou seja, um Estado sem uma política que leve em conta os aspectos externos, é fadado ao desastre. Seremos pegos de calças curtas da mesma forma que os espiões e mercenários da OTAN foram pegos na Síria, e como os israelenses fizeram, vamos pagar alguns milhões pela devolução de cada oficial.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

2016:o ano em que, por meio de uma corja de corruptos, sua mídia e midiotas, se tentou matar a esperança do povo brasileiro. Texto de Leonardo Boff

   "A situação social, política e econômica do Brasil mereceria uma reflexão severa sobre a tentativa perversa de matar a esperança do povo brasileiro, promovida por uma corja (esse é o nome) de políticos, em sua grande maioria corruptos ou acusados de tal, que, de forma desavergonhada, se pôs a serviço dos verdadeiros forjadores do golpe perpretado contra a Presidenta Dilma Rousseff: a velha oligarquia do dinheiro e do privilégio que jamais aceitou que alguém do andar de baixo chegasse a ser Presidente do Brasil e fizesse a inclusão social de milhões dos filhos e filhas da pobreza."


Foto: Jornal GGN

Texto de Leonardo Boff:

A situação social, política e econômica do Brasil mereceria uma reflexão severa sobre a tentativa perversa de matar a esperança do povo brasileiro, promovida por uma corja (esse é o nome) de políticos, em sua grande maioria corruptos ou acusados de tal, que, de forma desavergonhada, se pôs a serviço dos verdadeiros forjadores do golpe perpretado contra a Presidenta Dilma Rousseff: a velha oligarquia do dinheiro e do privilégio que jamais aceitou que alguém do andar de baixo chegasse a ser Presidente do Brasil e fizesse a inclusão social de milhões dos filhos e filhas da pobreza.

         Obviamente há politicos valorosos e éticos, bem como empresários da nova geração, progressitas que pensam no Brasil e em seu povo. Mas estes não conseguiram ainda acumular força suficiente para dar outro rumo à politica e um sentido social ao Estado vigente, de cariz neoliberal e patrimonialista.

         Ao se referir à corrupção todos pensam logo no Lava Jato e na Petrobrás. Mas esquecem ou lhes é negada, intencionalmente pela mídia conservadora e legitimadora do establishment, a outra corrupção, muito pior, revelada exatamente no dia de Natal que junto com o nascimento de Cristo se narra a matança de meninos inocentes pelo rei Herodes, hoje atualizado pelos corruptos que delapidam o país (O Estado de São Paulo 25/12/2016).

         Wagner Rosário, secretário do Ministério da Transparência, nos revela que nos últimos treze anos esquemas de corrupção, de fraudes e desvios de recursos da União, repassados aos Estados, municípios e ONGs e direcionados a pequenos municípios com baixo Indice de Desenvolvimento Humano podem superar um milhão de vezes o rombo na Petrobrás descoberto na Lava Jato. São 4 bilhões mas camuflados que podem se transformar, num estudo econométrico, em um trilhão de reais. As áreas mais afetadas são a saúde (merenda) e a educação (abandono das escolas).

       Diz o Secretário: “A gente chama isso de assassinato da esperança. Quando você retira merenda de uma criança, você tira a possibilidade de crescimento daquele município a médio e a longo prazo. É uma geração inteira que você está matando”.

         A nação precisa saber desta matança e não se deixar mentir por aqueles que ocultam, controlam e distorcem as informações porque são anti-sistêmicas.

         Mas não se pode viver só de desgraças que macularam grande parte do ano de 2016. Voltemo-nos para aquilo que nos permite viver e sonhar: a esperança.

         Para entender a esperança precisamos ultrapassar o modo comum de vermos a realidade. Pensamos que a realidade é o que está aí, dado e feito. Esquecemos que o dado é sempre feito e não é todo o real. O real é maior. Pertence ao real também o potencial, o que ainda não é e que pode vir a ser. Esse lado potencial se expressa pela utopia, pelos sonhos, pelas projeções de um mundo melhor. É o campo onde floresce a esperança. Ter esperança é crer que esse potencial pode se transformar em real, não automaticamente, mas pela prática humana. Portanto, a utopia que alimenta a esperança não se antagoniza com a realidade. Ela revela seu lado potencial, o abscôndito que quer vir para fora e fazer história.

         Faço meu o lema do grande cientista e físico quântico Carl Friedrich von Weizsäcker cuja sociedade fundada por ele me honrou em final de novembro em Berlim com um prêmio pelo intento de unir o grito da Terra com o grito do pobre:”não anuncio otimismo, mas esperança”.

         Esperança é um bem escasso hoje no mundo inteiro e especialmente no Brasil. Os que mudaram ilegitimamente os rumos do país, impondo um ultraliberalismo, estão assassinando a esperança do povo brasileiro. As medidas tomadas só penalizam as grandes maiorias que veem as conquistas sociais históricas sendo literalmente desmontadas.

         Aqui nos socorre o filósofo alemão (Ernst Bloch) que introduziu o “princípio esperança”. Esta, a esperança, é mais que uma virtude entre outras. É um motor que temos dentro de nós que alimenta todas as demais virtudes e que nos lança para frente, suscitando novos sonhos de uma sociedade melhor.

        Esta esperança vai fornecer as energias para a população afetada poder resisitir, sair às ruas, protestar e exigir mudanças que façam bem ao país, a começar pelos que mais precisam.

         Como a maioria é cristã valem as palavras do sábio Riobaldo de Guimarães Rosa:”Com Deus existindo, tudo dá esperança, o mundo se resolve…Tendo Deus é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim, dá certo. Mas se não tem Deus, então, a gente não tem licença para coisa nenhuma”.

         Ter fé é ter saudades de Deus. Ter esperança é saber que Ele está ao nosso lado, ainda que invisível, fazendo-nos esperar contra toda a esperança.

Leonardo Boff é articulista do JB online e escreveu Teologia da libertação e do cativeiro, Vozes 2014.

O bêbado e o jornalismo (tendencioso), por Elstor Hanzen




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   "O 2016 foi farto de problemas complexos para os quais se vendeu soluções fáceis e rápidas. Por causa da manifestação de insatisfação da população com a corrupção e com a crise política e econômica, a saída foi o impeachment e a instalação de um governante salvador da pátria. E a mídia teve um papel decisivo nesse processo porque coletou todas as evidências favoráveis à ideia e, o pior, passou até interpretar indícios ambíguos de modo a favorecer e respaldar a ideia como solução para a crise."






O bêbado e o jornalismo

Por Elstor Hanzen em 19/12/2016 na edição 928 do Observatório da Imprensa



O modo como enxergamos o mundo seria muito diferente se todos os nossos julgamentos pudessem ser isolados da expectativa e baseados apenas em informações relevantes”, ou ainda: “É fácil seremos vítimas das expectativas, e é também fácil explorá-las diante dos outros.” Essas são reflexões trazidas pelo físicoestadunidense Leonard Mlodinow, no livro O andar do bêbado, publicado em 2009. Em palavras gerais, a obra trata de como fatores aleatórios influenciam no resultado de sistemas complexos, como na nossa vida, por exemplo. Especificamente, Mlodinow traz importantes lições para o jornalismo, para tal apresenta resultados que desmistificam os salvadores da pátria, as celebridades, os gurus do marketing, enfim, contrapõe o mundo da aparência ao da essência.
O 2016 foi farto de problemas complexos para os quais se vendeu soluções fáceis e rápidas. Por causa da manifestação de insatisfação da população com a corrupção e com a crise política e econômica, a saída foi o impeachment e a instalação de um governante salvador da pátria. E a mídia teve um papel decisivo nesse processo porque coletou todas as evidências favoráveis à ideia e, o pior, passou até interpretar indícios ambíguos de modo a favorecer e respaldar a ideia como solução para a crise.
Por outro lado, não mostrou as contra razões desse processo, mas que ao longo do ano foram se impondo naturalmente. Portanto, ignorou-se a premissa básica que diz: para uma ideia ter o mínimo de consistência, é necessário equilibrar os prós e os contras, contudo, o que se fez foi seguir apenas o padrão de comportamento observado pelo filósofo Francis Bacon, em 1620. Para Bacon, “a compreensão humana, após ter adotado uma opinião, coleciona quaisquer instâncias que a confirmem, e ainda que as instâncias contrárias possam ser muito mais numerosas e influentes, ela não as percebe, ou então as rejeita, de modo que sua opinião permaneça inabalada”.
Esse comportamento é chamando pelos psicólogos de viés da confirmação, prática muito presente também nas redes sociais, em que se seguem pessoas com as mesmas opiniões e preferências, estratagema cada vez mais reforçado graças ao uso dos algoritmos para juntar um público homogêneo no espaço online que, em última instância, visa o mercado e o interesse comercial de grupos empresariais. Segundo tal lógica, quando estamos diante de uma ilusão – ou em qualquer momento em que tenhamos uma nova ideia -, em vez de tentarmos provar que nossas ideias estão erradas, geralmente, tentamos provar que estão corretas. Inclusive, a tendência de confirmação de nossas expectativas não é nova nem só coisa da internet. Conforme Mlodinow, ela pode ocorrer em várias circunstâncias, como exemplo, quando um empregador entrevista um candidato a um emprego, sua propensão é formar uma rápida primeira impressão do sujeito e passar o resto da entrevista buscando informações que a corroborem.
Mundo da aparência
Quem se serve bem do mundo das aparências e das falsas expectativas é o marketing. Para ilustrar sua obra sobre o mito das falsas verdades, Mlodinow apresenta diversas pesquisas e análises realizadas no campo das marcas. E num estudo feito em 2008, um grupo de voluntários deu nota melhor a uma garrafa com etiqueta de US$90 que a outra com etiqueta de US$10, embora os sorrateiros pesquisadores tivessem enchido as duas com o mesmo vinho. Outro teste foi feito com vodca. De acordo com a descrição da bebida feita pelo governo da Rússia, ela é neutra e não apresenta aroma, sabor e cor. Mas o estudo com 21 rótulos diferentes da bebida mostrou resultados curiosos: no primeiro teste, os rótulos e os preços ficaram à mostra, quando os envolvidos atribuíram qualidades melhores à medida que o valor era maior e a marca mais conhecida. Num segundo teste, às cegas, com as mesmas pessoas, a vodca mais barata recebeu melhor cotação.
Para lembrar que a força das marcas não se restringe a produtos específicos, evidentemente, basta citar a eleição do prefeito de São Paulo, João Doria Jr.; e do presidente dos EUA, Donald Trump. O que os dois têm em comum: são empresários e ex-apresentadores de reality show; portanto, se beneficiaram fortemente na política devido à construção dos seus nomes pelo marketing. E o que o jornalismo fez para mostrar a realidade por trás dessas aparências? Pelo menos aqui no Brasil, praticamente nada.
Já o autor do O andar do bêbado busca uma compreensão mais ampla para o exposto. Ele avalia que a visão determinística do mercado dá conta que o sucesso da pessoa e do produto é determinado pelos valores intrínsecos, o que, em geral, é uma falácia, ressalta ele. Ou seja, na sociedade capitalista se diz que os valores e os princípios são essenciais, mas se projeta o grau da celebridade e a quantidade de dinheiro como sinônimo de sucesso. Esse tipo de sociedade também se apressa em transformar os ricos em heróis e os pobres em pondes expiatórios.
A origem disso vem da nossa tendência a confiar demais nas previsões excessivamente precisas das pessoas – comentaristas, especialistas de finanças, gurus do marketing – cujo histórico, supostamente, demonstra conhecimento dos assuntos. Mas se visto com mais cuidado, como fazem os historiadores, apenas se gera uma aparência de inevitabilidade, usando a estratégia de citar fontes abalizadas pelo mercado e de trazer para o primeiro plano as forças vencedoras e jogando para o segundo as que foram engolidas pelas primeiras.
Mundo da essência
O bom jornalismo que procura trazer à tona a essência e a relevância dos acontecimentos, infelizmente, está em falta nos últimos tempos. O que se tem visto é a espetacularização dos fatos, a criação de heróis e salvadores da pátria, publicitação de falsas polêmicas. Tudo isso se materializou em 2016, quando acompanhamos a cobertura da tragédia com o time da Chapecoense, a sobreposição de determinados juízes da Lava Jato a suas próprias instituições ou a dicotomia entre o Congresso Nacional e o STF.
Esse tipo de tratamento dos fatos ajuda pouco a cumprir uma das essências do jornalismo, levar informações às pessoas para terem sua independência e se autogovernarem, por exemplo. Ainda mais agora, momento em que a mídia tradicional – jornal, rádio, televisão – sofre com as superficialidades, boataria e polarizações das informações publicadas nas redes sociais. Para fazer frente a tal realidade, dever-se-ia ter como uma espécie de missão a verificação e a relevância dos assuntos, antes de lançá-los à agenda pública. Mas o que tem acontecido é o viés da confirmação de algumas verdades, assim ampliando as falsas verdades e a tão conhecida polarização dos temas nas plataformas online.
Acompanhar e endossar opiniões diante de movimentos de ocasião, conforme sopra o vento, não contribui em nada a fortalecer o jornalismo e preservar seu principal ativo: a credibilidade. Por isso, não importa quanto a forma de fazer jornalismo e a distribuição da informação tenham mudado com a nova tecnologia, a essência tem permanecida a mesma: desmistificar as falsas verdade e fornecer aos cidadãos informações seguras para tomarem suas decisões. Adotando esta postura, conforme Bill Kovach e Tom Rosenstiel escreveram no livro “Os Elementos do Jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o público deve exigir”, pode até não se alcançar a verdade, mas o público sabe reconhecer se se chegou perto – quando fontes autorizadas, pesquisa exaustiva e métodos transparentes foram aplicados no processo e de modo honesto.
Em 2017, para não continuar neste movimento aleatório, culpando a crise econômica e as redes sociais e se chocando contra todos os obstáculos que encontra pelo caminho sem saber aonde irá chegar, como o andar do bêbado, o jornalismo precisa deixar de lado o papel do marketing e se dedicar a desvendar os temas que de fato influenciam e ajudam a construir nossa cidadania. Só assim a notícia será relevante e servirá como base nas decisões da vida.
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Elstor Hanzen é jornalista e especialista em convergência de mídias

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Meditação: a droga dos gênios, por Marcos Villas-Bôas



Meditação: a droga dos gênios
Estudos científicos comprovam que a meditação deve ser ensinada na escola.
por Marcos Villas-Bôas
Em seu best seller The Happiness Hypothesis: Finding Modern Truth in Ancient Wisdom (A Hipótese de Felicidade: Encontrando a Verdade Moderna na Sabedoria Antiga), o psicólogo social e pesquisador americano, Jonathan Haidt, disse: “Suponha que você leu sobre uma pílula que poderia tomar uma vez por dia para reduzir a ansiedade e aumentar o seu contentamento. Suponha que a pílula tem uma grande variedade de efeitos colaterais, todos bons: aumento da autoestima, empatia e confiança, que melhora até a memória. Suponha, finalmente, que a pílula é natural e não custa nada. Você a tomaria? A pílula existe, é chamada meditação”.
A meditação é, infelizmente, como vários outros temas, ainda bem menos conhecida no Brasil do que em outros países, especialmente nos desenvolvidos. Isso decorre dos mesmos fatores de sempre: a pobreza impede que informação avançada chegue a mais da metade do país, o pouco conhecimento de línguas estrangeiras dificulta o acesso aos estudos realizados no exterior, os brasileiros leem pouco etc.
Há também em torno da meditação alguns preconceitos, sendo ela associada à religião budista ou ao espiritualismo, que é uma verdade apenas parcial, pois já se tornou tratamento médico e psicológico há algum tempo. 
Apesar de já ser estudada cientificamente há mais de 50 anos, o número de estudos cresceu exponencialmente nos últimos 20 anos (vide figura abaixo)[1]. Eles comprovam que os seus benefícios são diversos e com potencial de mudar completamente a vida de um indivíduo, tornando-o mais atento, equilibrado (menos estressado) e capaz de tomar boas decisões. Meditar torna o praticante mais inteligente.

Estudos realizados no Massachusetts General Hospital (Hospital Geral de Massachusetts) por professores da Harvard Medical School (Escola Médica de Harvard), como James E. Stahl e Sara Lazar, comprovam que a prática de artes de relaxamento, como a meditação e a yoga, leva a um gasto muito menor de despesas com saúde[2].
O estudo vem sendo realizado desde 2006 e os dados são colocados numa base disponível na Internet[3]. Não se trata apenas de relaxar. Muitos pensam, errada ou acertadamente, que não são ansiosos e que, por isso, a meditação não se aplica a eles. Estão errados.
Os efeitos psicológicos envolvem cura ou redução de: ansiedade, sendo uma poderosa ferramenta para ajudar alguém a parar de fumar, de depressão, síndrome de fadiga, insônia, síndrome de irritação, raiva e assim por diante.
Os efeitos[4] não são, contudo, apenas psicológicos, mas de melhoria neurológica, cardiovascular (ex. controle de pressão alta), gastrointestinal, muscular (ex. cura ou alívio da dor) e, provavelmente, outros ainda não conhecidos.
A pesquisadora e professora de Psicologia em Harvard, Sara Lazar, é hoje uma das maiores autoridades científicas na matéria. Ela conta que, alguns anos atrás, estava treinando para a maratona de Boston e teve algumas contusões musculares. Foi-lhe indicada a prática de yoga. Como costumeiro, ela pensou que ia para lá fazer relaxamento, alongamentos e, então, melhorar os músculos.
Após algumas semanas de prática, contra suas próprias crenças iniciais, Lazar notou que estava mais calma, com mais compaixão e se sentindo melhor para lidar com situações difíceis. A primeira conclusão foi a de que seria um efeito placebo pelo fato de sua professora de yoga ter dito que ela perceberia tais benefícios. Ao buscar a literatura científica, notou, entretanto, que já havia muitos estudos mencionando esses mesmos efeitos.
A primeira pesquisa conduzida por Lazar[5], juntamente com professores de Harvard, Yale e de outras instituições, comparou meditadores experientes com um grupo controlado. Eles notaram que praticantes de meditação de longo prazo tinham mais massa cinzenta em regiões insulares e sensoriais, como no córtex auditivo e sensorial, que estão relacionados à atenção na respiração e em sons, parte das práticas de meditação e yoga. 
O aumento de massa cinzenta também foi notado no córtex frontal, que está relacionado com a memória e a tomada de decisões.
Outro estudo científico[6], realizado com 48 fuzileiros navais americanos, comprovou que, com práticas do que os americanos chamam de mindfulness (atenção plena), foi possível desenvolver nos soldados mais controle das emoções, melhor memória e capacidade de decisão em situações de conflito. Tal prática só vem crescendo no exército americano[7].  
A literatura, baseada em vastos dados empíricos, é variadíssima e convergente quanto ao que está sendo dito aqui. Partindo, então, dessa premissa de que estão amplamente comprovados cientificamente os efeitos muito positivos da meditação, cabe questionar: por que não utilizá-la nas escolas?
Muitas escolas australianas, britânicas, americanas e de outros países já vêm fazendo isso e os resultados não são menos surpreendentes. Uma escola que se tornou famosa não somente pela prática de meditação, porém, também, por um conceito de ensino mais holístico, foi a Robert W. Coleman Elementary.
A Função HolisticLife oferece nessa escola o programa HolisticMe (Eu Holístico), envolvendo práticas de yoga, meditação, trabalhos comunitários e outras atividades que buscam desenvolver as habilidades já comentadas neste texto, além de maior senso de comunidade, de obrigação e outros aspectos morais do ser humano quase nada trabalhados nas escolas brasileiras, a não ser por imposição vertical de regras e castigos.
A diretora da escola diz que crianças com problemas de raiva conseguiram resolvê-los por meio da meditação. As crianças dizem que hoje conseguem se concentrar e se controlar emocionalmente melhor, que percebem melhor os efeitos das suas ações etc.[8]
É importante notar que a meditação, para ser mais completa, não se resume apenas à prática em si, mas, como acontece na yoga, há também o estudo de sua filosofia, envolvendo a compreensão de aspectos morais necessários para que os seus efeitos sejam maximizados.  
Se ensinadas desde muito cedo a filosofia moral e a prática da meditação na fase em que as crianças estão absorvendo e integrando ao seu caráter com muito mais facilidade as informações a sua volta; é possível construir futuros jovens bem mais capacitados a conviverem socialmente e se destacarem individualmente. 
A Fundação David Lynch tem um programa chamado “Quiet Time” (Tempo Quieto) que vem ensinando a Transcental Medidation (Meditação Transcendental), um tipo famoso de meditação nos Estados Unidos e já existente no Brasil, a professores e alunos em escolas de Los Angeles, San Francisco, Chicago, Nova Iorque e outras cidades.
Os resultados do trabalho da fundação divulgados em estudos são: redução das suspensões de alunos em 86% (2003), redução do estresse psicológico em 40% (2009) e aumento de 25% nas notas dos alunos (2013)[9].
Não é só no exterior que os resultados da meditação para busca de uma mais ampla consciência já são realidade. Há projetos pelo Brasil, como o da Escola Ananda[10], em Salvador/BA, desenhada para trabalhar desde cedo um ensino que una ciência, filosofia e religião.
O que se apresenta aqui neste breve texto é apenas um grão de areia no deserto de informações positivas existentes sobre meditação ao redor do mundo. Essa é, na verdade, uma prática antiga, que existe há milhares de anos, porém, por motivos já expostos, foi normalmente tratada de um modo folclórico ou religioso.
Com os resultados práticos comprovados pela ciência, não há mais como dar as costas à meditação. É preciso que sua prática invada as escolas, empresas, lares, academias etc. do Brasil, para que seja possível construir uma sociedade mais empática, equilibrada, menos estressada, mais capaz de lidar com dificuldades, dentre tantos outros efeitos positivos apontados pelos estudos.
Parece inegável que a prática longa de meditação pelo máximo de pessoas de uma comunidade pode levar a mais paz e cooperação, a menos conflito, o que resultará, inevitavelmente, em uma sociedade mais eficiente e justa, gerando uma economia muito mais desenvolvida e sustentável.
Esqueçam os remédios, as pulseiras e outros engodos vendidos por aí. O melhor meio de se tornar mais inteligente é estudando e meditando, e não custa nada. Essa será logo descoberta como a “droga” deste século, a primeira a resolver, de fato, boa parte dos problemas humanos.

*Agradeço ao amigo Daniel Almeida Filho, doutorando em Neurociência e pesquisador do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo fornecimento de informações sobre o tema e pelos comentários sobre o texto.  
** Artigo redigido para o movimento Mapa Educação e publicado no seu blog.