sexta-feira, 26 de abril de 2013

Mauro Santayana: "A crucificação de Cristo, o Suicídio e a rebelião em Atenas"




A CRUCIFICAÇÃO DE CRISTO, O SUICÍDIO E A REBELIÃO EM ATENAS


por Mauro Santayana, Jornal do Brasil


O homem que prenderam, interrogaram, torturaram, humilharam, escarneceram e crucificaram, na Palestina de há quase dois mil anos, foi, conforme os Evangelhos, um ativista revolucionário. Ele contestava a ordem dominante, ao anunciar a sua substituição pelo reino de Deus. O reino de Deus, em sua pregação, era o reino do amor, da solidariedade, da igualdade. Mas não hesitou em chicotear os mercadores do templo, que antecipavam, com seus lucros à sombra de Deus, o que iriam fazer, bem mais tarde, papas como Rodrigo Bórgia, Giullio della Rovere, Giovanni Médici,  e cardeais como os dirigentes do Banco Ambrosiano, em tempos bem recentes. O papa reinante hoje, tão indulgente com os gravíssimos pecados de muitos de sua grei, decidiu, ex-catedra, que as mulheres não podem exercer o sacerdócio.


Ao longo da História, duas têm sido as imagens daquele rapaz de Nazaré. Uma é a do filho único de Deus, havido na  concepção de uma jovem virgem, escolhida pelo Criador. Outra, a do homem comum, nascido como todos os outros seres humanos, em circunstâncias de tempo e lugar que o fizeram um pregador, continuador da missão de seu primo, João Batista, decapitado porque ameaçava o poder de Herodes Antipas. Tanto João, quanto Jesus, foram, como seriam, em qualquer tempo e lugar, inimigos da ordem que privilegiava os poderosos. Por isso – e não por outra razão – foram assassinados, decapitado um, crucificado o outro.


Um e outro tiveram dúvidas, segundo os evangelistas. João Batista enviou emissário a Jesus, perguntando-lhe se era mesmo o messias que esperava, e Cristo, na agonia, indagou a Deus por que o abandonava. Os dois momentos revelam a fragilidade dos homens que foram, e é exatamente nessa debilidade que encontramos a presença de Deus: os homens sentem a presença do Absoluto quando as circunstâncias o negam. João Batista sentia-se movido pela fé, ao anunciar a vinda do Salvador.


Era um ativista, pregando a revolução que viria, chefiada por outro, pelo novo e mais poderoso dos profetas. Ao saber que Cristo pregava e realizava milagres, supôs que ele poderia ser aquele que esperava, mas duvidou. Nesse momento, moveu-se pela esperança de que o jovem nazareno fosse o Enviado – o que confirmaria a sua fé. Cristo, na hora da morte, talvez levasse a sua dúvida mais adiante, e se perguntasse se a sua morte, que previra e esperara, serviria realmente à libertação dos homens – desde que salvar é libertar. O Reino de Deus, sendo o reino da justiça, é a libertação. Daí a associação entre essa felicidade e a vida eterna, presente em quase todas as religiões. Na pregação de Cristo, a libertação começa na Terra, na confraternização entre todos os homens. Daí o conselho aos que o quisessem seguir, e ainda válido – repartissem com os pobres os seus bens, como fizeram, em seguida, os seus apóstolos, ao criar a Igreja do Caminho. Se acreditamos na vida eterna, temos que admitir que a vida na Terra é uma parcela da Eternidade, que deve ser habitada com a consciência do Todo. Assim, a vida eterna começa na precariedade da carne.


Quarta-feira passada – quando em São João del Rei, em Minas, a Igreja celebrou o Ofício das Trevas no rito antigo – um grego, Dimitris Christoulas, chegou pela manhã à Praça Syntagma, diante do Parlamento Grego, buscou a sombra de um cipreste secular, levou o revólver à têmpora, e disparou. Em seu bilhete de suicida estava a razão: aos 77 anos, farmacêutico aposentado, teve a sua pensão reduzida em mais de 30%, ao mesmo tempo em que se elevou brutalmente o custo de vida. As medidas econômicas, ditadas pelo empregado do Goldman Sachs e servidor do Banco Central Europeu, nomeado pelos banqueiros primeiro ministro da Grécia, Lucas Papademos,  não só reduziram o seu cheque de aposentado, como o privaram dos subsídios aos medicamentos. “ Quero morrer mantendo a minha dignidade, antes que me veja obrigado a  buscar comida nos restos das latas de lixo” – escreveu em seu bilhete de despedida, lido e relido pelos que tentaram socorrê-lo, e que se reuniam na praça.


“Tenho já uma idade idade que não me permite recorrer à força –  mas se um jovem agora empunhasse um kalashinov, eu seria o segundo a fazê-lo e o seguiria”.


No mesmo texto, Christoulas incita claramente os jovens gregos sem futuro à luta armada, a pendurar os traidores, na mesma praça Syntagma, “como os italianos fizeram com Mussolini em Milão, em 1945”. O tronco do cipreste se tornou  painel dos protestos escritos. Em um deles, o suicídio de Christoulas é definido como um “crime financeiro”.


A morte de Christoulas, em nome da justiça, pode trazer nova esperança ao mundo, como a de Cristo trouxe. Não importa muito se ainda não foi possível construir o reino de Deus na Terra, e tampouco importa que o nome de Cristo tenha sido invocado para justificar tantos e tão repugnantes crimes. No coração dos homens de boa vontade, qualquer que seja o seu calvário – porque todos os homens justos o escalam, onde quer que nasçam e morram – a felicidade os visita quando comungam do sentimento de amor de Cristo pela Humanidade. Nesses momentos, ainda que sejam apenas segundos fugazes, habitamos o Reino de Deus.


Nunca, em toda a História, tivemos tanto desdém pela vida dos homens, como nestes tempos de ditadura financeira universal. Estamos vivendo vésperas densas de medo, mas dentro do medo, há centelhas de esperança. A morte do aposentado, quarta-feira de trevas, em Atenas, é, com toda a carga trágica de seu gesto,  partícula de uma dessas centelhas.


Estamos cansados de sangue, mas o que está ocorrendo hoje – teorizem como quiserem economistas e sociólogos – é a etapa seguinte do grande projeto dos neoliberais, que vem sendo executado sistematicamente pelos que realmente mandam no mundo e que assumiram sua governança (para usar o termo de seu agrado), mediante a Trilateral e o Clube de Bielderbeg, controlados, como se sabe, por meia dúzia de poderosas famílias do mundo. Esse projeto é o de dizimar, por todos os meios possíveis, a população, e transformar a Terra no paraíso dos 500.000 mais poderosos, ricos e eleitos, em oposição à utopia cristã. Mas é improvável que os pobres, que são a maioria, não identifiquem seu real inimigo, e se sacrifiquem, sem resistência, ao Baal contemporâneo – esse sistema financeiro que acabou com a antiga sacralidade da moeda, ao emitir papéis sem nenhuma relação com os bens reais do mundo, nem com a dignidade do trabalho. A força da mensagem do nazareno deve ser retomada: os oprimidos – negros, brancos, mestiços, muçulmanos, cristãos, budistas e ateus – devem compreender que os habita o homem, e não animais distintos, destinados à violência em proveito dos promotores da barbárie.


Ao expirar, depois de torturado, ultrajado seu corpo, humilhado, escarnecido, Cristo se tornou a maior referência de justiça.  Aos 77 anos, o aposentado grego, ao matar-se, transformou-se em bandeira que ameaça iniciar, na Grécia, novo movimento em favor da igualdade – a mesma idéia que levou Péricles a fundar o primeiro estado de bem-estar social, ao reconstruir Atenas, empregar todos os pobres, e dotar os marinheiros do Pireu do pioneiro conjunto de casas populares da História.


Vinte séculos podem ter sido apenas rápido intervalo – um pequeno descanso da razão.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

De grão em grão, a teocracia hiper conservadora e fascista avança



Segue texto extraído do site da Revista Carta Capital em

http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/de-grao-em-grao/


Rodrigo Martins e Willian Vieira

De grão em grão
Na última sexta-feira 12, na sede da Primeira Igreja Batista de Campo Grande (MS), um exército de homens de terno e gravata com Bíblias a tiracolo se reuniu para um evento. Não era propriamente um culto. Entre os 350 pastores havia 25 parlamentares, como a vereadora Rose Modesto (PSDB), liderança da bancada evangélica local e autora da lei que obriga o poder público a apoiar eventos evangélicos. Herculano Borges (PSC), que aprovou projeto para proibir a instalação de máquinas de preservativos nas escolas, e Alceu Bueno (PSL), opositor do reconhecimento de uma associação de travestis como de utilidade pública, também vieram. Mas o nome mais aguardado era o do pastor Wilton Acosta. Ali para abrir o Encontro Estadual de Lideranças Evangélicas, o presidente do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp) prestigiava ao mesmo tempo a criação da Frente Parlamentar Evangélica da cidade. Daí os melhores pastores locais estarem dispostos em fila, como soldados da batalha maior: “Alinhar os evangélicos para disseminar valores cristãos por meio de leis políticas públicas”.

Atraso. A agenda moralista ganha força nas periferias, onde as igrejas são mais atuantes. Foto: bFábio Motta/ Estadão Conteúdo

O evento é sinal de um fenômeno bem maior. Enquanto os holofotes da sociedade civil e da imprensa focam na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, desde o mês passado presidida por um pastor, Marco Feliciano (PSC-SP), que já fez declarações homofóbicas, racistas e machistas, um processo mais silencioso se alastra pelo País. Nos moldes da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso, com seus 73 parlamentares, o número de bancadas evangélicas em assembleias legislativas e câmaras municipais, em capitais e cidades do interior, tem disparado. Já há frentes parlamentares evangélicas (FPEs) organizadas em 15 estados brasileiros, a maioria criada desde 2012. São mais de cem os deputados estaduais evangélicos organizados. Já o número de FPEs nos municípios é difícil de calcular. “A expectativa é passar de 10 mil vereadores evangélicos”, garante Acosta.
Espécie de tutor do movimento, o pastor coordena um levantamento dos parlamentares ligados à causa em todo o Brasil. Prestes a entrar num voo para o Acre, ele afirma: “O objetivo é verticalizar a pauta parlamentar nacional, aprovando leis em todas as assembleias e câmaras. Todas”. Com oratória fluida e vertida em termos jurídicos, Acosta explica como deve instalar um braço da Associação de Parlamentares Evangélicos do Brasil (Apeb) em cada cidade. “Já temos 15 coordenações estaduais. Logo serão 28. Cada coordenador tem a missão de instalar uma unidade em toda cidade de seu estado. Hoje, quando detectamos um projeto contra nossos valores, contatamos o parlamentar para agir. Mas leva tempo. No futuro será automático.”

*Leia matéria completa na Edição 745 de CartaCapital, já nas bancas

terça-feira, 23 de abril de 2013

Leonardo Boff: "Cada um é São Jorge, cada um é Dragão"



Texto de Leonardo Boff

Em janeiro deste ano, a propósito da novela “Salve, São Jorge”, publiquei algumas reflexões sobre o significado profundo, quase sempre inconsciente, destas duas figuras: o santo guerreiro São Jorge e o terrível dragão. Como celebramos no dia 23 de abril a festa do santo, até com um feriado na cidade do Rio de Janeiro, é oportuno voltar ao tema de forma mais  resumida.
Sabemos que a figura do dragão é um tema recorrente em várias culturas, com  significados até opostos. Assim no Ocidente é negativo: representa o mal e o mundo ameaçador ds sombras. No Oriente é positivo: é símbolo nacional da China, senhor das águas e da fertilidade. Entre os aztecas era a serpente alada (Quezalcoatl), expressão de sua identidade cultural. Não raro os pobres entre nós dizem: “para me manter, tenho que matar um dragão por dia”, pois assim o exige a dureza da vida.
Muitos antropólogos e psicólogos que trabalham sobre o tema dos arquétipos, como Carl Gustav Jung (1875-1961), afirmam que o dragão representa uma das figuras transcultuais mais ancestrais da história humana. É a percepção de que a nossa identidade profunda, o nosso eu, não nos é dado simplesmente pelo fato de sermos humanos. Ele tem que ser conquistado numa luta diuturna, marcada por ameaças e lutas.
Esta situação é representada pelo dragão, nosso inimigo principal. Ele quer devorar o eu ou impedir que se liberte e faça o seu caminho de autonomia  e de liberdade. Só assim seríamos plenamente humanos.
         Por isso, junto com o dragão sempre vem o cavaleiro São Jorge que com ele se confronta numa luta renhida. Qual é o signficado do dragão e de São Jorge? À luz dos estudiosos referidos acima, tanto um como o outro são partes de nossa realidade humana. Cada um de nós carrega um dragão e um São Jorge dentro de si.
         Isso é assim porque a nossa vida é sempre feita de luz e de sombras, do dia-bólico (aquilo que separa) e do sim-bólico (aquilo que une). Quem vai triunfar São Jorge ou o dragão? A luz ou a sombra? A nossa melhor parte ou a nossa parte pior? Ambas coexistem e sentimos a sua presença em cada momento: às vezes na forma e raiva ou de amor ou de violência ou de bondade e assim por diante.
         É aqui que entra a importância de uma identidade forte, de um eu vigoroso, um São Jorge, que possa enfrentar as nossas sombras e maldades, o dragão, e fazer triunfar nossa parte melhor.
Sabemos que o caminho da evolução leva a humanidade do insconsciente para o consciente, da fusão cósmica com o Todo para a emergência da autonomia do eu livre e forte. Essa passagem é sempre dramática, tem que ser levada avante ao largo de toda a vida, porque os mecanismos que querem manter cativo eu e impedir a emergência de nossa identidade permanentemente estão ativos. E é preciso esforço e coragem para libertar o eu e conquistar a própria identidade e também a liberdade pessoal.
São Jorge é o que nos mostra como, nessa luta, podemos ser guerreiros e vencedores. Ele enfrentou o dragão: mostra a força do eu, da própria identidade, garantindo a vitória.
Mas esta vitória não se conquista uma vez por todas. Ela tem que ser renovada a cada momento, na medida em que as amarras vão surgindo. Dai a importância uma ligação com  São Jorge, como uma fonte de energia e de força, capaz de nos assistir na luta até alcançar a vitória.
Há, contudo, um drama do qual não nos podemos furtar. Não se trata de um defeito de construção. Mas é uma marca da nossa existência no espaço e no tempo. Por mais que lutemos e vençamos, o dragão está sempre aí nos espreitando. Ele nos acompanha. Mas ainda: é uma parte de nós mesmos, de nosso lado obscuro, mesquinho, menor que nos impede de sermos plenamente humanos. Mas também somos acompanhados por São Jorge que nos assiste na luta.
Por esta razão, nas muitas lendas existentes sobre São Jorge ele não mata o dragão, mas o vence mantendo-o domesticado, amarrado e submetido aos imperativos do eu e da indentidade pessoal. Ele não pode ser negado e eliminado, apenas integrado de tal forma que perca seu lado ameaçador e destruidor. Pode até nos ajudar a sermos humildes e evitarmos a demasiada autoconfiança. Dai a vigilância e a referência a São Jorge que não só compensa a nossa falta de energia, mas nos pode valer poderosamente.
É interessante observar que em algumas representaçõe, especialmente uma famosa de Barcelona (é seu patrono da Catalunha), o dragão aparece envolvendo todo o corpo de São Jorge. Numa gravura de Rogério Fernandes, artista brasileiro, o dragão aparece envolvendo o corpo de São Jorge; este o segura pelo braço colocando o rosto do dragão, nada ameaçador, na altura de seu rosto. É um dragão humanizado, formando uma unidade com São Jorge.      
Noutras (no Google há 25 páginas de gravuras de São Jorge com o dragão) o dragão aparece como um animal manso sobre o qual São Jorge de pé o conduz, sereno, não com a lança pontiaguda mas com um bastão.
A pessoa que não renega o dragão, mas o mantem sob seu domínio conseque uma síntese feliz dos opostos presentes em sua vida. Deixa de se sentir dividido; encontrou a justa medida pois alcançou a harmonização do eu e de sua identidade luminosa  com o dragão sombrio, o equilíbrio dinâmico do consciente com o inconsciente, da luz com a sombra,  da razão com a paixão, do racional com o simbólico, da ciência com a arte e da arte com a religião. Esta pessoa emerge como um ser humano mais rico, mais sereno, mais compreensivo, tolerante e compassivo, irradiando uma aura boa ao seu redor.
A confrontação com as oposições, do dragão com o São Jorge, e a busca da síntese, constitui a característica de personalidades exemplares que encontramos tantas por ai. Tais são figuras de Gandhi, de Luther King Jr. de Dom Helder e, parece tambem, do atual Papa Francisco.
Repetimos: importa reconhecer que o dragão amedrontador e o cavaleiro heróico São Jorge são duas dimensões de nós mesmos. Nosso desafio  é fazer que São Jorge tenha a primazia e não deixe qu o dragão nos derrote e tire o sentido e o gosto de viver.
         Muitos brasileiros, especialmente, os cariocas tem grande veneração por São Jorge; ela é tão forte quanto a de São Sebastião, patrono oficial da cidade. Mas este possuui um inconveniente: é um guerreiro, cheio de flechas, portanto “vencido”. O povo sente a necessidade de um santo guerreiro corajoso “vencedor”. Ai São Jorge representa o santo ideal. Na novela “Salve Jorge”ele é o herói que salva as mulheres traficadas contra o dragão do tráfico internacional de mulheres.
Por fim cabe uma observação de ordem filosófica: seguramente aqueles que veneram São Jorge não saibam nada disso que explanei acima acerca da coexistência dos dois em nossa vida. Nem precisam saber. Basta que tenham consciência de que a vida é uma permanente luta entre o que é bom para mim e para os outros e entre o que é mau que deve ser evitado e combatido. E acreditar que a virtude é preferível ao vício e que a palavra final terá São Jorge e  não o dragão.
Nessa fé saimos todos fortalecidos para os  embates que ocorrerão pela vida afora com a asistência ponderosa do guerreiro vencedor São Jorge.

Leonardo Boff é teólogo, filósofo, pesquisador e escritor.    

domingo, 21 de abril de 2013

Leonardo Boff e a confiança nos jovens


Extraído do site de Leonardo Boff:

Jovens que nos dão esperança de que se pode proteger a Terra

19/04/2013



  Todos nos perguntamos: quem serão os protagonistas de uma relação salvadora da Mãe Terra? Eles estão despontando em todas as partes. São eles que levam a esperança de que outro mundo é possível e necessário. E se comprometem a inaugurar práticas que significam verdadeiras revoluções moleculares: começam com eles e se irradiam para todos os lados. 
Aqui vai uma carta de jovens do ensinao fundamental de Curitiba que nos dão este testemunho. Merecem que outros conheçam tais sua disposição e os compromissos que coletivamente assumiram. Por isso lhes somos gratos. Vocês são sementes de um mundo que ainda deve nascer mas que, com pessoas, como vocês, vai realmente nascer.  Lboff

Curitiba, 15 de Abril de 2013
Olá Professor Leonardo…
Somos do Colégio Nossa Senhora Medianeira de Curitiba – Paraná. Fazemos parte da turma do 3º ano G da primeira fase do Ensino Fundamental.
Nas aulas de Ensino Religioso conhecemos a Carta da Terra e aprendemos várias coisas que podemos fazer para ajudar o Planeta.
A Carta da Terra nos fez perceber que podemos realizar pequenas atitudes que contribuirão para a qualidade de vida no planeta. Por isso, a nossa turma defenderá e assumirá 20 metas para ajudar o planeta neste ano de 2013, aqui estão elas:
·     Não poluir o mar!
·     Não poluir o meio ambiente!
·     Separar o lixo!
·  Participar ou organizar de campanhas para ajudar as pessoas carentes, com alimentos e roupas!
·     Não jogar pilhas, baterias e celulares em lixos comuns!
·     Não deixar a torneira aberta quando escovar os dentes.
·     Economizar energia.
·     Preservar o bem-estar dos animais.
·     Não jogar lixo no rio.
·     Proteger os animais aquáticos e terrestres ameaçados de extinção.
·     Tomar banho mais rápido.
·     Respeitar todas as pessoas.
·Recolher óleo de cozinha usado e enviar para estabelecimentos habilitados.
·   Não contribuir com o trabalho infantil, dando dinheiro para crianças na rua.
·     Plantar árvores.
·     Não cortar árvores.
·     Não jogar objetos que possam causar incêndios na mata.
·     Não comprar CD’s piratas.
·     Não jogar lixo na rua.
·     Evitar o uso de embalagens plásticas.
          
       Professor Leonardo, sabemos que o senhor é um protetor da vida no planeta, queremos que saiba que a nossa turma gosta muito da Natureza e queremos ajudar para que todos tenham uma vida melhor.
Um grande abraço da turma do 3º ano G   
Resposta 19/04/2013

Queridos estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental do Colégio Nossa Senhora Medianeria, Curitiba, PR.

A carta de vocês me encheu de alegria. Há muitos anos que, muitos junto comigo, nos preocupamos com o futuro da vida, com a preservação da Mãe Terra e com a garantia da continuidade de nossa civilização.

Essa meta só será alcançada se mais pessoas, como vocês, logo no alvorecer da vida e da inteligência, tomam a sério as medidas que podem garantir o nosso futuro. Sem gente como vocês, que devem crescer em número no mundo inteiro, dificilmente escaparecemos de um grande  sofrimento para a humanidade e para todos os seres vivos. 

Vocês nos dão esperança de que um outro mundo é possível. E vocês o mostram concretamente. As metas que se propuseram alcançar, são as corretas. Elas estão no rumo certo. E nos dão a esperança de que a vida é mais forte do que a morte, que o amor à natureza tem mais dignidade que o uso irresponsável dos bens e serviços que ela nos propicia.

Vejam e tratem a Terra como nossa Grande Mãe, a Pacha Mama dos povos andinos e a Magna Mater de quase todas as tradições da humanidade. Mãe a gente cuida, respeita e ama. Nunca a ofende e a explora.

Façam assim com a Mãe Terra que ela lhes mostrará sua gratidão. E continurá a dar generosamente tudo o que precisamos para viver, além da beleza e o encantamento que ela cada dia nos proporciona.

Com  todo o meu apoio, também em nome da Comissão Internacional da Carta Terra, à qual pertenço, saúdo a todos e a todas com muito carinho, especialmente à Professora Suzana F. Brito que os inicou nesta consciência ecológica. Colocarei a carta de vocês no meu blog (Leonardoboff.wordpress.com) e enviarei o texto de vocês à Comissão Central que fica em Costa Rica (Mirian Vilela; e-mail: <mvilela@earthcharter.org>)

Leonardo Boff

Para ouvir a própria canção...



Se eu der demasiada atenção ao que dizem os outros
Jamais entoarei a minha própria canção.

Carlos Antonio Fragoso Guimarães