sexta-feira, 26 de abril de 2013
quarta-feira, 24 de abril de 2013
De grão em grão, a teocracia hiper conservadora e fascista avança
Segue texto extraído do site da Revista Carta Capital em
http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/de-grao-em-grao/
Rodrigo Martins e Willian Vieira
De grão em grão
Na última sexta-feira 12, na sede da
Primeira Igreja Batista de Campo Grande (MS), um exército de homens de terno e
gravata com Bíblias a tiracolo se reuniu para um evento. Não era propriamente
um culto. Entre os 350 pastores havia 25 parlamentares, como a vereadora Rose
Modesto (PSDB), liderança da bancada evangélica local e autora da lei que obriga o poder público a apoiar eventos evangélicos. Herculano Borges (PSC),
que aprovou projeto para proibir a instalação de máquinas de preservativos nas
escolas, e Alceu Bueno (PSL), opositor do reconhecimento de uma associação de
travestis como de utilidade pública, também vieram. Mas o nome mais aguardado
era o do pastor Wilton Acosta. Ali para abrir o Encontro Estadual de Lideranças
Evangélicas, o presidente do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e
Política (Fenasp) prestigiava ao mesmo tempo a criação da Frente Parlamentar
Evangélica da cidade. Daí os melhores pastores locais estarem dispostos em
fila, como soldados da batalha maior:
“Alinhar os evangélicos para disseminar valores cristãos por meio de leis
políticas públicas”.
Atraso. A agenda moralista ganha força nas periferias, onde as igrejas são mais atuantes. Foto: bFábio Motta/ Estadão Conteúdo
O evento é sinal de
um fenômeno bem maior. Enquanto os holofotes da sociedade civil e da imprensa
focam na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, desde
o mês passado presidida por um pastor, Marco Feliciano (PSC-SP), que já fez declarações
homofóbicas, racistas e machistas, um processo mais silencioso se alastra pelo
País. Nos moldes da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso, com seus 73 parlamentares, o número de bancadas evangélicas
em assembleias legislativas e câmaras municipais, em capitais e cidades do
interior, tem disparado. Já há frentes parlamentares evangélicas (FPEs)
organizadas em 15 estados brasileiros, a maioria criada desde 2012. São mais de
cem os deputados estaduais evangélicos organizados. Já o número de FPEs nos
municípios é difícil de calcular. “A expectativa é passar de 10 mil vereadores
evangélicos”, garante Acosta.
Espécie de tutor do
movimento, o pastor coordena um levantamento dos parlamentares ligados à causa
em todo o Brasil. Prestes a entrar num voo para o Acre, ele afirma: “O objetivo
é verticalizar a pauta parlamentar nacional, aprovando leis em todas as
assembleias e câmaras. Todas”. Com oratória fluida e vertida em termos
jurídicos, Acosta explica como deve instalar um braço da Associação de Parlamentares
Evangélicos do Brasil (Apeb) em cada cidade. “Já temos 15 coordenações
estaduais. Logo serão 28. Cada coordenador tem a missão de instalar uma unidade
em toda cidade de seu estado. Hoje, quando detectamos um projeto contra nossos
valores, contatamos o parlamentar para agir. Mas leva tempo. No futuro será
automático.”
*Leia matéria completa na Edição 745 de
CartaCapital, já nas bancas
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terça-feira, 23 de abril de 2013
Leonardo Boff: "Cada um é São Jorge, cada um é Dragão"
Texto de Leonardo Boff
Em janeiro deste ano, a propósito da novela “Salve, São Jorge”, publiquei algumas reflexões sobre o significado profundo, quase sempre inconsciente, destas duas figuras: o santo guerreiro São Jorge e o terrível dragão. Como celebramos no dia 23 de abril a festa do santo, até com um feriado na cidade do Rio de Janeiro, é oportuno voltar ao tema de forma mais resumida.
Sabemos que a figura do dragão é um tema recorrente em várias culturas, com significados até opostos. Assim no Ocidente é negativo: representa o mal e o mundo ameaçador ds sombras. No Oriente é positivo: é símbolo nacional da China, senhor das águas e da fertilidade. Entre os aztecas era a serpente alada (Quezalcoatl), expressão de sua identidade cultural. Não raro os pobres entre nós dizem: “para me manter, tenho que matar um dragão por dia”, pois assim o exige a dureza da vida.
Muitos antropólogos e psicólogos que trabalham sobre o tema dos arquétipos, como Carl Gustav Jung (1875-1961), afirmam que o dragão representa uma das figuras transcultuais mais ancestrais da história humana. É a percepção de que a nossa identidade profunda, o nosso eu, não nos é dado simplesmente pelo fato de sermos humanos. Ele tem que ser conquistado numa luta diuturna, marcada por ameaças e lutas.
Esta situação é representada pelo dragão, nosso inimigo principal. Ele quer devorar o eu ou impedir que se liberte e faça o seu caminho de autonomia e de liberdade. Só assim seríamos plenamente humanos.
Por isso, junto com o dragão sempre vem o cavaleiro São Jorge que com ele se confronta numa luta renhida. Qual é o signficado do dragão e de São Jorge? À luz dos estudiosos referidos acima, tanto um como o outro são partes de nossa realidade humana. Cada um de nós carrega um dragão e um São Jorge dentro de si.
Isso é assim porque a nossa vida é sempre feita de luz e de sombras, do dia-bólico (aquilo que separa) e do sim-bólico (aquilo que une). Quem vai triunfar São Jorge ou o dragão? A luz ou a sombra? A nossa melhor parte ou a nossa parte pior? Ambas coexistem e sentimos a sua presença em cada momento: às vezes na forma e raiva ou de amor ou de violência ou de bondade e assim por diante.
É aqui que entra a importância de uma identidade forte, de um eu vigoroso, um São Jorge, que possa enfrentar as nossas sombras e maldades, o dragão, e fazer triunfar nossa parte melhor.
Sabemos que o caminho da evolução leva a humanidade do insconsciente para o consciente, da fusão cósmica com o Todo para a emergência da autonomia do eu livre e forte. Essa passagem é sempre dramática, tem que ser levada avante ao largo de toda a vida, porque os mecanismos que querem manter cativo eu e impedir a emergência de nossa identidade permanentemente estão ativos. E é preciso esforço e coragem para libertar o eu e conquistar a própria identidade e também a liberdade pessoal.
São Jorge é o que nos mostra como, nessa luta, podemos ser guerreiros e vencedores. Ele enfrentou o dragão: mostra a força do eu, da própria identidade, garantindo a vitória.
Mas esta vitória não se conquista uma vez por todas. Ela tem que ser renovada a cada momento, na medida em que as amarras vão surgindo. Dai a importância uma ligação com São Jorge, como uma fonte de energia e de força, capaz de nos assistir na luta até alcançar a vitória.
Há, contudo, um drama do qual não nos podemos furtar. Não se trata de um defeito de construção. Mas é uma marca da nossa existência no espaço e no tempo. Por mais que lutemos e vençamos, o dragão está sempre aí nos espreitando. Ele nos acompanha. Mas ainda: é uma parte de nós mesmos, de nosso lado obscuro, mesquinho, menor que nos impede de sermos plenamente humanos. Mas também somos acompanhados por São Jorge que nos assiste na luta.
Por esta razão, nas muitas lendas existentes sobre São Jorge ele não mata o dragão, mas o vence mantendo-o domesticado, amarrado e submetido aos imperativos do eu e da indentidade pessoal. Ele não pode ser negado e eliminado, apenas integrado de tal forma que perca seu lado ameaçador e destruidor. Pode até nos ajudar a sermos humildes e evitarmos a demasiada autoconfiança. Dai a vigilância e a referência a São Jorge que não só compensa a nossa falta de energia, mas nos pode valer poderosamente.
É interessante observar que em algumas representaçõe, especialmente uma famosa de Barcelona (é seu patrono da Catalunha), o dragão aparece envolvendo todo o corpo de São Jorge. Numa gravura de Rogério Fernandes, artista brasileiro, o dragão aparece envolvendo o corpo de São Jorge; este o segura pelo braço colocando o rosto do dragão, nada ameaçador, na altura de seu rosto. É um dragão humanizado, formando uma unidade com São Jorge.
Noutras (no Google há 25 páginas de gravuras de São Jorge com o dragão) o dragão aparece como um animal manso sobre o qual São Jorge de pé o conduz, sereno, não com a lança pontiaguda mas com um bastão.
A pessoa que não renega o dragão, mas o mantem sob seu domínio conseque uma síntese feliz dos opostos presentes em sua vida. Deixa de se sentir dividido; encontrou a justa medida pois alcançou a harmonização do eu e de sua identidade luminosa com o dragão sombrio, o equilíbrio dinâmico do consciente com o inconsciente, da luz com a sombra, da razão com a paixão, do racional com o simbólico, da ciência com a arte e da arte com a religião. Esta pessoa emerge como um ser humano mais rico, mais sereno, mais compreensivo, tolerante e compassivo, irradiando uma aura boa ao seu redor.
A confrontação com as oposições, do dragão com o São Jorge, e a busca da síntese, constitui a característica de personalidades exemplares que encontramos tantas por ai. Tais são figuras de Gandhi, de Luther King Jr. de Dom Helder e, parece tambem, do atual Papa Francisco.
Repetimos: importa reconhecer que o dragão amedrontador e o cavaleiro heróico São Jorge são duas dimensões de nós mesmos. Nosso desafio é fazer que São Jorge tenha a primazia e não deixe qu o dragão nos derrote e tire o sentido e o gosto de viver.
Muitos brasileiros, especialmente, os cariocas tem grande veneração por São Jorge; ela é tão forte quanto a de São Sebastião, patrono oficial da cidade. Mas este possuui um inconveniente: é um guerreiro, cheio de flechas, portanto “vencido”. O povo sente a necessidade de um santo guerreiro corajoso “vencedor”. Ai São Jorge representa o santo ideal. Na novela “Salve Jorge”ele é o herói que salva as mulheres traficadas contra o dragão do tráfico internacional de mulheres.
Por fim cabe uma observação de ordem filosófica: seguramente aqueles que veneram São Jorge não saibam nada disso que explanei acima acerca da coexistência dos dois em nossa vida. Nem precisam saber. Basta que tenham consciência de que a vida é uma permanente luta entre o que é bom para mim e para os outros e entre o que é mau que deve ser evitado e combatido. E acreditar que a virtude é preferível ao vício e que a palavra final terá São Jorge e não o dragão.
Nessa fé saimos todos fortalecidos para os embates que ocorrerão pela vida afora com a asistência ponderosa do guerreiro vencedor São Jorge.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo, pesquisador e escritor.
domingo, 21 de abril de 2013
Leonardo Boff e a confiança nos jovens
Extraído do site de Leonardo Boff:
Jovens que nos dão esperança de que se pode proteger a Terra
19/04/2013
Todos nos perguntamos: quem serão os protagonistas de uma relação salvadora da Mãe Terra? Eles estão despontando em todas as partes. São eles que levam a esperança de que outro mundo é possível e necessário. E se comprometem a inaugurar práticas que significam verdadeiras revoluções moleculares: começam com eles e se irradiam para todos os lados.
Aqui vai uma carta de jovens do ensinao fundamental de Curitiba que nos dão este testemunho. Merecem que outros conheçam tais sua disposição e os compromissos que coletivamente assumiram. Por isso lhes somos gratos. Vocês são sementes de um mundo que ainda deve nascer mas que, com pessoas, como vocês, vai realmente nascer. Lboff
Curitiba, 15 de Abril de 2013
Olá Professor Leonardo…
Somos do Colégio Nossa Senhora Medianeira de Curitiba – Paraná. Fazemos parte da turma do 3º ano G da primeira fase do Ensino Fundamental.
Nas aulas de Ensino Religioso conhecemos a Carta da Terra e aprendemos várias coisas que podemos fazer para ajudar o Planeta.
A Carta da Terra nos fez perceber que podemos realizar pequenas atitudes que contribuirão para a qualidade de vida no planeta. Por isso, a nossa turma defenderá e assumirá 20 metas para ajudar o planeta neste ano de 2013, aqui estão elas:
· Não poluir o mar!
· Não poluir o meio ambiente!
· Separar o lixo!
· Participar ou organizar de campanhas para ajudar as pessoas carentes, com alimentos e roupas!
· Não jogar pilhas, baterias e celulares em lixos comuns!
· Não deixar a torneira aberta quando escovar os dentes.
· Economizar energia.
· Preservar o bem-estar dos animais.
· Não jogar lixo no rio.
· Proteger os animais aquáticos e terrestres ameaçados de extinção.
· Tomar banho mais rápido.
· Respeitar todas as pessoas.
·Recolher óleo de cozinha usado e enviar para estabelecimentos habilitados.
· Não contribuir com o trabalho infantil, dando dinheiro para crianças na rua.
· Plantar árvores.
· Não cortar árvores.
· Não jogar objetos que possam causar incêndios na mata.
· Não comprar CD’s piratas.
· Não jogar lixo na rua.
· Evitar o uso de embalagens plásticas.
Professor Leonardo, sabemos que o senhor é um protetor da vida no planeta, queremos que saiba que a nossa turma gosta muito da Natureza e queremos ajudar para que todos tenham uma vida melhor.
Um grande abraço da turma do 3º ano G
Resposta 19/04/2013
Queridos estudantes do 3º ano do Ensino Fundamental do Colégio Nossa Senhora Medianeria, Curitiba, PR.
A carta de vocês me encheu de alegria. Há muitos anos que, muitos junto comigo, nos preocupamos com o futuro da vida, com a preservação da Mãe Terra e com a garantia da continuidade de nossa civilização.
Essa meta só será alcançada se mais pessoas, como vocês, logo no alvorecer da vida e da inteligência, tomam a sério as medidas que podem garantir o nosso futuro. Sem gente como vocês, que devem crescer em número no mundo inteiro, dificilmente escaparecemos de um grande sofrimento para a humanidade e para todos os seres vivos.
Vocês nos dão esperança de que um outro mundo é possível. E vocês o mostram concretamente. As metas que se propuseram alcançar, são as corretas. Elas estão no rumo certo. E nos dão a esperança de que a vida é mais forte do que a morte, que o amor à natureza tem mais dignidade que o uso irresponsável dos bens e serviços que ela nos propicia.
Vejam e tratem a Terra como nossa Grande Mãe, a Pacha Mama dos povos andinos e a Magna Mater de quase todas as tradições da humanidade. Mãe a gente cuida, respeita e ama. Nunca a ofende e a explora.
Façam assim com a Mãe Terra que ela lhes mostrará sua gratidão. E continurá a dar generosamente tudo o que precisamos para viver, além da beleza e o encantamento que ela cada dia nos proporciona.
Com todo o meu apoio, também em nome da Comissão Internacional da Carta Terra, à qual pertenço, saúdo a todos e a todas com muito carinho, especialmente à Professora Suzana F. Brito que os inicou nesta consciência ecológica. Colocarei a carta de vocês no meu blog (Leonardoboff.wordpress.com) e enviarei o texto de vocês à Comissão Central que fica em Costa Rica (Mirian Vilela; e-mail: <mvilela@earthcharter.org>)
Leonardo Boff
Para ouvir a própria canção...
Se eu der demasiada atenção ao que
dizem os outros
Jamais entoarei a minha própria canção.
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
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