sábado, 30 de setembro de 2017

Para enfrentar a silenciosa ditadura do Dinheiro de Bancos e Estados. Por Bernard Lietaer e Stephen Belgin


170929-Sururu

Florescem, em todo o mundo, moedas alternativas e bancos de tempo. Porque o dinheiro atual, emitido por Estados e bancos, produz desigualdade e desumanização
Por Bernard Lietaer e Stephen Belgin, na revista Piseagramaparceira editorial de Outras Palavras | Moedas sociais desenhadas por DoDesign Brasil 

PISEAGRAMA
a primeira revista brasileira sobre Espaços Públicos. Cada edição, impressa, é um conjunto articulado de ensaios sobre Direito à Cidade, novas relações com a Natureza, reinvenção da Política, Bens Comuns. Textos e imagens são editados com capricho raro. Agora, a revista está na reta final de sua campanha de financiamento. A melhor forma de contribuir é assiná-la e recebê-la em casa. Veja aqui como fazê-lo.
O dinheiro é uma das mais poderosas criações humanas. Para ilustrar por que falhamos em entendê-lo e em fazer melhor uso dele, propomos um absurdo ficcional, um lugar alegórico chamado Hammerville (em português, Vila do Martelo). O nome dessa vila derivava de uma estranheza peculiar que a distinguiu das outras comunidades do seu tempo. Para praticamente todas as atividades imagináveis – cortar, pintar, limpar, encanar, construir, demolir, arar, plantar, colher – os trabalhadores de Hammerville usavam quase que exclusivamente uma ferramenta: o martelo. Ele era o principal objeto também no Lançamento de Martelos e no Boliche de Martelos, dentre outros esportes populares. Era parte vital das celebrações culturais e símbolo icônico do orgulho dos moradores.
Ao longo do tempo, o martelo também tornou-se a marca mais importante de riqueza individual. Embora alguns sujeitos notáveis tivessem a habilidade de manusear vários martelos simultaneamente, não havia necessidade alguma de possuir mais que alguns poucos. No entanto, passou-se a acreditar que quanto mais martelos uma pessoa tivesse, melhor era a sua posição naquela sociedade.
Ninguém questionava as limitações inerentes àquele mundo. Com algumas exceções, se algo não podia ser construído, consertado ou medido com um martelo, era simplesmente deixado de lado. Chaves de fenda, chaves inglesas, arados e pincéis eram ignorados. Até mesmo o conceito mais genérico de ferramenta não fazia parte da realidade. Um martelo era tudo o que havia e as alternativas disponíveis em outros lugares nunca eram implementadas em Hammerville.
A edição nº5 de "Piseagrama", que teve como destaque Consumismo e Descarte
A edição nº5 de “Piseagrama”, que teve como destaque Consumismo e Descarte
Com o passar dos anos, os hammervilleanos chegaram ao seu limite. Sua população cresceu, mas nenhum outro meio foi encontrado para suprir as demandas por moradia, educação, emprego, saúde etc. As condições se deterioravam e as pessoas não conseguiam entender o porquê. Alguns dos privilegiados indivíduos que possuíam muitos martelos questionavam as habilidades e o mérito dos menos afortunados e causavam cada vez mais ressentimento no crescente número de pessoas sem martelo.
Era impensável que o objeto mais importante, valioso e exclusivo simplesmente não tivesse sido feito para atender a todas as necessidades existentes. Tampouco era compreendida a conexão direta que existia entre o desconhecimento de outras ferramentas – ou a maneira martelocêntrica com a qual a sociedade entendia o mundo e a si mesma – e o que de fato acreditavam ser possível ou não.
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Nossas conquistas ao longo do último século são incomparáveis: saímos de um entendimento rudimentar de genética e chegamos ao mapeamento do genoma humano; passamos do código Morse ao código binário; do cavalo à exploração do espaço. Agora temos acesso quase instantâneo uns aos outros e mais informação do que todas as universidades e bibliotecas juntas conseguiram acumular.
Ainda assim, no momento em que sondamos planetas distantes, estamos ameaçados por uma poluição caótica em nossa Terra. A expectativa de vida nunca foi tão alta, ao mesmo tempo que a aposentadoria é cada vez mais problemática. Produzimos mais comida que o suficiente para alimentar o mundo, mas muitos não têm o que comer. Temos uma quantidade infinita de trabalho a ser feito e legiões de pessoas dispostas a fazê-lo. Mas, ao mesmo tempo, estamos atormentados por uma escassez crônica de oportunidades de geração de renda, o que se torna ainda mais dramático com as crises financeiras e a persistente instabilidade econômica.
Por mais absurdo que possa parecer, nosso dilema pós-industrial tem alguma semelhança com a situação de Hammerville. E por que isso acontece? Por causa do dinheiro. Nossa questão não é, contudo, simplesmente a falta de dinheiro. Trilhões de dólares foram gastos em um problema atrás do outro, mas não puderam, e não poderão, por si sós, impedir a deterioração contínua do nosso planeta, ou prevenir a próxima desaceleração dos ciclos econômicos. Nossos esforços fracassados estão ligados à falta de compreensão coletiva sobre o dinheiro e ao uso extremamente limitado das ferramentas monetárias.
Se você não entende de dinheiro, fique tranquilo – você não está sozinho. A maioria de nós, incluindo os economistas mais renomados, nunca foi de fato apresentada ao dinheiro. As sociedades modernas, independentemente do contexto cultural ou político, simplesmente aceitaram o sistema monetário atual.
Quando a Revolução Francesa e a Revolução Russa derrubaram a ordem estabelecida em seus países (respectivamente em 1789 e 1917), mudaram quase tudo menos o sistema monetário. Os franceses reformularam todo o sistema métrico e até tentaram mudar o calendário. Os russos jogaram fora o conceito de propriedade privada e nacionalizaram todos os bancos e corporações. No entanto, o sistema monetário permaneceu exatamente como antes, com meras diferenças cosméticas – as moedas agora eram enfeitadas com novos lemas e heróis.
Não foi muito diferente quando houve a tomada do poder comunista de Mao na China, ou quando mais de cem países coloniais conquistaram sua independência nos últimos cinquenta anos. Todos copiaram a receita e produziram um sistema monetário nacional. Todas as moedas nacionais em operação – independentemente do seu país de emissão, de sua designação como dólar, euro ou real, ou de sua composição material, forma e simbologia particulares – são o mesmo tipo de dinheiro.
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O que é, então, o dinheiro? Dinheiro pode ser definido como um acordo, dentro de uma comunidade, no sentido de usar um item padronizado como um meio de troca. O dinheiro habita o mesmo espaço que outras construções sociais, como o casamento e o aluguel. Essas construções são reais, mesmo que só existam na cabeça das pessoas. Um acordo monetário pode ser formal ou informal, feito livremente ou por coação, consciente ou inconscientemente. A maioria das pessoas não concorda conscientemente em usar dólares ou reais, e nem leva em consideração a sua natureza. Nós simplesmente os usamos e, ao fazer isto, automaticamente entramos em um acordo silencioso.
Um acordo monetário só é válido dentro de uma determinada comunidade. Alguns acordos monetários, como chips ou cartas de jogos, só operam em pequenos grupos de amigos, enquanto outros operam dentro de uma nação. Alguns têm períodos restritos de validade, como os cigarros usados como moeda de troca entre os soldados na Segunda Guerra Mundial, ou, ainda, operam em uma comunidade geograficamente dispersa como a de usuários da Internet, que usam o dólar como moeda de referência internacional.
A função-chave que transforma um determinado objeto em dinheiro é seu papel como meio de troca para a comercialização de bens e serviços. Outras funções do dinheiro podem incluir sua atuação como unidade de conta, isto é, uma unidade-padrão capaz de medir o valor de bens e serviços; como armazenamento de valor que pode ser acumulado, guardado e recuperado de forma confiável; e, finalmente, como ferramenta de especulação.
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Existe uma suposição de longa data na economia de que o dinheiro é “neutro em termos de valor”, ou seja, o dinheiro é simplesmente um meio passivo de troca que não afeta nem a transação nem a natureza das relações entre usuários. Essa suposição está intimamente relacionada a outra noção convencional, a do “homem econômico”, ou seja, de que as pessoas sempre agem com racionalidade em suas tomadas de decisões econômicas, de forma a maximizar seu bem-estar.
No entanto, o dinheiro não é neutro em termos de valor. Na verdade, ele afeta profundamente o tipo de sociedade em que vivemos. Moedas nacionais com juros foram os motores ocultos que impulsionaram a civilização em direção à Revolução Industrial. Tanto aquilo de melhor quanto de pior que a Idade Moderna atingiu pode ser direta ou indiretamente atribuído à arquitetura de nosso dinheiro e aos valores que sua estrutura encoraja: a competição, a necessidade de crescimento perpétuo e a implacável concentração da riqueza.
Todas as moedas nacionais convencionais no mundo hoje são moedas fiduciárias. Isso significa que são criadas por uma autoridade que declara um meio de troca particular como aceitável. As moedas nacionais têm algumas características que persistem como aspectos inquestionáveis do dinheiro convencional: o apego geográfico a um Estado-nação; a criação a partir do nada; a emissão por dívida bancária; e a incorrência de juros. Esses são componentes aparentemente inócuos do nosso sistema monetário, mas que exercem profunda influência sobre nós.
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O complicado processo de criação de dinheiro e débito bancário resolve a aparente contradição entre dois objetivos principais da Inglaterra pré-vitoriana: constituir e apoiar o Estado-nação, por um lado, e confiar na iniciativa privada e na concorrência, por outro. O sistema monetário fornece uma maneira sutil de privatizar a criação de uma moeda nacional – teoricamente uma função pública – por meio do sistema privado, ao mesmo tempo que mantém a pressão sobre os bancos para competir por depósitos.
Os economistas John Jackson e Campbell R. McConnell resumem um aspecto importante das dívidas bancárias: “O dinheiro da dívida deriva seu valor da escassez em relação à sua utilidade”. Em outras palavras, o suprimento de dinheiro deve ser mantido artificialmente menor que a demanda, e essa escassez impele todos a obter esse bem vitalmente importante. Do ponto de vista bancário, a incapacidade de manter essa escassez resulta em inflação e hiperinflação, o que corrói o valor da moeda.
Internacionalmente, os bancos centrais também competem entre si para manter as próprias moedas em falta, aumentando as taxas de juros para apertar a oferta de dinheiro e tornando seus empréstimos mais caros. Entre seus muitos impactos sobre a sociedade, a escassez artificialmente mantida cria fortes incentivos para a competição em vez da cooperação.
No nº10 de "Piseagrama", o mais recente, foco no esgotamento dos Recursos
No nº10 de “Piseagrama”, o mais recente, foco no esgotamento dos Recursos
No que diz respeito à não neutralidade do dinheiro, é relevante o impacto dos juros sobre nosso comportamento. A cobrança de juros força à concorrência além do que ocorreria naturalmente. Se, ao fazer um empréstimo, o banco cria dinheiro (ao fornecer, por exemplo, um financiamento de 100 mil dólares), ele cria somente o capital desse empréstimo, não cria o dinheiro relativo aos juros sobre esse empréstimo, mas espera um retorno de 200 mil dólares nos próximos vinte anos. O banco exige, portanto, que o mutuário ganhe esses outros 100 mil dólares.
Como se paga um empréstimo cujos juros nunca são criados? O pagamento dos juros requer o capital de outra pessoa. A escassez é gerada a partir do momento em que se cobram juros sem que seja criado o dinheiro necessário para pagá-los. Isso força as pessoas a competir umas com as outras e as penaliza com a falência, caso elas não tenham êxito. Em última análise, alguém sempre tem que estar perdendo. A escassez é a engrenagem oculta que move o sistema monetário de dívida bancária.
Outro efeito dos juros é a contínua transferência da riqueza de uma vasta maioria para uma pequena minoria. O mais rico recebe um lucro ininterrupto daqueles que precisam pegar seu dinheiro emprestado. Esse mecanismo de concentração de riqueza é, estritamente falando, um problema estrutural. No entanto, seus efeitos comportamentais são significativos. Tomemos como exemplo o fato de que a grande maioria de nós deve trabalhar cada vez mais para manter um estilo de vida de classe média. Esse mesmo mecanismo não só corrobora a percepção de que os ricos ficam cada vez mais ricos, mas revela que essa concentração de riqueza é uma realidade sistêmica contínua, autoperpetuante.
Uma consequência importante é a estável erosão de um dos elementos-chave para que uma sociedade funcione: a confiança. Nossas sociedades estão, em vez disso, atormentadas pela desconfiança. Desconfiamos de nossas esperanças, nossos líderes e instituições e, finalmente, desconfiamos uns dos outros.
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O conceito de PIB (Produto Interno Bruto) pressupõe que todas as atividades econômicas podem ser medidas simples e precisamente por preço e valor – e, portanto, pelo fluxo de dinheiro. Na lógica do PIB, cada transação monetária é considerada um ganho, enquanto qualquer outra troca de um bem ou serviço que não envolva o uso direto de dinheiro é desconsiderada. Os escambos, por exemplo, não são contabilizados. Tampouco o são o trabalho doméstico ou voluntário. Ainda assim, esse mesmo trabalho, quando executado por alguém pago em moeda nacional, é mensurável e, portanto, entra na conta.
As consequências disso são lamentáveis. Muitas atividades não monetárias são vitais para a sociedade e compreendem parcela significativa da atividade econômica global nas comunidades. No entanto, permanecem invisíveis para a economia convencional porque nelas nenhum dinheiro passa de uma mão para outra.
O declínio de qualquer economia não mercantil tem um impacto negativo sobre a sociedade. No entanto, a partir de uma perspectiva econômica estritamente monetizada, ela não é medida e, portanto, não tem valor. Se, no entanto, chegar ao ponto de demandar uma intervenção paga, os custos de decadência social são registrados como lucro.
Os custos associados ao aconselhamento psicológico, ao trabalho social ou ao tratamento de dependência química, que surgem da negligência com tudo aquilo que não é mercado, são contabilizados como ganhos econômicos. O crime acrescenta bilhões para o PIB devido à demanda por edifícios de prisão, proteção policial e reparação de danos à propriedade. Da mesma forma, o esgotamento dos recursos naturais, as ações de limpeza e os tratamentos médicos associados aos subprodutos tóxicos da indústria, os custos de desastres ecológicos, ataques terroristas, a devastação causada por guerras – todos entram nas contas como incrementos à economia pelos curiosos padrões do PIB. Como disse o ex-economista do Banco Mundial Herman Daly: “o sistema de contabilidade nacional atual trata a Terra como um negócio em liquidação”…
Na edição nº4, Cidades alienadas e Vizinhança
Na edição nº4, Cidades alienadas e Vizinhança
O pensamento e as práticas econômicas convencionais colocaram ênfase na ideia de crescimento econômico contínuo. Considerado como sinônimo de desenvolvimento, o crescimento econômico é o principal critério utilizado para determinar a vitalidade global e é um objetivo fundamental na política e no planejamento. No entanto, muitas suposições socialmente aceitas sobre o conceito de crescimento não passam disto: suposições.
Como definir o crescimento econômico? Que critérios e métodos devem ser empregados para medi-lo? Que tipo de crescimento é realmente bom para a saúde em longo prazo ou para a sustentabilidade de uma economia? Equívocos associados ao assunto têm contribuído para políticas e práticas que exacerbam a instabilidade econômica, as iniquidades e a devastação ecológica.
As economias, assim como os ecossistemas naturais, são redes de fluxo complexas. Consistem em milhões de empresas e atividades produtivas em que as despesas de uma servem como insumos para outras e para os consumidores, fazendo circular energia, informações e recursos.
Sabe-se agora que a sustentabilidade em longo prazo nas redes atuais, assim como nos ecossistemas, depende de um equilíbrio entre dois requisitos opostos – eficiência e resiliência. A eficiência é definida como a capacidade da rede de processar volumes de tudo o que flui através dela de forma organizada e simplificada, de modo a manter sua integridade ao longo do tempo. Resiliência é a capacidade de rebote da rede, isto é, a capacidade de retroceder com segurança para posições anteriores em busca de opções para atender a distúrbios inesperados e gerar uma evolução contínua. Para que qualquer sistema de fluxos complexos se sustente ao longo do tempo, ele precisa não só ser eficientemente organizado, mas também resiliente, capaz de resistir a mudanças em seu ambiente – seja à seca ou a doenças num ecossistema natural, seja à recessão numa economia.
Duas variáveis estruturais de qualquer sistema complexo governam o grau de eficiência versus resiliência. Uma delas é a diversidade de agentes e a outra é a interconectividade, que mede o número de caminhos entre os agentes envolvidos. Diversidade e interconectividade desempenham papéis fundamentais na eficiência e resiliência de qualquer sistema complexo, mas em direções opostas.
A resiliência é reforçada por mais diversidade e conexões, uma vez que estes elementos fornecem mais agentes e canais como planos alternativos em tempos de dificuldade. A eficiência, por outro lado, aumenta com a racionalização, o que normalmente implica reduzir a diversidade. Um equilíbrio dinâmico entre eficiência e resiliência é crucial para a saúde de um sistema. As redes que são excessivamente eficientes tendem a se tornar muito frágeis, uma vez que uma pequena quebra pode causar o seu colapso. Por outro lado, redes excessivamente diversas, nas quais energia, recursos e informações perambulam por um emaranhado de caminhos sinuosos que levam a lugar nenhum, tendem a ficar estagnadas.
O conceito de eficiência está tão enraizado no pensamento de hoje, especialmente na engenharia e na economia, que pode ser difícil imaginar como qualquer coisa poderia ser eficiente demais. Mas a lição das crises recentes é justamente esta – excesso de eficiência.
Os aumentos do PIB que muitas vezes acompanham o aumento da eficiência podem dar a impressão de vitalidade econômica, mas podem mascarar uma fragilidade crescente. Um exemplo é encontrado no setor de energia, com a dependência global do petróleo como fonte primária de combustível, cuja produção e cujo fornecimento são limitados a poucos fornecedores. Qualquer ruptura aqui é um mal para a economia em geral devido à ausência de contingências viáveis e fontes alternativas às quais recorrer. Em outras palavras, há falta de resiliência.
O paradigma monetário atual é, de fato, equivalente a um ecossistema planetário em que apenas um único tipo de planta ou animal é tolerado e mantido artificialmente, e onde qualquer diversidade é erradicada como um concorrente inapropriado porque reduziria a eficiência do todo.
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A solução que conduz à sustentabilidade monetária desafia o pensamento econômico convencional, que assume equivocadamente o monopólio das moedas nacionais como dado. Uma moeda nacional de dívida bancária pode ter sido apropriada – talvez até necessária – para que surgisse um mundo industrial. Mas esse paradigma é, sem dúvida, muito limitado para uma sociedade plural do século XXI que busca soluções econômicas inovadoras, sustentáveis e pós-industriais.
Impelidas em grande parte pela incapacidade de abordar certas questões pelos meios convencionais e estimuladas pela informática de baixo custo, mais e mais comunidades estão se envolvendo com moedas complementares e colocando em operação milhares de sistemas em todo o mundo. As moedas complementares melhoram a resiliência da economia, proporcionando maior diversidade nas trocas, permitindo transações que de outra forma não ocorreriam, por meio de conexões que de outra forma não existiriam.
Embora as moedas complementares possam reduzir a eficiência global, elas aumentam a resiliência e geram uma economia mais sustentável. Quando diversos tipos de dinheiro chegam a todos os níveis da sociedade, um tecido socioeconômico mais rico torna-se inevitavelmente mais flexível, capaz de melhor suportar e lidar com múltiplas contingências. O sistema torna-se mais estável, como na lição dos ecossistemas naturais.
Dois dos mais populares sistemas de moedas complementares hoje são o LETS (Local Exchange Trading System ou, em português, Sistema de Trocas em Nível Local) e os bancos de tempo. Cada um deles é um exemplo de um sistema mútuo de crédito concebido para facilitar o intercâmbio em comunidades nas quais a moeda nacional é insuficiente.
O LETS originou-se em uma comunidade de pescadores nas proximidades de Vancouver, Canadá, durante a década de 1980. Embora próspera, a comunidade estava passando por tempos difíceis; o desemprego local chegava a 40%, apesar da presença de uma grande força de trabalho qualificada e da contínua demanda de bens e serviços. Michael Linton, fundador do sistema, observou que o elo perdido era o dinheiro: “A maior deficiência do dinheiro convencional é que para muitos ele simplesmente não está disponível. Pelo próprio design, existe apenas uma quantidade limitada de dinheiro. E como o dinheiro convencional deve vir de algum lugar fora da comunidade local, ele inerentemente não compreende ou se preocupa com as necessidades da comunidade”.
As trocas em um sistema desse tipo ocorrem usando o dinheiro LETS sozinho ou em combinação com a moeda nacional. Um jardineiro ou mecânico de automóveis, por exemplo, pode pedir apenas dinheiro LETS em troca de serviços prestados, ou aceitar o pagamento parcial em LETS e em moeda nacional.
A moeda LETS é criada no momento da transação. A conta do fornecedor de bens ou serviços é creditada, enquanto a conta do destinatário é debitada. Os saldos de créditos indicam que um indivíduo forneceu bens ou serviços a outros membros da comunidade em excesso em relação à quantidade de bens ou serviços resgatados e vice-versa para saldos devedores. Esse sistema garante que o fornecimento de LETS dentro de uma comunidade seja suficiente e autorregulador. Como outros sistemas de crédito mútuo, o LETS permite que os participantes se beneficiem de quaisquer recursos disponíveis na comunidade. Assim, supera-se a escassez imposta por uma moeda nacional.
Em contraste com o dinheiro convencional, um saldo negativo em LETS não é um problema, mas, em vez disto, uma indicação de que esse membro particular comprou mais bens ou serviços. Aqueles com um saldo negativo são simplesmente convocados a oferecer bens ou serviços em troca, aumentando ainda mais a riqueza coletiva. Alguns programas LETS definem limites de dívida para evitar abusos, mas há geralmente um entendimento comum de que as dívidas serão reembolsadas.
Normalmente, o valor de uma unidade LETS é equivalente a uma unidade de qualquer moeda nacional. A criação de uma troca local é um processo simples e inclui: um acordo básico entre os participantes para usar o LETS, contabilidade transparente e um diretório listando ofertas e/ou necessidades de cada membro.
Como os registros de créditos e débitos são habitualmente mantidos abertos, os usuários do LETS que recusam ou não pagam suas dívidas (servindo ou fornecendo bens) podem ser facilmente identificados e impedidos de participação futura. Essa transparência embutida gera confiança, garantindo a autorregulação do sistema.
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Time Dollars, primeiro modelo do banco de tempo, foi criado pelo advogado americano Edgar Cahn, que observou que pagar formalmente às pessoas – por qualquer meio – as empodera. Ele enfatiza que “contabilizar o que as pessoas fazem é uma maneira de valorizar o que elas fazem”. Dada a escassez inerente de moeda nacional, Cahn concebeu o uso do tempo como um meio de troca. A unidade básica é um “dólar de tempo”, ou Time Dollar, equivalente a uma hora de serviço, que pode ser gasto para bens e serviços disponíveis dentro de uma comunidade.
O site do Time Dollars explica que “basta gastar uma hora fazendo algo para alguém em sua comunidade. Essa hora entra no banco de tempo como uma unidade de tempo. Então você tem uma unidade de tempo para gastar com alguém fazendo algo para você. É uma ideia simples que tem poderosos efeitos na construção de conexões na comunidade”.
Os bancos de tempo, como outros sistemas monetários complementares, ligam as necessidades não satisfeitas (os serviços solicitados) com os recursos não utilizados (tempo e serviços disponíveis). Como os regimes de troca em nível local, facilitam transações que provavelmente não ocorreriam de outra forma.
O custo de iniciar um banco de tempo é mínimo: as comunidades podem usar um quadro-negro ou um pedaço de papel ou, para projetos de maior escala, um programa de computador gratuito. Os bancos de tempo podem acomodar qualquer escala de participação.
Partindo da perspectiva da não neutralidade de valor do dinheiro, os projetos de moedas complementares tendem a desencadear padrões de comportamento e interação específicos, que se distinguem daqueles habitualmente associados aos paradigmas da moeda nacional. Como discutido antes, os juros incorporados ao dinheiro convencional impulsionam a concorrência por uma moeda escassa. A maioria das moedas complementares, por outro lado, não praticam juros. Além disso, dentro dos sistemas mútuos de crédito, a escassez artificial não precisa ser mantida; a moeda é automaticamente criada em suficiência quando um acordo de troca é atingido. Assim, os dois mecanismos ocultos que promovem a concorrência no dinheiro convencional (escassez e juros) estão ausentes nas moedas complementares.
O crédito mútuo e outras moedas de caráter social geram cooperação e um senso de comunidade. E, ao contrário do que alguns economistas suspeitam, não aumentam as pressões inflacionárias. O risco de inflação seria válido se, e somente se, a moeda complementar fosse concebida como uma moeda fiduciária, como as moedas nacionais. Nos sistemas que vimos acima, o dinheiro é criado somente quando um acordo é feito, com um crédito e um débito simultâneos cobrados às partes envolvidas. Isso garante que apenas dinheiro suficiente seja criado especificamente para cada transação, e não mais.
Os regimes de troca em nível local e os bancos de tempo são dinheiro, e como outras moedas complementares, desfrutam da funcionalidade completa do dinheiro. Não devem ser confundidos com escambos, nos quais bens e serviços são trocados bilateralmente sem qualquer meio de troca padronizado. Uma limitação inerente ao escambo é que ele requer uma “dupla coincidência de desejos”, ou seja, recursos e necessidades devem corresponder perfeitamente entre duas partes para que uma transação ocorra.
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As experiências com moedas complementares no Brasil incluem clubes de troca e mercados solidários. No entanto, a aparição mais marcante nos últimos anos foi a dos bancos comunitários. A moeda Palmas, nascida em 2002, deu origem ao primeiro banco comunitário, assentado no capital social de uma associação de moradores com duas décadas de lutas. Em menos de dez anos, bancos comunitários conquistaram o apoio do Banco Central e, até recentemente, o apoio do Estado: com a Secretaria Nacional de Economia Solidária, no Ministério do Trabalho e Emprego, e com a Secretaria Nacional de Economia Criativa, no Ministério da Cultura.
Os bancos comunitários, operando sistemas de microcrédito (empréstimos sem incisão de juros ou com juros moderados) dinamizam a economia local ao dar maior liquidez a territórios com escassez de moeda. Ao injetar moedas sociais que são vinculadas ao Real, mas aceitas apenas localmente, aumentam a possibilidade de trocas de bens e serviços entre membros da comunidade.
Os sistemas de microcrédito que se desenvolveram a partir dos anos 1970 no mundo não mudaram o paradigma do sistema monetário, simplesmente criaram condições de acesso para os milhões de excluídos do sistema bancário, conservando as regras de devolução do capital e dos juros. Trata-se sem dúvida de uma iniciativa épica e inspiradora, que mostra até que ponto é possível mudar o sistema dentro do sistema. Mas é importante assinalar que é a moeda social, não o microcrédito, que representa a ruptura com o modelo vigente, aumentando a massa monetária circulante na medida da mobilização de forças sociais latentes.
Muitos outros projetos de moedas complementares de finalidade social são possíveis. Não falta trabalho a ser feito. O que tem faltado é dinheiro, especialmente tipos diferentes de dinheiro. Podemos facilmente fazer novos acordos sociais para interagir e ajudar uns aos outros. Assim como nenhum martelo pode construir uma casa sozinho, nenhum tipo de dinheiro, por mais engenhoso ou robusto que seja, pode ser projetado para atender às tantas (e frequentemente divergentes) exigências da sociedade. Cada vez mais, comunidades estão encontrando formas inovadoras de suprir necessidades nos oferecendo melhor compreensão do dinheiro e do seu potencial.
Este texto, adaptado de um livro publicado em 2011, é dedicado a Stephen Belgin, que faleceu em 2016.
“Obrigado Stephen!”. Bernard Lietaer

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Janio de Freitas: Temer salva-se da corrupção com corrupção


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A corrupção é o meio posto em prática por Michel Temer para derrubar a segunda denúncia criminal em que a Procuradoria Geral da República o acusa de corrupção.
Desde o fim de semana estão acionadas as providências que caracterizam a prática, com seu primeiro ato –a coordenação preliminar– efetivado em reunião no Palácio do Jaburu com os também denunciados Eliseu Padilha e Moreira Franco e, ainda, parlamentares com funções no esquema.
A corrupção contra a denúncia se oculta sob as aparências do usual favorecimento a parlamentares, com cargos ou verbas.
A distinção entre esse uso imoral incorporado à Câmara e ao Senado e, agora, a prática adotada por Temer, não está nas maneiras de agir. Está na finalidade.
A frequente distribuição de verbas e cargos busca comprometer os beneficiados com o apoio aos governos, em assuntos pendentes de aprovação parlamentar. Substitui, sem suprir, o confronto de ideias, o valor de programas partidários, a lealdade aos compromissos com o eleitorado.
A distribuição de verbas e cargos para angariar votos pela recusa da Câmara ao processo criminal contra Temer não constitui relação entre dois Poderes, o Executivo/governo e o Legislativo. É apenas relação entre Legislativo e o indivíduo Michel Temer.
A denúncia por atitudes políticas, mas por atos, palavras, participação e ligações do cidadão Temer, mesmo que usando a condição (ilegítima) de presidente.
Como recurso de Temer, a distribuição de verbas e cargos é feita com o fim de beneficiar uma pessoa, para livrá-la de responder pelos crimes de que é acusada. À falta de elementos convincentes de defesa, comprar votos contra o processo é o seu recurso.
Trata-se, portanto, simplesmente do mais óbvio e vulgar suborno pessoal. Crime também.
Esse suborno acentua a corrupção da atividade parlamentar. Além disso, na mesma medida em que almeja impedir o processo contra Temer, consiste em suborno para obstrução de justiça. E, embora a mobilização corruptora de parlamentares tenha fim apenas pessoal, os cargos distribuídos são remunerados pelo Tesouro Nacional e as verbas liberadas para deputados e suas emendas são subornos com dinheiro público. Corrupção múltipla.
Para derrotar na Câmara a primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República, Temer liberou para deputados, no mês que antecedeu a votação, R$ 2,1 bilhões de dinheiro público.
Com as liberações anteriores, o total foi calculado por uns em R$ 4,2 bilhões, por outros em mais R$ 1 bi. Isso, quando Temer mal acabara de assinar tetos e cortes em saúde, em educação, em saneamento, em obras de necessidade premente. Desde segunda-feira, Temer está recebendo deputados por ele chamados para conversar. Ou melhor, negociar.
Michel Temer salva-se pela corrupção. Salva-se com o que diz a denúncia que quer negada.

O golpe da “quebra” da Petrobras é só desculpa para vendê-la. Destrói-se o Brasil para a alegria dos gringos



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Indispensável e esclarecedora a análise do economista Cláudio da Costa Oliveira, aposentado da Petrobras e conhecedor, durante décadas, da situação financeira da empresa.

Para a atual diretoria da 
Petrobrás somos todos idiotas

Cláudio da Costa Oliveira
Em recente carta enviada pela administração da Petrobras a seus funcionários, desta vez de autoria do Diretor Financeiro, Ivan Monteiro, foi mantida a forma de cartas anteriores, também enviadas por outros diretores (Pedro Parente e Nelson Silva), nas quais fala-se muito, mas nenhum número é apresentado para comprovar o que é falado. Apesar de não serem permitidas cópias e muito menos comentários, eles chamam a isto de “diálogo”.
O objetivo desta última carta foi a tentativa de defesa da venda da Nova Transportadora do Sudeste (NTS). Não vou aqui trabalhar este assunto, pois penso que o mesmo já foi bem esclarecido no artigo intitulado: “NTS: crônica de um prejuízo anunciado
Resumindo, venderam um ativo que remunerava mais de 20% ao ano, para reduzir uma dívida que custa 7% a.a. Que negócio é este?
No entanto, o que me chamou a atenção foi a afirmativa de Monteiro de que a queda nos custos de captação de recursos pela empresa é causada pelo atual modelo de administração da companhia. Ivan Monteiro afirma: “Um dos motivos dessa melhora na avaliação de risco de nossa companhia desde o segundo semestre do ano passado tem sido exatamente o nosso programa de parcerias e desinvestimentos, tendo como grande destaque a venda de 90% de nossa malha de gasodutos do Sudeste (NTS) sic”.
Vejam que esperteza engenhosa. Usam um fato extremamente negativo para os futuros resultados da empresa (venda da NTS), como se fosse fator determinante de um fato positivo (queda de juros ). Tudo para confundir.  Trata-se de um discurso orquestrado, pois o próprio presidente Pedro Parente em diversas entrevistas, tem feito afirmativas idênticas. A Gerente Executiva de Aquisições e Desinvestimentos, Anelise Quintão Lara, em comentário, seguiu a mesma linha.
Ou seja, eles querem que nós acreditemos nesta bobagem. Pedro Parente em entrevista a Miriam Leitão (27/07/2017) destacou isto, enquanto a pseudo-jornalista econômica balançava a cabeça positivamente.
Nada mais ridículo. Nenhum banco reduz juros para uma empresa como a Petrobras baseado num modelo de administração. Empréstimos são feitos com vencimento em 2040. Até quando Pedro Parente vai continuar como presidente da Petrobras? Vocês sabem dizer ? Até quando Michel Temer vai continuar presidente do Brasil? Vocês sabem dizer?
O que atrai grandes volumes de recursos para a Petrobras e consequentemente a queda nas taxas de juros, é o direito que a empresa tem para exploração de grandes volumes de petróleo, que ela mesma descobriu (pré-sal), aliado a tecnologias, que ela mesma desenvolveu, tornando o negócio viável economicamente.
A atual administração não teve nenhuma participação na descoberta das reservas e muito menos no desenvolvimento de tecnologias e agora cinicamente, quer roubar os direitos dos louros da conquista.
O pré-sal brasileiro, que Carlos Alberto Sardenberg em artigo (2008) disse que: “só existe na cabeça do governo”. Que Miriam Leitão (2009) disse que a Petrobras: “não tem capacidade para extrair petróleo nestas profundidades.”  Este pré-sal brasileiro, que por motivos escusos sempre foi denegrido, hoje é motivo da visita dos abutres, que vem para o banquete ofertado por autoridades constituídas por um golpe parlamentar ilegítimo.
O leilão da ANP, previsto para o próximo dia 27 de setembro, trás ao Brasil representantes de quase todas as grandes petroleiras do mundo que vem reclamar sua parte no butim. E eles não escondem a satisfação. “Pré-sal é onde todo mundo quer estar” diz o presidente da Shell.
Vai jorrar petróleo” é a visão do CEO da estatal norueguesa Statoil.
Mas por que o povo brasileiro não reage a esta fantástica operação lesa-patria ?
Isto não é difícil de entender, basta rastrear os caminhos seguidos pelos vendilhões da nação.
Depois de tentar denegrir a existência do próprio pré-sal, Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg criaram a mãe de todas as mentiras: “A Petrobrás está quebrada”. Sendo assim, ela não tem capacidade para investir no pré-sal que terá de ser entregue para as petroleiras estrangeiras.
Tanto falaram, que a opinião pública brasileira e até mesmo muitos funcionários da própria Petrobras, passaram a acreditar nisto.
Por diversas vezes, Miriam Leitão no Bom Dia Brasil ou por outros meios salientava que a empresa tinha sérios problemas financeiros.
No final de abril de 2016, Carlos Alberto Sardenberg chegou ao cúmulo de afirmar que ou a Petrobras fazia um acordo judicial ou seriam necessários aportes do Tesouro para sua sobrevivência.
A realidade entretanto era completamente outra, o Tesouro é que almejava os recursos que a companhia sempre gerou em abundância, e no final de 2016 a Petrobras adiantou R$ 20 bilhões para o BNDES, aliviando o caixa do banco.
Os números da Petrobras são públicos e podem ser encontrados no seu site balanços dos últimos 10 anos. Sendo assim retiramos alguns dados financeiros para avaliação, que estão ao alto do post.
Qualquer contador ou analista de balanços olhando estes números dirá que esta empresa não tem, nem nunca teve problemas financeiros.
Diversas vezes os referidos jornalistas afirmaram que a companhia tinha uma dívida impagável. Mas uma empresa que tem uma dívida liquida de US$ 97 bilhões, mas tem uma geração operacional de caixa sempre acima de US$ 25 bilhões, não tem nenhum problema na administração da dívida.
Para analisar melhor a situação financeira da Petrobras recomendamos a leitura do artigo “A realidade desafia a estratégia atual da Petrobras”, que compara a situação financeira da empresa com a das principais petroleiras do mundo.
Quem sabe um dia, Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg venham a público se redimir do crime cometido contra a imagem da maior empresa brasileira, bem como perante a opinião pública do país.
Finalmente, resta também um pedido de desculpas do presidente da empresa, Pedro Parente, que sempre que pode insinua (ou afirma) em entrevistas, que recebeu uma empresa com problemas financeiros.
Na realidade o ex-presidente Bendini, quando transmitiu o cargo para Parente, declarou na imprensa: “Estou entregando uma empresa com R$ 100 bilhões em caixa”. O que na época (junho de 2016) equivalia a US$ 27 bilhões.
Infelizmente meu sentimento é que provavelmente em breve, a atual administração da companhia virá a público dizer que recuperou financeiramente a empresa. Uma empresa que na realidade nunca teve problemas financeiros. Pensam que somos idiotas.
*publicado originamente no site da Associação dos Engenheiros da Petrobras

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Luiz Alberto Moniz Sodré sobre o caos pós-Golpe de Temer, Bancos, Globo e elites, com introdução de Leonardo Boff


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  Luiz Alberto Muniz Bandeira é tido como um dos mais argutos analistas políticos do Brasil. Escreveu este texto para Valter Pomar e copiado para mim, porque,  ja há tempos, entretenho frutuosa troca de correspondência, da qual sempre aprendo muito. Sua última obra A desordem mundial é uma minuciosa análise da atual situação do mundo especialmente sob o império norte-americano. Foi apreciada neste meu blog. Nesta reflexão-protesto põe às claras o golpe que foi perpetrado contra Dilma Rousseff com todas as características, bem detalhadas por ele, de um golpe de estado. Irrompeu o caos no Brasil, com um presidente acusado por formação de quadrilha e pelo desmonte da nação e de seus bens públicos essenciais, postos a leilão para o capital mundial. Somos cidadãos e amamos nossa pátria. Não fazer nada seria mais que omissão, seria trair a memória de nossos maiores que lutaram para fundar uma nação independente e soberana. Moniz Sodré não quer uma intervenção militar, no estilo e um golpe militar. Mas simplesmente postula uma ação de um poder mais alto, previsto na Constituição para defender o bem público e a soberania nacional. Cabe a ele criar um mínimo de ordem dentro de uma realidade política  apodrecida, detestável e sem qualquer moralidade. Importa punir os comprovadamente corruptos, apresentar uma reforma política que resgate o Estado Democrático de Direito e se elabore um projeto político de desenvolvimento com inclusão social e cuidado para com a natureza. E por fim eleições diretas livres para eleger representantes dos sinteresses gerais com participação popular, portanto, uma democracia enriquecida, democracia participativa e, no meu entender, sócio-ecológica. Publicamos  o texto do mestre Moniz Sodré como material de reflexão buscando luzes em que no-la pode fornecer com autoridade de quem resistiu à ditadura, foi preso duas vezes e viveu anos no esconderijo e anonimato, trabalhando incansavelmente em textos de análise política, especialmente, da realidade norte-americana. Leonardo Boff.

Meu querido Valter Pomar,

Insisto, em nada tenho ilusão. Sei que tudo pode acontecer, se houver uma intervenção militar. Mas o fato é que, se Dilma Rousseff foi deposta por um golpe de Estado, e de fato foi, não mais existe Estado de Direito nem democracia no Brasil. Acabou a Constituição. O governo, que só conta com a simpatia de cerca de 3% da população, realiza "reformas" para as quais não teve mandato. O Congresso, corrompido e desmoralizado, assumiu poderes constituintes com os quais não foi eleito. Nada do que ocorreu e está a ocorrer é constitucional. Nada tem legitimidade. E o golpe de Estado foi dado exatamente para a execução de tais reformas: trabalhista, previdenciária, terceirização, redução do Estado, com a venda das empresas públicas, impedir os gastos públicos por 20 anos etc. E as forças econômicas, nacionais e estrangeiras, que estão por trás do presidente de fato Michel Temer e do seu sinistro ministro da Fazenda, o banqueiro Henrique Meirelles, farão tudo para que não haja retrocesso na execução do seu projeto, modelado pelo Consenso de Washington.

Falar em Constituição, agora, é que é uma grande ilusão. As liberdades são relativas, como durante o regime militar, porém nem imprensa alternativa existe mais como naquele tempo. Toda a mídia repete o mesmo e o alvo é o ex-presidente Lula, com judiciária a condená-lo, sem provas, apenas para efeito de repercussão na imprensa e desmoralizá-lo. Quanto mais ele cresce nas pesquisas mais me parece que as poderosas forças econômicas nacionais e estrangeiras, que sustentaram o golpe do impeachment da presidente Dilma Rousseff, tentarão tirá-lo de qualquer forma das eleições. Tenho até dúvidas de que as eleições ocorrerão. Temer e demais cúmplices sabem que, ao descer a rampa do Planalto, sem imunidade, podem ser presos e enviado para a Papuda.
A insatisfação no meio militar é enorme, conforme exprimiu o Antônio Olímpio Mourão. E teve toda razão o deputado Aldo Rebelo, do PC do B, quando recomendou o diálogo com os militares. O proto-nazifascista Jair Bolsonaro não é representativo das Forças Armadas. É minoria.
A intervenção militar pode ocorrer. Como se desdobrará é difícil imaginar. O ideal seria que fosse como a do general Henrique Teixeira Lott em 1955. Mas não creio, em face do Congresso que aí está. O importante é impedir que o patrimônio nacional – Eletrobrás, Eletronuclear, Petrobrás e pré-sal, bancos estatais – seja dilapidado, entregue aos gringos: é evitar que o desenvolvimento do Brasil, com a inclusão, não seja interrompido; é impedir a entrega aos gringos de uma parte da Amazônia maior que a Dinamarca. Claro que não defendo regime de exceção, mas regime de exceção é o que já existe no Brasil, com um verniz de legalidade. O que ocorreu no Brasil, com a derrubada da presidente Dilma, foi golpe de Estado, como, na Ucrânia, com a destituição do presidente Wiktor Yanukovytch, na madrugada de 21 para 22 de fevereiro de 2014, por uma decisão de um Congresso comprado. A Constituição deixou de existir.
Ilusão é pensar que, após realizar as reformas pretendidas pelo capital financeiro e o empresariado nacional, as forças, que se apossaram do poder, vão deixá-lo sem ser por um golpe de força. E, infelizmente, as forças populares já demonstraram a sua impotência. A nada reagiram.
Não desejaria que ocorresse intervenção. Todos sabem como começa, mas não quando termina. Porém, não estou a ver outra perspectiva no Brasil. É necessário impedir o desmonte do Estados nacional. E há-de chegar um momento em que o impasse político, com o agravamento da situação econômica e social, terá de ser pela força.
Com afetuoso abraço, Moniz
Von: Valter Pomar [mailto:pomar.valter@gmail.com]
Gesendet: Dienstag, 19. September 2017 22:29
An: SRI Professor Moniz Bandeira t-online.de
>; Luiz Moniz-Bandeira gmail.com>

Banqueiro, TFP, ultraconservadores e pedófilos contra o Papa Francisco



Um banqueiro é o articulador da ofensiva ultraconservadora contra o Papa, num grupo de 79 signatários dentre os quais não constam cardeais, bispos, teólogos ou figuras de maior expressão no catolicismo. Há de tudo: membros da TFP, sedevaticanistas (que consideram que a Igreja não tem Papa desde Pio XII) e um inimigo feroz das investigações contra os milhares de casos de abuso de menores na Austrália. O tema público do embate é a mudança da posição da Igreja quanto ao direito à comunhão dos casais divorciados em segunda união, a manutenção em pleno século 21 da guerra contra o Modernismo e o ataque a Lutero e ao ecumenismo. Mas o pano de fundo é o combate frontal à opção de Francisco pelos pobres e o desejo de ver revogado o Concílio Vaticano II.


O banqueiro Ettore Gotti Tedeschi, líder da oposição ao Papa

Banqueiro é o líder do manifesto contra o Papa


No último domingo (24) foi divulgada a “carta de correção formal” que conservadores católicos de diversos países assinaram para criticar o Papa e sua exortação apostólica Amoris Laetitia (A Alegria do Amor).
O banqueiro italiano Ettore Gotti Tedeschi é o líder do manifesto dos conservadores católicos que acusam o Papa Francisco de cometer “heresias”. O fato de um banqueiro ser o líder de um ataque contra o chefe da Igreja dá a dimensão precisa do evento, ainda mais que o alvo dos acusadores é um Papa que escolheu estar ao lado dos pobres de todo o planeta. De um lado, o banqueiro; de outro o Papa dos pobres.
O tema público do embate é a mudança da posição da Igreja quanto ao direito à comunhão dos casais divorciados em segunda união, a manutenção em pleno século 21 da guerra contra o Modernismo e o ataque a Lutero e ao ecumenismo -como se poderá observar mais abaixo.
Mas o fundo da questão remete a uma frase de Jorge Semprún que frei Betto costuma repisar: “a cabeça pensa onde os pés pisam”. E, de fato, os solos em que pisam Tedeschi e Bergoglio são muito diferentes. A posição de cada um deles sobre o capitalismo dá a dimensão de uma das facetas que separa os conservadores de Francisco –a outra é o controle sobre a vida afetiva e sexual das pessoas.
O Papa é um severo crítico do capitalismo, que qualificou como uma “ditadura sutil” no II Encontro dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), em julho de 2015. Para Francisco, o capitalismo “é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos…” (aqui). No ano seguinte, na terceira edição da reunião com os movimentos populares, o Papa falou especificamente sobre os bancos: “O que acontece no mundo de hoje que, quando ocorre a bancarrota de um banco: imediatamente aparecem somas escandalosas para salvá-lo. Mas quando acontece esta bancarrota da humanidade não existe sequer uma milésima parte para salvar estes irmãos que sofrem tanto?”.
O banqueiro Gotti tem uma visão do capitalismo diametralmente oposta à do Papa. Não é à toa: em 1987, ao fundar na Itália o banco Akros, arrebanhou nada menos que 275 milhões de euros de ricos italianos e de outros países da Europa e EUA. Alguns anos depois, ele se associou ao multimilionário Emilio Botín para fundar a filial italiana do Banco Santander, que presidiu por alguns anos.
Como se vê, o líder e porta-voz dos conservadores rebelados não tem o que reclamar do capitalismo sobre o qual escreveu uma verdadeira elegia num artigo para a Fundação Liberal da Itália: “A economia é uma técnica avançada e sofisticada, mas neutra, que, para ser vantajosa para o homem, deve ser considerada importante, central. […] O capitalismo, sem dúvida, fez muito pelo homem e pode fazer muito mais”.
Em 2005, foi investigado por irregularidades num rumoroso caso envolvendo a Parmalat, que acabou prescrevendo sem julgamento em 2007. O processo não impediu que em 2008 ele fosse nomeado gestor das finanças da Cidade do Vaticano. De quem partiu o convite? Do então todo poderoso cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, homem forte do papado de Ratzinger e hoje envolvido num escândalo de grandes proporções: o desvio de dinheiro do hospital pediátrico Bambino Gesù, do Vaticano, para uma reforma de 500 mil euros na sua megacobertura de 600 metros quadrados com 100 metros quadrados de terraço.  Em 2009, Gotti foi nomeado por Bento XVI presidente do IOR, o Banco do Vaticano, para ser acusado um ano depois pela Procuradoria de Roma de violações às normas contra a lavagem de dinheiro nas instituições financeiras –em 2012, foi afastado do Banco.
Em entrevista ao site conservador espanhol InfoVaticana, Gotti Tedeschi pontificou, com a soberba e a ironia típicas de um banqueiro: “Imagino que o papa vai agradecer os signatários do documento e vai querer se reunir um por um para reconhecer os erros cometidos no seu magistério”.  Uma nota: nenhuma mídia católica conservadora qualificou-o como banqueiro em todas as reportagens ele foi apresentado pela denominação de economista, que devem ter considerado menos antipática ou denunciadora.
TFP, sedevaticanistas e ao menos um defensor dos pedófilos – Na verdade, dizer que Gotti é líder de um movimento conservador é, talvez, uma matização forçada. Ao se examinar os nomes dos signatários da carta contra o Papa, o que se vê é uma reunião de ultraconservadores ou, para citar Francisco, verdadeiros restauracionistas que de maneira aberta ou vela opõem-se ao Vaticano II e advogam a restauração do Concílio de Trento (1545-1563), que marcou o rompimento da Igreja com a modernidade nascente e significou uma declaração de guerra à Reforma Protestante.
Outros dos líderes do grupo é Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e herdeiro de Marcel Lefebvre, o bispo cismático arquiconservador que se rebelou contra o Vaticano II, acusando-se de “liberal e protestante” e que escreveu numa carta para João Paulo II em 1985 que os judeus, comunistas e maçons seriam “inimigos declarados da Igreja”. Nem o conservador Wojtyla aguentou o grupo de Lefebvre, que foi excomungado por ele –pena suspensa em 2009 por Bento XVI.
O grupo de signatários da carta é espantoso –ela tem recebido adesões e, na terça-feira (26) eram 79. Nenhum nome de expressão na Igreja ou no terreno da formulação teológica contemporânea.  Nenhum cardeal ou bispo, exceto pelo bispo emérito da diocese de Corpus Christi, no Texas, dom Rene Henry Gracida, de 94 anos. Em entrevista ao National Catholic Reporter, Richard Gaillardetz, teólogo do Boston College e ex-presidente da Associação Católica Teológica dos EUA afirmou que os signatários “são figuras marginais” na Igreja e “devem ser reconhecidos como vozes extremistas e automarginalizadas”.
Veja-se o caso do Brasil. Dois brasileiros assinam o documento, monsenhor José Luiz Villac e Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, ambos sem expressão na Igreja brasileira e membros da infame TFP (Tradição, Família e Propriedade), organização católica de extrema-direita que apoiou a ditadura militar e as prisões, torturas e mortes de opositores ao regime.
Outro dos signatários é o padre francês Claude Barthe, que durante anos um estridente membro dos grupos dos sedevaticanistas –ultraconservadores para quem que a Santa Sé está vaga desde a morte do Papa Pio XII, em 1958. Para eles, João XXII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco são usurpadores do “trono de Pedro”. Não pense que isso é piada, é sério, há mesmo grupos que pensam assim, e o padre Barthe foi membro desses grupos durante anos.
Mas não é só.
O padre Glen Tattersall, da diocese de Melbourne (Austrália), que aparece com destaque na lista dos signatários, tem se notabilizado em seu país nos últimos meses por seus ataques violentos à Comissão Real de investigação dos casos de pedofilia na Igreja australiana. Os números são aterradores e foram qualificados de “surpreendentes, trágicos, indefensáveis” por Francis Sullivan, diretor executivo do Conselho de Verdade, Justiça e Cura instituído pela própria conferência episcopal da Austrália. Entre 1980 e 2015, quase 4.500 pessoas denunciaram abusos sexuais contra menores cometidos pelos 1.880 membros da Igreja, o que significa 7% do clero do período, percentual que chegou para mais de 15%, em algumas dioceses. No entanto, segundo o padre Tatersall, é tudo é culpa da “moralidade frouxa dos liberais e homossexuais” (aqui). Mais ainda. Para ele, haveria má vontade com os pedófilos: “Se há um relacionamento entre um padre e um menino no final da adolescência, quer dizer que é abuso sexual quando ele tem 16 ou 17 e então é um relacionamento maravilhoso quando você tem 19 anos? Quero dizer, é ridículo”.
O documento – Este é o grupo que ataca o Papa. Clique aqui Se você quiser conhecer a íntegra do documento, intitulado em latim de Correctio filialis de haeresibus propagatis (Correção filial à propagação de heresias).
O título já é um prato cheio para interpretações de fundo psicanalítico. Os conservadores consideram o Papa como um verdadeiro “pai”, a quem os filhos deveriam obediência cega. Só que não é bem assim. Obedece-se cegamente o Papa (pai) quando ele faz o que os filhos desejam. Se o pai faz diferente da expectativa dos filhos, é heresia. Mas, curiosamente, a operação pretendida pelos signatários da carta não é, como o padrão freudiano, derrubar (matar) o pai para assumir seu lugar. Não. O objetivo é liquidar este pai benevolente (Francisco) para tentar impor um pai severo, autoritário (como uma reencarnação de Pio X ou Pio XII). Os conservadores passariam a mandar novamente na Igreja, por meio deste pai implacável.
É singular que no texto os signatários afirmem aderir “sinceramente à doutrina da infalibilidade papal tal como ela foi definida pelo Concílio Vaticano I”… contanto que o Papa concorde com eles!
O tom do documento, em que pese o título de “correção filial”, é de franca ameaça: os ensinamentos de Francisco levariam os fiéis “a colocar em dúvida a validade da renúncia do Papa emérito Bento XVI ao papado”. Ou seja, sinalizam que podem reinstalar Ratzinger na cadeira papal.
Os autores do ataque ao Papa consideram a exortação apostólica Amoris Laetitia um “escândalo à Igreja e ao mundo, em matéria de fé e moral” e asseguram que o direito à comunhão de casais católicos divorciados em segunda união seria uma afronta a “verdades divinamente reveladas”. São páginas seguidas de citações entremeadas pela palavra heresia.
Pode parecer inacreditável, mas em pleno século 21 os ultras usaram o documento para atacar a Modernidade, mais de 500 anos depois! O documento explicita o desejo de hegemonia do catolicismo, como se a reinaugurar a cristandade, afirmando que tudo o que a verdade integral repousa sobre a Igreja Católica e que a humanidade deve dobrar-se a essa constatação: “A razão humana pode por si mesma deduzir a verdade da fé católica baseada na evidência publicamente disponível da origem divina da Igreja Católica”. Apesar de uma pequena concessão à possibilidade de outras compreensões sobre Deus, o texto recende a fogueiras da Santa Inquisição: “A fé católica não esgota toda a verdade sobre Deus, porque somente o intelecto divino pode compreender plenamente o Ser divino. No entanto, todas as verdades da fé católica são inteira e completamente verdadeiras, porquanto as características da realidade que tais verdades descrevem são exatamente como elas as apresentam”.
O documento termina com quase cinco páginas de ataque cerrado a Martinho Lutero e ao diálogo e aproximação que o Papa tem promovido com as igrejas protestantes. “Em segundo lugar, sentimo-nos obrigados em consciência a nos referir às simpatias sem precedentes de Sua Santidade por Martinho Lutero, e à afinidade entre as ideias de Lutero sobre a lei, a justificação e o casamento e aquelas ensinadas ou favorecidas por Sua Santidade em Amoris Laetitia e em outros lugares.” Aparentemente, os signatários estão alinhados com o bispo cismático ultraconservador Marcel Lefebvre, que considerava o Vaticano II como algo próximo de uma obra diabólica, liberal e de fundo protestante.
Os signatários atacam Francisco, mas seu objetivo final é encerrar a retomada da opção da Igreja pelos pobres e frágeis e revogar o Concílio Vaticano II.
[Mauro Lopes]