sexta-feira, 30 de abril de 2021

Terrorismo de Estado Fardado e a ditadura militar: golpe de Estado e o caso Riocentro, efetuado por terroristas do Exército. Artigo de Roberto Bueno,doutor em Filosofia do Direito (UFPR) e mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC)

 

Terrorismo de Estado e a ditadura militar: golpe de Estado e o caso Riocentro

"O caso Riocentro foi típico do terrorismo de Estado, planejado pelos militares da conhecida linha-dura do regime ditatorial brasileiro da qual o atual Presidente do Brasil e o seu grupo fardado mais próximo é saudosista", analisa o colunista Roberto Bueno

(Foto: Reprodução)

A ditadura militar brasileira derivada do golpe de Estado de 1964 foi articulada com o alto empresariado nacional, com a grande mídia nacional e setores controlados do Poder Judiciário, todos ancorados pelo poderio do imperialismo norte-americano, disposto a financiar a violência contra a democracia brasileira encarnada no regime progressista de João Goulart. Esta associação para o golpe de Estado logo desembocou no derramamento de sangue de cidadãos brasileiros por parte dos militares e também por gente próxima ao regime distribuída em diversos setores da administração pública e, embora em menor escala, até mesmo de algumas instituições privadas. Dentre elas, o papel de algumas empresas foi sendo desvelado ao longo do tempo, como o caso da fabricante de automóveis Volkswagen, assim como a já mais conhecida participação da empresa jornalística da família Frias, por intermédio de seus veículos impressos, a Folha de São Paulo e a Folha da Manhã, cujos automóveis foram úteis ao regime em ações de inteligência e repressão, assim como os da empresa Ultragás, que sob a presidência do ignóbil Henning A. Boilesen (reconhecido como “plateia” em sessões de tortura) instrumentalizava veículos de transporte de gás da empresa para a fiscalização de pontos específicos de interesse da repressão. 

As ações de violência durante o regime militar não deixaram de contar com o apoio do grande capital ou, na melhor das hipóteses, com o seu silêncio obsequioso, nada envergonhado, enquanto continuava a drenar volumosas quantias para os seus cofres. O poder civil compactuou com o terrorismo de Estado conduzido pelas mãos militares, prática comum sustentada no apoio do sistema de inteligência do regime, não sem o acobertamento indispensável para obter sustentação na opinião pública. Um dos mais graves casos de violência inscritos na história do Brasil pelos militares foi o caso das bombas que os militares planejaram detonar no Riocentro na noite de 30 de abril de 2021, potencialmente causadoras de milhares de mortes, sobretudo quando somada às outras medidas as para disseminar pânico no vultoso público que assistia show musical multitudinário no grande palco montado no Riocentro.  

O atentado do Riocentro se insere em contexto de desprezo nutrido pela ditadura militar brasileira não apenas pela vida humana, mas pela massa dos cidadãos que paga o soldo de cada um de seus membros. Este fato histórico a que dedicamos espaço merece ganhar a cada ano renovada atenção e destaque, de sorte que as novas gerações possam acumular conhecimento sobre o real significado da história de intervenções política golpista das Forças Armadas brasileiras na vida nacional que se atribuem papel tutelador da soberania civil. As suas consequências têm sido horrendas para o país, e em 1964 mergulharam-no em terrível e sombria noite, impondo pesadelo que durou décadas, e outras ainda para recuperar-se do grave prejuízo humano, político e econômico para, logo após, mais recentemente, quando medianamente cicatrizadas as feridas, voltar a atacar a pátria, ao tornarem-se fiadoras do golpe de Estado de 2016 e, passo seguinte, através do método de aproximações sucessivas, assumir o poder diretamente em 2018 realizando eleições com triunfo assegurado em ambiente controlado (instâncias eleitorais e exclusão de concorrentes favoritos) e manipulação do processo através de estratégias de propaganda com forte financiamento subterrâneo no país e fora dele.  

O mundo político brasileiro comprometido com valores democráticos descuidou de sua tarefa de defesa institucional por intermédio da mobilização popular, abrindo brechas para que os ânimos homicidas do Riocentro pudessem voltar à tona, para que os vetustos herdeiros da ânsia de torturar e exterminar o povo brasileiro assumissem o poder, desta feita dando azo ao desejo de matar sob a potencialização do temível vírus gerador da pandemia mundial. É preciso recordar esta tétrica passagem histórica sobretudo para os mais jovens, especialmente quando as instituições não assumem publicamente as suas culpas e nem expõem os crimes cometidos, pois é imperativo não esquecer o significado do governo das armas, no qual a liberdade é miragem, a vida sob censura uma tensão diária, assim como o desatino e o roubo da esperança são a regra, enquanto, em paralelo, a tortura vai sendo constituída como pesadelo útil para o poder atemorizar os defensores da democracia e da ordem constitucional. 

O terror tão típico das mentes assassinas que habitam o núcleo duro das ditaduras de toda sorte de composição é assaz atraente para perversos dispostos a comissão de toda sorte de brutalidades. Quando corriam os dias da distensão política e, portanto, já entrado o Governo do General João Figueiredo (1979-1985), teve lugar o fato criminoso organizado por forças militares e da inteligência conhecido como atentado do Riocentro. O atentado do Riocentro foi planejado para ser executado na noite do dia 30 de abril de 1981, entrada a madrugada, enquanto estava sendo comemorado do dia do trabalhador com um grande show musical ao qual acudiram milhares de pessoas no Riocentro, em ampla área destinada ao estacionamento de veículos em Jacarepaguá (RJ). Estavam presentes eminentes artistas populares da MPB da época, tais como Gal Costa e Chico Buarque, Gonzaguinha e Alceu Valença. Era o cenário para uma noite de congraçamento popular em tempos todavia muito difíceis sob o regime militar, dias em que a impaciência e a insatisfação política com o militarismo eram flagrantes, após seus tantos insucessos e reiteradas violências. Potencialmente, naquele espaço poderiam ocorrer demonstrações públicas de hostilidades ao regime militar de Figueiredo, personagem que ganhou as manchetes do período ao declarar sua preferência pelo cheiro dos cavalos ao do povo, sentimento este que, aliás, sem qualquer segredo, é compartilhado por proeminentes personalidades do atual governo brasileiro, como é o caso do Ministro Paulo Guedes. 

O planejamento do atentado do Riocentro envolvia a detonação de bomba para que atingisse a multidão e não apenas causasse susto. Estava em causa, verdadeiramente, a prática de ato criminoso organizado pelo regime militar brasileiro visando expor a situação de morte um número imprevisível de pessoas com o objetivo de, atribuindo a responsabilidade às forças de resistência antiditadura de esquerda, criar condições políticas que viabilizassem condições para angariar apoio popular para o fechamento do regime, já bastante decadente. Era este o segundo momento do desenvolvimento do plano, acusar tais “grupos de terroristas”, que teriam o objetivo seria desestabilizar o Governo militar, argumento que, pensavam as autoridades, persuadiria a população a apoiar o aumento da repressão e, por conseguinte, dar um passo atrás na abertura “lenta, gradual e segura” anunciada ainda pelo ditador Ernesto Geisel (1974-1979) e confirmada por seu sucessor João Figueiredo (1979-1985).  

O plano do atentado do Riocentro era criminoso, típico de delinquentes, que não deixam de sê-lo por estarem revestidos de autoridade pública. Sob farda ou não, o crime é imputável pelo fato de transgredir as normas de direito, cujo abuso foi flagrante à época mesmo quando os próprios transgressores também detivessem as chaves para a criação do ordenamento jurídico em sua íntegra, sob medida, conforme os seus interesses. Macabro era o plano, e a ideia-base era pavimentar com sangue humano a trilha das condições políticas para instaurar clima de pânico entre a população para criar o clima para perpetrar-se no poder, dando já mostras de que o seu treinamento para matar gente não encontraria fronteira ou limites quando o objetivo visado impusesse o assassinato dos contribuintes e cidadãos que pagam o soldo e vencimentos dos que traem a missão de servir o público.  

Rigorosamente, o grupo daqueles que desde então foram conhecidos militares “linha-dura” formaram um coletivo que deu sobradas mostras de disposição para utilizar absolutamente quaisquer métodos e praticar quaisquer crimes, contanto que o poder fosse assegurado em suas mãos. Não havia fronteiras de dor e sangue que lhes servisse de limite, afinal, décadas após, diria um político atual que na época não passava de militar mal avaliado – até mesmo pelo comandante do extermínio na época, a quem o classificava como “mal militar” – que o seu treinamento era para “matar pessoas”. Hoje em posição proeminente na República, o tal militar de baixa patente contém em seu prontuário a baixa do Exército por planejar explodir quartéis inteiros com seus companheiros de farda dentro, mas também omissão de que o seu treinamento para matar gente não envolveu diferenciar entre inimigo externo e os cidadãos nacionais. Ao que parece, os nacionais são merecedores do mesmo tratamento homicida segundo a doutrina de segurança nacional, cujos desdobramentos transforma exércitos inteiros em genuínas guardas pretorianas do império capitalista norte-americano em cada país sul-americano. 

Os militares da “linha-dura” viram frustrar o atentado do Riocentro devido a explosão acidental do artefato em face de má manipulação do agente encarregado da operação, momentos antes de levar a bomba para o local previsto para detonação. A dupla de terroristas militares a mando do Estado chegou ao Riocentro às 20h58m, e pouco após, quando das 21h20m, quando a jovem Elba Ramalho ocupava as atenções no palco, a bomba explodiu ainda dentro do veículo Puma em que os militares ultimavam os detalhes. A explosão vitimou instantaneamente o Sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário, deixando semidestroçado o corpo do agente do DOI dentro do veículo Puma, placas OT-0279, em que estava sentado na posição de passageiro, enquanto o Capitão Wilson Luiz Chaves Machado que estava ao volante conseguiu sair do veículo com ferimentos gravíssimos à vista nua, tendo sido Andréa Neves da Cunha, conhecida irmã de Aécio Neves, quem veio a encontrá-lo e prestar primeira atenção a vítima levando-o ao hospital, onde os cuidados possibilitaram que sobrevivesse. 

Nos momentos seguintes ao atentado a grande imprensa empreendeu a difícil tarefa de tergiversar e ocultar os verdadeiros responsáveis pelo atentado, nenhum deles desarticulado com o regime militar. Não apenas aqueles militares estiveram relacionados ao caso, e na sequência outros nomes começaram a surgir. Além daquela bomba que explodiu no colo do Sargento Rosário, ainda outra estava prevista para explodir na casa de força do Riocentro, mas que, por mau cálculo, não teve carga suficiente para afetar a iluminação do ambiente festivo e, assim, obstar as condições de continuidade do show. Tal explosão ocorreu sem que o público tivesse notícia do sucedido, até que o cantor Gonzaguinha informou o fato, prestando contas de que antidemocratas haviam jogado bombas para amedrontar o público, circunstância que, mesmo sem mencionar nomes, todos já sabiam quem eram os responsáveis. Começavam ali dias bastante difíceis para o regime militar, pois quando o organismo do Estado se move e organiza para exterminar o seu próprio povo isto nada mais indica que a sua falência já ocorreu, seus dias já estão contados, e o rumo para o seu desfecho é inexorável, sendo o banco dos réus o destino provável para os organizadores de mortes e assassinatos. 

Abertas as investigações do caso Riocentro, e mesmo dispondo de todas as evidências e provas, o Coronel Job Lorena de Sant'Anna entregou relatório cujo eixo era manter a versão do DOI-CODI, que excluía os militares de qualquer envolvimento na ação, optando pela versão de que o Sargento Rosário e o Capitão Machado teriam sido vítimas de “subversivos”. O caso Riocentro seria reaberto tão somente quando era avançado o ano de 1999, portanto, longos 18 anos depois, pelas mãos da Procuradora da República Gilda Berer, tendo sido aberto um novo IPM (Inquérito Policial Militar) sob a presidência do General Sérgio Conforto, que desta vez foi concludente pela responsabilização do falecido Sargento Rosário. Nesta nova etapa de investigações sob o General Conforto, foi confirmado o envolvimento não apenas do Capitão Machado mas também do nome do General Newton Cruz, então Chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações, criado pela lei nº 4.341 em 13 de junho de 1964), assim como do conhecido Freddie Perdigão (posteriormente também apareceria envolvido na morte de Zuzu Angel além de ter seu nome citado pela conexão com a horrenda “Casa de Petrópolis” pelo assassinado “Doutor Pablo”, codinome do Coronel Paulo Malhães), então Chefe da Agência do SNI no Rio de Janeiro, envolvido em diversos casos nebulosos durante a ditadura militar, além de ter sido identificado por muitas vítimas e companheiros como um bárbaro torturador muito atuante nos porões da ditadura sob codinomes como “dr. Nabig” ou “dr. Pereira”, a quem foram atribuídos diversos crimes. 

Sob todos os ângulos de análise, o Riocentro foi ato terrorista planejado nos gabinetes militares e das autoridades da área de segurança do Estado, e série de evidências se somaram para sustentar esta hipótese, depois plenamente confirmada com a superação do regime militar e daqueles que ocupavam postos-chave e impediam a devida responsabilização dos culpados. Os indícios e provas eram múltiplos, a exemplo de que o veículo Puma tinha placas falsas, e dentro dele havia ainda outra bomba (que não detonou), ademais de granadas, algo inexplicável para quem comparece a um show musical com grande afluxo de pessoas, conjunto de fatos que se pretenderia explicar pela fantasiosa criação de que os militares teriam sido vitimados por militantes de esquerda. 

Além deste conjunto de elementos, havia a informação casualmente registrada por garçons durante o dia em um restaurante que suspeitaram da reunião de um grupo de homens armados lendo um mapa. Chamada ao local, a polícia identificou os presentes como agentes do DOI e militares do CIEX (Centro de Informações do Exército). Havia planejamento e método, e a provocação de mortes e assassinatos pelo regime não era casual, senão projeto. Entre as providências para a boa e segura execução do plano, estava a substituição do chefe da segurança do Riocentro precisamente naquele dia de realização do evento, mas também do policiamento, que tinha sido conveniente desativado, algo inexplicável justo em noite de alto afluxo de pessoas, algo que, ordinariamente, demanda aumento de policiamento e não o seu completo cancelamento, exceto se os planos não envolvessem a segurança do público. Era este o caso do regime que não se organizava para proteger e salvar vidas, mas para exterminá-las. 

O caso Riocentro foi típico do terrorismo de Estado, planejado pelos militares da conhecida linha-dura do regime ditatorial brasileiro da qual o atual Presidente do Brasil e o seu grupo fardado mais próximo é saudosista. O propósito final da ação violenta daquele grupo era corroer e finalmente impedir o processo de “abertura lenta, gradual e segura” que havia sido anunciado pelo General Ernesto Geisel como norte político para a sua administração, muito embora logo fosse perceptível tratar-se apenas de estratégia política para assegurar as bases autoritárias do regime sem que a ala radical ganhasse mais espaços no poder. O caso Riocentro foi a gota d´água que impôs limitação às ações terroristas da ditadura militar, pois em face da configuração da opinião pública, qualquer outro movimento identificável de violência terrorista dos militares teria sido fatal e certamente abreviado o regime. 

Era assim neutralizada uma das armas mais sujas do poder ditatorial militar para a disputa política, ou seja, o Estado dispor de seus órgãos e recursos humanos para assassinar os seus cidadãos. O terrorismo de Estado pode ganhar diversas formas e faces, todas elas horrendas como as de seus capitães. Este deve ser sempre o objeto de primeiro combate por parte das forças democrático-populares, pois quando segmentos sociais reagem contra o arbítrio e a força crua do Estado, logo, é possível impor insuportáveis custos políticos à covardia transformada em poder sob as vestes do manto jurídico da legalidade mal composta traduzida no massacre de cidadãos. É este modelo de Estado, terrorista e torturador, que Bolsonaro e o séquito de militares de duvidosa formação intelectual e compromisso com a legalidade constitucional vem comemorando incessantemente a cada fatídico dia 31 de março de 2019, data marcada pela lembrança de torturas indescritíveis, ignomínia de toda sorte e sangue sendo jorrado de vítimas da covardia cuja comissão mesmo os mais sombrios humanos duvidariam. A democracia brasileira já perdeu quando ouvimos a primeira manifestação de torturadores e todos os que subverteram a ordem constitucional de 1964 sem que lhes fosse imposta qualquer punição, mas o campo para reação visando sua reconstrução permanece aberto.

A dança sombria e funesta à beira do abismo não deu ainda seu passo conclusivo e, enquanto o ébrio e genocida dançarino não é contido, resolve ele arriscar seu derradeiro passo tentando um duplo twist, armado, de previsível desfecho, insistindo no convite à morte e ao extermínio da população, com a mesma ansiedade tanatológica que moveu os organizadores do Riocentro. O genocida e sua missão não encontra ponto de contenção, senão quando é travado por forças superiores. O ânimo genocida esteve sempre residiu em potencial nas ações do conjunto de personalidades que elogiam o ódio à vida e o desejo do extermínio e pautam a conjugação de ambos como guia para as suas opções políticas. 

Neste final de mês de abril de 2021 quando testemunhamos mais de 401 mil mortos e o altíssimo risco às vidas de outras dezenas de milhares de brasileiros, número que pode facilmente alcançar a casa da ceifa de centenas de milhares de vidas, até aqui tão somente foi explicitado o compromisso com a promoção da morte como forma política que habita mentes que aliam o desprezo pela população brasileira a ocultos interesses econômicos cobertos pela bandeira imperial. Como naquela sombria quadra histórica da ditadura militar de 1964, desde o Planalto Central emanam sinais de morte e extermínio que não serão contidos senão sob força contrária de que apenas o povo dispõe. Tristes os criminosos que traem a pátria e pavimentam seus interesses particulares com o sangue de centenas de milhares sob a expectativa de que a impunidade lhes fará do futuro um lugar de regozijo. 

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Do El País: A ligação do clã Bolsonaro com paramilitares e milicianos (dando até empregos para parentes próximos de Adriano Magalhães da Nóbrega, que fora homenageado por Flávio) se estreitou com a eleição de Flávio

 

Do El País:

Leia um trecho do novo livro do jornalista, escritor e pesquisador Bruno Paes Manso, ‘A República das milícias’, publicado pela editora Todavia


  A ligação do clã Bolsonaro com a rede de paramilitares e milicianos que se formava na zona oeste se estreitou em 2002 com a eleição de Flávio Bolsonaro para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O deputado de apenas 22 anos, neófito no Parlamento, pretendia se vender como o representante político e ideológico dos “guerreiros fardados” que lutavam por espaço e poder nos territórios do Rio. Ao longo dos anos, coube a Fabrício Queiroz o papel de principal articulador dessa rede de apoio no mandato do deputado primogênito. Queiroz seria fundamental para ajudar a fortalecer a base de votos do clã Bolsonaro nos batalhões policiais, para onde levou Flávio, em sua primeira campanha, para pedir votos.

  Queiroz era amigo de Jair Bolsonaro desde os tempos do Exército. Eles se conheceram em 1984, no oitavo grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, na Vila Militar no Rio. Flávio, então, tinha três anos e chamava Queiroz de tio. Na mesma artilharia, em 1987, Queiroz conheceu o futuro vice-presidente Hamilton Mourão, trabalhando como motorista do jipe do oficial. Na época, Bolsonaro sugeriu ao soldado que prestasse concurso para a polícia. O ingresso de Queiroz na corporação ocorreu naquele mesmo 1987, e a relação de lealdade e confiança entre os dois se manteria desde então.

  Quando Flávio se elegeu deputado estadual, Jair Bolsonaro, o chefe do clã, estava em uma encruzilhada. Na época, final de 2002, Jair era uma figura com perspectivas eleitorais duvidosas. Folclórico no Congresso Nacional, com apelo restrito à parcela ultraconservadora do eleitorado, parecia destinado a perder força, a exemplo de diversos parlamentares populistas, defensores de uma polícia truculenta. Faltava a ele jogo de cintura para se aproximar dos partidos e dos colegas. Ostentava ainda um temperamento paranoico, o que parecia um empecilho aos acordos que definiam os poderes na Nova República. Na eleição de 2002, Jair obteve menos votos do que em suas duas eleições anteriores, apesar do sobrenome ainda ser popular. O futuro presidente do Brasil parecia satisfeito em seguir no Parlamento, diante da situação política adversa. Mas precisaria suar. A direita, sem espaço no período da redemocratização, também estava fragilizada naquele ano. Depois de três derrotas consecutivas, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva finalmente venceu as eleições e iniciou seu primeiro mandato como presidente.

  A eleição do filho mais velho de Jair Bolsonaro, o zero um, abriu espaço para a família no debate estadual da segurança pública. Flávio era o segundo rebento a ganhar uma eleição se valendo do nome da família. Dois anos antes, Carlos Bolsonaro, o zero dois, tinha sido o mais jovem vereador eleito da história do Brasil, com dezessete anos. Segurança pública, entretanto, não era um tema para debater no âmbito municipal. Na Assembleia Legislativa, Flávio poderia brilhar defendendo a bandeira populista do pai da guerra contra o crime. Com isso também poderia se destacar entre os mandachuvas da política fluminense, como os deputados Paulo Melo, Jorge Picciani e Domingos Brazão, pouco conhecidos fora do Rio, mas capazes de grande articulação no submundo político. Naquele ano, o futuro governador Sérgio Cabral Filho deixaria a Assembleia depois de três mandatos consecutivos, para concorrer ao Senado, de onde sairia para assumir o Governo do Rio em 2007.

  Flávio se movimentava com tranquilidade na zona de conforto da família Bolsonaro, entremeando sua pauta antidireitos humanos com projetos de lei em defesa da polícia e com homenagens a seus integrantes. Por sugestão do pai, Flávio entregou inúmeras medalhas a policiais, mesmo àqueles flagrados em ações suspeitas. Durante seus quatro mandatos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Flávio Bolsonaro aprovou 495 moções e concedeu 32 medalhas a policiais militares, policiais civis, bombeiros, guardas municipais e membros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. As homenagens, que naqueles anos não passavam de agrado à sua base eleitoral, acabaram deixando um rastro das afinidades da família Bolsonaro com os milicianos mais perigosos do Rio. A insistência em condecorar os maiores vilões da corporação deixou cristalizada a ideologia de guerra que Jair Bolsonaro sempre sustentou.

  As primeiras homenagens ocorreram ainda no primeiro ano do mandato de Flávio Bolsonaro, no dia 27 de outubro de 2003. O sargento Fabrício Queiroz estava entre os laureados e recebeu uma moção de louvor e congratulações concedida pelo Parlamento. A estrela principal, contudo, foi Adriano Magalhães da Nóbrega, o tenente que carregava na bagagem a marca da caveira do Bope e a parceria com Queiroz nas vielas da Cidade de Deus. Na homenagem, havia ainda sete integrantes do Grupo de Ações Táticas do 16º Batalhão de Olaria, onde Adriano passara a trabalhar poucos meses antes. [Posteriormente Adriano foi acusado de chefiar o grupo criminoso conhecido como Escritório do Crime, que teria envolvimento com a morte de Marielle Franco. Ele foi morto pela polícia baiana em fevereiro de 2020].

  O texto da homenagem era o mesmo para todos: “Com vários anos de atividade este policial militar desenvolve sua função com dedicação, brilhantismo e galhardia. Presta serviços à Sociedade desempenhando com absoluta presteza e excepcional comportamento nas suas atividades. No decorrer de sua carreira, atuou direta e indiretamente em ações promotoras de segurança e tranquilidade para a Sociedade, recebendo vários elogios curriculares consignados em seus assentamentos funcionais. Imbuído de espírito comunitário, o que sempre pautou sua vida profissional, atua no cumprimento do seu dever de policial militar no atendimento ao cidadão”. O fato de alguns homenageados serem suspeitos de extorsão não preocupava. Afinal, a prática era tolerada pela corporação. Os verdadeiros inimigos, no entender desse núcleo, eram os bandidos e os defensores de direitos humanos e dos controles estabelecidos pela legislação, que não entendiam os riscos envolvidos na guerra contra o crime.

  Algumas homenagens pareciam concebidas apenas para provocar polêmica. Eram oportunidades para um deputado sem brilho se afirmar como herdeiro das ideias folclóricas do pai. Em março de 2004, o homenageado foi o capitão Ronald Paulo Alves Pereira, que atuava no 22º Batalhão, por seus “importantes serviços prestados ao estado do Rio de Janeiro quando da operação policial realizada no Conjunto Esperança no dia 22 de janeiro de 2004 às 0h30 que resultou em confronto armado com marginais da Lei, onde três destes vieram a falecer, sendo um deles o meliante Macumba, líder do tráfico no Conjunto Esperança, Complexo da Maré, logrado êxito em apreender dois fuzis m16 a2, uma granada marca fmk de fabricação argentina, dois aparelhos de telefonia celular, um rádio transmissor da marca icom, 58 projéteis intactos de 5.56 mm e três projeteis de 7.62 mm”.

  Três meses antes, o capitão Ronald havia sido acusado de participar da chacina de quatro jovens —entre eles um garoto de treze anos— na casa de espetáculos Via Show, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Os jovens foram abordados no estacionamento pelo chefe da segurança de uma boate, formada por policiais que faziam bico. Geraldo, uma das vítimas, era soldado do Exército. Foi acusado de tentar roubar um carro pelo chefe da segurança, que acionou os policiais militares. Os PMs espancaram os garotos e os levaram para uma fazenda distante, onde foram torturados e depois assassinados com tiros de fuzil. Os corpos foram encontrados três dias depois num cemitério clandestino. Além de Ronald, oito policiais foram acusados pelo crime. Quatro acabaram condenados, sendo três deles soldados. Ronald, o único oficial envolvido na chacina, desmembrou o processo e continuou trabalhando normalmente como policial. Com o incentivo de políticos como o deputado Flávio Bolsonaro.

  No caso de Adriano e de seus colegas do Grupo de Ações Táticas do 16º Batalhão, a homenagem ocorreu um mês antes de uma situação suspeita e escandalosa, que estouraria em seguida. Depois da homenagem de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, Adriano e os policiais laureados foram presos, acusados de sequestro, tortura e extorsão de três jovens em Parada de Lucas, comunidade da zona norte da cidade. Segundo testemunhos, os policiais aplicavam a velha prática da mineração [tentativa de cobrar dinheiro de pessoas ligadas ao tráfico] e do arrego. Contudo, um homicídio em especial desafiou a Secretaria de Segurança, comandada na época por Anthony Garotinho, que assumira o posto na gestão de sua esposa e sucessora no governo do Rio, Rosinha Garotinho.

  A vítima de Adriano e sua tropa foi o guardador de carros Leandro dos Santos Silva, de 24 anos, morto com três tiros. Antes de ser assassinado, Leandro esteve na Inspetoria de Polícia, órgão criado por Garotinho com a finalidade de apurar desvios de policiais, para fazer uma denúncia. Contou que, na semana anterior, tinha sido espancado por policiais do 16º Batalhão e foi obrigado a pagar mil reais a eles. De acordo com o depoimento de Leandro, os policiais usaram sacos plásticos para asfixiá-lo e exigiram outros mil reais para deixá-lo em paz. Leandro foi levado à delegacia para confirmar as denúncias e depois encaminhado ao Instituto Médico Legal para o exame de corpo de delito. O subsecretário de Segurança, Marcelo Itagiba, e o inspetor combinaram com Leandro um flagrante, para prenderem o grupo no ato do pagamento do arrego. Não deu tempo. Ele foi assassinado às 6h30 na porta de casa.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

Office-boy de Pinochet nos anos 70-80, o Neoliberal entreguista Paulo Guedes quer que o povo morra, como o provam seus dizeres em diferentes momentos, captados em vídeo...

 

Do Canal Galãs Feios:

O ministro da economia Paulo Guedes afirmou que hoje em dia tá todo mundo querendo viver demais, chegar aos 100 anos. Ainda disse na mesma reunião que a China inventou o coronavirus. Na mesma reunião o General Eduardo Ramos contou que tomou a vacina escondida do presidente Bolsonaro. Helder comenta.


Vídeo e edição por: Marco Bezzi (https://www.instagram.com/marcobezzi/) Se inscreva no nosso canal e não deixe de ativar as notificações no sininho para não perder mais nenhum episódio: https://goo.gl/9l6Elt


Reinaldo Azevedo: A CPI da Covid caminha. Enquanto isso, bolsonaristas seguem apelando à burrice pelas ameaças de golpe, fake news e o gabinete do ódio

 


Do Canal BandeNews FM:



Dora Kramer comenta atuação de milícias digitais DO GABINETE DO ÓDIO BOLSONARISTA contra a CPI da Covid: "Essa é a arma que o governo tem"

 

Do Canal Rádio BandNews FM:




Plantão Brasil: Provas aparecem e devem levar Mandetta, que foi ministro da saúde de Bolsonaro, a ser massacrado na CPI da Covid/Genocídio

 

Do Canal Plantão Brasil, de Thiago dos Reis:




Reinaldo Azevedo: A vacina escondida do general Ramos, os 400 mil mortos e a vida do negacionista-chefe Bolsonaro

 

Do Canal BandNews FM:

Reinaldo Azevedo fala sobre o general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil. O militar deu sinal da sua "valentia" ao comentar a vacina contra a Covid-19, que tomou "escondido". O jornalista comenta a afirmação do general




Esquerda francesa apoia punição do Exército a militares de extrema-direita que assinaram manifesto claramente golpista

 

As forças armadas francesas vão punir os militares que assinaram documento pedindo uma "insurreição" contra a "desintegração" da França. Esquerda apoia posição "republicana" do Exército

Jean-Luc Melenchon, da França Insubmissa

Jean-Luc Melenchon, da França Insubmissa (Foto: Reuters)

247O Estado Maior das Forças Armadas da França anunciou punições contra os militares da reserva que assinaram um documento pregando a insurreição sob o pretexto de lutar contra a desintegração do país.

O manifesto dos militares foi apoiado pela líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen.

O líder do partido de esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Melenchon se manifestou pelo Twitter saudando a atitude do Estado Maior das Forças Armadas

"Hoje o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas francesas acaba de anunciar sanções contra os militares que denunciamos por terem assinado uma tribuna chamando à insurreição", escreveu Mélenchon, que elogiou o caráter republicano das Forças Armadas francesas: "Na França o exército é republicano e seu chefe demonstra isso", escreveu o dirigente de França Insubmissa. 

 

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Fala de Hitler em “A Queda” é semelhante a de Bolsonaro de que “o povo merece sofrer”

 

Do DCM:

O governo de Jair Bolsonaro é mundialmente conhecido por suas aproximações ao nazismo, seja na estética, seja no discurso. Agora com a pandemia, a prática vem se aproximando ainda mais. Não à toa lhe coube o epíteto de “genocida” e está para ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Hitler e Bolsonaro cortam o cabelo

 

Mas muito antes o próprio presidente já tinha laços com o regime que dizimou, de forma bárbara, milhões de pessoas, além de admiração pelo Führer. Como deputado medíocre, agindo sempre de forma grotesca e defendendo estupidezes, fazia questão de demonstrar seu deleite com o fascismo. Quem não se recorda, basta assistir a este vídeo em que exaltava as qualidades de Hitler, que tinha orgulho de seus antepassados terem lutado em tropas nazistas e que não teria dúvidas em estar junto. Afinal, “tem que entender aquela época”.

No dia de ontem (19), proferiu mais uma de suas sandices: “Pelo amor de Deus, um povo que, porventura, vote num cara desses é um povo que merece sofrer”. O proto-ditador e neofascista se referia à escolha livre e democrática do povo brasileiro em escolher o Lula novamente à presidência da República.

Como todo tirano se caracteriza pela covardia, pusilanimidade, mediocridade e crueldade, Bolsonaro mais uma vez se colou em sua referência, Adolf Hitler, que não tinha dúvidas que o escolhido povo alemão deveria perecer caso não fosse capaz de subjugar outros povos.

O filme A Queda, que retrata os últimos dias de Hitler e a Batalha de Berlim, foi feito a partir dos relatos escritos por sua secretária particular Traudl Junge, na obra Bis Zur Letzten Stunde, e no livro Der Untergang: Hitler und das Ende des Dritten Reiches, do historiador Joachim Fest.

Em uma das cenas, o Führer explica por que o povo alemão deve perecer, já que não venceu a guerra. Não é um povo à altura da tarefa que deveria cumprir. A ideologia nazista, embebida no existencialismo e niilismo de origem nietzscheneana, considerava que apenas os fortes deveriam imperar e os fracos serem exterminados. Toda glória ao Übermensch!

Assim como o nanico Hitler, o apedeuta Bolsonaro, o mais medíocre dos homens, aquele que não enxerga a si mesmo, é incapaz de ter o mínimo de humanidade para com o povo que governa – os 380 mil mortos e a entrega do país estão aí para comprovar – assim como não tem a coragem, que tanto exige dos outros, de encarar Lula, o qual, pelo visto, é seu grande terror.

Bolsonaro é daqueles homúnculos que preferem morrer a encarar os desafios da vida, olhar o diferente. E, no caso, nem vale a pena fazer alguma referência à democracia.

Para pusilânimes como ele, cabe o suicídio de uma nação inteira, a “solução final”. Este é o olhar típico do pequeno burguês, lacaio da classe dominante, que não consegue encarar o jogo político democrático. Incapaz de aceitar que há diferentes e que a sociedade deve buscar as escolhas coletivas para se construir como nação.

São incontáveis as bestialidades proferidas por Bolsonaro que lembram Hitler. O povo o escolheu, seja lá por quais motivos e em quais condições. Mas isso não lhe dá o direito de exterminar esse mesmo povo. Tampouco o povo pode esperar alguma clemência ou ato decente desse governante. Deve se organizar e tirá-lo do poder antes que uma catástrofe maior se realize.

No trecho abaixo do filme A Queda, Hitler, interpretado magistralmente por Bruno Ganz, explana toda sua indigência intelectual e humana: “Se a guerra está perdida é relevante se o povo também perece. Não é necessário levar em consideração as necessidades primitivas do povo alemão. Muito pelo contrário, é bem melhor que nós mesmo destruamos essas coisas. O povo tem dado muitas provas de ser fraco demais, e faz parte da lei da natureza que seja exterminado.”

Eurodeputados defendem que Bolsonaro seja investigado por “gestão criminosa” na pandemia

 Em debate no Parlamento Europeu nesta quinta (29), deputados defenderam que Jair Bolsonaro seja “investigado” pela gestão da crise sanitária no Brasil.


Evaristo Sá/AFP

O país foi alvo de críticas na Casa Legislativa.

A deputada alemã do Partido Verde Anna Cavazzini afirmou que o que ocorre no Brasil “é uma tragédia provocada por decisões políticas deliberadas”.

“Desde o começo da crise, Bolsonaro se recusou a tomar decisões e rejeitou medidas cientificamente comprovadas. Ele reduziu a importância da pandemia, se opôs à vacinação e tentou ações em tribunas contra lockdown”, completou.

O eurodeputado espanhol Miguel Urban Crespo afirmou que a “gestão criminosa de Bolsonaro” declarou guerra à ciência ao invés do coronavírus.

“Sua necropolítica e sua política da morte constitui um crime contra a humanidade que deve ser investigado. Hoje, Bolsonaro é um perigoso para o mundo todo e o povo brasileiro não merece”, defende.

O político espanhol Javi Lopez declarou que o presidente brasileiro é “um risco para a vida dos brasileiros e para toda a humanidade”.

Katalina Cseh, da Hungria alega que ele “optou por ser parte do problema”.

Leila Chaibi, da França, deixou claro que “a política criminosa de Jair Bolsonaro não é inocente. A tragédia aumenta”.

Fonte: Diário do Centro do Mundo, com informações da Coluna de Jamil Chade no UOL.

Os conflitos entre a esquerda e a nova direita progressista, por Luis Nassif

Enquanto Biden alertava para o custo da saúde privada nos EUA, Paulo Guedes propunha a privatização do SUS em encontro fechado

Os conflitos entre a esquerda e a nova direita progressista, por Luis Nassif

Ontem à noite, o discurso do presidente norte-americano  Joe Biden foi a pá de cal no modelo de desmonte do estado norte-americano, iniciado na era Reagan.

Fio uma inversão completa nos objetivos da política econômica, algo que nem Barack Obama – mais à esquerda – conseguiu. Não mais foco em Wall Street, mas na classe média, que construiu os Estados Unidos. Defesa dos pobres, das crianças, do aumento do salário mínimo, da economia verde, da solidariedade nacional, da proteção às famílias, da universalização da educação. Ao mesmo tempo, o chamamento para a compra de produtos americanos e para a mobilização do país para a disputa tecnológica e econômica com a China.

É um capítulo a mais, e o mais significativo, da mudança radical do ultraliberalismo que dominou o mundo nos últimos 40 anos.

Enquanto Biden alertava para o custo da saúde nos EUA, Paulo Guedes propunha a privatização do SUS em encontro fechado.

Os reflexos sobre o Brasil se darão em cima de dois grupos, ambos disputando as chamadas pautas progressistas: a esquerda progressista, que tem como base o PT; e a nova direita progressista, um grupo de pessoas de boa vontade, que tenta empoderar o centro-direita com teses politicamente corretas, tentando reescrever um liberalismo menos selvagem, mas mantendo a hegemonia do mercado. 

Em muitos pontos, há concordância, especialmente nas proposições de boa vontade. O conflito surge nos temas em que se exteriorizam disputas de poder e pelo orçamento.

Os pontos de conflito.

Sindicatos

Setores modernos no país ainda não entenderam o papel essencial dos sindicatos no fortalecimento dos setores em que atuam. A rigor, apenas o pai do neoliberalismo brasileiro – Fernando Collor – deu-se conta da relevância dos grandes pactos setoriais, entre empresas, sindicatos, fornecedores, nas câmaras setoriais que criou.

Muitos setores embarcam em um paradoxo suicida: aceitam mudanças que podem trazer benefícios individuais a cada empresa, sem se dar conta das perdas para o setor em geral, pela  superficialidade das análises.

Nos Estados Unidos houve o enfraquecimento gradativo dos sindicatos. Quando teve início a transferência da produção para a China, os industriais americanos não tinham aliados para impedir a sangria. Daí a ênfase do novo presidente Joe Biden, no re-fortalecimento do movimento sindical como parte de um esforço geral de recuperação do mercado e da produção interna americana.

Por aqui, ocorreu o mesmo fenômeno. Até alguns anos atrás, era possível acompanhar pactos entre a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) com centrais sindicais, especialmente na crise de 2008. Com a ascensão do governo Temer teve início o desmonte da estrutura sindical. E as indústrias perderam seus grandes aliados.

Da parte das esquerdas, há dificuldade dos sindicatos em entender a nova ordem e definir alianças horizontais fora da bolha, ou em mudar o modelo de atuação para abrigar os setores informais da economia. Ou mesmo em mudar as regras de disputa para abrir espaço para uma co-gestão com outras forças, inclusive de oposição.

Educação participativa

participativa

No final do segundo governo Lula, as Conferências Nacionais produziram alguns ensaios de pactos que poderiam ter mudado a história do país. Um deles foi o pacto pela educação, no qual ONGs empresariais, movimentos sociais, sindicatos de professores, associações de secretarias de educação começaram a formar um consenso que poderia consolidar um futuro partido da educação – como existe o partido da saúde, suprapartidário.

Aceitava-se que os professores tinham que ter melhores salários, melhores condições de ensino e, a partir daí, serem avaliados e cobrados. Depois, se diluiu e a centro-direita educacional tucana se curvou ao estilo yuppie autoritário de Maria Helena Guimarães, e sua suposta racionalidade gerencial. É impossível qualquer política de qualidade – em empresas, ou em setores sociais – sem a participação dos que entregam o produto final.

O apoio da nova direita progressista ao enquadramento da educação em atividade essencial – diluindo a influência dos sindicatos e até o exercício da greve – é o indício mais evidente dessa miopia típica do gerencialismo burocrático. Nenhuma empresa, pública ou privada, consegue implementar programas de qualidade sem conquistar coração e mentes dos trabalhadores da ponta.

Da parte das esquerdas, ainda há uma enorme resistência aos sistemas de avaliação.

Gerencialismo burocrático

Gerencialismo burocrático

Um exemplo simples, colhido também na área de educação. As escolas rurais garantem o ensino a populações vulneráveis, do campo. Mas também reduzem as notas do estado no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Fechando as escolas rurais, o Estado piora seus indicadores sociais, deixa de cumprir seus compromissos em relação aos Índice de Desenvolvimento Humano, mas melhora o IDEB. E, com a melhoria do IDEB, melhora os indicadores de eficácia financeira e o governo sai consagrado.

Orçamento

Outro ponto hipócrita são os discursos solidários a favor do combate à miséria, à desigualdade, a favor das políticas distributivas, desde que não se inclua o pobre no orçamento. Cria-se um vício insanável, de colocar como meta das políticas públicas – especialmente educação e saúde – a redução dos gastos, de fazer o mesmo com menos – e não de fazer mais com mais.

Não é possível discutir recursos para a área social sem analisar os impactos das políticas monetária e fiscal e da Lei do Teto. É discutir consequência sem causa. Não adianta o bom mocismo de criticar as disparidades de renda sem se debruçar sobre o modelo tributário e sobre a distribuição dos tributos, recaindo sobre o consumo (e, por causa disso, sobre classes de menor renda) e isentando os altos ganhos.

Consumidores x acionistas

Estatais estratégicas

Uma das maiores distorções atuais é a não compreensão do papel das empresas estatais, especialmente em setores estratégicos. Por tal, entendam-se setores que impactam a economia como um todo, ou que produzam insumos estratégicos essenciais.

Por exemplo, Correios, energia, bancos de desenvolvimento, saneamento público, Sistema Único de Saúde.

Os progressistas de mercado não conseguem medir retorno social ou econômico. A única métrica é a lucratividade, porque se reflete na distribuição de dividendos. E muita distribuição de dividendos significa menos investimento.

Com a pandemia, essa lógica perversa será revertida.

Mas ainda há um longo caminho a percorrer até que a racionalidade se imponha sobre os enquadramentos políticos.

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Cúmplices de miliciano morto ligaram para o “Jair” da Casa de Vidro. Zambelli, a exaltadora de militares e da extrema direita, tenta destroçar a CPI. Novas ameaças de Bolsonaro. Mas milhões debatem: Viih Tube defecou ou não?

 


Do Cana  do analista político Bob Fernandes:




CRÉDITOS Direção Geral: Bob Fernandes Direção Executiva: Antonio Prada Produção: Daniel Yazbek Edição: Yuri Rosat Arte e Vinhetas: Lorota Música de abertura e encerramento: Gabriel Edé Este vídeo é produção do canal de Bob Fernandes. Vídeos novos todas terças e quintas, sempre, e demais postagens a qualquer momento necessário.

O Reacionário Clube Militar (um dos responsáveis pela tragédia da eleição de Bolsonaro) diz que CPI da Covid “é a treva no Brasil” e vira piada das pessoas nas redes: “inúteis”

 

Uma suposta nota emitida pelo Clube Militar condena a implantação da CPI do Senado e sai em defesa de Jair Bolsonaro. ““O Brasil é a Pátria do evangelho! Natural, portanto, que o poder das trevas queira destruir nossa Nação”, diz comunicado

(Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

247- Uma suposta nota emitida pelo Clube Militar condenando a implantação da CPI do Senado, que investiga as irregularidades do governo no combate à pandemia, virou motivo de piada nas redes sociais. 

No comunicado, os militares saem em defesa de Jair Bolsonaro. ““O Brasil é a Pátria do evangelho! Natural, portanto, que o poder das trevas queira destruir nossa Nação”, diz  comunicado.

Veja a repercussão: