quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Carla Borges e Camilo Vannuchi: Autoritarismo e violência militarista e opressora do Estado não são questões do passado


Na Comissão da Verdade, "a gente sempre falava 'conhecer para não repetir', e agora nem sei se a gente poderia mais usar esse lema, porque está se repetindo". Assista


Jornal GGN – “A gente está vivendo um período bastante difícil e frustante, onde as semelhanças com o período [da ditadura] são imensas.” A sentença é da Carla Borges, ex-coordenadora de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da gestão Fernando Haddad em São Paulo. Carla não está sozinha em sua percepção.
Em entrevista a Luis Nassif, na tarde desta segunda (10), o jornalista e escritor Camilo Vanucchi, ex-membro da Comissão da Verdade de São Paulo, também traçou paralelos com o autoritarismo e a violência de Estado que o Brasil registrou no regime miliar e os tempos atuais.
“A gente está vivendo num momento completamente distópico, em que essa violência está presente. A gente nunca parou de ter ocultação de cadáveres e tortura na população periférica”, disse.
Nos governos passados, a proliferação de comissões da verdade, como lembrou Camilo na entrevista, visava, em parte, “registrar esses crimes e violações que aconteceram, justamente para a gente deixar orientações e um arcabouço teórico com propostas para que não volte a acontecer.”
Mas o trabalho ficou incompleto. De um lado, o pilar da Justiça foi enterrado com a Lei de Anistia. De outro, a sociedade tampouco desenvolveu uma memória similar ao que ocorreu nos vizinhos latinos americanos. O resultado é o passado de autoritarismo e violência sendo exaltado e exortado, pela extrema-direita, a se repetir.
“A gente sempre falava: ‘conhecer para não repetir’. E agora nem sei se a gente poderia mais usar esse lema, porque está se repetindo”, pontuou Carla. “A gente percebe que essa política de extermínio dos indesejáveis não já é uma coisa que a gente testemunha só agora.”
“Falar de ditadura militar não é falar só de um passado esquecido. Assim como falar do genocídio da juventude preta, pobre, periférica não é só falar de agora. É importante que esse trabalho possa ter a conexão do ontem e do hoje”, ela comentou.
“Não sei se a gente pode mais falar que é ‘para que não mais aconteça’, porque a gente está vivendo num momento em que muita coisa voltou. Vejo as coisas cíclicas, a terra plana também gira, mas espero que a gente consiga ultrapassar essa fase”, acrescentou Camilo.
Para Carla, Bolsonaro “já deu claras marcas de autoritarismo” e revisionismo histórico. “O negacionismo da violência de Estado se espalha por várias frente e não é de agora. Vem disso, da gente nunca ter interrompido essa cultura de violência estatal que marca nossa história.”
“Acho que a gente pode pagar um preço caro por não ter penalizado [os torturadores da ditadura] e concluído essa etapa [da história] que outros [países] conseguiram”, acrescentou Camilo.
Assista:


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