sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

O golpe valeu a pena para 1% da população, por Manfredo de Oliveira e introdução de Leonardo Boff


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MANFREDO DE OLIVEIRA é  brilhante professor de filosofia da Universidade Federal do Ceará. Sua filosofia aborda preferentemente temas de política e ética acompanhando a produção acadêmica mais séria daqui e de fora. É uma das inteligências mais lúcidas que temos no campo da filosofia política e da ética, além de dominar o campo da teologia. Depois que se passou  um ano do que se perpetrou contra a Presidenta Dilma Rousseff temos a distância suficiente e os dados necessários pasra considerar os reais propósitos do assim chamado golope jurídico-parlamentar-mediático ocorrido em 2016. É importante termos esclarecimentos sobre esta situação que é recorrente em nossa história, especialmente o que faz a oligarquia brasileira quando se sente ameaçada pela ascensão das classes populares marginlizadas que querem mais participação na sociedade e na riqueza gerada pelo seu trabalho. O texto foi publicado pelo Instituto Humanitas de Unisinos do dia 20/12/17  sob o título Valeu a pena?  - Leonardo Boff


Valeu a Pena?

“O ano se aproxima do fim e a direção que está sendo dada ao país está tornando possível às pessoas entenderem que o que estava em jogo no afastamento do governo anterior era, na realidade, mais uma versão de uma característica do Brasil marcado, desde a primeira metade do século XX, pelas mudanças estruturais das sociedades modernas”, escreve Manfredo Araújo de Oliveira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Como afirma Jessé Souza: “… a vida política do Brasil, desde então, é dominada por golpes de Estado movidos pela elite do dinheiro com o apoio da imprensa e da base social da classe média, sempre que a soberania popular ameaçar ou efetivar, por pouco que seja, interesses das classes populares”. Trata-se sempre de um amplo acordo de interesses entre as diversas elites que agora é comandado pela elite financeira.
Por isto, o primeiro interesse a ser considerado é o interesse econômico uma vez que a elite econômica pode comprar todas as outras elites através de diferentes estratégias. Por exemplo, ela apoiou sua sócia no saque da sociedade, que é a mídia, e tentou comprar as eleições através do financiamento das campanhas e pela cooptação de um aliado de ocasião dentro do Estado, o aparato jurídico-policial. Para ele, o golpe não teria acontecido sem a politização do judiciário o que agora aparece em nova luz: a Constituição é deixada de lado, direitos são negados. Isto faz aparecer a natureza do que se articulou: a junção de capitalismo selvagem de rapina e do enfraquecimento das garantias democráticas. A execução do plano foi um jogo de mestres: em nome da justiça e da moralidade se fez um violento ataque à democracia e às garantias constitucionais. Uma vez consumado o golpe, todos os interesses articulados partem para a rapina e o saque do espólio: vender as riquezas brasileiras, em primeiro lugar o petróleo, cortar gastos sociais já que o que  vale primeiro é o interesse do 1% mais rico.
Onde ficam os pobres neste projeto? No esquecimento, na marginalidade, com salários aviltantes por serviços à classe média e às empresas dos endinheirados. Os juros bancários estão entre os maiores do mundo e constituem uma espécie de taxa universal que se adiciona a todos os preços de mercado, pesando arbitrariamente sobre todas as classes sociais, proporcionalmente mais sobre os pobres, a fim de drenar o produto do trabalho de todos para o bolso da elite do dinheiro. Como diz Dowbor: “Os bancos e outros intermediários financeiros demoraram pouco para aprender a drenar o aumento da capacidade de compra do andar de baixo da economia, esterilizando em grande parte o processo redistributivo e a dinâmica e o crescimento estimulado  pela demanda”.
Esta é, diz Jessé, a verdadeira “corrupção brasileira”, escandalosa, mas invisível, que faz com que o trabalho de todos vá parar no bolso de menos de 1% e privilegiados “que não apenas vampirizam a sociedade e sua capacidade produtiva, mas colonizam a democracia e a sociedade para seus fins”. Estes podem afirmar tranquilos: o golpe valeu a pena!

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