Desafio urgente: a
responsabilidade socio-ambiental das empresas
Texto de Leonardo Boff
Fonte: http://leonardoboff.wordpress.com/2013/08/23/desafio-urgente-a-responsabilidade-socio-ambiental-das-empresas/
23/08/2013
Já se
deixou para trás o economicismo do Nobel, Milton Fridman que no Time de
setembro de 1970 dizia:” a responsabilidade social da empresa consiste em
maximalizar os ganhos do acionistas”. Mais realista é Noam Chomsky: “As
empresas é o que há de mas próximo das instituições totalitárias. Elas não têm
que prestar esclarecimento ao público ou à sociedade. Agem como predadoras,
tendo como presas as outras empresas. Para se defender, as populações
dispõem apenas de um intrumento: o Estado. Mas há no entanto uma
diferença que não se pode negligenciar: enquanto, por exemplo, a General
Electric, não deve satisfação a ninguém, o Estado deve regularmente se explicar
à população”(em Le Monde Diplomatique Brasil, n. 1, agosto 2007, p. 6).
Já há
décadas que as empresas se deram conta de que são parte da sociedade e que
carregam a responsabilidade social no sentido de colaborarem para termos uma
sociedade melhor.
Ela pode
ser assim definida: A responsabilidade social é a obrigação que a empresa
assume de buscar metas que, a meio e longo prazo, sejam boas para ela e
também para o conjunto da sociedade na qual está inserida.
Essa
definição não deve ser confundida com a obrigação social que significa o
cumprimento das obrigações legais e o pagamento dos impostos e dos encargos
sociais dos trabalhadores. Isso é simplesmente exigido por lei. Nem
significa a resposta social: a capacidade de uma empresa de responder às
mudanças ocorridas na economia globalizada e na sociedade, como por exemplo, a
mudança da politica econômica do governo, uma nova legislação e as
trasformações do perfil dos consumidores. A resposta social é aquilo que uma
empresa tem que fazer para adequar-se e poder se reproduzir.
Responsabilidade social vai além disso tudo: o que a empresa faz, depois de cumprir com todos os preceitos legais, para melhorar a sociedade da qual ela é parte e garantir a qualidade de vida e o meio ambiente? Não só que ela faz para a comunidade, o que seria filantropia, mas o que ela faz com a comunidade, envolvendo seus membros com projetos elaborados e supervisionados em comum. Isso é libertador.
Nos
últimos anos, no entanto, graças à consciência ecológica despertada pelo
desarranjo do sistema-Terra e do sistema-vida surgiu o tema da responsabilidade
socio-ambiental. O fato maior ocorreu no dia 2 de fevereiro do ano de 2007
quando o organismo da ONU que congrega 2.500 cientistas de mais de 135 países o
Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), após seis anos de
pesquisa, deu a público seus dados. Não estamos indo ao encontro do aquecimento
global e de profundas mudanças climáticas. Já estamos dentro delas. O estado da
Terra mudou. O clima vai variar muito, podendo, se pouco fizermos, chegar
até a 4-6 graus Celsius. Esta mudança, com 90% de certeza, é androgênica, quer
dizer, é provocada pelo ser humano, melhor, pelo tipo de produção e de consumo
que já tem cerca de três séculos de existência e que hoje foi globalizado. Os
gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono e o metano são os
principais causadores do aquecimento global.
A questão
que se coloca para as empresas é esta: em que medida elas concorrem para
despoluir o planeta, introduzir um novo paradigma de produção, de consumo e de
elaboração dos dejetos, em consonância com os ritmos da natureza e a teia da
vida e não mais sacrificando os bens e serviços naturais.
Esse é um
tema que está sendo discutido em todas as grandes corporações mundiais,
especialmente depois do relatório de Nicholas Stern (ex-economista-senior do
Banco Mundial), do relatório do ex-vice presidente dos USA Al Gore, “Uma
verdade incômoda” e dos várias Convenções da ONU sobre o aquecimento global. Se
a partir de agora não se investirem cerca de 450 bilhões de dólares anuais para
estabilizar o clima do planeta, nos anos 2030-2040 será tarde demais e a Terra
entrará numa era das grandes dizimações, atingindo pesadamente a espécie
humana. Uma reunião de julho de 2013 da Agencia Internacional de Energia (AIE)
enfatizava que as decisões tem que ser tomadas agora e não em 2020. O ano 2015
é nossa última chance. Depois será tarde demais e iríamos ao encontro do
indizível.
Estas
questões ambientais são de tal importância que se antepõem à questão da simples
responsabilidade social. Se não garantirmos primeiramente o planeta Terra com
seus ecosistemas, não há como salvar a sociedade e o complexo empresarial.
Portanto: é urgente a responsabilidade socio-ambiental das empresas e dos
Estados
Leonardo
Boff escreveu: Sustentabilidade: o que é o que não é, Vozes 2012.
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