quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Lama a Jato, por Guilherme Scallzili

   A cada depoimento novo, o cenário da Lava Jato fica mais constrangedor para a oposição. A imprensa tucana faz algazarra em torno das menções dos delatores a Dilma e Lula, mas o que vemos é um número crescente de elos com José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, etc.


Lama a jato, por Guilherme Scalzilli

Publicado no Brasil 247
A cada depoimento novo, o cenário da Lava Jato fica mais constrangedor para a oposição. A imprensa tucana faz algazarra em torno das menções dos delatores a Dilma e Lula, mas o que vemos é um número crescente de elos com José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, etc.
Inflado pela mídia corporativa, Sérgio Moro convenceu-se de que podia criminalizar as maiores empreiteiras do país e ao mesmo tempo manter o processo focado nos petistas. Mas suas pretensões exacerbadas são inconciliáveis com o viés seletivo dos inquéritos.
Ao longo dos intermináveis ritos processuais será impossível desnudar as construtoras sem atingir as doações para candidaturas do PSDB e os contratos no metrô de São Paulo, por exemplo. As menções a Serra nos emails da Odebrecht (e as canhestras tentativas de ocultá-las) fornecem um indicativo dos monstros ocultos nesses armários.
Algo parecido amedronta os ministros do STF. Se tratarem os políticos citados sob critérios menos rigorosos do que usaram no julgamento do “mensalão”, escancaram o partidarismo de seus votos submissos a Joaquim Barbosa. Repetindo aquela verve condenatória, precisarão meter a cúpula oposicionista na cadeia.
Eis o dilema central de Moro e seus asseclas: quanto mais eficazes forem do ponto de vista jurídico, mais perigosos se tornam politicamente. O esforço para manter as investigações em certos eixos convenientes evidencia a preocupação com esses limites. A cronologia usada para o escândalo da Petrobrás fala por si.
E os justiceiros estão certos. A Lava Jato não sobrevive uma semana se extrapolar os limites da atual base governista. Logo surgiriam os editoriais pedindo cautela, os protestos da OAB, as admoestações do CNJ e as interferências das cortes superiores. Prender tucano é coisa que a boa sociedade não aceita e ponto final.
Talvez se precavendo desses perigos, a alcaguetagem comandada por Moro teve tantas falhas rudimentares. Grampos ilegais, vazamentos seletivos e outras esquisitices dificilmente sairão ilesos dos trâmites processuais. É mesmo previsível que as irregularidades inviabilizem boa parte das ações, quando não as anularem por completo. Já vimos esse filme antes, aliás.
A estratégia delatora presume um componente de barganha que dá sentido muito próprio a deslizes que podem favorecer os réus em longo prazo. No mínimo insinua que a efetiva punição dos empreiteiros não configurava o objetivo central dos inquéritos.
Assim compreendemos por que a oposição tenta agravar logo o desgaste do governo federal. O impeachment selaria a utilidade partidária do justiciamento de Moro, garantindo a blindagem dos outros interesses que ele ameaça. Seria um alívio para as próprias defesas, que enfim sorveriam o desvio da atenção midiática.
O golpe representa uma cortina de fumaça para o vergonhoso desfecho que a Lava Jato previa desde o início. Além de alvos de um procedimento político, Dilma e o PT são bodes expiatórios da impunidade dos seus adversários.

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