segunda-feira, 30 de maio de 2016

Xadrez do PMDB jogado ao mar, por Luis Nassif seguido do comentário-artigo Narrativa quebrada de um Golpe em andamento, de Onkoto

"Mesmo com a perda de dimensão eleitoral, por falta de alternativas o PSDB se manteve o partido com melhores ligações com as estruturas máximas de poder: o poder econômico paulista, os grupos de mídia, o Judiciário e o Ministério Público (que, a partir da liberdade concedida pelos governos do PT, tornou-se poder de fato), além das relações internacionais.
O PMDB representa apenas poderes regionais e uma malta que emergiu do Brasil profundo no bojo das distorções criadas pelo sistema de coligações partidárias." - Luis Nassif
" (...) a estratégia aparente era pegar primeiramente o PT e alavancar a opinião pública, incluir o PP (muito corrompido e dentro da base do PT), remover/afastar a Presidente Dilma. Em segundo momento, minar o PMDB, este ainda mais sujo que o PP, e facilmente derrubado. (acho que eles todos não contavam com tanta incompetência dos caciques pmdbistas). Depois... aqui acho que eles se dividem, com parte querendo avançar sobre o PSDB e limpar tudo, e outra parte blindando estes. Mas como a história ainda está em andamento, nao dá pra escrever o que não aconteceu." Onkoto

Luis Nassif.- Primeiro, alguns flashes da estrutura de poder no país e de suas derivações para o jogo político-partidário.
Desde a redemocratização, apenas dois partidos se tornaram alternativas efetivas de poder, o PSDB e o PT. Os demais – PFL/DEM e PMDB – sempre se comportaram como partidos secundários que ajudavam a construir a base parlamentar de apoio ao governo.
Mesmo com a perda de dimensão eleitoral, por falta de alternativas o PSDB se manteve o partido com melhores ligações com as estruturas máximas de poder: o poder econômico paulista, os grupos de mídia, o Judiciário e o Ministério Público (que, a partir da liberdade concedida pelos governos do PT, tornou-se poder de fato), além das relações internacionais.
O PMDB representa apenas poderes regionais e uma malta que emergiu do Brasil profundo no bojo das distorções criadas pelo sistema de coligações partidárias.
Quando se menciona um Alto Comando do processo do impeachment, pensa-se necessariamente em setores do PSDB ligados a FHC-Serra, na Procuradoria Geral da República, na Globo e em parte do Supremo Tribunal Federal (STF) influenciado por Gilmar Mendes.
Este é o eixo central.
Entendido esse ponto, ganham lógica informações aparentemente contraditórias – como a continuação dos vazamentos e as ameaças da Lava Jato sobre personagens que tiveram papel ativo na derrubada de Dilma, além da defenestração de Aécio Neves.
A Lava Jato não vai parar. Ou melhor, só irá parar quando bater no centro de poder do PSDB.
Entra-se agora na segunda fase do jogo, que consiste em impedir a volta de Dilma e, ao mesmo tempo, jogar ao mar as lideranças do PMDB que participaram do golpe.

Os fatores condicionantes do jogo político

Primeiro, vamos a um balanço dos fatores que condicionarão os cenários políticos:
Fator 1 - Derretimento da legitimidade do governo interino.
A cada dia que passa mais se amplia a perda de legitimidade. Longe de refletir a inexperiência inicial de um governo novo, a sucessão de desastres políticos mostra a prepotência de uma horda de bárbaros que ainda não entendeu o tamanho do país.
Fator 2 - O derretimento da banda peemedebista do grupo de poder.
Parte relevante do desgaste se deve aos Ministros suspeitos do governo interino. Sem fatos novos, não haverá como o governo interino conviver com a narrativa cada vez mais sólida de que o golpe visou blindar o grupo de poder. O fato das investigações estarem centradas nessa banda apenas é elemento central do nosso cenário final.
Fator 3 - Dificuldades no Legislativo com a base política heterogênea.
Como resultado da não conquista da credibilidade, haverá dificuldades de monta em aprovar o pacote de maldades planejado pelo Ministro da Fazenda Henrique Meirelles. No início, parecia que as resistências seriam contra a mudança de regras na Previdência. Mais rapidamente do que o previsto, está caindo a ficha do Congresso sobre os impactos da desvinculação orçamentária sobre saúde e educação.
A retirada dos subsídios para as faixas de baixíssima renda do MCMV (Minha Casa Minha Vida) foi uma sinalização eloquente da falta de mínimo verniz político e social da área econômica do governo interino. Por dez mil réis escancaram a bocarra anti-social em cima do setor mais vulnerável da sociedade.
Fator 4 - A ofensiva seletiva da Lava Jato e da mídia, com o uso de gravações.
Está nítido que o pacto para conter a Lava Jato passa pelo Ministro Gilmar Mendes. Mas o leão não se contentou com a carne fresca dos petistas. O próximo prato será das lideranças peemedebistas e de parlamentares da base.
(Nos comentários, o leitor que assina Onkoto traz uma ótima análise para completar o entendimento sobre o momento)
Fator 5 - a inviabilização de Aécio Neves.
Aécio Neves nunca teve papel relevante junto ao Alto Comando. Faltavam-lhe fôlego, envergadura política, capacidade de análise e de formulação. Seu trunfo era o recall das eleições de 2014. As sucessivas menções em delações e a inacreditável blindagem penal garantida por Gilmar Mendes, na prática inviabilizaram sua candidatura pela exposição de seu passado político – mesmo que seja penalmente blindado. Tornou-se dispensável. Esse fato tem desdobramentos nas estratégias do Alto Comando, na medida em que deixa o PSDB sem candidato competitivo para novas eleições.
Fator 6 - a possibilidade de reversão do impeachment.
A imagem de Dilma Rousseff está passando pelo estágio do terceiro perdão. Trata-se de um fenômeno característico do mercado de opinião, a reavaliação dos ídolos caídos. No poder, o estilo seco de Dilma era lido como arrogância; apeada do poder por um golpe, passa a ser visto como altivez. Dilma ainda é beneficiada pela comparação com o esquema de poder que ascendeu. Mas não lhe garante a governabilidade, caso caia o impeachment.
As alternativas políticas
Os cenários abaixo não se baseiam em informações objetivas, mas em indícios e deduções. Logo, precisam ser relativizados.
No momento, vê-se duas estratégias políticas sendo esboçadas, ainda de forma embrionária.
Alternativa 1 - adiamento das eleições de 2018 e ampliação do golpe com o judiciário
Junte e consolide as seguintes informações que apareceram esparsamente na mídia.=

1. Reunião de Temer com o general Sérgio Etchegoyen, Gabinete de Relações Institucionais (GSI) e os três comandantes militares.

Até agora não foi dada uma explicação lógica para esse encontro. 

2. Entrevista do novo Ministro da Defesa desqualificando o Congresso e defendendo a Lava Jato até "as últimas consequências".

É a retórica que se enquadra nessa noção de golpe parlamentar com aval do judiciário (http://goo.gl/CZJd6w).
Na entrevista, Raul Jungman (PPS, partido auxiliar do PSDB) diz que “o Congresso chegou no fundo do poço”. O que explica um Ministro de um governo que diz depender desesperadamente do Congresso desancar dessa forma o parlamento?
No decorrer da entrevista, aparece uma lógica clara. Jungman enfatiza a posição legalista das Forças Armadas e diz que nada pode ser fora da Constituição.
Na sequência, define a Constituição de 1988 como "a Constituição do Ministério Público, das prerrogativas do Poder Judiciário e de um aumento inédito da autonomia da Polícia Federal em relação à política".
Diz que qualquer crise tem que passar pelo Congresso. Mas espera que a Lava Jato faça uma limpeza na casa para que a "parcela regeneradora" do Congresso ajude o presidente interino a tirar o país da crise.
Alguma dúvida? Sendo tudo feito dentro da lei, inclusive a inabilitação ou até prisão de Lula, caberá às Forças Armadas garantir a ordem e a Constituição.

3. Encontro noturno entre Gilmar Mendes e Michel Temer


Não há tema administrativo que justifique encontros noturnos, em fins de semana e fora do ambiente de trabalho e do regiustro na agenda, entre um presidente interino, provável réu de processos no STF, e um Ministro do Supremo que, nos últimos dias, empenhou-se em bloquear investigações da Lava Jato, justamente contra Aécio Neves.
Até agora, Gilmar tem sido o goleiro para impedir qualquer gol da Lava Jato que fuja do script por ele defendido.
Esse conjunto de evidências amplia a possibilidade de uma estratégia visando permitir ao PSDB assumir o governo Temer – pelo afastamento da banda do PMDB – e trabalhar pelo adiamento das eleições de 2018.
Ou - o que é mais provável - pela implantação do chamado semiparlamentarismo, como lembrou o comentarista PauloBr.

Alternativa 2 – eleições gerais

Em função do desastre inicial do governo Temer, das ousadias antissociais, do atrevimento em promover mudanças constitucionais sendo apenas interino, e da recuperação da popularidade de Dilma, há a possibilidade do impeachment ser derrubado na votação final do Senado.
O maior empecilho é a constatação de que Dilma poderá recobrar o cargo, mas é quase impossível que recobre as condições de governabilidade. Ela não tem interlocução mínima com nenhum dos centros de poder, nem com o STF, com o MPF, com setores empresariais e com o Congresso.
Dificilmente ela conseguiria produzir um cenário minimamente factível sobre o que seria seu governo, em caso de queda do impeachment.
A única maneira de derrotar o golpe seria levantar a bandeira das eleições gerais. Não se trata de desejo, proselitismo, mas de avaliação do cenário político e das possibilidades de Dilma.
Seria a maneira mais objetiva de desarmar o golpe e permitir uma retomada do jogo político, com a decisão voltando novamente para os eleitores, já que até o Supremo parece ter se esquecido do princípio básico da Constituição de que "todo poder emana do povo e em seu nome será exercido". 

Narrativa quebrada de um Golpe em andamento, por Onkoto

Comentário ao post "Xadrez do PMDB jogado ao mar"
Nassif,
repetindo alguem deste blog, voce precisa compilar estes textos do Xadrez e disponibilizar ao público, que nem no dossiê da Veja. Colocando os textos numa 'timeline' dará um excelente estudo.
Posso estar sendo pollyana, mas ainda acho que o objetivo subjacente a todo este movimento seja o de "limpar" a política partidária do Brasil. Explico.
Acredito que o movimento dos jovens turcos do MPF em Curitiba seja movido por um messianismo/sebastianismo de querer limpar do quadro poíitico nacional os maus politicos. E eles encontraram no PGR o mentor ideal. Me parece que os procuradores e o PGR, embora alinhados, tenham agendas distintas.
Veja o caso do garoto propaganda dos procuradores. Seu discurso, atitudes e ações demostram um claro objetivo de limpeza ética, e mais, ele acredita estar fazendo a coisa certa. Sende ele protestante, separo aqui dos (neo)evangélicos, de uma denominação caracterizada como protestantes-históricos, suas crenças e sua ética pessoais estão em sintonia com suas ações como agente público.
Já o PGR deve ter encontrado nesta turma os agentes perfeitos para a sua agenda pessoal, mas não concorda plenamente com a extensão da limpeza. Os procuradores pensam em limpar tudo, o PGR, não, ele tem já estabelecida claramente uma fronteira de atuação.
Pepe Escobar fala da cooperação da inteligência americana neste processo, e afirma que apenas pelo doleiro Youssef não se teria chegado a Petrobras. A cooperação americana tem dois vetores, um o PGR e outro o juiz Moro. É muita informação qualificada que possa ter sido obtida pela PF do Paraná, ou mesmo do Brasil inteiro. 
A PF entra porque não temos outra agência para coletar informações, investigar e prender. Ela veio a reboque de tudo isso, e é tão incompetente que não consegue sequer espionar seus próprios colegas num processo de eleição interna. Seus dispositivos de escuta, ou bugs, são tão precários que uns encontram as pegadas dos outros DPFs. Com a aparente melhora na obtenção de informação, eles certamente receberam dispositivos melhores e/ou informações coletadas lá fora.
Por que a PFPR? Eles sempre foram anti-PT, talvez devido ao caso Banestado acobertado por todos atores políticos comeco dos anos 2000, e que frustou este pessoal em particular, e o resto da PF de maneira mais geral e difusa.
Para fechar este quadro, a Lava Jato, temos a tríade MPF-PF-Moro. Aí entra o braco da Justiça para legalizar e reforcar as ações dos outros dois grupos. Nao fosse o arbítrio do juiz Moro, passando por cima da lei sempre que necessário, e não sendo repreendido pelas instâncias de controle, CNJ/MJ/STJ/STF, estas ações não teriam chegando ao ponto em que se encontram hoje. Basta lembrar que as investigações dos grampos internos na PRPF nunca deram em nada, foram contidas dentro da PF, nos órgãos de controle e na Justiç.
Por que a justica do PR e o Juiz Moro? Porque ele parece deslumbrado com o modelo americano de justica, tem admiração pelos EUA e tem participado de diversos cursos/seminários nos EUA. Ainda segundo Pepe Escobar, ele seria considerado um 'asset' pelos  EUA. Além do que, ele tem uma particular veneração pela operação Mani Puliti, que ele parece conhecer apenas pelos livros editados nos EUA e não tem um visão mais ampla dos aspectos sociais e políticos que esta operação provocou na Itália. Em terceiro lugar, por que ele foi o magistrado do inquérito Banestado. Todo seu trabalho na época não rendeu quase nada (se tinha alguma coisa, se perdeu no acobertamento), levou a condenação quase simbólica do delator Youssef (olha ele de novo) e deve ter produzido uma baita frustação. Pode ter sido o vetor inicial da operação, recebendo informações privilegiadas dos EUA e re-encontrado o mesmo procurador do passado. Só que agora existe um procurador mais atuante, independente do passado e com um fervor quase messiânico. Não podemos esquecer que o procurador original, e que agora ficou em segundo plano, agiu em interesse próprio no caso Banestado, provocou rusgas com a PF, e protagonizou um mini-escândalo em Nova Iorque.
Por isso tudo, acredito em três vetores distintos, com agendas próprias, que se somam (vetorialmente) na operação LJ. Até quando estarão juntos? Boa pergunta. Veja que já aconteceu algumas rusgas entre eles três. O pessoal do PR, juiz e MP, sabem muito bem das falcatruas passadas dos outros partidos além do PT, e eu pollyanamente acredito que eles querem acabar com todos eles. E também acredito que o PGR assim deseja, mas até um certo limite que preserve parte do PSDB. Os outros? que sejam lançados ao mar.
O que se pode esperar? 1) qual o limite a ser imposto pelo PGR? Curitiba vai se contentar com esta limitação? até quando o grupo MPPR (eles não se destacam muito individualmente) vai suportar o ego do juiz? E a PFPR, com seus DPFs e mini-egos corporativos?
Fechando (caramba, ficou longo o post), a estratégia aparente era pegar primeiramente o PT e alavancar a opinião pública, incluir o PP (muito corrompido e dentro da base do PT), remover/afastar a Presidente Dilma. Em segundo momento, minar o PMDB, este ainda mais sujo que o PP, e facilmente derrubado. (acho que eles todos não contavam com tanta incompetência dos caciques pmdbistas). Depois... aqui acho que eles se dividem, com parte querendo avançar sobre o PSDB e limpar tudo, e outra parte blindando estes. Mas como a história ainda está em andamento, nao dá pra escrever o que não aconteceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário