sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Na cena do crime: Bolsonaro foi gravado cobrando adesão de ministros ao golpe de Estado

 

Vídeo da reunião preparatória do golpe foi encontrado pela PF no computador de Mauro Cid; saiba o que Bolsonaro disse


Do Jornal GGN:


Jair Bolsonaro no debate da Band

Foto: Divulgação/Band


O ex-presidente Jair Bolsonaro foi gravado coagindo ministros de Estado a embarcar no plano de golpe que se desenhava ainda em julho de 2022, antes mesmo do pleito eleitoral que acabou com a vitória de Lula nas urnas.

A gravação, obtida pela Polícia Federal em um dos computados do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, coloca Bolsonaro na cena do crime, ou seja, mostra que o ex-presidente participou ativa e pessoalmente das articulações para se manter no poder.

O vídeo registra falas de Jair Bolsonaro cobrando que seus ministros participem da frente de ataques às urnas eletrônicas e aos ministros do Tribunal Superior Eleitoral – Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. O ex-presidente acusou os ministros de terem preparado a vitória de Lula no TSE.

Em trechos do discurso de Bolsonaro, aos quais o GGN teve acesso, o ex-presidente prevê que será derrotado nas urnas por Lula e diz que não vai esperar chegar 2024 para se arrepender de ter tomado alguma providência para evitar a mudança de governo.

“( … ) nós vamos esperar chegar 23, 24, pra se foder? (…) Por que que não tomei providência lá trás? E não é providência de força não, caralho! Não é dar tiro! Ô, Paulo Sérgio [Nogueira, ministro da Defesa], ‘vou botar a tropa na rua, tocar fogo aí, metralhar’. Não é isso, porra!”

Bolsonaro, então, explica o que quer de seus ministros: que eles propagem teorias conspiratórias contra as urnas e o processo eleitoral, atacando a credibilidade do TSE e seus ministros. A ideia era fomentar o discurso de que a vitória de Lula seria uma fraude.

“E eu tenho falado com os meus 23 ministros. Nós não podemos esperar chegar 23, olhar para trás e falar: ‘o que que nós não fizemos para o Brasil chegar à situação de hoje em dia?’ Nós temos que nos expor. Cada um de nós. Não podemos esperar que outros façam por nós. Não podemos nos omitir. Nos calar. Nos esconder. Nos acomodar. Eu não posso fazer nada sem vocês”, disse.

Para convencer os ministros, Bolsonaro emplacou uma afirmou que recebeu informações sigilosas dando conta de que o narcotráfico internacional injetou recursos na campanha do partido de Lula e que, por isso, o petista reunia as melhores condições de vencer a corrida presidencial em 2022. Na gravação, Bolsonaro repete algumas vezes que será derrotado nas urnas em outubro. Ele chegou a dizer, inclusive, que o próprio TSE já tinha o resultado pronto.

Porque os cara tão preparando tudo, pô! Pro Lula ganhar no primeiro turno, na fraude. Vou mostrar como e porquê. Alguém acredita aqui em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Acredita que eles são pessoas isentas, tão preocupado em fazer justiça, seguir a Constituição?”

A reunião ocorreu no dia 5 de julho de 2022, na pré-campanha eleitoral. Segundo a Polícia Federal, o encontro teve como finalidade “cobrar dos presentes conduta ativa na promoção da ilegal desinformação e ataques à Justiça Eleitoral.”

Ainda na visão da PF, Bolsonaro “coagiu” os “ministros e todos os presentes, para que aderissem à ilícita desinformação apresentada.”

“Daqui pra frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vir falar pra mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado, eu topo. Agora, se não tiver argumento pra me demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, o cara tá no lugar errado.”

Na reunião, Bolsonaro ainda antecipou que havia convocado a famigerada reunião com embaixadores para disseminar seus ataques às urnas. Segundo ele, a intenção era repassar à mídia internacional o que estava acontecendo no Brasil, com a possibilidade de fraude nas urnas, uma acusação que jamais foi provada.

A Polícia Federal cumpriu nesta quinta (8) a fase ostensiva da operação Tempus Veritatis, que apura a organização criminosa que desenhou o golpe de Estado que visava manter Bolsonaro no poder. Ex-assessores de Bolsonaro foram presos e outros aliados, alvos de busca e apreensão, inclusive membros do primeiro escalão de seu governo, como os generais Braga Netto (ex-Casa Civil) e Augusto Heleno (ex-GSI). Bolsonaro foi alvo de um pedido para entregar passaporte e evitar contato com outros investigados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário