segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

“Hoje ele se entregou”: Bolsonaro admitiu minuta do golpe em plena Av. Paulista

 

Oposição e analistas interpretam discurso de Bolsonaro como confissão de que plano e conspiração de golpe existiu, só não foi concluído


Do Jornal GGN:

Jair Bolsonaro e Silas Malafaia, o pastor que organizou ato na Av. Paulista. Foto: Divulgação via Silas Malafaia

Jair Bolsonaro e Silas Malafaia, o pastor que organizou ato na Av. Paulista. Foto: Divulgação via Silas Malafaia

Oposição e analistas interpretaram o discurso em autodefesa de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, neste domingo (25), como um tiro no pé. Ao se apegar à teoria de que um decreto de estado de sítio ou estado de defesa não entraria em vigor sem aval do Parlamento, Bolsonaro praticamente admitiu a existência da minuta do decreto. Trocando em miúdos: o plano de golpe existiu, só não foi concluído.

“Bolsonaro admite a minuta de golpe”, disparou o jornalista e comentarista Leandro Demori. “Bolsonaro esperou o domingo para confessar os crimes na Paulista para todo o país”, avaliou o jurista Conrado Hubner. “Hoje ele se entregou”, resumiu o deputado federal Lindbergh Farias (PT).

No ato na Paulista, Bolsonaro sustentou que não caberia acusação por tentativa de golpe de Estado pois para ter ocorrido uma tentativa de ruptura, ele teria de ter enviado a minuta do decreto golpista para o Parlamento. Antes disso, teria de ter ouvido dois conselhos consultivos, conforme determina o rito do estado de sítio ou estado de defesa.

Golpe é tanque na rua, arma, conspiração. Trazer classes políticas e empresários para o seu lado. Isso é golpe. Nada disso foi feito. Golpe usando a Constituição? Tenham a santa paciência“, disse Bolsonaro. No ato na Paulista, ele ainda ofereceu pacificação em troca de anistia para os presos e condenados pelo ataque de 8 de Janeiro de 2023.

Segundo Lindbergh Farias, Bolsonaro tentou uma “pirotecnia retórica” para justificar o decreto e acabou assumindo a minuta, que é uma das provas do inquérito da Polícia Federal. “Na minuta, ele [Bolsonaro] estava falando da prisão de Alexandre de Moraes e de anular o processo eleitoral. É tanta prova – vídeos, declarações do general Heleno, espionagem da Abin… E o pior, é covardia de Bolsonaro, porque ele fala em anistia. Só que ele não está querendo anistia para os presos, não! Ele está se antecipando ao caso dele.”

O deputado Rogério Correia também viu sincericídio no discurso de Bolsonaro, para quem o ex-presidente “produziu prova contra ele próprio”. “A inteligência não é muito grande”.

“Um crime impossível”

O sincericídio de Bolsonaro na Paulista não é exatamente um discurso novo. Dias antes do ato, Bolsonaro revelou sua tese de defesa em entrevista à rádio CBN de Recife (PE). Na oportunidade, ele falou que está sendo acusado de ter planejado um “crime impossível”.

“Para o presidente decretar estado de sítio”, disse Bolsonaro, “ele é obrigado a reunir-se com o Conselho da República e o Conselho de Defesa. Essas pessoas são o vice-presidente da República, os presidentes da Câmara e Senado, os líderes da maioria e minoria da Câmara e Senado. É um grupo de umas 20 pessoas para ouvir”, disse Bolsonaro.

Na tese do ex-presidente, o golpe seria impossível de dar sozinho, sem anuência do Congresso, porque o decreto de estado de sítio seria encaminhado – independente da posição dos conselhos consultivos – ao Parlamento. “Não é do presidente a palavra final, é do Congresso”, argumentou Bolsonaro.

“Se o Parlamento disser não, acabou o estado de sítio. Então, não é o presidente quem decreta o estado de sítio. A imprensa tem dito que era um golpe via estado de sítio. Isso não existe. Tem gente do meu lado, que trabalhou comigo, presa por um crime impossível de acontecer”, sustentou Bolsonaro.

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