Assista a trechos da sessão da CPMI do INSS que ouve Onyx Lorenzoni, ex-ministro do Trabalho e Previdência entre 2021 e 2022, no governo Bolsonaro. A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) surpreendeu ao, no momento da sua fala, ter desistido de fazer questionamentos ao ex-ministros, optando por uma espécie de desabafo político. “Eu estive lá, é uma pandemia mental, digna de seita”, afirmou a senadora, em autocrítica sobre o passado de apoio a Jair Bolsonaro. Soraya Thronicke citou até a repentina morte do também ex-ministro, e também ex-bolsonarista, Gustavo Bebianno, em 2020. Confira.
Irregularidades desde os estudos pré-licitação até a seleção do clube aparecem na análise do Tribunal de Contas de Santa Catarina, em ação integrada com o Tribunal de Contas da União. Os indícios são desde leniência até fragilidade na vistoria de qualificação técnica do clube.
Emenda de Julia Zanatta direciona R$ 800 mil a clube de tiro de amigo da deputada
Apuração do Tribunal de Contas gerou relatório que recomenda que PF e MPF investiguem fraudes
A aplicação de uma emenda de R$800 mil da deputada federal Julia Zanatta em um clube de tiro de um amigo, na cidade de São José, na Grande Florianópolis (SC), está sob suspeita de direcionamento. A auditoria finalizada pelo Tribunal de Contas de Santa Catarina sugeriu o encaminhamento para a Polícia Federal e Ministério Público Federal, diante da gravidade dos achados. Há indícios de que a prefeitura tenha imposto regras para que a empresa com quem a parlamentar tem relações, a Top Gun, fosse contemplada.
Irregularidades desde os estudos pré-licitação até a seleção do clube aparecem na análise do Tribunal de Contas de Santa Catarina, em ação integrada com o Tribunal de Contas da União. Os indícios são desde leniência até fragilidade na vistoria de qualificação técnica do clube. Além disso, o órgão aponta a possibilidade de conluio entre duas empresas do mesmo ramo e a adulteração de documentos no processo realizado para a contratação de cursos da Guarda Municipal.
A avaliação, que faz parte do trabalho coletivo de tribunais de contas do Brasil, traz mais de 200 tópicos com problemas relacionados à aplicação desta emenda. O relatório de instrução do TCE-SC sugere que os fatos podem caracterizar improbidade e aponta para a ocorrência de um crime previsto no código penal – a frustração do caráter competitivo da licitação.
O valor foi enviado para um contrato de curso de formação, aprimoramento e especialização em táticas operacionais da Guarda Municipal de São José. Em nota, a Prefeitura Municipal de São José garantiu que “seguiu rigorosamente os trâmites legais e a legislação vigente”.
No Diário Oficial do Município, há registro da prorrogação da ata de registro de preços que dá suporte ao contrato até 21 de novembro de 2026, o que pode viabilizar a aplicação do valor global repassado por Zanatta e abrir margem para novas emendas. A ata de registro de preços tem valor de R$3.071.406.
A empresa contratada, a Top Gun – Armas e Acessórios LTDA é uma velha conhecida do bolsonarismo. No seu evento de inauguração, em 2023, além de Júlia Zanatta, que tratou os proprietários como amigos, estavam o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, e outros parlamentares armamentistas, como Caroline de Toni.
O evento atraiu atenção da imprensa por ter acontecido exatamente um dia após a assinatura do decreto do desarmamento pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que endureceu as regras de circulação de armas no país afrouxadas na gestão Bolsonaro.
Foi justamente o marketing em torno da inauguração cheia de bolsonaristas que chamou a atenção dos auditores que analisam as emendas pix em um consórcio nacional: o vídeo público do evento foi considerado uma prova para a construção da tese do direcionamento da emenda.
‘Todo poder emana do cano de uma arma’
“Como se pode observar já no início do registro audiovisual, em discurso proferido em local de destaque do evento, a parlamentar parabeniza pela inauguração indivíduos que chama de ‘Alexandre’, ‘Zaba’ e ‘Moratelli’, e estende os cumprimentos ‘a todos os responsáveis por esse empreendimento aqui’. Isso demonstra que a deputada conhece os responsáveis pela existência do clube de tiro, aos quais se refere, inclusive, por apelidos, o que indica proximidade”, pontua o relatório remetido ao TCU.
Na inauguração do clube, o evento político pró-armamentismo teve repercussão na imprensa porque, no discurso da deputada, ela afirmou que “todo poder emana do cano de uma arma”. Zanatta também chamou o governo Lula de “genocida” por restringir a circulação de armas. Meses antes ela havia posado com uma carabina e uma camiseta que movimentos e grupos políticos entenderam como uma ameaça direta ao presidente.
A Top Gun foi criada em julho de 2022 e inaugurada, em São José, em julho de 2023. Menos de um ano após a data, os recursos da emenda pix entraram nos cofres municipais. Até o momento, o clube de tiro recebeu cinco repasses, no valor total de R$547 mil.
Um dos instrutores de curso apresentado na página de Instagram do clube é o militante Pró-Armas Bene Barbosa, considerado referência em questões armamentistas pela bancada da bala do bolsonarismo.
No dia 6 de janeiro de 2023, às vésperas do atentado contra a democracia em Brasília, ele e Júlia Zanatta estiveram juntos em um evento realizado na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. O encontro reuniu proprietários de clubes de tiro que “discutiram formas de derrubar o Decreto de Lula que prejudica o setor”, como divulgou a parlamentar, na época.
Irregularidades
Há um conjunto robusto de irregularidades investigadas pelo TCE e que podem repercutir em novas diligências e investigações da Polícia Federal e do MPF. Um deles é o fato de a pesquisa de preços para o contrato ter sido deficiente e com indícios de direcionamento. A equipe também flagrou documentos com datas falsas, sugerindo leniência da pregoeira responsável pela concorrência.
O grupo de auditores se atentou para o fato de que a prefeitura poderia ter recorrido a convênios com órgãos públicos para qualificar sua guarda, como a Universidade Corporativa da Polícia Rodoviária Federal, a Academia de Polícia Militar e da Polícia Civil. O relatório de instrução aponta que nenhuma instituição foi consultada para a possibilidade de ministrar cursos ou emprestar estande de tiro, resultando em economias.
A Top Gun foi a única pessoa jurídica consultada para estimativa de valor no Estudo Técnico Preliminar que estava dentro de um dos critérios obrigatórios para a concorrência – ter instalação a um raio de 20 km da sede da Prefeitura. A auditoria descobriu que havia pelo menos outras dez opções neste mesmo raio que foram negligenciadas.
O relatório identificou um possível arranjo de preços com o outro fornecedor que apresentou proposta, já que a redação do documento anexado pela outra empresa concorrente é praticamente idêntica a da Top Gun.
O Tribunal apontou ainda que os apenas a Top Gun concorreu ao pregão. Na fase de planejamento, um outro clube, de Criciúma, cidade natal da deputada, enviou orçamento. Os clubes têm uma relação pública de parceria, e o cálculo enviado era pouco maior em todos os itens e encarecia no valor do aluguel do estande. Acontece que mesmo aí o TCE viu problemas, já que o aluguel estava 53,125% maior do que o preço público divulgado. O orçamento serviu para embasar o valor da contratação.
A possibilidade de direcionamento flagrada pelo TCE envolve, ainda, a constatação de restrição de competitividade. Os auditores perceberam uma aglutinação irregular do objeto, constituído de vários cursos, em um único lote. Consta no relatório que o parcelamento em busca de um maior número de fornecedores, a um custo mais baixo, teria sido tecnicamente e economicamente viável.
Há problemas, também, no fato de o orçamento estimado para o contrato ter sido mantido em sigilo sem uma justificativa válida, o que pode ter dificultado a participação de outras empresas no processo. Os auditores do TCE ainda perceberam que a Top Gun não tinha um local adequado para o curso de direção tática, já que contava apenas com um estacionamento e não conseguiu demonstrar a posse de veículos e equipamentos de segurança exigidos.
O relatório ainda encontrou um documento com data falsa como parte do processo de concorrência, o que escondeu um atraso de pelo menos 18 dias no cumprimento de um prazo estabelecido no pregão eletrônico.
Prefeitura nega irregularidades
Em nota, a prefeitura de São José informou que “todo o processo de contratação do treinamento para a Guarda Municipal, utilizando recursos de emenda parlamentar que chegam com destinação específica, seguiu rigorosamente os trâmites legais e a legislação vigente”.
Além disso, destacou que “a administração municipal pauta-se pela estrita legalidade, transparência e pela busca por capacitações de excelência, sendo a conformidade legal o único critério para a aplicação desses recursos públicos”.
Na página da empresa contratada, há uma imagem do prefeito de São José, Orvino Coelho, sentado em um trono composto por balas e armas. A publicação foi originalmente produzida pelo prefeito, em julho de 2024, com a legenda “quando as armas estão nas mãos das pessoas certas, a cidade está protegida”.
O que é novidade neste novo episódio trágico do cotidiano fluminense é a leniência da imprensa com as autoridades que perpretaram a chacina e a falta de assombro com o ocorrido.
A imprensa que não reconhece a matança é cúmplice dela
Se não pudermos chamar uma ação policial que resulta em 117 cadáveres de matança, quando o faremos?
Não é de hoje que o cidadão médio apoia as chacinas resultantes da atuação de policiais contra os chamados “bandidos”. Desde a chacina da Candelária, em 1993, quando 8 jovens foram assassinados por PMs, uma parte da opinião pública se manifesta em apoio ao extermínio — talvez incrédula de que ainda tenhamos uma política de segurança pública digna desse nome.
Foi assim na chacina de Vigário Geral, naquele mesmo ano de 1993, quando 21 homens foram fuzilados pela polícia, e em outros 48 banhos de sangue que se sucederam em território fluminense até 2022. Sempre que o caso ganhava repercussão nacional, uma grande parcela dos brasileiros manifestava sua aprovação à aplicação prática da tese de que “bandido bom é bandido morto”.
Por isso, a concordância de uma parte da população com a matança ocorrida no Complexo da Penha, em que 117 pessoas foram executadas pela polícia de Cláudio Castro, embora revoltante, não chega a surpreender.
O que é novidade neste novo episódio trágico do cotidiano fluminense é a leniência da imprensa com as autoridades que perpretaram a chacina e a falta de assombro com o ocorrido.
Foram incontáveis as vezes que analistas repetiram o mantra de que a operação policial era “necessária”, mesmo cientes de que a estratégia foi desenhada para matar os suspeitos e não prendê-los. O fato de que a legislação brasileira não prevê a pena de morte não foi suficientemente destacado.
A série de ilegalidades cometidas pelos policiais na operação no Complexo da Penha também não teve o devido espaço no noticiário. O fato de o local das mortes não ter sido preservado para a perícia, a constatação de que os corpos não foram retirados da mata pelos PMs, a proibição do trabalho da Defensoria no Instituto Médico Legal e outras transgressões cometidas pelas autoridades deveriam ter maior espaço.
Em vez disso, muitas TVs, sites e jornais deram visibilidade predominante ao governador Cláudio Castro e seus auxiliares da área da segurança, que disseram sandices de todo tipo. A começar pelo próprio Castro, que, mesmo antes de começar qualquer investigação sobre o caso, declarou que os únicos inocentes mortos na operação foram os policiais.
Mais recentemente, jornalistas importantes assumiram uma atitude ainda mais intrigante.
Depois que o presidente Lula se referiu à operação policial nos complexos da Penha e do Alemão como “matança”, vários programas de rádio e TV, sites e jornais passaram a criticá-lo por usar o termo. Para uns, a palavra foi inadequada politicamente, para outros contraria o que pensam os entrevistados nas pesquisa de opinião e houve ainda quem achasse imprecisa.
Ora, se não pudermos chamar uma ação policial que resulta em 117 cadáveres de matança, quando o faremos?
Voltemos à referência de todos aqueles que trabalham com a Língua Portuguesa, o dicionário. Assim define o Michaelis o significado da palavra “matança”: ato ou efeito de matar com extrema violência, chacina; e assassínio de várias pessoas simultaneamente; carnificina.
Resta alguma dúvida?
Além do antipetismo que é a marca da grande imprensa nacional, a crítica à fala do presidente revela algo ainda pior: de olho em pesquisas de opinião e preocupados com ataques da extrema direita e eventual perda de audiência (ou patrocínio), jornalistas abdicam de chamar o episódio mais bárbaro da história recente do Brasil pelo verdadeiro nome.
Essa camuflagem vocabular de grandes veículos de comunicação trai um dos principais compromissos do jornalismo, que é a busca incessante pelas palavras que mais fielmente retratem o fato noticiado.
Para quem abriu espaço tão generoso às autoridades responsáveis pelo massacre — assumindo, inclusive, a mentira repetida por elas de que a ADPF das Favelas impediu a policia de combater o tráfico — e mostrou tão pouco as vozes dissonantes de estudiosos sérios de segurança e defensores dos Direitos Humanos, a traição vocabular é apenas mais uma.
Essa cobertura é um triste marco para a imprensa brasileira, que deixa ainda mais desamparada a população das favelas. Moradores enxergam nos jornalistas um dos poucos canais de denúncia e pedido de socorro. Talvez agora nem isso.
Quem pensa duas vezes antes de chamar a matança de “matança” está amenizando a culpa dos matadores, tripudiando da dor das famílias e criando condições para que o próximo massacre bata um novo recorde macabro.
Decididamente, não deveria ser esse o papel da imprensa.
O massacre da Penha e do Complexo do Alemão não foi um evento isolado. Foi uma operação planejada com o intuito de desestabilizar o governo federal, executada com a cumplicidade dos principais poderes do Rio de Janeiro: governo estadual, Polícia Militar e Ministério Público Estadual.
O Xadrez Geopolítico do Narcoterrorismo, por Luís Nassif
Massacre coincidiu com a votação da Lei Antiterror no Congresso e a classificação de facções como terroristas por Argentina e Paraguai.
Como uma operação policial no Rio se conecta a uma estratégia global
Introdução: A Tese da Operação Coordenada
O massacre da Penha e do Complexo do Alemão não foi um evento isolado. Foi uma operação planejada com o intuito de desestabilizar o governo federal, executada com a cumplicidade dos principais poderes do Rio de Janeiro: governo estadual, Polícia Militar e Ministério Público Estadual.
A sincronia dos eventos revela uma articulação clara e intencional, que conecta política doméstica e geopolítica internacional.
Peça 1: A Sincronia Suspeita – Três Eventos Simultâneos
O Timing Perfeito
Três movimentos ocorrem quase simultaneamente:
No Congresso Nacional: A Câmara prepara-se para votar a Lei das Organizações Terroristas
No Rio de Janeiro: Ocorre o massacre policial, com dezenas de mortos
No Mercosul: Argentina e Paraguai — os dois países aliados de Donald Trump na região — declaram simultaneamente PCC e Comando Vermelho como organizações terroristas
A Adesão Imediata
Governadores da direita radical aderem prontamente à narrativa terrorista:
Romeu Zema (Minas Gerais)
Ronaldo Caiado (Goiás)
Tarcísio de Freitas (São Paulo)
As Consequências Previsíveis
A aprovação dessa lei concederia poderes extraordinários aos governadores e às Polícias Militares, ampliando radicalmente a parceria entre poder político e organizações criminosas — já visível nas decisões do Congresso sobre apostas (bets) e esquemas de lavagem de dinheiro. Significaria o fim de qualquer controle sobre as PMs, abrindo espaço para a expansão das parcerias com milícias e outras formas de crime organizado e para repressão de críticas. Significaria o advento das ditaduras estaduais.
Além disso, fortaleceria os políticas que mantém alianças com organizações criminosas poupadas – como as milícias no Rio de Janeiro e o PCC em São Paulo.
Peça 2: A Virada Estratégica do Departamento de Justiça Americano
A Geopolítica da Anticorrupção (2002-2024)
O Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA sempre foi instrumento geopolítico. A partir de 2002, implementou a estratégia da anticorrupção, criando parcerias com juízes e procuradores em países não alinhados. O caso brasileiro foi o mais emblemático, com a Lava Jato e grandes escritórios de advocacia norte-americanos entrando diretamente no monitoramento das maiores empresas brasileiras – Petrobras, Eletrobras, Embraer e JBS.
A base legal: A OCDE aprovou moção norte-americana estabelecendo que qualquer crime afetando cidadãos americanos ou transitando pelo dólar seria de jurisdição dos EUA.
Com o retorno de Trump, houve mudança radical na estratégia: substituição dos crimes investigativos pelo foco em “organizações transnacionais criminosas/terroristas”. O objetivo permanece o mesmo: permitir aos EUA interferir na autonomia política e jurídica de estados nacionais.
5 de fevereiro de 2025: Pamela Bondi, indicada por Trump para chefiar o DoJ, reformula as prioridades de segurança nacional assim que empossada.
Unidade de Fiscalização Corporativa (responsável por crimes empresariais)
Força-Tarefa de Cleptocaptura (criada em 2022 para rastrear oligarcas russos após a guerra na Ucrânia)
Redirecionadas:
Seção de Contrainteligência e Controle de Exportações
Unidade da Lei de Registro de Agentes Estrangeiros
A Nova Prioridade
Todo o esforço concentra-se em designar cartéis e organizações criminosas transnacionais (OCTs) como:
Organizações Terroristas Estrangeiras (OTFs)
Terroristas Globais Especialmente Designados (TGSDs)
Memorando de 12 de maio de 2025: Estabelece que “a aplicação excessiva e descontrolada das leis contra empresas e crimes de colarinho branco onera as empresas americanas e prejudica os interesses dos EUA”. O documento orienta que “os procuradores devem evitar excessos que punam a tomada de riscos e impeçam a inovação”.
As novas recomendações focam exclusivamente em “organizações criminosas transnacionais (OCTs), Estados-nação hostis e/ou organizações terroristas estrangeiras”.
A inversão é clara: menos perseguição a crimes corporativos americanos, mais intervenção em organizações criminosas de países periféricos.
Peça 3: O Alerta de Bill de Blasio
Bill de Blasio, ex-prefeito de Nova York (2014-2021), participou do 2º Seminário Internacional de Segurança Pública, Direitos Humanos e Democracia, organizado pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE) em parceria com o IDP.
“É possível que Trump use essa classificação de grupos terroristas para objetivos políticos nefastos no Brasil? É possível. Se alguém acha que não, é porque não está prestando atenção. Se eu fosse brasileiro, ficaria preocupado com os Estados Unidos usando algo que deveria ser uma ferramenta jurídica para combater o terrorismo e transformar em uma ferramenta política.”
As Implicações Práticas
Classificar facções criminosas como organizações terroristas abre caminho para:
Intervenção direta dos EUA em assuntos de segurança interna
Ampliação de poderes policiais sem controle judicial adequado
Criminalização de protestos e movimentos sociais
Quebra de garantias constitucionais fundamentais
Peça 4: A Cobertura Internacional – Quando o Mundo Vê o Brasil
Ponto importante para avaliar a adesão a esse jogo geopolítico é o acompanhamento da cobertura da mídia corporativa.
Enquanto parte da imprensa brasileira oscilava em sua cobertura, os veículos internacionais mantiveram tom consistentemente crítico.
Agências Norte-Americanas
CBS News, ABC News e CNN: Relataram o número elevado de mortos e protestos subsequentes, enfatizando críticas internacionais à violência policial e questionando as execuções sumárias.
Associated Press (AP) e Washington Post: Noticiaram amplamente os protestos dos moradores das favelas contra a brutalidade policial.
Itália (Corriere della Sera e La Repubblica): Destacaram a brutalidade da operação, com relatos de corpos alinhados nas ruas e mortes sob condições violentas.
Inglaterra (BBC): Denunciou a brutalidade policial e analisou a complexidade do conflito urbano brasileiro.
Espanha e outros veículos europeus: Noticiaram o episódio enfatizando a gravidade do uso da força e a crise de segurança no Brasil, com tom crítico e alertas sobre direitos humanos.
O Significado do Olhar Externo
A cobertura internacional serve como termômetro: quando a imprensa global se choca com algo que parte da mídia local defende, é sinal de que limites civilizatórios foram ultrapassados.
Peça 5: A Cobertura Doméstica – O “Apito de Cachorro”
Durante a pandemia de COVID-19, a mídia brasileira se reabilitou ao alinhar-se quase unanimemente com a ciência. Agora, na discussão sobre segurança pública, a ciência é representada por juristas e especialistas — como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a Associação Brasileira de Estudos de Segurança Pública e a Rede de Altos Estudos em Segurança Pública.
Assim que aconteceu o massacre, principais colunistas explodiram em críticas contra o governo do Rio, embasados em visão técnica de segurança e em fontes confiáveis.
Ocorreu fenômeno similar ao episódio da prisão de Michel Temer: de manhã, muitos colunistas aplaudiram; no meio do dia, O Globo soltou editorial inesperado que funcionou como “apito de cachorro”, uniformizando a cobertura em crítica à medida do Ministério Público Federal.
A Virada Editorial
Primeiros dias:
O Globo: Colunistas condenaram a matança; apenas o editorialista a defendia
Estadão: Fincou pé em defesa do estado de direito, nas reportagens e editoriais, retomando a linha do conservadorismo culto
Folha: Editoriais tornaram-se irrelevantes pelo conservadorismo inculto
Protestos dos moradores contra a matança ficaram restritos aos veículos estrangeiros
Explosão de pesquisas favoráveis ao morticínio e perda de espaço para matérias descrevendo o drama das famílias nas favelas atingidas.
A questão que se coloca: até que ponto os jornais defenderão o iluminismo ou a lei das selvas? É distância similar à que separa radicais antivacina dos defensores da vacina — a diferença entre ciência e obscurantismo.
Peça 6: Da Vingança ao Estado de Direito – Uma História de Milênios
A evolução da humanidade em relação às execuções sem julgamento é, essencialmente, a história da lenta construção da ideia de justiça como direito, não como vingança. Compreender essa trajetória ajuda a dimensionar a gravidade do retrocesso atual. Vamos recorrer à Inteligência Artificial para analisar a Imbecilidade Coletiva, presente nos grandes movimentos de apoio a linchamentos.
A Era da Vingança (Antiguidade)
Nos primórdios das sociedades humanas, não havia distinção entre justiça e vingança. Quem era ofendido tinha o direito — e até o dever — de revidar.
Código de Hamurabi (c. 1750 a.C.): Introduz a lógica da retribuição (“olho por olho”), mas ainda legitima a execução imediata por ofensa.
Leis tribais: Entre hebreus, germanos e gregos primitivos, o clã executava o infrator sem processo.
Poder do soberano: Reis ou chefes militares ordenavam execuções sumárias sem qualquer procedimento. A execução era instrumento de autoridade, não de justiça.
O Poder Absoluto e o “Direito de Matar” (Idade Média)
Durante a Idade Média, vida e morte de um súdito dependiam da vontade do senhor feudal ou monarca.
Jus gladii: O conceito jurídico do “direito da espada” — o poder absoluto de matar.
Execuções sumárias: Bastava suspeita de traição, feitiçaria ou heresia para a morte imediata.
Processo ritualístico: Quando existia, era mera formalidade — confissão sob tortura e penas exemplares (forca, fogueira, guilhotina).
Disputa de poder: Igreja e Estado competiam para determinar quem tinha o poder de “matar legitimamente”.
O Nascimento do Processo Legal (Renascimento e Iluminismo)
A partir do século XIII, surge a ideia de limitação do poder de punir:
Magna Carta (1215): “Nenhum homem livre será detido ou punido, a não ser pelo julgamento de seus pares.”
John Locke (século XVII): Filósofos liberais estabelecem que o Estado só é legítimo se proteger a vida.
Cesare Beccaria – Dos Delitos e das Penas (1764): Condena a tortura e defende o processo legal como direito inalienável.
Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789): Consolidam o due process of law — o devido processo legal — como garantia universal.
Marco civilizatório: A execução sem julgamento passa a ser vista como crime de Estado.
O Estado de Direito e os Direitos Humanos (Séculos XIX-XX)
Com o avanço do constitucionalismo:
Códigos modernos: Passam a proibir explicitamente execuções sem julgamento.
Código Napoleônico (1808): Espalha a noção de pena somente após sentença judicial.
Pós-guerras mundiais: O mundo formaliza os princípios:
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), artigos 10-11: Direito a julgamento público e justo
Convenção de Genebra (1949): Execuções sumárias são crimes de guerra
Protocolo de Minnesota (2016): Padrões internacionais para investigar execuções extrajudiciais
Conquista civilizatória: A execução sem julgamento torna-se símbolo de barbárie estatal.
O Retrocesso Contemporâneo
Apesar dos avanços legais, o século XXI testemunha o retorno das execuções extrajudiciais:
Filipinas (Duterte): “Guerra às drogas” com milhares de mortos sem julgamento.
México e El Salvador: Políticas de segurança com alto número de mortes em operações policiais.
Brasil: Muitas mortes classificadas como “autos de resistência”, mascarando execuções.
Rússia e Israel: Execuções direcionadas em conflitos, sem devido processo.
Conclusão: Conectando os Pontos
Os seis elementos analisados — a sincronia dos eventos, a mudança no DoJ americano, os alertas de especialistas, a divergência entre cobertura internacional e doméstica, e o contexto histórico — formam um quadro coerente.
Não se trata de teoria conspiratória, mas de análise geopolítica: os mesmos padrões de intervenção dos EUA em assuntos internos de países periféricos, agora com nova roupagem. Onde antes se usava a “anticorrupção” como instrumento, agora se usa o “antiterrorismo”.
A questão fundamental permanece: o Brasil defenderá o Estado de Direito conquistado ao longo de séculos, ou aceitará o retrocesso à lógica da vingança e da força bruta?
A resposta a essa pergunta definirá não apenas nossa política de segurança, mas o tipo de sociedade que seremos.
Luis Nassif
Jornalista, com passagens por diversos meios impressos e digitais ao longo de mais de 50 anos de carreira, pelo qual recebeu diversos reconhecimentos (Prêmio Esso 1987, Prêmio Comunique-se, Destaque Cofecon, entre outros). Diretor e fundador do Jornal GGN.
A empresa do senador Ciro Nogueira (PP-PI) recebeu R$ 63,9 mil de um posto de combustível localizado em Teresina (PI), que foi alvo nesta terça-feira (4) da Operação Carbono Oculto 86. A ação, deflagrada pela Polícia Civil do Piauí, investiga um esquema de lavagem de dinheiro do PCC no estado.
EXCLUSIVO: Empresa de Ciro Nogueira recebeu R$ 63 mil de alvo da Carbono Oculto do Piauí
Transação foi realizada por meio de conta no “Banco do PCC”, de acordo com relatório do Coaf
Por Alice Maciel, Flávio V M Costa e Leandro Demori
A empresa do senador Ciro Nogueira (PP-PI) recebeu R$ 63,9 mil de um posto de combustível localizado em Teresina (PI), que foi alvo nesta terça-feira (4) da Operação Carbono Oculto 86. A ação, deflagrada pela Polícia Civil do Piauí, investiga um esquema de lavagem de dinheiro do PCC no estado. Os repasses aparecem em um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ao qual o ICL Notícias teve acesso.
O posto Pima Energia Amizade — que anteriormente operava sob o nome Maranhão Petróleo — realizou duas transferências para a Ciro Nogueira Agropecuária Imóveis, incorporadora pertencente ao senador. Segundo o relatório do Coaf, foram enviados R$ 47,9 mil em 2 de maio de 2025 e R$ 15,9 mil em 17 de abril do mesmo ano.
As transferências foram feitas por meio da conta do posto na fintech BK Instituição de Pagamento, conhecida como BK Bank. A instituição financeira foi apontada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) como peça-chave em um esquema de lavagem de dinheiro do PCC.
A conexão entre o banco e a facção criminosa veio à tona na Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto, que mirou empresas e fundos de investimento sediados na Avenida Faria Lima, em São Paulo.
A investigação da Polícia Civil do Piauí é um desdobramento da operação homônima, que teve o foco maior em São Paulo. Por essa razão, foi batizada com acréscimo do número 86, referente ao DDD do Piauí. A Justiça autorizou o compartilhamento de provas entre as duas operações.
Procurado pela reportagem, o senador Ciro Nogueira ainda não respondeu aos questionamentos. Se o fizer, este texto será atualizado.
Empresa de SP compra rede de postos no Piauí
A Pima Energia Amizade faz parte de uma rede de postos de combustíveis em Teresina que foram adquiridos pela Pima Energia Participações, em dezembro de 2023. A transação chamou a atenção da Polícia Civil do Piauí pela ligação do negócio com empresas investigadas por envolvimento no esquema do PCC no ramo de combustível em São Paulo.
A Pima Energia Participações foi fundada na capital paulista apenas seis dias antes de adquirir a rede de postos de gasolina piauiense “Postos HD”, dos empresários Haran Santhiago Girão Sampaio e Daniel Coelho de Souza – eles também foram alvos ontem de mandados de busca e apreensão na Operação Carbono Oculto 86.
Os investigadores suspeitam que foi uma venda de fachada, uma vez que houve uma “substituição de bandeira (de HD para Pima e Diamante) sem alteração operacional real” e que a Pima Energia “foi criada especificamente para formalizar a referida transação comercial”.
O único sócio da Pima Energia à época da transação com o grupo HD era o Jersey Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, que por sua vez, é administrado por uma empresa, também suspeita de lavar dinheiro e, igualmente, alvo da operação Carbono Oculto: a gestora de fundos Altinvest Gestão e Administração de Recursos de Terceiros.
Hub de soluções financeiras, a Altinvest é liderada pelo empresário Rogério Garcia Peres e administra 10 fundos citados pelos promotores na Operação Carbono Oculto. O MP-SP afirma que Peres é um dos responsáveis pelas “dinâmicas fraudulentas envolvendo fundos e a BK Instituição de Pagamento”.
Advogado, Peres também é apontado pela promotoria como “administrador de fundos de investimento, amplamente envolvido com o grupo Mohamad [Mohamed Hussein Mourad], sócio em postos de combustíveis”. Mourad, mais conhecido como “Primo”, é acusado de liderar o esquema de lavagem de dinheiro do PCC, junto a Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”. Ambos estão foragidos da Justiça.
Em entrevista exclusiva ao ICL Notícias, o ex-piloto da empresa Taxi Aéreo Piracicaba (TAP), Mauro Matosinhos, afirmou ter transportado em voo uma sacola de papelão que aparentava conter dinheiro vivo, na mesma data em que Beto Louco mencionou a outros passageiros que teria um encontro com o senador Ciro Nogueira.
Outros elos de Ciro Nogueira com empresas investigadas
Segundo relatório da Polícia Civil do Piauí, após a conclusão da venda dos postos de combustível da rede HD, Moisés Eduardo Soares Pereira passou a figurar como único sócio da Pima Energia Participações Ltda. Ele é um ex-funcionário de Haran Sampaio e Danilo de Souza. A suspeita é de que ele seja um laranja de seus patrões.
Após a compra pela Pima Energia, os postos de gasolina da rede “Postos HD” passaram a ser chamados de Red Diamante. De acordo com a investigação da Polícia Civil do Piauí, há evidências de uso de empresas de fachadas vinculadas às marcas “Postos HD”, “Postos Pima” e “Postos Diamante”, “que têm suspeita de ligação com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)”.
Conforme mostrou reportagem do ICL Notícias publicada nesta quarta-feira (5), os investigadores suspeitam que Victor Linhares Paiva – ex-assessor, aliado político e compadre do senador Ciro Nogueira que também foi alvo da Operação Carbono Oculto 86 – tenha intermediado a venda da rede Postos HD para a empresa Pima Energia. Isso porque, ele recebeu R$ 230 mil de Haran Santhiago Girão Sampaio, um dos antigos proprietários dos Postos HD, no mesmo mês em que a transação entre as empresas foi concluída.
Empresário Haran Santhiago Girão Sampaio (de óculos), depositou R$ 230 mil na conta bancária de Victor Linhares de Paiva (sem gravata), na solenidade do 7 de Setembro de 2022, no governo Bolsonaro
O valor foi depositado em uma conta de Linhares no BK Bank, supostamente aberta apenas para essa operação, segundo alerta emitido pelo Coaf. O relatório do órgão também indica que, logo após o depósito de Sampaio, Linhares transferiu a quantia para outra conta bancária em seu nome.
Conforme relatório do Coaf obtido pela reportagem, a Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis, da qual Raimundo também configura como sócio junto com o irmão, realizou pagamentos que somam R$ 25,1 mil à HD Petróleo Uruguai entre dezembro de 2021 e maio de 2022.