O desenho animado ‘Galinha Pintadinha’, famoso nos lares brasileiros por animar crianças de até 6 anos, virou alvo de ataques da deputada federal Julia Zanatta (PL-SC).
Deputada bolsonarista acusa Galinha Pintadinha de fazer propaganda anticapitalista
Produção do desenho informou ao ICL Notícias que não irá se pronunciar sobre o vídeo da deputada.
Por Laura Kotscho
O desenho animado ‘Galinha Pintadinha’, famoso nos lares brasileiros por animar crianças de até 6 anos, virou alvo de ataques da deputada federal Julia Zanatta (PL-SC). Em um vídeo publicado em suas redes sociais, a parlamentar bolsonarista acusa a animação infantil de “defender a transição de gênero”, “criticar o capitalismo” e “exaltar a União Soviética”.
Na publicação, Zanatta aparece ao lado do marido, Guilherme Colombo. Juntos, os dois mostram imagens de posts da página oficial da Galinha Pintadinha no Instagram, e afirmam que o conteúdo infantil virou “propaganda anticapitalista” que está fazendo a cabeça das crianças que seguem o perfil.
Entre os exemplos mostrados, estão publicações que criticam a fim da escala 6×1 e defendem o fim da meritocracia e dos privilégios dos super ricos.
Em vídeo, deputada federal Julia Zanatta (PL-SC), acusa perfil da Galinha Pintadinha de “defender a transição de gênero”/ Foto: Reprodução/InstagramEm vídeo, deputada federal Julia Zanatta (PL-SC), acusa perfil da Galinha Pintadinha de “criticar o capitalismo”/ Foto: Reprodução/Instagram
De acordo com Zanatta, o perfil do desenho se “transformou em uma fábrica de militantes do PSOL” que está fazendo tudo de caso pensado, já que os conteúdos vão ficar “encucados na mente das crianças”. “Você não sabe de onde veio aquele pensamento do seu filho. Mas como [Antonio] Gramsci já falava, ‘nós temos que dominar as mentes na mais tenra idade porque é mais difícil de reverter a situação depois'”, sugere a deputada bolsonarista.
Em vídeo, deputada federal Julia Zanatta (PL-SC), acusa perfil da Galinha Pintadinha de “virar militante do PSOL”/ Foto: Reprodução/Instagram
O ICL Notícias entrou em contato com a assessoria do desenho ‘Galinha Pintadinha’, mas a produção do desenho informou que não irá se pronunciar sobre o vídeo da deputada.
Á jornalista Rebeca Oliveira, da Folha de S. Paulo, o gerente de redes sociais da animação, Leonardo Zago, explicou no mês passado que a adesão às pautas sociais não é nova: a Galinha Pintadinha sempre foi “woke”. “A Galinha já surgiu preocupada com a valorização da diversidade e da arte popular. A gente trabalha para manter vivas as cantigas populares que são fruto do sincretismo cultural”, diz, com o exemplo da música “Loja do Mestre André”, em que o mestre é caracterizado como Zé Pilintra, entidade da Umbanda. “Mas a Galinha Pintadinha não tem religião”, explicou.
Algumas das postagens no Instagram citadas pela deputada não foram mais localizadas pela reportagem. Outras continuam no ar
Enquanto 7 milhões de americanos marchavam contra o autoritarismo de Trump, ele respondeu com um vídeo de inteligência artificial onde aparece com coroa defecando sobre manifestantes. Não foi montagem de opositores. Foi ele mesmo quem postou. Neste vídeo reagimos à análise devastadora do psiquiatra britânico Dr. Russell Razzaque sobre o apelo psicológico de Trump à base MAGA e conectamos com as últimas notícias que comprovam sua tese.
O psiquiatra explica que o contrato entre Trump e seus seguidores não tem nada a ver com melhorar suas vidas. Tem a ver com algo muito mais sombrio e perigoso: validação emocional dos instintos mais obscuros. Trump não governa para o povo, ele emociona pelo povo. Ele canaliza o ódio que seus apoiadores precisam esconder na sociedade.
Analisamos o vídeo AI polêmico que Trump postou após a Marcha dos Sem Reis (No Kings March), onde aparecem 7 milhões de pessoas em todos os 50 estados protestando contra suas políticas autoritárias. A resposta presidencial foi um vídeo gerado por inteligência artificial mostrando Trump com coroa pilotando jato KING TRUMP e despejando fezes sobre manifestantes.
Conectamos a análise psiquiátrica com a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado no Brasil. O Supremo Tribunal Federal brasileiro funcionou enquanto nos Estados Unidos as instituições colapsaram diante do culto à personalidade.
Explicamos por que a base MAGA mantém devoção inabalável mesmo com aprovação presidencial em queda e governo federal paralisado há 21 dias. A conexão não é racional, é visceral. É sobre validação dos impulsos mais sombrios, não sobre políticas que funcionem.
Mostramos como tanto Trump quanto Bolsonaro usaram as mesmas táticas: contestaram resultados eleitorais sem provas, incitaram insurreições violentas contra o Congresso, construíram cultos de personalidade baseados em validação emocional dos piores instintos.
Incluímos depoimentos de apoiadores trumpistas e análise crítica sobre o fenômeno psicológico que transforma política em catarse emocional coletiva dos piores impulsos humanos. Trump e Bolsonaro não são aberrações, são espelhos que refletem o que parte da população sempre quis fazer: desumanizar o diferente, destruir instituições, celebrar crueldade como virtude.
Análise profunda sobre autoritarismo, psicologia política, culto à personalidade, fascismo moderno, populismo de extrema direita e manipulação emocional de massas. Entenda os mecanismos psicológicos por trás da devoção cega a líderes autoritários.
Vídeo original do Dr. Russell Razzaque analisado: A Psychiatrist Explains What's At The Heart Of Trump's Appeal To The Core MAGA Base (20 de outubro de 2025)
Fontes: New York Times, Reuters, BBC Brasil, Agência Brasil, USA Today, Euronews, Axios, Los Angeles Times, Silver Bulletin, Morning Consult, Financial Times, CNN Brasil, Al Jazeera, The Hill, Newsweek.
A Primeira Edição deste artigo escrito especialmente para o primeiro número da revista estadunidense (ainda existente) Monthly Review, lançada em maio de 1949, e está disponível em http://monthlyreview.org/2009/05/01/why-socialism/ Fonte da Transcrição: Blog do Ralf e do Pluralismo Radical. Também disponível em apresentação bilíngue em https://tr.im/EinsteinSocialismoPDF
Será aconselhável que um não especialista em assuntos econômicos e sociais manifeste pontos de vista sobre o tema “socialismo”? Por várias razões, eu acredito que sim.
Comecemos considerando a questão pelo ponto de vista epistemológico [isto é, que analisa o próprio conhecimento científico]. Poderia parecer que não houvesse diferenças metodológicas essenciais entre a Astronomia e a Ciência da Economia: nos dois campos, os cientistas tentam descobrir leis que sejam aceitáveis de modo generalizado para um determinado grupo de fenômenos, com a finalidade de tornar compreensível a interconexão desses fenômenos do modo mais claro possível.
Na realidade, diferenças metodológicas existem. No campo da Economia, a descoberta de leis gerais é dificultada pela circunstância de que os fenômenos econômicos observáveis são com frequência afetados por muitos fatores que é muito difícil avaliar separadamente.
Além disso, como é bem sabido, a experiência acumulada desde o início do assim chamado período civilizado da história humana tem sido grandemente influenciada e limitada por fatores cuja natureza de nenhum modo é exclusivamente econômica.
Por exemplo, a maioria dos grandes Estados da história deveu sua existência à conquista. Os povos conquistadores estabeleceram a si mesmos, legal e economicamente, como a classe privilegiada do território conquistado; apossaram-se do monopólio da propriedade da terra e designaram uma classe sacerdotal a partir de suas próprias fileiras. Os sacerdotes, no controle da educação, fizeram da divisão da sociedade em classes uma instituição permanente, criando um sistema de valores pelo qual o comportamento social das pessoas passou a ser guiado desde então, em grande medida em nível inconsciente.
Mas a tradição histórica começou ontem, por assim dizer. Em nenhum lugar nós superamos de fato o que Thorstein Veblen chamou de “fase predatória” do desenvolvimento humano. Os fatos econômicos observáveis pertencem a essa fase, e as leis que podemos derivar deles não são aplicáveis a outras fases. Como o verdadeiro propósito do socialismo é precisamente superar a fase predatória do desenvolvimento humano e avançar para além dela, a Ciência Econômica em seu estado atual pode esclarecer bem pouco sobre a sociedade socialista do futuro.
Em segundo lugar, o socialismo se direciona para uma finalidade socioética. A ciência, no entanto, não tem o poder de criar finalidades, e muito menos de instilá-las nos seres humanos; a ciência pode, no máximo, fornecer os meios com que atingir certas finalidades. As finalidades são concebidas por personalidades com ideais éticos elevados – ideais esses que, quando não são natimortos e sim cheios de vida e vigor – são adotados e levados adiante por aquela multitude de seres humanos que, de modo parcialmente inconsciente, terminam por determinar a evolução da sociedade.
Por essas razões, deveríamos nos precaver no sentido de não superestimar a ciência e os métodos científicos quando o que está em questão são problemas humanos - e não deveríamos presumir que somente especialistas têm direito a se manifestar sobre as questões que afetam a organização da sociedade.
Incontáveis vozes vêm afirmando, já desde há algum tempo, que a sociedade humana está passando por uma crise; que sua estabilidade foi gravemente abalada. É característico dessa situação que os indivíduos se sintam indiferentes ou até mesmo hostis ao grupo a que pertencem, seja o pequeno grupo ou ao grupo de maior escala. Permitam-me recordar aqui uma experiência pessoal para ilustrar o que quero dizer: não faz muito, eu debatia com um homem inteligente e de boa disposição sobre a ameaça de mais uma guerra – o que, na minha opinião, poria em sério perigo a existência da humanidade – e observei que somente uma organização supranacional ofereceria proteção contra esse perigo. Nesse ponto o meu visitante me disse, com toda calma e indiferença: “Mas por que você se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?”
Tenho certeza que apenas um século atrás ninguém teria declarado algo desse tipo com toda essa despreocupação. Temos aí uma declaração de um homem que lutou em vão para alcançar um equilíbrio interior e mais ou menos perdeu a esperança de alcançá-lo. É expressão de uma dolorosa solidão e isolamento, de que tanta gente sofre hoje em dia. Qual é a causa? Existe saída?
É fácil levantar essas perguntas, mas é difícil respondê-las com qualquer grau de segurança. No entanto eu preciso tentar, o melhor que puder, embora esteja bem consciente de que nossos sentimentos e aspirações são muitas vezes contraditórios e obscuros, e não podem ser expressos em nenhuma fórmula simples e fácil.
O homem é ao mesmo tempo um ser solitário e um ser social. Como ser solitário, ele tenta proteger sua própria existência e a dos que lhe são mais próximos, satisfazer seus desejos pessoais, desenvolver suas habilidades inatas. Como ser social, busca conquistar o reconhecimento e afeição dos seus companheiros de humanidade, compartilhar de seus prazeres, confortá-los em seus sofrimentos, melhorar suas condições de vida. Somente a existência dessas diferentes aspirações, muitas vezes conflitantes, já responde pelo caráter especial de uma pessoa, e sua combinação específica determina a medida em que o indivíduo consegue, por um lado, alcançar um equilíbrio interior e, por outro lado, consegue contribuir para o bem-estar da sociedade.
É bem possível que a intensidade relativa desses dois impulsos seja, em seu principal, determinada pela hereditariedade – mas a personalidade que termina emergindo é formada em ampla medida pelo ambiente em que acontece de a pessoa se encontrar durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que ela cresce, pela tradição daquela sociedade, e pelo valor que a sociedade atribui a este ou àquele tipo de comportamento.
Para o indivíduo humano, o conceito abstrato “sociedade” significa a soma de suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas das gerações anteriores. O indivíduo é capaz de pensar, sentir, aspirar e trabalhar por si mesmo; mas [ao mesmo tempo] ele depende tanto da sociedade – em sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensá-lo ou entendê-lo fora da moldura que é o contexto social. É “a sociedade” o que lhe proporciona comida, roupas, um lar, a ferramentas do seu trabalho, a linguagem, as formas de pensar, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida se faz possível mediante o trabalho e realizações dos muitos milhões, passados e presentes, que estão escondidos por trás da pequena palavra “sociedade”.
É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido – tanto quanto o é no caso das formigas e abelhas. No entanto, enquanto o inteiro processo de vida das formigas e abelhas é determinado nos mínimos detalhes por instintos hereditários rígidos, o padrão social e os inter-relacionamentos dos seres humanos são altamente variáveis e suscetíveis de mudanças. A memória, a capacidade de realizar novas combinações e o dom da comunicação verbal possibilitaram desenvolvimentos, entre os seres humanos, que não são ditados por necessidades biológicas. Tais desenvolvimentos se manifestam em tradições, instituições e organizações; em literatura; em realizações científicas e técnicas; em obras de arte. Isso explica como acontece de o ser humano ser capaz de, em certo sentido, influir em sua vida mediante a sua própria conduta, e de que nesse processo o pensamento e a vontade conscientes consigam desempenhar um papel.
O ser humano adquire ao nascer, através da hereditariedade, uma constituição biológica que precisamos considerar determinada e inalterável, inclusive os impulsos naturais que são característicos da espécie humana. Em acréscimo, ao longo de sua vida ele adquire uma constituição cultural que ele adota da sociedade por meio da comunicação e de muitos outros tipos de influências. É a sua constituição cultural que está sujeita a mudanças com a passagem do tempo, e que determina em vasta medida a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna nos ensinou, através da investigação comparativa das culturas chamadas de primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode diferir grandemente, dependendo dos padrões culturais e dos tipos de organização que predominam na sociedade. Os que se empenham em melhorar a condição humana podem fundamentar suas esperanças nisso: seres humanos não estão condenados por sua constituição biológica a aniquilarem uns aos outros, nem a estar à mercê de um destino cruel autoinfligido.
Se nos perguntarmos de que modo a estrutura da sociedade e a atitude cultural do ser humano deveriam ser mudados para tornar a vida humana tão satisfatória quanto possível, deveríamos estar sempre conscientes de que há certas condições que somos incapazes de modificar. Como já foi mencionado, para todos os efeitos práticos a natureza biológica do ser humano não é modificável. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos criaram condições que estão aqui para ficar. Em populações assentadas com considerável densidade, levando em conta os bens que são indispensáveis para a continuidade de sua existência, tornam-se absolutamente indispensáveis uma extrema divisão de trabalho e um aparato produtivo altamente centralizado. Foi-se para sempre o tempo – que, olhando-se para trás, parece tão idílico – em que indivíduos ou grupos relativamente pequenos podiam ser completamente autossuficientes. Há pouco exagero em dizer que a humanidade já constitui uma comunidade planetária de produção e consumo.
Cheguei agora ao ponto em que posso indicar brevemente o que, para mim, constitui a essência da crise do nosso tempo: refere-se à relação do indivíduo com a sociedade. O indivíduo se tornou mais consciente do que nunca de sua dependência da sociedade - mas sua experiência dessa dependência não é a de um bem positivo, um laço orgânico, uma força protetora, e sim a de uma ameaça aos seus direitos naturais, ou até mesmo à sua existência econômica. Além disso, o indivíduo está posicionado na sociedade de modo tal, que os impulsos egoístas da sua constituição recebem reforço constante, enquanto que os seus impulsos sociais, que por natureza já são mais fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, qualquer que seja sua posição na sociedade, vêm sofrendo esse processo de deterioração. Prisioneiros de seu próprio egoísmo sem saber disso, sentem-se inseguros, sozinhos e privados de todo desfrute da vida que seja inocente, simples, não sofisticado. O ser humano somente pode encontrar sentido na vida, curta e arriscada como é, mediante sua dedicação à sociedade.
A anarquia econômica da sociedade capitalista como existe hoje é, na minha opinião, a verdadeira fonte do mal. Vemos diante de nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros se empenham sem cessar em privar uns aos outros dos frutos de seu trabalho coletivo – não por força, mas em inteiro e fiel cumprimento de regras estabelecidas legalmente. A respeito disso, é importante dar-se conta [do papel do fato] de que os meios de produção – quer dizer, tudo o que dá capacidade de produzir bens para os consumidores, bem como bens de capital adicionais – possam ser propriedade privada de indivíduos (e de fato o sejam, em sua maior parte).
Pelo bem da simplicidade, na discussão a seguir chamarei de “trabalhadores” todos os que não têm parte na propriedade dos meios de produção – embora isso não corresponda com exatidão ao uso costumeiro do termo. O proprietário dos meios de produção está em posição de comprar a força de trabalho do trabalhador. Usando os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que se tornam propriedade do capitalista. O ponto essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e aquilo que lhe pagam, ambos medidos em termos de valor real. Na medida em que a contratação do trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe não é determinado pelo valor real dos bens que ele produz, e sim por quais são suas necessidade mínimas, bem como pela relação entre a demanda por força de trabalho por parte dos capitalistas e o número de trabalhadores que competem por empregos. É importante entender que nem mesmo na teoria o pagamento do trabalhador é determinado pelo valor do seu produto.
Capital privado tende a se concentrar em poucas mãos, em parte devido à competição entre os capitalistas, em parte porque o desenvolvimento tecnológico e o crescimento da divisão do trabalho estimulam a formação de unidades de produção maiores, em prejuízo das menores. O resultado desses desenvolvimentos é uma oligarquia do capital privado, cujo enorme poder não pode ser efetivamente controlado sequer por uma sociedade política democraticamente organizada.
Isso é assim porque os membros dos corpos legislativos são selecionados por partidos políticos, que são amplamente financiados, ou influenciados de algum outro modo, por capitalistas privados que, para todos os propósitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem de fato e de modo suficiente os interesses dos setores menos privilegiados da população. Além disso, nas condições atuais os capitalistas privados inevitavelmente controlam, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). Torna-se assim extremamente difícil para o cidadão individual, e de fato impossível na maioria dos casos, chegar a conclusões objetivas e fazer uso inteligente dos seus direitos políticos.
A situação predominante em uma economia baseada na propriedade privada de capital caracteriza-se então por dois princípios centrais: primeiro, os meios de produção (capital) são possuídos privadamente, e os proprietários dispõem deles como acham melhor; segundo, a contratação de trabalho é livre [isto é, não regulada]. É claro que não há sociedade capitalista pura nesse sentido. Em especial, é preciso registar que os trabalhadores, através de longas e amargas lutas políticas, conseguiram assegurar uma forma um tanto melhorada de “livre contrato de trabalho” para algumas categorias de trabalhadores. Mas, tomada em seu conjunto, a economia atual não difere muito de um capitalismo “puro”.
A produção é realizada com a finalidade do lucro, não com a do uso. Não existem disposições para garantir que todas as pessoas capazes e dispostas a trabalhar sempre consigam achar emprego; quase sempre existe um “exército de desempregados”. O trabalhador está perpetuamente com medo de perder seu emprego. Devido ao fato de que desempregados e trabalhadores mal pagos não formam um mercado rendoso, a produção de bens de consumo é restrita, o que resulta em grandes privações. O progresso tecnológico resulta com frequência em mais desemprego, em lugar de aliviar a carga de trabalho para todos. O lucro como motivação, em conjunto com a concorrência entre os capitalistas, é responsável por uma instabilidade na acumulação e utilização do capital, a qual leva a crises cada vez mais graves. A competição irrestrita leva a um gigantesco desperdício de força de trabalho, e também àquela deformação da consciência social dos indivíduos, que eu mencionei anteriormente.
Essa deformação dos indivíduos, eu a considero o pior dos males do capitalismo. Nosso sistema educacional inteiro sofre desse mal. Uma atitude competitiva exagerada é inculcada no estudante, que, como preparação para sua futura carreira, é treinado para idolatrar um sucesso aquisitivo.
Estou convencido de que existe apenas um caminho para eliminar esses graves males, e esse é o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educacional orientado para objetivos sociais. Em uma economia tal, os meios de produção são propriedade da própria sociedade, e utilizados de modo planejado. Uma economia planejada, que ajusta a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre todos os capazes de trabalhar, e garantiria o sustento de cada homem, mulher e criança. A educação do indivíduo, além de desenvolver suas próprias habilidades inatas, se empenharia em desenvolver nele um senso de responsabilidade por seus companheiros de humanidade, em lugar da glorificação do poder e do sucesso, como temos na sociedade atual.
Contudo é preciso lembrar que uma economia planejada ainda não é socialismo. Uma economia planejada pode ser acompanhada por uma escravização completa do indivíduo. A realização do socialismo requer a solução de alguns problemas sociopolíticos extremamente difíceis: como é possível, em face da centralização abrangente do poder político e econômico, impedir que a burocracia se torne todo-poderosa e prepotente? Como se podem proteger os direitos do indivíduo e garantir com isso um contrapeso democrático ao poder da burocracia?
A clareza quanto às metas e aos problemas do socialismo é da mais alta significação em nossa era de transição. Como, na conjuntura atual, a discussão livre e sem barreiras destes problemas se tornou um grande tabu, eu considero a fundação desta revista um relevante ato de interesse público.
Organizados por grupos progressistas, mais de 2.600 protestos ocorrem hoje nos EUA contra políticas do presidente Donald Trump. O movimento ganhou o nome de "No Kings"; entenda movimento.
As fake news estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia, influenciando opiniões e decisões. Entender como elas surgem, porque se espalham e de que maneira podemos enfrentá-las é essencial.
No curso “Como identificar e combater fake news”, Laura Sabino revela os mecanismos da desinformação e mostra, em oito aulas, como identificar conteúdos falsos, compreender seu impacto nas redes sociais e aplicar estratégias práticas para combatê-los.
Em tempos de manipulação digital, reconhecer e enfrentar as fake news é fundamental para fortalecer a consciência crítica e a democracia.
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Laura Sabino - Graduanda em História, youtuber e militante política
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo atuou em operações estratégicas de desinformação sobre as urnas eletrônicas para mobilizar a população a favor da criação de um ambiente favorável ao golpe e também na produção de dossiês de adversários dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Núcleo 2 do golpe: STF julga homens de confiança de Ramagem e oficiais do Exército
Grupo atuou em operações estratégicas de desinformação sobre as urnas eletrônicas
Por Juliana Dal Piva
A partir desta terça-feira (14), a Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) julga o núcleo 2 da organização criminosa que tentou um golpe de estado no Brasil após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo atuou em operações estratégicas de desinformação sobre as urnas eletrônicas para mobilizar a população a favor da criação de um ambiente favorável ao golpe e também na produção de dossiês de adversários dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Entre os sete réus que serão julgados a partir de hoje estão dois homens de confiança do deputado federal Alexandre Ramagem, que foi diretor-geral da Abin durante o governo de Bolsonaro.
STF começa a julgar hoje o Núcleo 2 da tentativa de golpe (Foto:Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Quem são os integrantes do Núcelo 2 do golpe
1. Ailton Gonçalves Moraes Barros (ex-major do Exército, expulso em 2006)
É acusado de integrar o núcleo responsável por incitar a adesão de militares ao golpe e atacar comandantes das Forças Armadas que se recusassem a apoiar a ação, atuando sob ordens do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. Segundo investigações, mensagens trocadas por ele com o ex-ministro Braga Netto mostram que recebia orientações para atacar os comandantes do Exército e da Aeronáutica porque ambos foram contrários ao golpe.
2. Ângelo Martins Denicoli (major da reserva do Exército)
Atuou como diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS quando Eduardo Pazuello estava à frente da pasta e teria disseminado informações falsas sobre o processo eleitoral. É acusado de editar um documento com informações falsas sobre o sistema eletrônico eleitoral, e a PGR afirma que ele coordenou a produção e distribuição de fake news nas redes sociais.
3. Marcelo Araújo Bormevet (agente da Polícia Federal)
Um dos principais homens de confiança de Ramagem, ele trabalhou na Abin do final de 2019 até meados de 2022. Segundo a PF, fazia parte da “Abin paralela”. Entre as acusações está a criação de notícias falsas sobre os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso do STF, incluindo teorias conspiratórias visando desacreditar o processo eleitoral. É considerado réu por ter usado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar opositores.
4. Giancarlo Gomes Rodrigues (subtenente do Exército)
É acusado de integrar a “Abin paralela” para monitorar opositores. Foi cedido à Abin na gestão de Alexandre Ramagem. Para a PGR, Rodrigues e Bormevet agiram de forma coordenada com o núcleo central da organização criminosa, organizando a produção e disseminação de informações falsas contra os alvos apontados publicamente pelo ex-presidente Bolsonaro com o objetivo de enfraquecer as instituições.
5. Carlos César Moretzsohn Rocha (presidente do Instituto Voto Legal) Elaborou em 2022, a pedido do PL, um relatório que falava em supostas falhas nas urnas eletrônicas. Com base no documento apresentado, o PL defendeu que as supostas falhas justificariam a anulação de parte dos votos computados.
6. Guilherme Marques de Almeida (tenente-coronel do Exército)
A acusação aponta que Guilherme Marques de Almeida tinha “papel tático na organização criminosa”. Segundo o Ministério Público, sua “proatividade na propagação da desinformação chamou a atenção das investigações”.
7. Reginaldo Vieira de Abreu (coronel da reserva)
Segundo a PGR, ele tentou interferir no Relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas para “manipular a opinião pública em favor da ruptura institucional”. É acusado de ter praticado monitoramento ilegal ao tirar e compartilhar fotos do ministro do STF Gilmar Mendes no aeroporto de Lisboa. As imagens foram enviadas por WhatsApp para o general Mário Fernandes, criador do Plano Punhal Verde Amarelo, o que caracterizou uma ação de vigilância não autorizada contra uma autoridade pública. Segundo a PF, as imagens foram capturadas em 20 de novembro de 2022. Antes disso, ele já tinha elaborado uma minuta que previa medidas como a prisão do ministro.
PGR pede condenação de 7 réus do núcleo da desinformação da trama golpista
Paulo Gonet diz que todos os acusados atuaram para alcançar o golpe de Estado
Por Cézar Feitosa
(Folhapress) — O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu nesta terça-feira (14) a condenação de todos os réus acusados de difundir desinformação sobre as urnas eletrônicas e de promover ataques contra os chefes das Forças Armadas contrários à trama golpista de 2022.
A sentença condenatória foi defendida por Gonet durante sua sustentação oral no julgamento do núcleo 4 da trama golpista. As sessões que analisam a denúncia contra os escalões inferiores da tentativa de golpe de Estado tiveram início nesta terça.
Os réus do núcleo
São réus neste núcleo Ailton Barros (major expulso do Exército), Ângelo Denicoli (major da reserva do Exército), Giancarlo Gomes Rodrigues (sargento do Exército), Guilherme Marques de Almeida (tenente-coronel do Exército), Reginaldo Vieira de Abreu (coronel do Exército), Marcelo Bormevet (policial federal) e Carlos Cesar Rocha (presidente do Instituto Voto Legal).
Fala de Gonet
Paulo Gonet usou seu tempo de fala no julgamento para rebater algumas das principais críticas das defesas dos réus à acusação sobre a trama golpista. Um dos pontos levantados pelos advogados é sobre a distância de tempo entre a atitude de alguns dos denunciados com os atos finais da tentativa de golpe de Estado.
“É certo que dentro de uma organização criminosa, seus integrantes respondem pela totalidade dos ilícitos cometidos. Mesmo as condutas distantes cronologicamente são alcançadas pelas condutas dos novos integrantes, porque são dirigidas para a mesma finalidade”, disse.
O PGR disse que o grupo de acusados atuou no campo de “guerra informacional” para disseminar desconfiança sobre as urnas eletrônicas antes das eleições presidenciais de 2022. Após a vitória de Lula (PT), os réus teriam incentivado a narrativa falsa de fraude.
“No caso dos réus desse núcleo da AP, responsável pelas campanhas de desinformação, ficou claro o impacto do seu comportamento para o desfecho violento do 8 de janeiro de 2023”, completou. Gonet usou 50 minutos de seu tempo de fala.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet (Foto: Marcelo Camargo/EBC)
A defesa do major da reserva Ângelo Denicoli pede a absolvição do réu, entre outros motivos, sob o argumento de que parte das alegações finais da PGR contra o acusado cita provas que não foram incluídas no processo.
Trata-se de documentos obtidos com as buscas contra o ex-assessor Flávio Peregrino, auxiliar de Braga Netto. A operação contra ele ocorreu em dezembro, após o indiciamento dos réus da trama golpista, e os achados da PF não foram incluídos no processo.
Gonet disse que esse argumento não deve prosperar. Para a PGR, as provas não incluídas no processo são um “elemento de convicção” das condutas criminosas de Denicoli, e não uma prova isolada para a condenação.
O primeiro dia de julgamento do núcleo da desinformação da trama golpista é dedicado à leitura do relatório do ministro Alexandre de Moraes e às sustentações orais da acusação e das defesas.
A PGR teve duas horas para se manifestar, e cada uma das sete defesas tem uma hora para apresentar os argumentos para a absolvição dos réus.
A sessão desta terça foi diferente dos dias de julgamento do núcleo central da trama golpista, que culminou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e 3 meses de prisão.
O plenário da Primeira Turma ficou mais esvaziado, com menos jornalistas e integrantes de gabinetes de ministros. A estrutura de segurança também é menor, em comparação com os dias de julgamento de Bolsonaro e seus aliados mais próximos.
Os ataques partiram de um movimento político de extrema-direita em Florianópolis, liderado por pais de alunos, que age contra docentes que se posicionam contra a militarização da Escola de Ensino Básico De Muquém, no bairro São João do Rio Vermelho.
Professores são atacados por pais extremistas em Florianópolis
Escalada de tensão na escola envolve pais radicais que defendem militarização e intimidam professores
A história da orientadora escolar Juliana Andozio e do professor de Artes Andrei Dorneles repercutiu nos últimos dias, após imagens em que os professores aparecem sendo intimidados e perseguidos circularem pelas redes sociais. Os ataques partiram de um movimento político de extrema-direita em Florianópolis, liderado por pais de alunos, que age contra docentes que se posicionam contra a militarização da Escola de Ensino Básico De Muquém, no bairro São João do Rio Vermelho.
Juliana é vítima de sucessivos episódios de perseguição, ameaça e intimidação. Esses casos renderam boletins de ocorrência, processos administrativos disciplinares e até uma condenação de um vereador da Capital de Santa Catarina. Andrei foi vítima da escalada dessa radicalização, sofrendo agressões físicas com socos e chutes, a poucos metros da escola, por um pai da comunidade.
Unidos no combate aos ataques extremistas e na luta pelo direito de exercerem sua atividade profissional, eles vivem, hoje, entre os aplausos de quem reconhece sua coragem e o luto pela perda de um chão que deveria formar crianças e jovens para um mundo desafiador.
Andrei se exilou por medo. Juliana continua na escola, mas permanece sendo alvo de ataques. Todos os dias, ela teme por um novo processo administrativo que a leve a perder o emprego, conquistado por meio de concurso público e que oferece estabilidade.
Há grupos de pais no Whats App que mantêm a intenção de derrubá-la desde que ela acolheu uma aluna trans, em 2023. A perseguição foi estimulada por um vereador da comunidade, localizada no norte da Ilha, uma das áreas mais populosas da cidade.
O vereador bolsonarista João Paulo Ferreira (PL-SC), conhecido por Bericó, usou suas redes sociais para incitar os ataques à professora, com discursos que mentiam sobre sua conduta. Um acordo conduzido pelo Ministério Público o obrigou a cumprir 70 horas de serviços comunitários.
Escola onde professores foram alvos de ameaças e agressões, em Florianópolis. Foto: Reprodução
Radicalização e militarização
Além dele, deputados também inflam o que a ala bolsonarista ideológica chama de “guerra cultural”. Esses discursos alimentam o movimento chamado “Pais Conservadores de Floripa”, que replicam as falas de autoridades e tratam os professores como inimigos da comunidade e dos estudantes.
O grupo extremista faz acusações graves e nunca comprovadas sobre a conduta dos professores agredidos. Juliana possui um drive com 43 pastas com registros de ameaças, em vídeos e imagens, desde 2023.
No caso de Andrei, que é homossexual e casado, as acusações que levaram à agressão e ameaça de morte envolvem denúncias de assédio feitas via redes sociais e em grupos de WhatsApp, sem qualquer comprovação material. Professor há 18 anos, ele teve que recorrer ao autoexílio com o suporte da família e hoje só consegue dormir com a ajuda de medicamentos.
Juliana considera que a agressão sofrida pelo colega foi, na verdade, uma etapa da escalada de violência e tensão que ela própria vinha sofrendo. Sem qualquer suporte da Secretaria de Educação, pais radicalizados, alguns dos quais participaram dos acampamentos golpistas pós eleições de 2022, continuaram a lutar pela sua saída da escola desde que atendeu uma aluna trans, anos atrás.
Quando Andrei chegou, neste ano, foi visto como aliado, uma vez que se opôs ao projeto de militarização da escola.
Ele conta que, em resposta a um ato de apoio logo após o episódio de agressão, o grupo extremista se manifestou, sem questionar a conduta do professor. O foco permanecia a militarização, defendida em faixas e cartazes.
“Aí que a nossa ficha caiu. Eles viram que eu me coloquei contra o projeto de militarização e que eu falava nas salas de aula com os estudantes quando questionado”, disse Andrei.
“A doutrinação das crianças para a militarização é um projeto deles, eles não vão desistir”, completa Juliana.
O governo de Santa Catarina tem um projeto de escolas cívico-militares em curso. Mesmo após ser derrubado pelo Ministério da Educação, o Estado continua transformando unidades escolares em braços de um projeto questionado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) em Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF).
Futuro incerto e saúde mental
O medo do presente e do futuro une Andrei e Juliana. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte-SC), há uma epidemia de violência em curso. Violência física, verbal e assédio, ameaças, denúncias e acusações falsas se somam à precarização do trabalho, sobrecarga, retirada da autonomia pedagógica e pressão por resultados.
Os transtornos de saúde mental são citados por 62% dos docentes como principais causas de afastamento, segundo o Relatório Técnico da 5ª Pesquisa de Saúde Docente, de 2024. Andrei é exemplo dos efeitos psicológicos do ambiente de tensão: tem crises de ansiedade e pânico, usa medicação e precisa de acompanhamento.
Recentemente, o Sinte lançou um canal de denúncias para mapear e combater os crescentes casos de violência nas escolas. A proposta é que o Sindicato aja de forma mais assertiva na defesa dos direitos da categoria e na cobrança de políticas públicas eficazes, a partir de informações tratadas sob sigilo.
“Eu tenho que pensar bem o que eu vou fazer no futuro, mas no momento minha opção foi ficar e lutar mais um pouquinho esse ano. E o ano que vem é outro ano. A extrema direita focou na educação e não vai desistir. Então, a gente tem que se fortalecer e fazer o nosso projeto”, disse Juliana.
O projeto, explica Andrei, é garantir que a educação cumpra seu papel. Toda vez que foi chamado à direção da escola para dar explicações a famílias sobre aspectos questionados em seu trabalho, ele se municiou de estudos sobre legislação e sobre os princípios norteadores dos currículos, para garantir que sua atividade não é ilegal e nem foge do que se preza nos documentos oficiais.
“Hoje eu não consigo, eu não me vejo apto emocionalmente para voltar à sala de aula. E falar de futuro, para mim, tem sido muito difícil: tenho conseguido viver um dia de cada vez, resolver as demandas de cada dia nessa luta pela justiça”, contou emocionado.
“O que eu quero é que as mesmas pessoas que me difamam na internet precisem vir a público falar sobre a mentira e os danos que causaram nas nossas vidas, para nunca mais fazerem isso com ninguém”, completou.
Ausência de proteção estatal
A Secretaria de Educação de Santa Catarina informou, por e-mail, que possui um projeto de combate à violência contra professores, previsto para ser lançado ainda em outubro. Entre as principais ações, destacam-se: sensibilização dos estudantes e famílias para o respeito ao professor; acolhimento do professor vítima de violência, bem como o registro da ocorrência contra o agressor.
Para Juliana e Andrei, a ausência de proteção efetiva do Estado acirrou a tensão na comunidade e os levou à brutalidade e adoecimento. “O Estado tem condições e o dever de nos indenizar, assim como qualquer outro profissional da educação que passe por situações parecidas”, pontuou Andrei.
Na pesquisa Razões da epidemia de violência contra professoras e professores do Ensino Básico brasileiro, do Observatório do Estado Social Brasileiro, pesquisadores descrevem o fenômeno como “erosão da esperança, que escapa como o pó do giz branco da lousa”.
“É sobre como nossos colegas do Ensino Básico tornaram-se reféns; reféns que, hoje, sentem no corpo as mais variadas formas de violência territorializadas no espaço escolar”.