O Will Bank é um dos patrocinadores do Domingão, um dos programas de maior audiência da TV Globo. Não se trata de um patrocínio barato. Inclui abertura do quadro, menções verbais do apresentador, cenografia e prêmios. São de 8 a 12 minutos de exposição qualificada por programa.
Estimativas do mercado indicam que, se o quadro rodou de 6 a 8 domingos, ele poderá estar pagando entre R$ 120 milhões a R$ 160 milhões pelo patrocínio. Conseguiu cerca de meio milhão de inscritos via app, com cadastro ativo.
Detalhe: ele está sob controle do Banco Master Múltiplo, um braço do Master que só não foi liquidado para dar tempo de negociar o Will Bank. Mas entrou em um RAET (Regime de Administração Especial Temporária), ferramenta do Banco Central do Brasil (BCB) para intervir em instituições financeiras com problemas graves, substituindo a gestão por um conselho ou especialista temporário, sem parar as atividades normais, com o objetivo de estabilizar a instituição e o sistema financeiro, podendo levar à normalização ou outra solução de mercado.
A única razão para não ter tido o mesmo destino do Master foi para permitir a conclusão da venda do Will Bank para algum investidor. O Will Bank foi adquirido pelo Master no ano passado. Falava-se no interesse do fundo Mubadala. Mas havia o receio de que a demora na venda acabar fazendo com que a situação do Master agravasse a do Will Bank.
O Will tem cerca de R$ 7 bilhões em passivos e cerca de R$ 8 bilhões em transações correntes com a bandeira Mastercard. Em novembro, o BC alterou as regras sobre gerenciamento de riscos nos arranjos de pagamento, aumentando as responsabilidades das bandeiras de cartões.
E aí entra-se em um terreno escorregadio.
Quando uma instituição financeira acelera marketing de massa ao mesmo tempo em que enfrenta aperto de liquidez, depende de captações sensíveis (CDBs, LCIs, fintechs de varejo) ou está sob pressão regulatória, isso costuma indicar uma tentativa de ganhar tempo. Marketing, aqui, deixa de ser só crescimento e vira instrumento de gestão de risco.
O marketing do Will Bank é em volume atípico, com patrocínio em TV aberta de altíssimo custo, “branded content” (formato de comunicação em que uma marca financia, cocria ou viabiliza um conteúdo), com exposição contínua, e não pontual. Trata-se de aposta pesada.
Há um sinal regulatório clássico, que acende três luzes amarelas:
a) Marketing cresce enquanto margem aperta
Sugere que crescimento orgânico não está sustentando o modelo.
b) Foco em público de massa
Base mais pulverizada = menos fuga coordenada mais sensível a ruído quando a crise aparece
c) Contratos longos de mídia
Viraram ponto de atenção porque:
consomem caixa
criam obrigações futuras
podem ser questionados em regimes especiais
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Luis Nassif
Jornalista, com passagens por diversos meios impressos e digitais ao longo de mais de 50 anos de carreira, pelo qual recebeu diversos reconhecimentos (Prêmio Esso 1987, Prêmio Comunique-se, Destaque Cofecon, entre outros). Diretor e fundador do Jornal GGN.
Dois cofres esquecidos no Palácio do Alvorada por dois anos e meio finalmente foram abertos pela Polícia Federal em junho de 2025. Dentro deles: documentos pessoais de Bolsonaro e "outros bens" cuja origem precisa ser esclarecida. Agora, na véspera de Ano Novo, o ex-presidente condenado a 27 anos de prisão terá que responder perguntas que podem adicionar novos crimes à sua condenação.
Enquanto o Brasil celebra a virada do ano, Bolsonaro enfrentará um interrogatório que pode revelar os últimos segredos da trama golpista. O que estava tão bem guardado que ele simplesmente deixou para trás? Por que a PF demorou seis meses para convocá-lo? E principalmente: o que mais vamos descobrir sobre os bastidores do golpe?
Referências:
Poder360: "Moraes autoriza PF a ouvir Bolsonaro sobre cofres do Alvorada"
Agência Brasil: "PF acha documentos no Alvorada e pede para interrogar Bolsonaro"
CNN Brasil: "Bolsonaro é condenado a 27 anos e 3 meses de prisão por plano de golpe"
Agência Pública: "STF decide fim do processo que condena Jair Bolsonaro"
O caso Malu Gaspar deflagrou uma discussão curiosa sobre princípios do jornalismo e da reportagem. Até a, em geral, prudente ombudsman da Folha embarcou na retórica das falsas analogias.
Diz ela, citando um colega:
Jornalista não precisa apresentar provas, isto é papel da Justiça. Está correta.
Watergate começou com uma denúncia sem provas e, com o tempo, resultou na queda de Nixon.
Qual a lógica dela? Como tanto Watergate quanto o caso Malu Gaspar têm em comum a não apresentação (inicial) de provas. Logo, as denúncias de Malu têm tanto peso quanto às de Watergate. Tenha a santa paciência!
Poderia ter recorrido a uma comparação mais caseira: a Lava Jato, da qual Malu Gaspar foi uma das principais porta-vozes. A maioria das denúncias da Lava Jato não vinha acompanhada de provas ou, no máximo, vinha com provas plantadas. Grande parte se revelou falsa e, mesmo assim, foi endossada pela mídia. Logo…
Malu trouxe uma informação concreta: o contrato do escritório da família de Alexandre de Moraes com o Banco Master. Não bastou. Trouxe, então, um reforço: a suposta interferência de Moraes no BC, na forma de 4 telefonemas e uma reunião presencial com o presidente do BC, Gabriel Galípolo, para supostamente tentar reverter a decisão do BC, de liquidar o Master.
O contrato advocatício atenta contra a ética. A suposta interferência direta do Ministro pode ser enquadrada em crime. Justamente por isso exigiria um conjunto de evidências que fortalecesse a versão apresentada.
Qual a evidência? A informação vaga de que se baseara em 5 fontes do mercado e uma do Banco Central. Logo em seguida duas colegas, de outros jornais, soltaram a mesma denúncia, baseada nas mesmas fontes.
Na era do WhatsApp, basta uma pessoa chegar em um grupo e dar uma informação sensível. Imediatamente todas as pessoas do grupo passam a deter a tal informação. Apenas uma supostamente teve acesso à fonte original. Mas todas as 6, agora, têm a informação.
Ainda mais sabendo que um dos recursos de impacto da jornalista, em suas notas, sempre foi a de usar fontes individuais de forma genérica, um estilo que acaba permitindo que uma mera nota irrelevante, de repente, ganhe peso jornalístico aos olhos do leigo . Ficou famosa a série de “tal medida provocou mal-estar nos militares”, como se o sentimento fosse de todos os militares.
Por exemplo, há uma divisão no STF entre dois grupos, cisão conhecida. O título da nota será : “Decisão de Moraes causa mal estar no Supremo”. E, aí, ingressa-se em um estilo peculiar de caça-likes, que consiste em esquentar informações secundárias.
Não apenas isso.
Outro indicador da parcialidade da mídia – e de repórteres – é a seletividade das denúncias.
Vamos a dois casos emblemáticos:
O Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Jhonatan de Jesus, indicado pelo PL, questionou diretamente o Banco Central, pediu informações detalhadas em 72 horas, para comprovar que o Master não poderia ter sido salvo via mercado. Intenção óbvia de tentar uma reversão da liquidação. Repercussão mínima na imprensa.
O Ministro Dias Toffoli convoca o diretor de fiscalização do BC e um diretor do BRB para esclarecer a demora do BC em impedir as aventuras do Master. Nenhum indício de que pretenderia reverter a liquidação do banco. Mas soltam balões de ensaio, dizendo que Toffoli pretenderia ressuscitar o Master, gerando um sem-número de protestos em cima do nada.
O que se tem a esclarecer
O ponto central a ser esclarecido não são as circunstâncias da liquidação do Master, mas a razão do BC ter demorado tanto tempo para liquidar a instituição – e aí se remete ao período de Roberto Campos Neto. Gabriel Galípolo cumpriu seu papel, enviando os inquéritos para o Ministério Público Federal.
Mas desde 2019 havia sinais de que o Master era uma pirâmide. E os golpes não se limitaram aos fundos municipais de previdência, ou à constituição de ativos falsos para rechear seus fundos. O mercado sabia que era um golpe, mas grandes instituições lucraram muito colocando os papéis do Master no mercado. Colocavam as cotas dos fundos, recebiam suas taxas de corretagem e os clientes que explodissem mais à frente.
E aí se volta às denúncias seletivas. Nada se fala sobre os volumes expressivos de títulos do Master vendidos pela XP e pelo BTG. Nada se fala sobre a paralisação dos processos do Master no Banco Central.
Pouquíssimo se falou sobre o envolvimento de Campos Neto com operações de lavagem de dinheiro, quando presidia a Tesouraria do Santander e, depois, como presidente do BC, as normas que adotou para flexibilizar o mercado, abrindo espaço para a enorme zorra posterior.
A ofensiva contra Alexandre de Moraes não se deve aos seus defeitos, mas ao seu papel de âncora da democracia contra o golpismo, e um dos aríetes do STF para deslindar a mais ampla teia de corrupção já instalada no país: o sistema de lavagem de dinheiro incrustado na Faria Lima. E as reações não vêm só do sistema lavajatista.
Pelo visto, André Esteves, um dos donos do país, aprendeu bem com seu antecessor, Daniel Dantas: não basta cooptar a mídia mainstream.
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Luis Nassif
Jornalista, com passagens por diversos meios impressos e digitais ao longo de mais de 50 anos de carreira, pelo qual recebeu diversos reconhecimentos (Prêmio Esso 1987, Prêmio Comunique-se, Destaque Cofecon, entre outros). Diretor e fundador do Jornal GGN.
O que era para ser apenas mais um comentário ao vivo virou clima de pânico na Globo.
Após um xeque-mate inesperado aplicado por Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, jornalistas da Rede Globo foram pegos de surpresa ao vivo, sem narrativa pronta, sem controle do discurso e visivelmente desconfortáveis.
O episódio expôs:
o descompasso da cobertura
a reação nervosa no estúdio
e o impacto direto das decisões do STF no jogo político atual
Neste vídeo, você vai entender o que mudou, por que o estúdio entrou em colapso e por que esse momento não estava nos planos de ninguém.
👉 Assista até o final para compreender os bastidores e as consequências reais desse xeque-mate.
A situação não admite soluções simples. Estamos diante de um emaranhado institucional que exige análise cuidadosa de cada um de seus componentes.
A Infiltração Criminosa no Estado
Durante os governos Temer e Bolsonaro, seis anos de desmonte institucional deliberado criaram condições para que um vasto ecossistema criminoso se enraizasse na estrutura do Estado brasileiro. A contaminação atingiu:
Congresso Nacional — onde as emendas secretas tornaram-se canal de desvio de recursos públicos.
Prefeituras — através de Organizações Sociais que operam como fachada.
Economia ilegal — redes de tráfico de drogas articuladas com esquemas no comércio de combustíveis.
Justiça e regulação — infiltrações estratégicas em tribunais e órgãos reguladores.
A metáfora de uma bacia hidrográfica ilustra bem o funcionamento: diversos fluxos ilícitos convergem para a Faria Lima, onde o dinheiro sujo é lavado, reciclado e reinvestido em novos golpes mediante fundos fictícios interconectados. O Banco Master ocupa o centro operacional dessa engrenagem, tendo Nelson Tanure como seu orquestrador principal.
A Guinada do STF
A trajetória do Supremo Tribunal Federal nas últimas décadas é marcada por contradições. Sua postura durante a Lava Jato, incluindo o controverso impeachment de Dilma Rousseff, contrasta dramaticamente com sua atuação posterior. Diante das investidas autoritárias do bolsonarismo, o STF reinventou-se como guardião da institucionalidade democrática, respaldando não apenas a resistência às tentativas golpistas, mas também a ofensiva da Polícia Federal contra a criminalidade infiltrada no Estado.
Alexandre de Moraes tornou-se a personificação dessa resistência. Sua condução dos julgamentos do 8 de janeiro, sua firmeza diante das pressões do governo Trump, sua persistência na operação contra as fake news — cada um desses episódios já justificaria seu lugar entre os grandes nomes da história do Supremo. Ele se consolidou como o símbolo mais visível da força institucional do tribunal. Contudo, há uma vírgula nessa narrativa…
A Ofensiva que Mexe no Vespeiro
Nos últimos meses, uma sequência de operações ampliou exponencialmente o alcance e o poder de intervenção do STF:
Curitiba exposta — a abertura dos arquivos da 13ª Vara Federal pode revelar um sistema de chantagens que contaminou o Judiciário por mais de dez anos, expondo as alianças entre operadores jurídicos e veículos de imprensa durante a Lava Jato.
Mercado financeiro sob lupa — a Polícia Federal avança sobre estruturas criminosas que operam no sistema financeiro.
Combustíveis — investigações miram o epicentro do crime organizado nesse setor estratégico.
Congresso cercado — operações podem implicar até 90 parlamentares em esquemas de desvio de recursos públicos via emendas secretas.
Master colapsado — a intervenção no banco expôs o envolvimento de múltiplas lideranças do centrão.
O Calcanhar de Aquiles
É neste contexto que emerge o contrato entre o Banco Master e o escritório Barci e Barci Sociedade de Advogados, de propriedade da esposa de Alexandre de Moraes. Os valores são considerados desproporcionais, especialmente considerando que os principais interesses do Master concentravam-se no Banco Central e na CVM, não no Supremo.
Qualquer que seja a natureza legítima ou não da contratação, a ausência de justificativa convincente para os valores envolvidos cria uma fragilidade: abre brecha para atacar Moraes, por extensão o próprio STF, e alimenta especulações — todas prejudiciais ao ministro.
A Disputa em Dois Fronts
Front 1: Os Atingidos Reagem
No Congresso, o centrão mobiliza-se para reunir votos suficientes ao impeachment de ministros do STF. Não se trata de disputa ordinária: se bem-sucedidos, pavimentarão o caminho para um regime autoritário definitivo, uma ditadura da maioria parlamentar que eliminaria o último obstáculo institucional significativo.
Na mídia, três conglomerados jornalísticos coordenam campanha pelo impeachment de Moraes. Circulam suspeitas de que André Esteves, do BTG, financie essa ofensiva. O contexto é sugestivo: em maio de 2025, às vésperas da intervenção no Master, o BTG Pactual comprou aproximadamente R$ 1,5 bilhão em ativos do banco e de Daniel Vorcaro, operação autorizada pelo BC e pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Com a liquidação posterior do Master, esses ativos ficaram protegidos, indisponíveis para compensar prejuízos de investidores.
As investigações do STF podem, entretanto, iluminar a rede de influências que retardou a ação do Banco Central.
Front 2: O Revival da Lava Jato
Os mesmos veículos de imprensa tentam ressuscitar o ambiente político da Lava Jato. O editorial da Folha é cristalino: “Que não haja complacência com petistas e cupinchas de Lula pelo fato de amigos do presidente comandarem a Polícia Federal e vestirem togas no Supremo. A ruptura do pacto da impunidade fará mal apenas aos corruptos.”
Essa formulação merece o “Troféu Confissão Espontânea”, o prêmio de autoincriminação mais transparente do ano. Os três jornais buscam reativar o modelo Lava Jato: aliança midiática com objetivo político de destruir o PT.
Reaparece também o pior do jornalismo brasileiro: denúncias graves baseadas em fontes não identificadas, ausência de verificação rigorosa, repetição acrítica dos vícios que marcaram a cobertura da Lava Jato.
O Impasse Final
Forma-se uma polarização radical.
De um lado: forças que desejam enfraquecer o STF e, simultaneamente, desestabilizar o governo Lula.
Do outro: setores convencidos de que a permanência de Moraes é indispensável à sobrevivência da democracia.
Pairando sobre ambos: o contrato do escritório da esposa de Moraes com o Banco Master.
O dilema permanece sem resposta: como esclarecer completamente esse episódio sem enfraquecer o STF em seu papel de fiador último do regime democrático brasileiro?
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Jornalista, com passagens por diversos meios impressos e digitais ao longo de mais de 50 anos de carreira, pelo qual recebeu diversos reconhecimentos (Prêmio Esso 1987, Prêmio Comunique-se, Destaque Cofecon, entre outros). Diretor e fundador do Jornal GGN.