sábado, 25 de agosto de 2018

Violência, fundamentalismo e fascismo apaixonado: o apelo do culto ao "líder" da extrema direita brasileira. Por Kiko Nogueira



"Algumas coisas chamam a atenção na legião de seguidores de Jair Bolsonaro.
"A primeira, óbvia, é o fanatismo. Bolsomito, como eles chamam, é incorruptível, infalível, inteligente, a encarnação do Profeta.
"A segunda é a truculência. Eles gostam de porrada, de testosterona, eles atropelam o que vêem pela frente, especialmente se as vítimas forem mais fracas.
"A terceira, e esta é a mais interessante, é que são todos homens. Não propriamente homens — meninos. Há raríssimas fãs do sexo feminino." - Kiko Nigueira, jornalista
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Violência e paixão: o apelo homoerótico do culto a Bolsonaro. Por Kiko Nogueira

 

Bolsonaro em comício: só rapazes

Algumas coisas chamam a atenção na legião de seguidores de Jair Bolsonaro.
A primeira, óbvia, é o fanatismo. Bolsomito, como eles chamam, é incorruptível, infalível, inteligente, a encarnação do Profeta.
A segunda é a truculência. Eles gostam de porrada, de testosterona, eles atropelam o que vêem pela frente, especialmente se as vítimas forem mais fracas.
A terceira, e esta é a mais interessante, é que são todos homens. Não propriamente homens — meninos. Há raríssimas fãs do sexo feminino.
Os rapazes idolatram o jeito de ele falar, a boca torta num esgar que fica mais estranho quando está nervoso, o jeito de ele andar, o jeito de ele ser.
Bolsonaro gosta de ficar entre esses machos e os machos gostam de ficar com Bolsonaro.
A cada artigo sobre ele no DCM, essa garotada aparece aos magotes, revoltadíssima com qualquer coisa que conspurque a imagem de seu ídolo, um sujeito imaculado de alma e corpo.
Ele é um pop star do extremismo político, o homem dos sonhos para eles.
“Eu amo ele, sim!”, escreveu um bolsominion em resposta a um artigo.
Bolsonaro exerce um intenso apelo homoerótico sobre seu eleitorado. É o fascínio homossexual do fascismo, disfarçado sob a homofobia.
Os jihadistas de JB gostam de ficar entre si, de se amassar nos eventos do mito. Eles suam e se roçam e gritam em louvor ao chefe.
Dispensam namoradas e esposas. Parte é misoginia, mas outra parte enorme é vontade mesmo de estar apenas entre homens exaltados.
Após a Segunda Guerra, a parafernália nazifascista foi adotada por praticantes do sado masoquismo.
Artistas embarcaram nisso. David Bowie, em sua fase gay no início dos anos 70, chegou a colecionar uniformes de oficiais da SS e foi preso na Polônia com eles.
Os membros da Escola de Frankfurt descreveram um “tipo de personalidade homossexual” entre os nazifascistas. As tendências de submissão masoquistas desse tipo o tornaram vulnerável ao apelo sedutor da causa.
Na Alemanha de Hitler, uma elite de homens firmemente unidos, aduladores de um deus de bigode esquisito, era a condição necessária para uma nação forte, pura, honesta e viril.
Segundo a professora Elizabeth D. Heineman, era o “Mannerbund” — que pode ser traduzido como “coletivo do sexo masculino” —, a união de homens disciplinados física e mentalmente, sem distrações femininas, transformando seus laços profundos uns com os outros e com seu líder em potência.
O eventual sexo entre eles era considerado um vínculo a mais.
É evidente que não há problema algum no hemoerotismo dos bolsonaristas. Ninguém tem nada a ver com isso. A questão é a histeria homofóbica deles e como esse caldo é transformado em virulência, intolerância e apologia à tortura.
Bolsonaro, seus mancebos e o país que querem salvar só têm a ganhar quando se aceitarem como são.

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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