terça-feira, 26 de outubro de 2021

Áudio de André Esteves desnuda um Brasil refém de meia dúzia de espertalhões, diz Cristina Serra

 

Jornalista destaca a comparação feita pelo banqueiro entre o golpe de 2016 contra a ex-presidente Dilma Rousseff, apoiado por ele, e o golpe militar de 1964

Cristina Serra

Cristina Serra (Foto: Divulgação)

247 – "O portal de notícias Brasil 247 publicou o áudio de animada conversa entre o banqueiro André Esteves e um grupo de clientes. É uma aula sobre os donos do poder no Brasil, entrecortada por risadas típicas de quem está ganhando muito dinheiro, ainda que o país esteja uma desgraça", escreve a jornalista Cristina Serra, em sua coluna na Folha de S. Paulo, desta terça-feira.

"O banqueiro faz questão de exibir sua influência junto às mais altas instâncias do poder político, com uma mistura de cinismo e boçalidade envernizada, própria de quem se acha educado só porque sabe usar os talheres. Esteves jacta-se de seu prestígio junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira. Gaba-se do acesso ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a ponto de este tê-lo consultado sobre o nível da taxa de juros, atitude que é um escândalo de relações carnais entre o público e o privado. Vangloria-se de ter influenciado a decisão do STF favorável à independência do Banco Central, informando ter conversado com alguns ministros antes do julgamento", prossegue.

Cristina Serra menciona ainda a comparação feita por ele entre o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff  e o golpe de 1964: "Dia 31 de março de 64 não teve nenhum tiro, ninguém foi preso, as crianças foram pra escola, o mercado funcionou. Foi [como] o impeachment da Dilma, com simbolismos, linguagens, personagens da época, mas a melhor analogia é o impeachment da Dilma".

"A comparação é um insulto aos milhares de presos, perseguidos, torturados e assassinados na ditadura, mas o raciocínio de Esteves faz sentido ao aproximar (talvez sem querer) as duas datas infames: 1964 e 2016 foram golpes. A conversa desinibida do banqueiro desnuda, de maneira explícita, um país refém de meia dúzia de espertalhões do mercado financeiro", finaliza.

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